quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Ucrânia No Espaço: O Fim?


Explosão de um foguete Antares com destino à Estação Espacial
Internacional
 
 
Foguete da Orbital Science explode durante lançamento
 
Um foguete não tripulado da companhia Orbital Science explodiu, nesta terça-feira, seis segundos após o lançamento da missão de reabastecimento da Estação Espacial Internacional (ISS), informou a Nasa.
 
"O foguete Antares sofreu um acidente logo após a decolagem", reportou o centro de controle da missão da Nasa, em Houston, Texas.
 
Chamas foram vistas na plataforma de lançamento costeira, depois que o foguete decolou na Ilha Wallops, Virgínia, no pôr-do-sol, às 18h22 locais (20h22 de Brasília)...
 
 
Bom, mais uma péssima notícia para a Ucrânia. Apesar das notícias falarem da NASA, este foguete é de uma companhia privada, que a NASA subcontratou para enviar carga para a Estação Espacial Internacional. E pelo video que vi, a coisa deu uma explosão brutal, poucos (muito poucos) segundos depois de começar a subir.
 
Bom, e o que isto tem a ver com a Ucrânia? Tem muito. Os foguetes regra geral são construidos por estágios e o primeiro estágio é UCRANIANO. E muito possivelmente (conclusão muito prematura da minha parte), mas existe grandes hipóteses da falha ser ucraniana.
 
Notícia de 2013:
 
US-Ukrainian Antares rocket launched successfully on Sunday
 
April 21 the Orbital Sciences’ Antares rocket has been successfully launched from the spaceport at Wallops Island, Virginia. The Antares rocket was developed by U.S. Orbital Sciences Corporation in cooperation with Ukraine’s Yuzhnoye SDO and Yuzhmash.
 
Under the contract, the Ukrainian side ensured the design and construction of the first stage of the rocket, whereas the U.S. side was responsible for the second stage, ground infrastructure and marketing. Funding for the program is carried out with NASA’s participation...
 
Mesmo que a falha não seja ucraniana, de certeza que a imprensa em breve vai explorar a situação e meter os americanos com os cabelos em pé. O programa espacial americano está num caos. Actualmente, para colocar americanos na Estação, dependem dos russos e agora descobrem que os foguetes americanos, levam motores ucranianos. Isto vai ser extremamente embaraçoso,  a potência mais forte do mundo, está dependente de russos e ucranianos, estamos afinal a falar do país que meteu homens na lua.
 
Qual me parece ser o resultado desta situação? O desaparecimento da industrial espacial ucraniana. Dada a situação com a Rússia, esta está a acabar com as ligações à Ucrânia, e agora penso que irá ser alvo de pressão americana. Os americanos não querem ver o seu programa espacial neste estado, não vão admitir que estão dependentes de ucranianos para colocar o quer que seja no espaço. A situação é deveras embaraçosa para a Administração Obama. Penso que vai ser exigido que foguetes americanos sejam construidos por americanos.
 
A acontecer isto, o volume de encomendas à Ucrânia, irá aproximar-se do zero e muito possivelmente estamos a assistir ao fim da capacidade ucraniana neste segmento restrito. Muita perda de conhecimento e negócio. Duvido que o governo, a braços com um colapso económico tenha qualquer hipótese de manter à tona esta parte da economia.


sábado, 25 de outubro de 2014

Ucrânia: A Fúria De Cameron

 
 
Vou fazer aqui um paralelismo entre Cameron e a Ucrânia, vou começar por Cameron:

Cameron recusa pagar mais 2,1 mil milhões para orçamento da UE
 
O primeiro-ministro britânico, David Cameron, deixou nesta sexta-feira bem claro que o Reino Unido não pagará a contribuição adicional para o orçamento da União Europeia (UE), depois de se saber que Bruxelas vai exigir, já a 1 de Dezembro, mais 2100 milhões de euros ao país...
 
...
 
"Há ajustes todos os anos, uma vezes pagamos um pouco mais e outras menos. Mas nunca aconteceu termos de pagar uma conta de 2000 milhões de euros", sublinhou.
E reiterou: "Não vamos de repente passar um cheque de 2000 milhões de euros. Isso não vai acontecer".
 
...
 
Cameron citou o seu homólogo italiano, Matteo Renzi, que terá reagido à revelação dizendo: “Isto não é um número. Isto é uma arma mortífera”.
 
