terça-feira, 28 de julho de 2015

Efeito Grécia e Crimeia: Capacidade Ofensiva Chinesa Aumenta


A crise grega e a situação na Crimeia, trouxeram um interessante desenvolvimento. Com pouco efeito na Europa, mas com um enorme impacto na Ásia.

Uma das coisas que sempre foi referido acerca das capacidades militares chinesas ao longo dos anos, foi a sua falta de projecção. Expandir a sua área de influência, tem sido algo problemático. Para contrariar os seus desejos expansionistas, temos Taiwan, Japão e claro, os EUA. As frotas americanas com os seus porta-aviões são um forte dissuasor, limitando bastante as opções chinesas.

A China tem investido fortemente, no aumento do seu poderio militar, tendo em vista negar o actual domínio por parte dos EUA nesta zona do globo. Com a ajuda da Ucrânia, a China adquire o seu primeiro porta-aviões. Foi anunciado na altura que iria ser um casino, mas em 2012 ficou assim:

1º porta aviões chinês de fabrico soviético

Comprado em 1998 para ser um casino...

Dá para ter uma ideia, dos planos a longo prazo que vão fazendo. Adquirir disfarçadamente um porta-aviões com a justificação de um casino flutuante, para 14 anos depois aparecer como o primeiro porta-aviões chinês, mostra que existe planos atrás de planos e que nem tudo o que anunciam, significa a realidade algures no futuro.

A modernização e aumento das capacidades militares chinesas têm aumentado significativamente durante estes anos. O Japão mostra cada vez mais sinais de nervosismo, porque isto não augura nada de bom num futuro não muito longínquo, várias nações na área estão na mesma situação, a China dá sinais de querer dar início à sua expansão.

Aqui começamos, com algo bastante interessante. É possível expandir o nosso território? afinal ainda há espaço no planeta terra. A China encontrou uma solução, que é uma espécie de dois em um. Expande território  e cria "novos porta-aviões". As novas ilhas chinesas, construídas artificialmente.

Construção de uma pista de grandes dimensões

A actividade é impressionante

Estes são os novos "porta-aviões", que apesar de estáticos, têm a vantagem de poder conter vários sistemas defensivos como ofensivos. Estas ilhas necessitam de receber todo o  tipo de suporte vindas do continente e para tal o tamanho da pista irá permitir receber qualquer tipo de avião, e terá também um porto. E em caso de crise, quando a pista não estiver em condições de receber aviões, ou o porto desactivado devido a uma situação de conflito, planeia a China alternativas?

Sim.

A China está a construir o maior avião anfíbio do mundo, o AG-600. E é para estar pronto ainda este ano.


AG-600 




Podemos considerar que seja para um rápido reforço de algo que as ilhas necessitem, não havendo condições para usar a pista.

E se algo mais for necessário, algo maior e mais pesado? como levar para uma ilha onde tanto o aeroporto como o porto estiverem inoperacionais, rapidamente?

Para isto a China decidiu investir no maior hovercraft do mundo, o Zubr de fabrico soviético.

Zubr - Maior hovercraft do mundo

Este hovercraft possui a capacidade de transportar 3 tanques pesados, em alternativa 10 tanques ligeiros, ou 360 soldados completamente equipados.

Para tal decidiu adquirir uma frota de 4. A encomenda foi feita à Ucrânia que herdou a capacidade de os fabricar. O problema desta encomenda, foi ter sido acordado que dois deles seriam construídos na China, passando para a China o conhecimento. A Rússia que também os constrói, não gostou.

O panorama mudou com a integração da Crimeia na Rússia. É que estes hovercrafts são produzidos na Crimeia, tendo a Ucrânia perdido a capacidade de produção, estando toda nas mãos dos russos.

Em 2014, o 2º hovercraft produzido na Ucrânia, foi entregue à China, com a autorização da Rússia.

Construído na Crimeia - Ucrânia, agora Crimeia - Rússia 

Ou seja, a alteração do mapa político na Ucrânia/Rússia não colocou em perigo a entrega dos navios, afinal a relação Rússia/China é bem mais extensa. Ficou a questão de quem ficaria a cargo a assistência aos 2 restantes navios a serem produzidos na China.

