terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Sanções: Faz O Que Te Digo, Não Faças O Que Eu Faço




Este post será uma actualização de um outro que coloquei em finais de Outubro, Ucrânia No Espaço: O Fim?, e que fala acerca dos problemas e dependências de projectos do sector espacial americano.
 
Na altura, conforme indiquei, o foguete que explodiu tinha um estágio de fabrico ucraniano e foi esse que deu problemas. O embaraçoso foi descobrir a dependência em recentes foguetes americanos de componentes do tempo da URSS.
 
Depois deste embaraço, a quem os americanos recorreram para solucionar o problema? Por mais incrível que pareça, e será algo que não será muito badalado concerteza por aí. Foram ter com os russos. Os tais que estão debaixo de duras sanções ocidentais, sanções em tudo, excepto em algumas coisas...
 
Antares Upgrade Will Use RD-181s In Direct Buy From Energomash

Orbital Sciences Corp. will buy directly from Russia’s NPO Energomash a new rocket engine with a long heritage, to replace the surplus Russian powerplants tentatively implicated in the Oct. 28 failure of an Antares launch vehicle with a load of cargo for the International Space Station (ISS).
 
Designated the RD-181, the new engine will be used on Antares in shipsets of two to accommodate as closely as possible the two-engine configuration built around the AJ-26 engines supplied by Aerojet Rocketdyne, Orbital Sciences managers said Dec. 16...

...Congressional concern about Russian aggression in the Crimean peninsula led to a ban in the new National Defense Authorization Act (NDAA) on using RD-180s purchased after Russia occupied the Ukrainian territory on Feb. 1. Grabe said that legislation will not affect the deal to buy RD-181s from Energomash.
 
“We’ve coordinated with all relevant congressional committee staffs to keep them informed of our decision,” Grabe said. ...
 
 
Um pormenor importante aqui, a Orbital Sciences Corp., comprou os motores russos RD-181, e os que foram sancionados foram os RD-180, e porque este modelo foi referido? por algo muito curioso, os satélites MILITARES americanos são colocados no espaço por foguetões que usam os motores RD-180 russos e isto é algo que os preocupam, esta enorme dependência de material russo, em várias áreas do sector espacial americano.
 
Após sanções, a Rússia continua a enviar os motores para os EUA, para estes poderem colocar os seus satélites militares no espaço, conforme atesta este artigo:
 
Russian RD-180 rocket engines delivered to ULA
 
Dodging tit-for-tat sanctions that have paralyzed trade between the United States and Russia, a cargo plane landed in Alabama on Wednesday with two Russian-made RD-180 engines destined to power U.S. government spacecraft into orbit aboard Atlas 5 rockets.
 
The engines flew from Moscow to Huntsville, Ala., aboard a Russian Antonov An-124 transport plane. Workers planned to unload the engines for a road trip to United Launch Alliance's rocket factory in nearby Decatur, Ala.
 
The shipment marked the first time RD-180 engines were delivered to the United States since a senior Russian government official threatened to cut off the supply of engines for launches for the U.S. military, the primary customer for United Launch Alliance's Atlas 5 rocket.
 
...No hydrocarbon-fueled rocket engine currently produced in the United States matches the performance of the RD-180 engine...
 
...Responding to U.S. government sanctions targeting individuals with ties to the government of Vladimir Putin in the wake of Russia's annexation of Crimea, Rogozin proclaimed in a May 13 press conference that shipments of RD-180 engines for U.S. military satellite launches would end...
 
...A federal judge issued a temporary injunction banning future purchases of RD-180 engines by ULA or the Air Force, but she rescinded the order a week later after U.S. government officials assured the court that the transactions did not violate sanctions against Russia...
 
...After Wednesday's delivery, ULA has 15 RD-180 engines in its inventory in the United States. Another 27 RD-180 engines are on order with shipments scheduled through 2017... 
 
