segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Boeing 787: Um Pesadelo De Avião - Parte I



Eu gosto muito aviões. E dedico especial atenção a eles. No que respeita a aviões civis, acompanho com muito interesse três projectos. O Boeing 787, o Airbus A380 e o Sukhoi SuperJet.

Há dois anos atrás, escrevi um artigo bastante crítico sobre este avião e no início deste ano voltei a falar do projecto. Dado que saiu notícias sobre os resultados da Boeing e eu ainda não tenho nenhum artigo no blogue sobre este assunto, penso ser uma boa altura para escrever um pouco sobre o que acho deste novo Boeing.

Antes de mais, é importante realçar que no meu ponto de vista, este Boeing representa um pouco o estado em que os EUA se encontram, com muitos problemas e más opões tomadas, os anos vão passando e continuo a pensar exactamente o mesmo.

Apesar de gostar muito de aviões, sou muito crítico deste, ou da maneira como as coisas estão a ser feitas. Prometido como um avião revolucionário, onde hoje se pode dizer que toda a gente ouviu falar dele, tal a pressão mediática em cima dele. Mas tudo o que foi dito foi com o avião no papel, uma coisa é prometer, outra coisa é mostrar a coisa. Os pontos principais onde tenho críticas sobre este avião são os seguintes:

1 - Avião radicalmente novo. Aplicação de novos materiais usados, onde muita coisa ainda está em teoria, com muitas dúvidas sobre o comportamento do material.

2 - Pressa na entrega. Devido ao agressivo marketing feito e datas irrealistas, a Boeing está disposta a sacrificar tempo de testes, para cumprir prazos. A Boeing esquece-se da sua principal função que é construir aviões e não satisfazer accionistas que não querem ver as suas acções descerem. A credibilidade da Boeing poderá ficar sériamente em risco, com o que se tem feito com este avião.

3 - Além de resolverem fabricar um avião de construção radical, juntaram a isto um novo processo de fabrico que reparte a construção do avião pelos quatros cantos do mundo. A Boeing passa a estar dependente de várias empresas estrangeiras e nunca a Boeing fez tal coisa com os seus aviões.

4 - O modelo não reduz o número de aviões no ar. Eles argumentam eficiência em termos de combustível (coisa ainda a ser vista), mas não reduzem o tráfego. Isto o A380 faz. E eu sou da opinião que é necessário diminuir tràfego devido à saturação dos aeroportos. Demasiados aviões no mesmo sítio.

787 unsafe, claims former Boeing engineer

Este foi um artigo interessante que apareceu em 2007, onde é referido um engenheiro da Boeing que foi despedido.

"Boeing 787 Dreamliner 'could be unsafe'
BOEING'S new carbon-composite 787 Dreamliner plane may turn out to be unsafe and could lead to more deaths in crashes..."

"...The new plane, which is mostly made from brittle carbon compounds rather than flexible aluminum, is more likely to shatter on impact and may emit poisonous chemicals when ignited..."

"...The problem is all the unknowns that are being introduced and then explained away as if there is no problem,'' said Vince Weldon, a former Boeing engineer..."

"...We do an exceptional amount of testing,'' said Lori Gunter, a spokeswoman for Boeing's commercial plane unit. "Absolutely, these materials are safe. They are tested, they will be certified.''..."

"...Federal Aviation Administration (FAA) must find the 787 to be as crashworthy as aluminum planes..."

"...first test flight between mid-November and mid-December after a three month delay due to a shortage of bolts and problems programming the flight control software..."


Nós aqui temos a referência do atraso do 1º voo, e onde é indicado que em Novembro/Dezembro de 2007, já com um atraso de 3 meses se iria efectuar o vôo. Dois anos depois estamos exactamente no mesmo ponto, é suposto agora, após sucessivos adiamentos, o 1º vôo acontecer em Novembro/Dezembro de 2009.

"...The first 787 is due to be delivered to Japan's All Nippon Airways in May next year, meaning it will have at most six months of flight tests, much shorter than previous jetliner programs..."

"...Vince Weldon was sacked in July 2006 from his post as senior aerospace engineer at Boeing's Phantom Works research unit for "disputed reasons". He argues that "without years of further research, Boeing shouldn't build the Dreamliner and that the Federal Aviation Administration (FAA) shouldn't certify the jet to fly"..."

"...Weldon's allegations are detailed in a letter to the FAA, which claims:

The brittleness of the plastic material from which the 787 fuselage is built would create a more severe impact shock to passengers than an aluminum plane, which absorbs impact in a crash by crumpling. A crash also could shatter the plastic fuselage, creating a hole that would allow smoke and toxic fumes to fill the passenger cabin.