Pelo contrário, outros países têm direito a ser ressarcidos. É o caso da Alemanha e de França, que de acordo com o jornal britânico, receberão de volta 779,2 e 1016,3 milhões de euros, respectivamente.
 
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De acordo com o Financial Times, haverá abertura por parte da chanceler alemã, Angela Merkel, para reavaliar os montantes exigidos pela Comissão Europeia.
 
 
 
Vamos agora olhar para a Ucrânia:
 
Ucrânia. Kiev pediu 2 mil milhões de euros à UE para pagar gás russo
 
A Ucrânia pediu um empréstimo de 2 mil milhões de euros à União Europeia (UE) para pagar a dívida de gás à Rússia, anunciou hoje um porta-voz da Comissão Europeia.
 
O pedido, formulado durante uma reunião ministerial UE-Ucrânia-Rússia para resolver o diferendo sobre o gás, “vai agora ser avaliado em consultas com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e as autoridades ucranianas”, disse o porta-voz, Simon O’Connor.
 
Com base nessa avaliação, a Comissão “fará uma proposta ao Parlamento Europeu e ao conselho”, que representa os Estados-membros.
 
A Comissão “continua muito empenhada em apoiar a Ucrânia”, disse...

[Link]

Podemos ver claramente a fúria de Cameron ao ter que desembolsar mais de 2 mil milhões, afinal é uma quantia considerável.
 
Agora podemos extrapolar esta situação e pensar no seguinte, qual será a reacção dos europeus se chegarem à conclusão que vão ter que pagar o gás ucraniano? Com tantas medidas de austeridade internas, como justificar estes valores para pagar energia a um país, quando nós a pagamos bem cara?
 
E não vai ser um empréstimo, este dinheiro se fôr para a Ucrânia, não tem volta. Os ucranianos nunca o irão devolver, pois ainda será necessário mais.
 
E porque é que não estamos a conseguir chegar a um acordo na questão do gás? bem, parece que a UE não quer se chegar à frente com o dinheiro, e exactamente por isto, a reacção dos europeus quando se souber o que vamos fazer.
 
Também podemos pensar em algo mais. Será que os ingleses vão fazer as contas ao ver que a Ucrânia pede à UE 2 mil milhões e o que a UE pede aos ingleses são 2.1 mil  milhões? Ou seja, quem vai pagar a factura do gás ucraniano?
 
A Europa vai pagar as opções que tem andado a fazer na Ucrânia bem caro, os custos monetários nos próximos anos e políticos vão ser de monta.

domingo, 12 de outubro de 2014

Acordo Rússia - China: Um Perigo Para A Europa



Este será um artigo que irá chamar a atenção para o futuro energético europeu. Nada de bom. É a própria Europa que diz que  a nossa dependência da Rússia irá aumentar e temos políticos que não estão a querer ver isso, movem-se por idealismos e interesses menos claros que nos vão colocar num futuro não muito longíquo, numa situação semelhante à da Ucrânia de hoje. Não sem energia devido a falta de pagamento, mas sem energia porque a Rússia, não poderá atender a todos os clientes.
 
Hoje, toda a gente sabe, a Rússia está a ser fortemente pressionada por sanções europeias. Também toda a gente sabe que a Rússia depende exclusivamente da venda de matérias primas para se manter à tona.
 
Se toda a gente sabe isso, porque ninguém se questiona, que raio de sanções são estas que não afectam a principal fonte de rendimento, tal como fizeram com o Irão? Toda a gente sabe porquê, parece que estamos dependentes da energia russa, mas estamos a tratar disso, em "breve" a Europa deixará de estar à mercê desses malvados, que nos cortam a energiam quando querem.
 
É aqui que começam os problemas da lógica. Até aqui, é do conhecimento comum. A Rússia corta a energia quando quer e estamos a arranjar alternativas para acabar com a dependência russa.
 
Mas ambas as situações são falsas. A Rússia nunca cortou energia à Europa. A Rússia interrompeu o abastecimento à Europa, depois da Europa estar aos gritos a dizer que a Rússia estava a diminuir o fornecimento de gás  a vários países e foi posto em causa a sua reputação de fornecedor fiável. Isto aconteceu quando a Rússia cortou o gás à Ucrânia e não à Europa e nunca foi colocado a hipótese de ser a Ucrânia a desviar esse gás para si. A Rússia na altura exigiu inspectores europeus em todos os pontos de saída russos, para voltar a abrir as torneiras, curiosamente não vi na imprensa, alguém pensar um pouco mais e pensar no que isto queria dizer.
 
