quinta-feira, 9 de abril de 2009

As Rosas Murcharam



Mikeil Saakashvili chegou ao poder com uma grande manifestação em Novembro de 2003 que obrigou Eduard Shevardnadze a sair. Agora Saakashvili sofre a segunda grande manifestação e questiono se irá sobreviver politicamente a ela.

Em Novembro de 2007, 4 anos depois de algo semelhante ter acontecido a Shevardnadze, Saakashvili sofreu a sua primeira grande contestação, mostrando que algo não estava bem no reino das rosas. Nesta primeira contestação que durou vários dias, Saakashvili piorou ainda mais a sua imagem ao usar da força para acabar a contestação ao mesmo tempo que fechava canais de televisão para diminuir o fluxo de informação e imagens. Todo este tipo de atitudes não caiu bem em vários países ocidentais, pois são atitudes que não podem ser seguidas por democracias. Apesar disso Saakashvili continuava a ter forte suporte vindo de Bush, dado que era um leal político que estava a implementar a continuação dos planos para a entrada dos EUA na rica zona do Mar Cáspio.

Digo continuação dos planos, porque no meu modo de ver, Saakashvili está simplesmente a prosseguir com o que foi iniciado por Shevardnadze. Foi com Shevardnadze que a Geórgia começou a receber apoio político e financeiro vindo dos EUA e foi com Shevardnadze que a Geórgia começou a preparar a sua integração na NATO e UE. A Geórgia estava a receber todo este apoio, porque iria ser palco da construção do primeiro pipeline americano com acesso ao Mar Cáspio e que não passava pelo controlo da Rússia.



Só que algo aconteceu entretanto. Quando estes planos estava a ser delineados e postos em prática, quem estava nos comandos da Rússia era Yeltsin. A Rússia atravessava um momento de crises graves e com um presidente fraco incapaz de defender os interesses da nação. Mas Putin chegou e a coisa mudou radicalmente de figura. Com Yeltsin, a Rússia não conseguia lidar com a Tchetchénia, aliviando a pressão que poderia fazer na Geórgia. Shevardnadze tinha consciência disso e jogava as suas cartadas de modo a atingir o mais rápido possível uma verdadeira independência da Geórgia. Para isso as bases russas dentro do país teriam que ser fechadas, as regiões separatistas serem incluidas definitivamente no território e a integração da NATO uma urgência pois era garantia de que a Rússia não poderia intervir no país.

Putin começou a mostrar que era completamente diferente de Yeltsin e tinha planos para restaurar o poder da Rússia e proteger o que considera a sua àrea de influência. Para tal impedir o acesso americano ao Cáspio era uma de muitas das prioridades que tinha. Putin caiu em força na Tchetchénia, porque era necessário rápidamente controlar aquela zona e dedicar mais atenção ao que estava a ser feito no Azerbeijão e na Geórgia de modo a colocar em xeque as movimentações americanas. Com o tempo a passar e a mostrar um presidente russo determinado, Shevardnadze começou a ver que a implementação dos seus planos para uma Geórgia mais independente e protegida iria demorar muitos anos mais do que tinha previsto, para além dos seus mandatos e talvez tempo de vida. O perigo para a Geórgia crescia a olhos vistos dado estar a ser palco de contronto das duas super potências e todos nós sabemos bem o que tem acontecido ao longo da história aos países onde elas lutam por influência, morte e devastação.

Por isso é que acho Shevardnadze num movimento que surpreendeu toda a gente em Maio de 2003 deu à Gazprom controlo sobre os pipelines no país. Shevardnadze estava a tentar conciliar a pressão que a Rússia estava a fazer com os seus planos e os planos dos EUA. Só que isto foi visto como traição pelos os EUA, dado a Geórgia ter um papel fundamental para o pipeline americano que estava perto de estar concluido. Altos funcionários americanos foram logo de seguida pedir explicações a Shevardnadze e o que saiu foi que este acordo com a Rússia não estava completamente fechado. Seja como fôr o mal estava feito, Shevardnadze deixou de ser um parceiro de confiança para os EUA e era necessário apoiar outra pessoa para o cargo de modo a não colocar em perigo os seus planos.