The recently conducted crashworthiness tests — in which Boeing dropped partial fuselage sections from a height of about 15 feet at a test site in Mesa, Ariz. — are inadequate and do not match the stringency of comparable tests conducted on a 737 fuselage section in 2000.

The conductive metal mesh embedded in the 787's fuselage surface to conduct away lightning is too light and vulnerable to hail damage, and is little better than a "Band-Aid."..."

"...FAA spokesman Mike Fergus confirmed earlier this week the 787 will "not be certified unless it meets all the FAA's criteria, including a specific requirement that Boeing prove passengers will have at least as good a chance of surviving a crash landing as they would in current metal airliners"..."

"...Indeed, if the 787 took to the air in mid-November, Boeing would have just six months to complete the flight test and certification program - compared to 11 months for the 777..."

Problemas e mais problemas para o Boeing 787. Após sucessivos adiamentos e várias explicações, no início deste ano, surge uma notícia bastante interessante, que me "obrigou" a escrever novamente sobre ele. A FAA (Federal Aviation Administration) ajusta as suas regras de modo a poder "passar" o 787. Se eu já sou muito negativo sobre este avião, isto deixou-me muito pessimista e perplexo por este cumplicidade por parte da FAA. Algo não está nada bem com este avião e com tudo o que gira à volta dele.

FAA to loosen fuel-tank safety rules, benefiting Boeing's 787

"The Federal Aviation Administration (FAA) has quietly decided to loosen stringent fuel-tank safety regulations written after the 1996 fuel-tank explosion that destroyed flight TWA 800 off the coast of New York state.

The FAA proposes to relax the safeguards for preventing sparks inside the fuel tank during a lightning strike, standards the agency now calls "impractical" and Boeing says its soon-to-fly 787 Dreamliner cannot meet.

Instead of requiring three independent protection measures for any feature that could cause sparking, the revised policy would allow some parts to have just one safeguard.

Boeing has worked closely with the FAA to make the change in time for the 787 Dreamliner, whose airframe built of composite plastic makes lightning protection a special challenge..."

O ano de 2009 não está a ser um bom ano para a Boeing, devido principalmente a este novo avião. Várias situações ocorreram que pioraram ainda mais a situação que serão analisadas no artigo seguinte.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

A Europa Mostra Que Confia Na Rússia Como Fornecedor De Energia

Encontro entre Putin e Berlusconi

Eu, em 2005, quando foi anunciado o negócio do Nord Stream entre a Rússia e a Alemanha, escrevi bastante acerca disso. Infelizmente na altura nunca pensei em ter um blogue e nunca pensei ir guardando o que fui escrevendo. Muitos dos artigos que escrevi estão perdidos. Alguns estou a recuperá-los pois anda estão acessíveis via net, outros nunca mais os vou ver com imensa pena minha. Apesar de saber qual a minha linha pensamento, gosto de me confrontar comigo próprio ao longo dos anos e ir verificando o meu raciocínio.

Hoje pretendo salientar que apesar da imprensa e alguns sectores políticos insistirem que a Rússia não é um fornecedor fiável para a Europa, a Europa considera e sempre considerou exactamente o contrário.

Mais uma prova disso é a visita recente de Berlusconi à Rússia para um encontro com Putin. Novas declarações saem a indicar que possivelmente o South Stream ficará pronto ainda antes do Nord Stream.

As coisas estão a correr bastante bem com a Itália e aqui gostaria de relembrar o seguinte. Estes projectos energéticos foram acordados com importantes dirigentes europeus com uma inclinação política mais favorável à Rússia. Schroeder, Chirac e Prodi. É sobejamente conhecido a relação entre estes e Putin na altura. Na altura estava Bush aos comandos e grandes divergências existiam entre os dois lados do Oceano. A "Velha Europa" não concordava com as opções americanas em várias esferas e a Putin soube estabelecer ligações e mostrar que havia futuro na nova Rússia em formação e a Europa. Em simultâneo os EUA estabeleceram fortes ligações com a "Nova Europa", criando barreiras entre a Europa e a Rússia.