Também não estamos a conseguir arranjar alternativas com a dependência russa. Andamos de ano em ano am falar sempre do mesmo, os anos passam e nada. conversa sim, muita. E porquê? porque é bem mais fácil falar do que fazer. A Europa como um todo é um gigante consumidor de energia que cada vez consome mais, ou seja a cada ano que passa consumimos mais e neste momento a Europa luta para NÃO aumentar a dependência da Rússia, procurando colmatar este aumento com importações vindas de outros produtores e para piorar a situação a própria Europa produz cada vez menos, estamos a esgotar os nossos recursos energéticos.


Os dados mostram claramente, a Europa está dependente de energia
importada e cada vez importa mais, ultrapassando os 50%, ou seja mais
de metade da energia que consumimos é importada. Dados Eurostat

 
Ou seja, a Europa anda à procura no mercado, quem lhes forneça, como anda o RESTO do mundo. A Europa tem que competir com outros grandes consumidores de energia, porque ao contrário do fornecimento que vem da Rússia, que vem por pipelines, a outra maneira é por transporte marítimo. E aqui temos uma GRANDE diferença, um pipeline não muda de rota, um barco SIM. O que quero dizer com isto? Quer a Europa alienar um fornecedor gigante com pipelines, em detrimento de vários fornecedores todos vindos de zonas duvidáveis, com governos bem piores, e que possam amanhã virar os barcos para outro cliente?
 
Temos algo mais, o motor da Europa a Alemanha, está a desactivar a as suas centrais nucleares, mas a Alemanha resolveu o seu problema e deixou de estar dependente de países trânsito, tem um pipeline exclusivo com o fornecedor, o que diz muito sobre a sua opinião acerca da Rússia como fornecedor.
 
Mas a Europa como um todo tem que competir com importadores energéticos de grandes dimensões, o Japão, que ainda por cima devido aos problemas nas suas centrais nucleares, teve que aumentar a importação da energia e a China... a China simplesmente não pára de crescer a um ritmo assustador a cada que passa.
 
Para reforçar um pouco a ideia:
 

 O consumo chinês não pára de crescer, a ritmos alucinantes.
 
 
China is now the world’s largest net importer of petroleum and other liquid fuels 
 
In September 2013, China's net imports of petroleum and other liquids exceeded those of the United States on a monthly basis, making it the largest net importer of crude oil and other liquids in the world. The rise in China's net imports of petroleum and other liquids is driven by steady economic growth, with rapidly rising Chinese petroleum demand outpacing production growth.
 
...
 
 
E o que se passa na Europa, que anda a fazer para acabar com a dependência da Rússia? naturalmente está a aumentar a sua importação via marítima que é como todos os outros fazem. Ou talvez não...
 

Importação de gás LNG dados de 2013, comparados com 2012
 
 
...Asia accounted for 75 percent of global gas demand last year, followed by Europe at 14 percent, the Americas at 9.3 percent and the Middle East at 1.3 percent, according to the Global Group of LNG Importers, an industry lobby in Paris. LNG imports into Europe declined in the past two years amid higher bids from Asian and South American customers seeking higher volumes, according to the organization...
 
...In 2013, Europe had net LNG imports of 35 million tonnes – its lowest volumes since 2004 and well below the 66 million tonnes in the peak year of 2011...
 
...LNG spot prices in Asia (and Latin America) stayed high, reflecting underlying tightness in the industry and reinforcing our view that the volumes were “pulled” away from Europe. In this environment, Asia was the predominant price-setting region for spot LNG cargoes...
 
 
A Europa habituada aos preços mais suaves e a ter um fornecedor gigantesco ao lado não está a gostar da experiência de ter que andar no mercado a competir com os asiáticos que pagam o que fôr preciso.  A Europa anda a brincar com o fogo com isto de querer afastar a Rússia...
 
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Como demorei muito a escrever, vou escrever uma "parte 2" mais tarde. O tempo que se gasta com isto...

domingo, 5 de outubro de 2014

Ucrânia: O Peso Da Rússia II


 
 


Vou focar-me na pressão russa, não sobre pressão militar que é a mais focada/falada na imprensa, mas sim económica. Enquanto muita atenção é dada à tensa trégua existente, o que vai ser decisivo nas tomadas de decisão é a pressão económica que pesa sobre a Ucrânia. E aqui temos alguns factores que não nos podemos esquecer.
 