 
As voltas que este mundo dá. Se a hipocrisia, gerasse energia, não precisariamos de petróleo...

domingo, 28 de dezembro de 2014

Uma Questão De Ouro II


 
Nesta questão literalmente de ouro, tenho mais um assunto para falar, que considero interessante e que nos toca um pouco a nós, "nós",  União Europeia.
 
Vou colocar uma parte de um pdf que se pode encontrar aqui: [Latest World Official Gold Reserves] , pois quero focar as principais reservas de ouro.



Tirando o IMF, temos a lista dos Top 5. Destes 5 países, 3 pertencem ao "core" da UE e combinados, somam 8271,4 toneladas o que permite ver por outro prisma, o comparar os EUA e a força combinada da UE. Portanto no Top 5, temos basicamente os EUA, a UE  e a Rússia.
 
Também dá para reparar que no caso da Rússia, é o que possui dos 5 a menor quantidade de ouro e é também quem mostra uma percentagem menor relativamente às reservas que possui. As sensivelmente 1000 toneladas, representam apenas 10% do total das reservas, algo bastante diferente dos restantes.
 
Não está incluido nestes TOP 5, mas o país seguinte é a China, e esta também possui à volta de 1000 toneladas, sendo que estas apenas representam 1% do total das reservas chinesas. Percentagens bastante diferentes dos outros aqui referidos.
 
E se olharmos para as o total de reservas financeiras por país, temos um outro cenário interessante:
 

 
Eu tirei estes dados do site da CIA, para ver o total dos dados, consultar: [Link]
 
Em termos de reservas financeiras, a disparidade de valores entre a China e os EUA, é verdadeiramente abismal. Num confronto económico em larga escala, as potências ocidentais têm um problema, as riquezas não estão concentradas apenas no seu lado.
 
Neste contexto, um dos cenários em que penso, é na China e no seu possivel envolvimento à questão económica actual russa que está debaixo de fogo. A China é a fábrica do mundo, a Rússia o maior fornecedor energético mundial, um dos grandes problemas da China é arranjar energia para o seu brutal crescimento, e já existe vários pontos de tensão na Ásia, com as posições agressivas chinesas em relação a outros países na zona, a China quer o controlo das zonas ricas em energia e tem havido vários incidentes com demonstrações de força.
 
Dado que para este lado a China só pode ver confrontos, com vários países, incluindo os EUA, existe uma maneira bem mais pacífica de crescer nos próximos anos. A Rússia. E esta acabou de fazer este ano, acordos enormes para fornecer a fábrica do mundo. A Rússia vai passar a fornecer a China, pondo mesmo em risco o fornecimento à Europa. Por culpa desta.
 
Quer a China permitir, quando conseguiu acordar o acesso às vastas reservas russas, que a Rússia entre em convulsão económica, colocando em risco o que conseguiram este ano? Qual o interesse da China em ver uma Rússia instável, onde coloque em risco o seu fornecimento? Uma Rússia que perca controlo das suas reservas energéticas, uma Rússia que desvie novamente essas reservas para o Ocidente?
 
Penso que a actual situação ucraniana, poderá desencadear coisas bem maiores, num futuro muito próximo.
 
A China poderá desempenhar um papel bem mais activo (no contexto económico).
 
A China pode mudar o mundo tal como o conhecemos hoje.

Uma Questão De Ouro


 
 
 
Já estive para escrever sobre este assunto, como tantos outros que estão na calha, mas outras coisas vão passando pelo meio (como o tempo necessário para escrever...) e acabou por ficar como rascunho guardado nos meus arquivos.
 
O assunto emerge novamente nos meus pensamentos, devido a alguns artigos que tenho lido recentemente. Uma vez mais, induzem-nos em erro. Somos livres de pensar, mas curiosamente, somos conduzidos nos nossos pensamentos, de modo a pensar, de se chegar à conclusão, do que se pretende. Será possível? às vezes interrogo-me...
 