Notícias recentes esclarecem a coisa:


Russia's Rosoboronexport to supply China with Zubr landing craft
ordered in Ukraine

According to Russian state owned news outlet TASS, Russia’s arms exporter Rosoboronexport intends to fulfill the contract on the supply of the Zubr landing ships to China, Rosoboronexport deputy CEO Igor Sevastyanov told reporters on Friday at the International Maritime Defence Show (IMDS-2015) in St. Petersburg.

"The Morye shipyard that designed these Zubr vessels is a Russian plant, so, naturally, the task is to fulfill this contract — the contract that had been signed between Ukraine and the People’s Republic of China," Sevastyanov said.


A Rússia dá o seu aval, a China terá os seus 4 navios, para poder deslocar a alta velocidade, qualquer coisa como 12 taques pesados, ou 40 tanques ligeiros, ou 1440 soldados.

E aqui entra a crise grega. A crise grega deu um sério impulso às capacidades de transporte chinesas. Com a necessidade imperativa de obter dinheiro, a Grécia vendeu os seus Hovercrafts à China. A Grécia possuia 4 Hovercrafts, do mesmo modelo, os Zubr.

A crise grega, que não foi resolvida em tempo útil, deu à China num curto espaço de tempo a duplicação da sua frota. A China nem precisa de aguardar pela construção deles (os outros foram encomendados em 2009 e assistimos à entrega do 2º em 2014), 5 anos foram ganhos pela crise grega.

A China possui agora a maior frota deste género, com a capacidade de deslocar 24 tanques pesados, 80 tanques ligeiros, ou 2880 soldados.

Até onde poderá ir os efeitos da crise grega, mas uma coisa é certa. A política externa europeia, está a ter resultados desastrosos para os interesses europeus. Num curto espaço de tempo, a Europa arranjou várias crises. A crise do Mediterrâneo, a crise da Ucrânia,a crise da Rússia, a crise do fornecimento energético, a crise grega.

A Europa, conseguiu desviar a energia russa para a China, a produção de leite para a China e até material militar que coloca a China numa posição muito mais forte nos mares da China.

Que mais conseguirá a Europa fazer?

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Programa Espacial Americano Aumenta Dependência Da Rússia





Este artigo será uma continuação do Sanções: Faz O Que Te Digo, Não Faças O Que Eu Faço onde chama a atenção para a dependência americana da Rússia no sector espacial. O que pretendo com este novo artigo é realçar que essa dependência está a agravar-se e não parece haver solução para os próximos tempos.

Neste momento os EUA dependem da Rússia, para levar os seus astronautas para o espaço, como também depende para levar os seus satélites militares. Ou seja, neste momento só colocam os seus astronautas e alguns dos seus satélites, porque a Rússia o permite.

Isto mostra, que a Rússia ainda possui alguns trunfos na manga, ou seja capacidade de resposta a certos tipos de sanções que possam ser activados. Impedir os astronautas americanos de aceder à Estação Espacial Internacional, seria deveras embaraçoso. Da mesma maneira, ficar impedido de lançar os seus satélites militares, é, além de embaraçoso, uma falha grave na segurança nacional.

Após a falha do Space X, com a explosão de um foguetão 2 minutos após o lançamento e que iria reabastecer a ISS, fez lembrar estas coisas de foguetões, não é apenas desenhar um e lançá-lo. Este tipo de empreendimentos exige somas muito avultadas e muitos percalços pelo o caminho. E não é por ser uma empresa privada que as coisas vão andar melhor. Privado ou não, os contractos são estatais e esta empresa privada está dependente de dinheiros públicos.

Mas a questão aqui é outra que quero chamar a atenção. Após a explosão deste foguetão, temos declarações do senador John McCain que mostra a frustração e impotência de não poder afastar a dependência russa.