Assim surge Saakashvili e no mesmo ano consegue depôr Shevardnadze com a revolução rosa. Com um muito mais novo e inexperiente aliado os EUA poderiam acelerar os seus planos para a zona, rapidez essa necessária pois a Rússia estava a crescer em poder. E aqui foi o grande erro para o futuro da Geórgia. Embora Shevardnadze não fosse nenhum santo, era um político muito experiente e penso que estava a tentar criar um futuro melhor e mais independente para o seu país, tendo perfeita consciência da sua localização geográfica e quem são os seus vizinhos.

A inexperiência de Saakashvili foi amplamente usado pelos os EUA e acabou por ser usado também pela Rússia. A Geórgia começou a receber mais financiamentos e os seus militares começaram a ser treinados por americanos e ingleses que estavam a ser destacados ao abrigo de acordos, de modo a preparar o país na luta anti-terrorista e para uma adesão da NATO. Só que para aderir a esta estrutura não podia haver nem bases russas no território nem regiões separatistas, o país tinha que estar estabilizado. Começou então uma luta mais agressiva para o fecho das bases e a integração das regiões. A Rússia começou muito lentamente a fechar as suas bases. Demasiado lentamente para desespero Saakashvili, pois para reunir as regiões precisava dos russos fora do país e precisava de resultados para o seu mandato.

Os russos finalmente começaram a fechar as bases e uma das regiões foi pacificamente integrada o que deu uma grande confiança a Saakashvili de que conseguiria tudo em pouco tempo. Reunir as duas regiões que faltavam e aderir à NATO. Só que enquanto aquela região estava no lado oposto tendo como fronteira a Turquia, as que faltavam faziam fronteira com a Rússia. Com as suas tropas treinadas e financiadas pelos americanos e a resistência de ambas as regiões à integração, o desejo de usar a força começou a aumentar. E aqui começou o enorme erro para a Geórgia. A Rússia já estava numa situação de poder e a exercê-lo fortemente e os EUA estavam com enormes problemas em várias frentes. Bush estava de saída e o próximo presidente poderia não ter força política para se dedicar à Geórgia com tantos e novos problemas que entretanto surgiram aos EUA.

Bush tentou usar a última cartada e deixar ao próximo presidente uma Geórgia com a situação resolvida e impedir a movimentação russa na zona. As tropas estavam treinadas e em posição e conselheiros americanos estavam presentes. A actuação da Rússia estava em dúvida pois não se sabia até que ponto estava ela preparada para defender os seus interesses.

O resultado hoje é conhecido dessa actuação e de onde tiramos várias ilacções. A Rússia passou a mostrar que não faz unicamente bluf e está disposta a responder de todas as formas. Saakashvili com a sua inexperiência fez o que Shevardnadze nunca faria, usar a força contra a Rússia e os EUA passaram a saber a verdadeira determinação da Rússia em defender os seus interesses.

Saakashvili foi usado e não teve em conta que a sua principal preocupação teria que ser em 1º lugar o seu país e não servir interesses de terceiros. Saakashvili perdeu e fez com que o seu país perdesse uma significativa fatia de território. Saakashvili vai constar nos livros de história mas não como queria.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Rússia vai entregar ao Brasil helicópteros de ataque este ano




Russia to deliver attack helicopters to Brazil this year
Russia will start deliveries of Mi-35 Hind attack helicopters to Brazil by the end of 2009...
...Fomin also said Russia's Su-35 fighter had a good chance of winning an ongoing tender for the delivery of over 100 fighters to the Brazilian Air Force...


http://en.rian.ru/russia/20090406/120935753.html

Embora a notícia seja acerca do helicóptero MI-35 onde o anúncio da escolha gerou bastante burburinho (toda a gente foi apanhada de surpresa, eu incluido) o que queria focar era a indicação de que o SU-35 tem grandes chances de ganhar o concurso.

O programa de escolha do novo caça para o Brasil dava uma autêntica novela. Lula herdou esta batata quente que se chamava programa FX e na altura a primeira coisa que fez foi adiá-lo. Eu sou da opinião que o caça mais indicado para o Brasil é de facto o Sukhoi. Mas existem vários problemas associados com tal escolha.

O Sukhoi está pensado para grandes distâncias e o avião está implementado nos BRIC, com excepção do Brasil. Todos os países do BRIC são de grandes dimensões. Mas existem vários problemas e são principalmente políticos.O facto de ser um avião russo, o facto de se comprar material militar russo, implica afinidades com a Rússia, etc.