Vamos então à questão que acabou por me despertar desta letargia. A questão é literalmente de ouro. Vamos começar com alguns excertos de um artigo:
 
Russia raises gold reserves for 8th month, Ukraine cuts again
 
Russia raised its gold reserves for the eighth month in a row in November, while Ukraine reduced its bullion holdings for a second straight month, according to International Monetary Fund data released on Tuesday.
 
Russia, the world's fifth-largest holder of bullion reserves, raised gold holdings by 18.753 tonnes to 1,187.493 tonnes last month.
Part of the increase comes as Russia's central bank has been forced to step up buying from domestic producers hurt by Western sanctions following the Ukraine crisis, Reuters reported earlier...

...
Ukraine is near bankruptcy, dependent on international loans, and deeply in debt for natural gas to Russia. Its foreign currency reserves tumbled to a 10-year low in November...

[Link]

De notar a questão ucraniana, também referida no artigo, dos graves problemas económicos que os afecta. Mas o que quero chamar a atenção é à explicação para o facto da Rússia aumentar as suas reservas de ouro. As suas reservas de ouro crescem devido ao facto dos produtores domésticos não conseguirem vender para o exterior e o banco central russo ficar obrigado a comprar.
 
Tudo muito bonito. A justificação até encaixava, se por acaso a Rússia, só andasse a comprar ouro agora. Mas não anda. A Rússia tem andado a comprar ouro muito antes das sanções, muito antes da situação na Ucrânia. Então porquê dar justificação tão estranha?
 
Parece-me que a única razão é que não estão a perceber como é que a Rússia à beira de um colapso económico, ainda consegue aumentar as suas reservas de ouro, ao contrário da Ucrânia, que se comporta como "deve" a vender o pouco que ainda tem. Vai daí arranjamos esta justificação, só estão a comprar porque necessitam de dar um ajudinha aos produtores domésticos...
 
Para se ter uma ideia dos níveis dos valores do ouro russo, vou deixar um gráfico que é auto explicativo:
 

 
Como podemos ver pelo o gráfico, a Rússia começou a acelerar as suas reservas de ouro em meados de 2007 e não tem parado desde então. Os valores de crescimento são significativos e não estamos a ver 2013 até hoje. Vamos espreitar mais um gráfico:
 
 
Este gráfico vai até Julho deste ano e confirma-se a mesma coisa, a Rússia continua a acumular ouro, já com a crise ucraniana e as sanções em vigor. Não está a vender. Não parou de comprar, continua a seguir o seu caminho.
 
Vamos olhar ainda mais de perto:

Big Lesson For Gold Investors In Russia's Currency Crash
 
Russia has been the world’s biggest buyer of gold this year, taking its national holdings into the top five worldwide, but Russia’s huge central-bank gold demand has done nothing to stop its currency and economy crashing, an awkward truth for hard-money fans in the West who think central-bank buying always signals strength and vigor.
 
Now some traders fear Moscow could dent the gold price and related ETFs like the SPDR Gold Trust (GLD) by selling some of its hoard to raise dollars and euros, and then selling them to buy rubles and try to support the currency’s FX rate. Indeed, it seems one over-excited translation of a Russian website has even led a professional bank analyst to say it is “possible the Central Bank of Russia has started to sell off some of its gold reserves in December.”
 
In reality, the CBR was still adding gold in November, and the odds are very slim that it will dare sell any gold yet, much less report it to the world. First because there is another state-owned stockpile of precious metals to get through first, palladium. Second because even cold cash is unlikely to trump the political value of Russia’s gold reserves.
 
It was late in 2005 when President Vladimir Putin publicly approved a plan from the Central Bank of Russia (CBR) to double Russia’s state gold holdings. He set the target at 10% of total reserves by value, a level lost after the 1998 ruble crisis as Russia first sold down its gold holdings near 20th century lows, and then as it hoovered up dollar and euros thanks to the surge in energy prices...
 