Em resposta aos avanços militares por parte dos EUA, a Rússia avançou com a sua nova arma, a energética. A Rússia vai escolher os clientes a quem pretende vender energia e a Rússia quer vender à "Velha Europa" e assim nasceram os planos dos novos pipelines que vão ultrapassar todos os países problemáticos e fornecer energia a quem se pretende e a quem se pretende fornecer energia é de facto ao motor da Europa. O motor da Europa que é principalmente a Alemanha e França, não podem ficar reféns de opções políticas tomadas por alguns novos membros da UE, que escolheram a segurança económica da UE e a segurança militar dos EUA. Mas ao escolher a segurança militar dos EUA, colocaram em perigo a segurança energética do motor da Europa. Opções políticas têm um preço e este arrisca-se a ser bastante alto para alguns.

Apesar dos problemas que tem havido com o fornecimento de gás e os cortes, principalmente com a Ucrânia, muito foi falado, que a Rússia não era um fornecedor fiável.

1º Ministro Turco também participou na reunião via videoconferência

Apesar da saida de Schroeder, Chirac e Prodi e que foram substituidos por elementos mais conservadores, uma coisa é certa, as ligações entre estes e a Rússia foram reforçadas. E não será difícil encontrar notícias, artigos e análises, para cada entrada de um destes novos dirigentes, indicando que as relações com a Rússia iriam passar a ser diferentes. Não foram, porque independentemente de qual a côr política dos políticos à frente da sua nação, um político responsável sabe que em primeiro lugar está os interesses do SEU país e energia para um país é como o ar que respiramos, é essencial para a nossa sobrevivência. Pipelines directos com ligações ao maior fornecedor de energia do mundo é fulcral para o crescimento da Europa, para alimentar o motor da Europa.

Merkel, Sarkozy e Berlusconi sabem disso.

A "Nova Europa" vai muito possivelmente aprender o significado de segurança energética pela maneira mais dura.

A lembrar:
Nord Stream, Putin, Schroeder, 2005
South Stream, Putin, Prodi, 2007

Fontes:
Putin Sees South Stream Ready Earlier Than Planned
Putin to Berlusconi: South Stream May Be Ready before North Stream

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Mais Uma Sabotagem Na Geórgia


Esta é quinta explosão em poucos meses. Desde junho, que os caminhos de ferro sofrem ataques. Este comboio que foi atacado (de acordo com investigações perliminares foi usado TNT), levava produtos petrolíferos para exportação.

A situação na Geórgia não é nada boa, o país está instável e para agravar a situação, é um país crucial para a passagem de pipelines ocidentais.

Estas explosões não auguram um futuro nada bom para o país, a Geórgia já tem problemas mais que suficientes internos e esta é mais uma acha para a fogueira.


Fontes:
Blast on Georgian railway derails cargo waggons
MIA: Blast Derails Cargo Train in Western Georgia

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Pipelines Russos Ganham Velocidade Em Direcção À Europa

Nord Stream já está a ser colocado

São várias as notícias que indicam que importantes desenvolvimentos estão a ocorrer com os dois novos pipelines russos (Nord e South Stream) em direcção à Europa.

South Stream

Turquia - Dá autorização para que o South Stream passe pelas suas àguas territoriais. Com esta autorização resolve o problema da passagem do pipeline por àguas ucranianas, pois este é o país que se quer evitar.

Bulgária - O novo governo arrastou a situação colocando em dúvida a capacidade de poder investir no South Stream e que iria dar uma resposta mais tarde, (a Bulgária é um dos apoiantes do Nabucco), a Rússia ao obter luz verde da Turquia, elimina a Bulgária da equação.

Sérvia - A Gazprom acordou ter um bloco maioritário e o pipeline irá passar pela Sérvia, também foi acordado criar um sistema de armazenamento de gás no pais.

França - Está para breve uma decisão se vão entrar no South Stream, a participarem significará um grande empurrão político ao pipeline.

Nord Stream

A Dinamarca oficialmente dá luz verde à passagem do Nord Stream pelas suas àguas territoriais. Isso já se estava à espera, pois tinha sido acordado este mês a duplicação do envio gás para a Dinamarca, dado que estes também são clientes do Nord Stream.

Apesar da imprensa insistir na questão da fiabilidade da Rússia como fornecedor de energia, o facto é que os actos valem mais que as palavras. A Europa avança para estes novos pipelines, aumentando a sua segurança energética, pois diminui o nº de países trânsito envolvidos. Por outro lado, os países que se envolveram em atritos com a Rússia, estão cada vez mais preocupados, estes novos pipelines ameaçam a sua segurança energética mas este é o preço a pagar pelas opções tomadas.