Pelo o gráfico que coloquei, dá para visualizar a situação global ucraniana, ela é um gráfico descendente tal como as reservas de dinheiro que possui. E este é o grande problema, o dinheiro que a Ucrânia possui, o dinheiro que o país ainda consegue gerar, o dinheiro que consegue manter no seu território, nos seus bancos.
 
A moeda ucraniana tem perdido valor em relação ao dólar, ela está em queda livre, ou seja tudo o que seja importado é mais caro. Ora o país cada vez necessita de mais coisas importadas, porque está mergulhado numa guerra civil e muito do que produzia, está neste momento parado. Menos produção, menos dinheiro, mais desemprego, tudo a contribuir para uma maior fragilidade do país.
 
De todas as fragilidades, vou focar na que considero mais premente, a questão da energia, ou seja o gás.
 
Se até hoje a Ucrânia, se baseou em gás subsidiado russo, a mudança agora para preços de mercado é de todo impossível. Eles podem importar gás de outros produtores? podem, mas precisam de pagar preços de mercado e dinheiro é coisa que não têm e do pouco que têm e como a moeda ucraniana vale cada vez menos, seria necessário massivas quantidade de dinheiro para pagar o gás importado.
 
Podiamos pensar, que podem recorrer às suas reservas de moeda estrangeira, mas aqui entra o gráfico que coloquei, as reservas estão perigosamente baixas ou seja não vão conseguir virar para este lado. Comprando a quem quer que seja, tem ainda uma outra agravante, reflectir os preços de mercado ao mercado doméstico/industrial seria acabar com toda a indústria que ainda subsiste e atirar as pessoas para a miséria, porque não terão dinheiro para nada.
 
Só vejo duas alternativas para a questão do gás, ou negoceiam com os russos ou negoceiam com os europeus, um deles terá que subsidiar o gás, ou seja um deles irá pagar o gás ucraniano. Pelo o comportamento da Europa, estes foram muito activos em apoios democráticos, mas quando chegou a altura de avançar com dinheiro, olham para o lado, prova disso está na proposta da União Europeia para esta questão, os ucranianos que paguem. Algo que nunca conseguiram até hoje...
 
Resta negociar com a Rússia. E aqui começam os problemas, a Rússia encostou a Ucrânia completamente à parede. Retirou a Crimeia, quebrando a territoriedade territorial, parou com o fornecimento de gás, dá apoio aos territórios rebeldes e o Inverno está ai. Os trunfos estão do lado dos russos.
 
Como se isto não bastasse, temos as dívidas do gás, a Rússia reclama em números redondos 5 mil milhões em dívida e para retomar o fornecimento, a dívida tem que ser paga e têm que fazer o pré pagamento do gás que querem comprar.
 
Mas a coisa ainda não fica por aqui, a Rússia no ano passado, fez um empréstimo à Ucrânia de 3 mil milhões e esta dívida tem andado a pairar o país como uma sombra sinistra.
 
Só para a Rússia temos dívidas na ordem dos 8 mil milhões, exigem pré-pagamento do gás pretendido e a preços de mercado.
 
Vamos olhar para a ajuda que já veio do FMI, 1ª tranche 3,2 mil milhões, 2ª tranche de 1,4 mil milhões, isto dá para pagar uns 50% da dívida ucraniana aos russos e o dinheiro do FMI não é para ser usado nesse contexto. Podiamos pensar nos euros e dólares que tanto ao Europa como os EUA têm dado à Ucrânia, mas as quantidades têm sido na ordem de alguns meros milhões, o que não dá nem para a cova de um dente.
 
Portanto, a Ucrânia vai ter que engolir a questão da Crimeia e começar a pensar em dizer sim a qualquer coisa que os russos queiram, ou não haverá gás de todo neste inverno, esta é a realidade, a Ucrânia está completamente nas mãos da Rússia e a Europa é responsável por esta gigantesca confusão.
 
E como a Europa é responsável, se calhar arrisca-se a pagar de uma maneira ou de outra.
Porquê? A Ucrânia pode simplesmente retirar para si o gás que necessita e que está a ser enviado para a Europa. A acontecer isso, a Europa estaria a colher as tempestades que andou a semear. Porque não estou a ver como é que a Europa irá conseguir desbloquear o seu gás, sem que alguém pague a dívida ucraniana.
 
Até o tempo está do lado da Rússia, não será esta que terá pressa em resolver esta questão, a pressa estará na Ucrânia e na Europa.
 
Que venha o Inverno.