 
A Rússia em Novembro, continuou a comprar ouro e aproxima-se das 1200 toneladas. É o maior comprador do mundo de ouro este ano e destronou a China, ficando em 5º lugar.
 

Dados de 2009
 

 
Outubro deste ano
 
Ou seja, esta guerra económica que estamos a ver, ainda vai ter muitos episódios, a Rússia não está a ceder, como seria expectável nas condições em que se encontra. E falta ver, quem irá dar algum suporte. Ou seja, a Rússia está a dar a cara, pelos os países "não ocidentais", onde muitos acham que o mundo deveria ser mais multipolar e esta questão da Ucrânia, pode crescer, pode evoluir, para outras questões pendentes, tal como o domínio do dólar.
 
Isto porque a Rússia vai passar a alimentar energéticamente a China, e a India tem a Rússia como um parceiro priveligiado. E nenhum destes está de acordo com as recentes acções ocidentais. Temos problemas na Ucrânia, Síria, Afeganistão, Líbia, Iraque.
 
Podemos estar à beira de um choque de civilizações. 


quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Opções Europeias: South Stream E Ucrânia


Vou fazer um update a estes temas, dado o evoluir da situação. Estamos a presenciar uma escalada de hostilidades onde a economia está ao rubro. A imprensa tem dado grande destaque à situação económica russa, fomentando um estado de pânico, prevendo um colapso da economia, devido à queda do preço do petróleo. Estamos a assistir a algo interessante/importante, a Rússia esforçou-se ao longo da última década em reforçar as suas reservas financeiras, para dias difíceis e está agora a testar as suas teorias, pode a Rússia conter um ataque económico? Eu penso que sim, terá que haver uma grande travagem a nível de investimentos, mas será difícil de fazer parar a máquina. Não podemos esquecer que não é só a Rússia que é atingida economicamente, vários países são afectados também.

Menos atenção tem a imprensa dado ao South Stream e muito menos à economia ucraniana, onde a situação está deveras explosiva.

Vou falar agora relativamente ao South Stream e a um desenrolar interessante, sobre a visita do primeiro ministro Búlgaro à Alemanha para falar com a Merkel:





Dialogue with Russia on South Stream must continue, Merkel tells Bulgarian PM Borissov

The European Union has not given up on the South Stream gas pipeline project and therefore the dialogue with Russia must continue, German chancellor Angela Merkel told visiting Bulgarian Prime Minister Boiko Borissov during talks in Berlin on December 15...

...Merkel told Borissov that Germany had good experience with Russia as a reliable partner and had received assurances from Bulgaria that it too was a partner that could be trusted....


Declarações interessantes de Merkel. É preciso não esquecer, que os alemães estão descansados, eles têm um pipeline directo para a Rússia e agora não deixaram os outros fazer o mesmo, mas Merkel deu indicações que é necessário ir falando do South Stream. Com a Rússia.

Também é interessante ver pela perspectiva das empresas que participam no South Stream, é que muitas são europeias e claro, essas estão a sentir na pele a paragem do projecto.

South Stream cancellation means anxious wait for pipemakers



Russia's decision to scrap the South Stream natural gas pipeline to Europe has left pipeline makers from Japan to Germany awaiting the fate of deals worth $2.24 billion...

...Germany's Europipe was supposed to supply half of the pipes for the first stage, with Russia's United Metallurgical Company (OMK) and Severstal's Izhora Pipe Mill providing the rest of it...

Italian oil services group Saipem has been notified of a suspension of activities which include pipe-laying operations. Its chief executive has said that could mean a loss of 1.25 billion euros in revenue in 2015...



Ou seja, temos muita gente a perder com isto. Os europeus podem fazer uns sorrisos, mas apenas amarelos, isto afecta empresas europeias.

E quanto à Ucrânia?  