Fontes:
Russia, Serbia ink South Stream deal
Denmark OKs Nord Stream Pipeline Build Via Baltic Sea
Bulgaria ousted from Russia's South Stream pipe

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Líbia Vai Gastar Um Bilião de Dólares Em Armas Russas

Su-35 para a Líbia

A Líbia é mais um produtor de energia que começa a investir sériamente no upgrade ao seu armamento. Com o aumento da procura de energia por parte dos países mais industrializados, a agressividade tem aumentado, vários são os países que neste momento estão envolvidos em guerras de modo a obter o controlo dos recursos energéticos. Em resposta, os produtores que ainda não foram envolvidos em conflitos, procuram protecção com grandes investimentos em sistemas defensivos de boa qualidade.

Um dos grandes produtores de armas, tem estado a beneficiar desta situação. A Rússia que tem estado a modernizar o seu arsenal e a procurar aumentar as suas vendas no exterior, tem-se esforçado para mostrar que voltou a ser um fornecedor de armamento fiável e prova disso são as crescentes vendas a cada ano que passa. Além disso a Rússia tem um atributo importante que outros grandes produtores de armas não possuem. A Rússia também é um dos maiores produtores de energia, não estando neste caso, à procura de energia além fronteiras, o que transmite maior segurança aos países clientes. Podemos apontar um exemplo recente, o maior fornecedor de armas do mundo os EUA, colocou um embargo à Venezuela que é um dos grandes produtores de energia e um dos principais dos EUA, impedindo esta de fazer manutenção à sua força aérea que era constituida na sua maioria por aviões americanos. Impediu também a Espanha de vender navios, porque usavam alguns componentes americanos. Resultado, os EUA sem disparar um único tiro, colocaram a aviação venezuelana no chão. A reacção não se fez esperar e contratos foram feitos com a Rússia em tempo record. A entrega dos novos aviões também foi num espaço muito curto.

A Líbia parece prosseguir o mesmo caminho e juntamente com a Algéria, estão a criar uma verdadeira barreira defensiva do outro lado do Mediterrâneo. Com armas russas.

Nigéria: Rússia junta-se ao ataque chinês a um dos fornecedores dos EUA

A Gazprom chegou a acordo com uma das maiores empresas energéticas nigeriana, a Oando. A Nigéria possui as maiores reservas energéticas em Àfrica e é o 5º maior fornecedor dos EUA.

Em Julho já tinha sido negociados investimentos na ordem dos 2.5 Biliões de dólares e a possível participação num pipeline que leve gás à Europa. Mas com a entrada dos chineses(China "ataca" mais um fornecedor dos EUA), podemos assistir a uma resistência à viabilização deste pipeline.

O sector energético da Nigéria é dominado por empresas ocidentais tais como a Shell, Total, ExxonMobil e Chevron, mas agora temos a entrada de russos e chineses, tal como tem acontecido em outros países.

Fontes:
Gazprom in tie-up with Nigerian company
Oando Says Agreement on Nigeria Projects Signed With Gazprom

sábado, 17 de outubro de 2009

Ucrânia: O Preço a Pagar - Parte II

Com parte da Europa a parar e a arrefecer por falta de energia, era urgente pôr cobro à situação. A situação tinha que ser desbloqueada e mediação era requerida, porque Yushchenko e Putin estavam de costas voltadas.

Se alguma dúvida subsiste quanto à responsabilidade da Ucrânia desta situação, ela fica dissipada com o contrato feito. Ele é simplesmente arrasador para a Ucrânia. A Ucrânia iria pagar preço de mercado com desconto de 20% e o pagamento teria que ser mensal e a horas. Falha de pagamento trazia grandes penalizações. E isto seria apenas por um ano. Em 2010 seria a sério, ou seja passa a pagar o valor de preço de mercado na sua totalidade.

A Ucrânia, que se tinha recusado ao valor pedido pela Rússia de 250 dólares, iria passar a pagar 360 dólares. A Ucrânia estava a pagar 179.50 dólares em 2008 e teve um aumento de 100% em 2009! Embora o valor fosse sendo revisto de 3 em 3 meses e com tendência para baixar, nos 3ºs primeiros meses o aumento seria de facto 100% e depois disso estaria sempre longe dos 179.5 de 2008. E agora o contrato não permite uma falha sequer no pagamento e este teria que ser feito todos os meses. Um contrato duro.