Por outro temos o problema de colisão de interesses, o Brasil compra caças Sukhoi, quando a Sukhoi está a desenvolver um avião civil que vai em princípio criar sérias dificuldades à Embraer, justificando que não se pode ajudar uma empresa rival.

Temos o problema dos franceses que lutam arduamente para ganhar o concurso sendo para mim os favoritos nesta contenda, russos e franceses.

Temos outro problema que é o facto da Sukhoi se ter aliado à Avibras e os franceses à Embraer, havendo muitas discussões no Brasil sobre que tem capacidade de absorver a tecnologia, etc, havendo a meu ver uma preferência pela a Embraer.

Para agravar a situação o Brasil recentemente passou a ter capacidade de produzir armas nucleares, (coisa que gerou algumas chamadas de atenção por parte dos EUA, dado que estes andam a batalhar para que o Irão e Coreia do Norte não dominem o ciclo total de produção) e o seu programa espacial está a ser ajudado pela Rússia, depois do grave desastre que aconteceu.

Portanto o Brasil está a um passo de ter a opção de criar mísseis nucleares com a ajuda da Rússia (pelo menos no que toca a foguetões) e a escolha do caça russo e de todo o potencial que ele possui mais as suas armas, introduz um novo e grande desafio para os EUA nesta zona do globo.

Outra dificuldade foi o facto de Chavez em 3 tempos ter decidido pelos os Sukhoi (problema que os americanos aceleraram com a recusa de fornecimento de peças para os F-16 da Venezuela, tornando básicamente toda a força àerea venezuelana inoperacional) e Chavez em diplomacia é um autêntico desastre, ficando Lula com a posição difícil de que ao escolher este avião estaria aliado de Chavez, com toda a publicidade negativa associada.

Mas existem outros factores que justificam esta escolha. A MERCOSUL é um pouco à imagem da UE e fala-se de uma estrutura militar associada tal como na Europa. A existir convinha ter material parecido e neste campo o que a Rússia oferece é muito interessante.

Mas o FX foi cancelado e quando foi reaberto o FX-2, a primeira surpresa foi o facto do avião russo estar de fora. Uma autêntica supresa para muitos, eu incluido. A outra surpresa é facto de ter entrado um avião americano e ele ser um dos favoritos, quando já há registos suficientes de problemas com quem comprou material americano na América do Sul.




O FX-2 para mim é um mistério e não compreendo a lógica. Mas este FX-2 também está a ter umas surpresas. No início deste ano o Ministro Nelson numa entrevista, falou que o Sukhoi iria ser revisto, mais confusão para o FX-2, dado que o Sukhoi está fora do concurso, como é que ele pode ser revisto. Mas o ministro falou, o que mostra que existe algo a nível político que está a ser ponderado e que não está a ser passado para fora e nem está a passar pelos canais normais.

Agora surge esta notícia de que existe boas chances de ganhar (mistério) e hoje sai nova notícia de que o Brazil pode obter uma licença de produção do novo caça de 5ª geração.

Brazil could make Russian new-generation fighters under license

Russia may allow Brazil to produce its fifth-generation fighters under a license in the future...
We are discussing with the well-known Brazilian company Embraer the transfer of technology and the construction of facilities for the future licensed production of the aircraft, including the fifth-generation fighter...

http://en.rian.ru/russia/20090407/120955182.html

Este artigo ainda adensa mais o mistério, diz que existe a possiblidade do Brasil ter acesso ao último caça russo, que o SU-35 está no concurso FX-2 e estão em contacto com a Embraer, o que demonstra que passaram da Avibras para a Embraer.

A escolha por parte do Brasil deste caça russo irá alterar completamente o panorama da América do Sul, a América do Sul passa a ter acesso a armamento topo de gama, (coisa que nunca teve) capaz de ameaçar os porta-aviões americanos. Mais, o Brasil tem agora uma janela de oportunidade política, dado ter havido mudanças nos EUA (Bush para Obama), onde este último está a lutar com vários problemas em simultâneo.

Podemos muito bem ver o Brasil a adquirir estas armas e isso vai chamar atenção a nível mundial.