A Ucrânia grita por socorro, mas este (o dinheiro) tarda em chegar.

Não vejo ninguém com vontade de enterrar mais dinheiro e as necessidades aumentam drasticamente como se pode ver:


IMF warns Ukraine bailout at risk of collapse


The International Monetary Fund has identified a $15bn shortfall in its bailout for war-torn Ukraine and warned western governments the gap will need to be filled within weeks to avoid financial collapse...

...The additional cash needed would come on top of the $17bn IMF rescue announced in April and due to last until 2016...

...People briefed on the IMF warning said the fiscal gap has opened up because of a 7 per cent contraction in Ukraine’s gross domestic product and a collapse in exports to Russia, the country’s biggest trading partner, leading to massive capital outflows and a rundown in central bank reserves... 

...the European Commission was weighing a third rescue programme on top of the €1.6bn ($2bn) it has already committed to Kiev; the Ukrainian government has requested an additional €2bn from Brussels...

...Under IMF rules, the fund cannot distribute aid unless it has certainty a donor country can meet its financing obligations for the next 12 months, meaning the fund is unlikely to be able to send any additional cash to Kiev until the $15bn gap is closed...

...The scale of the problem became clearer last week after Ukraine’s central bank revealed its foreign currency reserves had dropped from $16.3bn in May to just $9bn in November. The data also showed the value of its gold reserves had dropped by nearly half over the same period...

Os dois últimos parágrafos são bastante interessantes. Uma verdadeira pérola, destes nossos políticos europeus que tomam as decisões...

...According to two people who attended the EU meeting, concern over Ukrainian finances has become so severe that Wolfgang Schäuble, the German finance minister, said he had called his Russian counterpart, Anton Siluanov, to ask him to roll over a $3bn loan the Kremlin made to Kiev last year.

George Osborne, the UK finance minister, expressed surprise at the request, attendees said, saying the EU was now asking for help from Russia at the same time it was sanctioning the Kremlin for its actions in Ukraine. 



A Europa está a arranjar uma bela duma situação. A Europa vai ter que abrir a carteira para a Ucrânia e vai ter que subsidiar a energia que a Ucrânia consome, por vários anos. Tal como a coisa está, dinheiro vinda da Rússia acabou. 

E como um mal nunca vem só, a Ucrânia teve mais "boas" notícias, dinheiro que era suposto entrar, foi-se.

Chevron pulls out of shale gas project in Ukraine

US energy giant Chevron has told Ukraine that it will pull out of a $10bn shale gas exploration project agreed last year, officials said, in a further blow to the country’s war-torn economy and its hopes for an alternative to Russian gas imports...

...The cancellation comes months after Royal Dutch Shell, which also signed a multibillion-dollar production sharing agreement last year, froze shale gas exploration in eastern Ukraine amid fighting between government forces and Russian-backed separatists...

...The agreements with Shell and Chevron were hailed as game-changing opportunities to unlock Ukraine’s potentially large shale gas reserves and break Kiev’s dependence on costly Russian fuel imports...

Pressure increased on Kiev late on Monday when Russia’s Gazprombank announced that it could seize 5.7bn cubic metres of gas — close to half Ukraine’s stockpile — as collateral to cover early repayment for a $842.5m loan to Ostchem, the chemical group controlled by Ukrainian billionaire Dmytro Firtash.



Vamos ter umas semanas interessantes. Com muito dinheiro. E do nosso.

sábado, 6 de dezembro de 2014

Europa Começa A Pagar O Gás E A Manutenção Dos Pipelines Ucranianos

 
 
 
Vou colocar uma sequência de artigos de modo a mostrar a minha linha de raciocinio. Recentemente indiquei o estado crítico da Ucrânia e penso ser importante esta actualização.
 
No Dia 1 de Dezembro saiu a notícia que o Banco de Investimento Europeu iria emprestar 150 milhões de euros para actualizações nos pipelines.
 