Este ano o mundo está numa recessão económica grave e a Ucrânia com um abrandamento claro na sua economia, iria ter energia muito mais cara, o que iria arrasar com a sua indústria dependente do gás e barato. Este é o panorama para a realidade ucraniana durante o ano de 2009, os ucranianos vão sentir na pele as decisões do seu presidente. Nitidamente isto vai ter repercussões nas eleições presidenciais. As dificuldades sentidas em 2009 e saber que em 2010 o preço a pagar ainda será maior, vai sem dúvida ter impacto nos votos.

Dada a dureza do contrato e o significado disso para a indústria e economia do país (além do impacto da opinião pública) o governo mascara a situação. Apesar do aumento brutal, este não iria ser transmitido ao cliente final, que são as empresas e os ucranianos. O Governo iria pagar a diferença. As pessoas não sentiam o grande aumento, mas o governo estava a afundar-se em dividas. Depressa começaram a pedir ajuda e hoje tem empréstimos do FMI, do Banco Mundial e da UE no valor de Biliões de dólares de modo a poder pagar as contas do gás.

O valor da moeda caiu vertiginosamente e todos os meses a questão levanta-se, tem a Ucrânia dinheio para pagar a conta? Desde que vá recebendo os empréstimos. Entretanto para piorar ainda mais a situação, o FMI que está a fornecer o seu empréstimos por tranches impôe condições. O défice tem que ser controlado, a Ucrânia tem que refletir o preço da energia à população é à indústria. Dada a gravidade da situação económica, esta decisão seria arrasadora e impopular, deixando a 1ª ministra num dilema, aumentar os preços com todas as suas consequências e receber mais uns Biliões do FMI, ou manter os preços de modo a Tymoshenko ter hipóteses nas eleições presidenciais.

A situação actual da Ucrânia é favorável à Rússia. O principal objectivo é impedir a adesão à NATO e dada a situação económica e dependência de gás russo subsidiado, irá obrigar ao novo presidente lançar novas negociações, dando garantias de que não haverá adesão à NATO, a não ser que seja obrigada a pagar preços de mercado.

Infelizmente e mesmo que para o ano se venham a entender, a Ucrânia já tem um preço alto a pagar. Para a Rússia a Ucrânia representa uma ameaça à sua segurança pois mesmo que este novo mandato presidencial seja mais amigável com a Rússia, ninguém garante como seja o próximo.

Para a UE a Ucrânia também oferece perigos. A Ucrânia usa o seu poder de trânsito de energia para a Europa, ignorando as suas responsabilidades de pais de trânsito. E quando as coisas correm mal, é a Europa que tem que pagar com as suas reservas monetárias.

Portanto o objectivo principal tanto da UE como a Rússia é reduzir a sua dependência de tantos países intermediários. A resolução deste problema implica problemas acrescidos para a Ucrânia. A Ucrânia deixa de ser um problema para ambos, e a Rússia aumenta o seu poder de influência. Pode passar o gás a valor de mercado ou pode mesmo cortá-lo. No futuro, a UE não será afectada por isso, não tendo por isso pagar pelas opções políticas ucranianas.

Dado as suas dimensões e opções políticas, a Ucrânia é vista com suspeita pelos dois lados e se ainda vai tendo apoios, é porque ainda serve como país de trânsito.

A Ucrânia está entalada entre a Europa e a Rússia e nenhum dos dois terá pressa em criar amizades mais profundas. As más opções do presidente ucraniano, ditaram o preço a pagar por todos e por muito tempo.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Ucrânia: O Preço a Pagar - Parte I



Nunca os ucranianos imaginaram o que lhes estava destinado pelas opções tomadas na revolução laranja.

A aproximação ao Ocidente, a aproximação à Europa davam esperanças de algo melhor nas suas vidas, mas tudo tem um senão. E esse senão é que além de se querer aderir à UE, o presidente tinha um grande objectivo, o da adesão da NATO.

Aqui começam os problemas, a NATO é uma estrutra militar que a Rússia considera uma ameaça e a vizinha Ucrânia pretende aderir. As ligações militares são grandes entre a Rússia e a Ucrânia e este salto para o "outro lado", afecta consideravelmente o sistema de segurança russo.

Para agravar a situação, o presidente é bastante hostil para com a Rússia e com o apoio de muitos outros países, acelerou agressivamente a tentativa de entrar na NATO, tal como o fizeram os países Bálticos, a Polónia e a Rep. Checa e aqui começaram os problemas. A Ucrânia quer mudar para um bloco militar hostil à Rússia, mas continua dependente da energia desta. Pior, a Ucrânia vive com gás subsidiado pela Rússia.