"...Ukraine borrowed 150 million euros ($187 million) from the European Investment Bank on Monday to upgrade its section of pipelines that carry gas from Russia to Europe, The Associated Press (AP) reported. The money would be sent to the state-owned pipe operator Ukrtransgaz..."
 
 
Ou seja, isto mostra mais um dos problemas que a Europa enfrenta, a Ucrânia não tem dinheiro para fazer manutenção dos seus pipelines e se não tem, a Europa arrisca-se a ter falhas de fornecimento do seu principal país de trânsito.
 
Dia 3 de Dezembro saiu a notícia de que a UE alocou para a Ucrânia mais 500 milhões de euros.
 
"The European Commission, on behalf of the EU,today disbursed €500 million to Ukraine. This is the second and final loan tranche of the EU's €1 billion Macro-Financial Assistance (MFA II) programme for Ukraine approved earlier this year..."
 
 
No Dia 5, nova notícia, a Ucrânia, com o Inverno a apertar, começa a ter uma necessidade imperativa de obter gás. Sem dinheiro, só tem duas opções, ou desvia o gás europeu ou recebe financiamento. Está claro qual a opção escolhida. A Europa não pode permitir que o seu gás seja desviado. Terá que pagar o gás ucraniano.
 
"With freezing temperatures gripping Kiev, Ukraine's state energy firm Naftogaz said on Friday it had transferred $378 million to Russia's Gazprom to buy Russian gas for December, paving the way for the first shipments since Moscow cut supplies in June..."
 
 
E porque tem a Europa que pagar? Porque a Ucrânia está assim:
 
"Ukraine's reserves slump below $10bn
 
Ukraine's central bank reserves have dipped below the $10bn mark for the first time since at least 2005 after making a gas payment to Russia's Gazprom, underscoring the precarious position of the country's economy...
 
...The central bank's firepower is now all-but depleted, with reserves down to just $9.9bn in November, from almost $40bn in 2011...
 
...In a statement, the National Bank of Ukraine attributed the drop to a $1.45bn payment to Russia's Gazprom for unpaid invoices, interventions to defend the shaky domestic currency, and foreign debt payments to creditors including the IMF...
 
...Officials have also asked the EU to provide some €2bn of fresh financial assistance...
 
...Facing a cold snap, state-owned gas company Naftogaz is expected to dole out hundreds of millions of dollars in coming days – perhaps with more central bank assistance – to import natural gas from Gazprom..."
 
 
A situação está bastante má e as opções políticas que a Europa tem tomado, faz com que possa ser sugado para este buraco negro em que se transformou a Ucrânia.
 
A Europa arranjou um problema sério. 
 
E nós vamos pagá-lo.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

South Stream: A Bomba Atómica



 
 
Aconteceu algo inesperado. O South Stream foi cancelado. Putin falou. A coisa é tão surpreendente, que apanhou todos desprevenidos, jornalistas incluidos. Tenho desde ontem espreitado as notícias sobre o assunto e fiquei com a sensação de que os jornalistas não sabiam se havia de festejar ou de lamentar. Afinal sempre se tem dito que a Rússia precisa da Europa para vender o seu gás, que tem a Rússia mais necessidade de vender à Europa, que esta de consumir.
 
Quem tem arrastado o South Stream, de modo a fazer pressão, realmente foi a Europa, mas quem cancelou o projecto foi a Rússia. Algo não deve estar a bater certo, para muito analista. Não deveria ter sido a Europa a ter dado esta bofetada? Como é que um país como a Rússia tão dependente da venda de matérias primas vai fazer uma loucura destas?
 
O South Stream foi sempre um tema que falei e que escrevi, vários posts estão aqui sobre ele. A minha opinião é clara, a Europa precisa deste pipeline. A Europa precisa do gás russo, se quer ter estabilidade energética. Diz-se que a Europa necessita de diversificar as fontes. Concordo, mas volto a insistir, essa diversidade não pode ser em detrimento da Rússia e não é apenas diversificar as fontes, mas também os países trânsito. O South Stream não diversifica a fonte, mas diminui a dependência que a Europa tem da Ucrânia.
 
Neste  momento a Europa está dependente de fornecimento de gás russo, através de um país mergulhado numa guerra civil. O fornecimento já foi afectado anteriormente, exactamente por causa da Ucrânia. Com o cancelamento do South Stream, o futuro da Ucrânia cada vez é mais crítico para a Europa, instabilidade na Ucrânia, implica instabilidade no fornecimento energético europeu. É anedótico que com tanta preocupação com a segurança energética europeia, o que se fez nos últimos tempos é verdadeiramente o oposto dessa preocupação. A Europa não deu um, mas sim vários tiros no pé.
 
Dito isto, vou dar o meu palpite sobre este cancelamento.
 
Penso que não seja um cancelamento definitivo, mas sim uma suspensão temporária. Apesar de a Rússia estar a virar para o mercado Asiático, o mercado europeu é importante e continuo a achar que a Rússia não quer virar as costas à Europa, apesar do actual clima político.
 
Agora, o que ganha a Rússia com esta cancelamento/suspensão?
 
1) Ganha força política.
 
Ao cancelar o projecto, os países europeus que querem o South Stream e têm lutado para isso, vão fazer barulho. Estes países ficaram entalados e vão apontar o dedo à Alemanha, esta tem um pipeline exclusivo, "nós" ficamos dependentes da Ucrânia.
 
2) Aplicação de Sanções
 
Não podemos esquecer que o projecto é da Gazprom, e esta subcontratou várias empresas europeias para implementar o projecto. Todas elas vão sofrer. Este projecto de vários milhares de milhões de euros, iria dar trabalho a muita gente e a muita empresa europeia. Acaba por ser uma resposta às sanções europeias e das duras.
 
3) Gazprom/Estado Russo
 
Com a queda brutal do preço da energia, as empresas energéticas precisam de abrandar os seus investimentos, quanto menor for o preço da energia, mais demorado será o retorno do investimento. A Gazprom, não está imune a isto e o estado russo também não. O lucro das vendas será desviado, diminui o investimento, aumenta os valores disponíveis para o estado russo, que está a ser obrigado a corrigir os seus gastos, devido à situação actual de guerra económica.
 
4) Crimeia
 
Eu já o tinha referido aqui anteriormente e vou voltar a insistir. Quando o South Stream foi projectado a realidade era outra, ou seja a Crimeia era ucraniana, o que obrigou a que o traçado do pipeline, contornasse a parte do Mar Negro que pertence à Ucrânia.
 



Mas agora a realidade é outra. A Crimeia é russa e precisa de receber energia. A Crimeia está ligada à Ucrânia e esse cordão umbilical foi cortado. Um novo traçado iria resolver vários problemas:
 
1) Deixa de estar na zona turca.
 
2) Abastece a Crimeia
 
3) Torna o projecto bastante mais barato. Por duas razões: traçado mais curto e seria colocado numa zona menos profunda. Na imagem seguinte, tracei um esboço do que seria o traçado ideal do pipeline, passando pela Crimeia e reparem na imagem que mostra as diferentes profundidades do Mar Negro, com este novo traçado, iria estar na zona menos profunda.
 
 

Conclusão? Acho que não vai ser cancelado, acho que terá que haver um entendimento político.

Nós, Europa, precisamos deste gás russo, não podemos permitir que seja enviado para outro lado, não podemos ficar dependentes de países Árabes, Africanos,Marcianos. Temos o maior fornecedor do mundo aqui ao lado, não se pode permitir que nos vire as costas e se foque na Ásia.

Não podemos comprometer a nossa segurança energética. O mundo cada vez consome mais energia.