Dado o caminho que a Ucrânia começou a percorrer, a Rússia reagiu e a sua resposta acaba por ser fulminante, a Ucrânia tem que passar a pagar o gás a preços de mercado, pois não faz sentido a Rússia apoiar um país que se está a tornar hostil.

Ainda assim o salto para preços de mercado não foi imediato, mas sim gradual, a cada ano o preço é revisto e este iria acelerar de modo a atingir o preço de mercado num periodo mais curto que o previsto.

A Ucrânia começou a reagir a este aperto, tentando impedir esta escalada de preços, pois a sua estrutura económica e industrial não consegue suportar estes custos energéticos. Ao longo dos anos a situação foi-se deteriorando, com aumentos, dívidas, ameaças e cortes de gás e que acabou por rebentar na entrada deste ano. Em 2006/2007 já tinha havido cortes onde o abastecimento a outros países europeus tinha sido afectado, tendo nessa altura a Rússia ficado com uma má imagem como fornecedor, porque a imprensa reportou básicamente a perspectiva ucraniana da situação, tendo com resultado a ideia de que a Rússia cortou o fornecimento à Europa.

No periodo de 2008/2009, a Ucrânia tentou repetir de novo a dose e deu-se mal. muito mal. Além dos valores em dívida e Ucrãnia recusou negociar o valor a ser aplicado para o ano de 2009, a Rússia baixou o valor pretendido pelo o seu lado, mas a Ucrânia oferecia um valor muito abaixo do que a Rússia pretendia. A Rússia lançou avisos à Europa e à Ucrânia de que iria haver novos problemas se a Ucrânia não saldasse as suas dívidas e se não fosse acordado o preço para 2009. Tendo o prazo expirado sem contrato acordado, preços de mercado foram aplicados e a situação rebentou. Os valores não foram pagos e o gás para a Ucrânia foi cortado. A Ucrânia passou a desviar o gás destinado para a Europa para consumo interno e ao mesmo tempo a dizer que a Rússia estava a cortar o gás para a Europa. Uma vez mais, a imprensa dava voz ao que saia da Ucrânia, e artigos por todo lado saiam dizendo, que a Rússia estava a cortar o gás à Europa, a Rússia não era um fornecedor fiável. Não se colocava em causa as responsabilidades da Ucrânia como país de trânsito.

Com esta pressão em cima da Rússia, (vários países afectados, imagem como fornecedor afectado e pressão via imprensa e via política) a Ucrânia, pensou repetir o feito e obter um melhor acordo para o ano de 2009.

Mas a situação não correu como o previsto. Desta vez a Rússia deu um murro na mesa e cortou todo o gás que transitava via Ucrânia (a maioria do seu gás) e só iria abrir depois de observadores independentes estivessem colocados em ambas as extremidades dos pipelines para mostrar o quanto estava a entrar na Ucrânia e quanto gás estava à saida do país. A Rússia fechou as torneiras, até ser pago o que lhe era devido. E se a Europa queria o seu gás, teria que verificar onde é que este se "perdia".

A Ucrânia ficou debaixo de fogo. A imprensa começou a interrogar-se se a culpa residia apenas na Rússia, a pressão recaia agora sobre ela e sobre a Europa.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

China "ataca" mais um fornecedor dos EUA



A China pretende adquirir 6 Biliões de barris de petróleo à Nigéria ou seja um sexto das suas reservas. Esta jogada por parte da China irá uma vez mais colidir com os interesses das companhias ocidentais e mais importante irá perturbar o fornecimento aos EUA, dado que a Nigéria é o 5º maior fornecedor deste país.

E o mais interessante desta jogada é que a China pretende adquirir 23 licenças que estão neste momento nas mãos de companhias ocidentais como a Royal Dutch Shell, a Chevron, a Exxon Mobil e a Total, portanto a China não só obtem mais petróleo para si, como ainda por cima desvia esse mesmo petróleo, pois este actualmente está a ser explorado por companhias ocidentais.

China seeks vast oil blocks in Nigeria
http://www.energy-daily.com/reports/China_seeks_vast_oil_blocks_in_Nigeria_999.html

Report: China moves in on Nigeria oil reserves
http://news.yahoo.com/s/ap/20090929/ap_on_bi_ge/us_china_nigerian_oil_1

China sovereign fund invests in Kazakh oil producer
http://www.energy-daily.com/reports/China_sovereign_fund_invests_in_Kazakh_oil_producer_999.html

Crude Oil and Total Petroleum Imports Top 15 Countries (EUA)
http://www.eia.doe.gov/pub/oil_gas/petroleum/data_publications/company_level_imports/current/import.html