Saiu um artigo no The Wall Street Journal, que levanta as questões, o imbróglio, onde o programa espacial americano está metido. Não foi escrito por um curioso na matéria, foi escrito pelo General William Shelton, e que deixo aqui um excerto da bibliografia:




Gen. William L. Shelton is Commander, Air Force Space Command, Peterson Air Force Base, Colo. He is responsible for organizing, equipping, training and maintaining mission-ready space and cyberspace forces and capabilities for North American Aerospace Defense Command, U.S. Strategic Command and other combatant commands around the world. General Shelton oversees Air Force network operations; manages a global network of satellite command and control, communications, missile warning and space launch facilities; and is responsible for space system development and acquisition. He leads more than 42,000 professionals assigned to 134 locations worldwide.

Até Agosto de 2014 este foi o seu posto, e basicamente o que defende é que não se pode deixar de comprar os motores russos, enquanto não existir alternativa viável, os EUA terão que depender da Rússia, como podemos ver pelo o artigo:


National Security After the SpaceX Explosion

Congress’s demand to cease using Russian engines may leave the military dependent on unproven rockets.

The explosion of an unmanned SpaceX rocket after liftoff at Cape Canaveral in Florida on Sunday was a graphic reminder of why U.S. national space policy requires that there be two independent means of launching satellites for national-security missions: in case one launch system fails. 

...Critics who are unhappy about the use of Russian rocket engines for national-security launches have campaigned to get SpaceX involved in those missions. But the failure of its Falcon 9 version 1.1 rocket should give everyone pause about jettisoning a dependable arrangement vital to U.S. security...

Current U.S. space policy is implemented by buying both the Atlas V and Delta IV rockets from the United Launch Alliance, a joint venture of Lockheed Martin and Boeing. Both rockets have a 100% success record—83 launches without failure.

Yet Congress is on the verge of passing legislation—the fiscal 2016 National Defense Authorization Act—that will put U.S. space policy at considerable risk.

The problem arose last year from attacks on United Launch Alliance as a monopoly and for using Russian-made engines on its rockets...

Today the Atlas V lofts two-thirds of all national-security satellites. The first stage of the rocket is powered by the Russian-produced RD-180 engine...

...before any new company can compete for national-security launch contracts, it must pass a rigorous certification process to ensure its rocket or rockets are reliable.

SpaceX is the first company to complete the certification process for its Falcon 9 Version 1.1 rocket—the one that failed on Sunday...

...the fiscal 2015 National Defense Authorization Act, which became law last December, banned using the Russian-made RD-180 beyond the remaining few engines already under contract. The purported rationale is to uphold Russian sanctions and avoid rewarding the country’s bad behavior in Ukraine and elsewhere...

The December legislation also mandated that a new American rocket engine be ready by 2019...Many experts are dubious about this timetable. Yet even if United Launch Alliance can meet the deadline, it will run out of RD-180 engines well before its new rocket is ready...


...Once United Launch Alliance runs out of RD-180 engines and Delta IV production stops, the only available rocket for most payloads will be SpaceX’s uncertified Falcon 9 Full Thrust...


Resumindo, temos uma data, 2019 para ter uma alternativa aos motores russos, mas essa data está a ser colocado em causa, por alguém de que sabe do que fala e ainda só estamos em 2015. Os EUA vão ter que comprar mais motores à Rússia até 2019 e ainda vamos ver a partir daí, quantos anos mais serão necessários.

Dado que o General retirou-se no ano passado, vamos ver o que diz o novo comandante:


Air Force: RD-180 replacement timeline tight, could limit competition

Pentagon and Air Force officials Friday warned lawmakers that a congressional push to limit the use of a Russian-made rocket engine, and the development of a U.S.-made alternative, is likely to extend beyond the 2019 deadline.

Gen. John Hyten, commander of Air Force Space Command, told the House Armed Services Committee that the Senate Armed Services Committee's push to stop all use of the Russian-made RD-180 engine, which is used on national security payloads, is "aggressive."

United Launch Alliance, SpaceX, Orbital ATK, Aerojet Rocketdyne and Blue Origin – told the committee earlier Friday that they could get their rockets ready by the 2019 deadline. However, Hyten warned, those rockets would still need to be certified, and launch systems would need to be adjusted to work with the new rockets, adding years until a new launch system would be ready.

Even a copy of the RD-180 engine built to drop in to a ULA Atlas V would take years to develop by accounting for even minor changes in engineering, said Lt. Gen. Samuel Graves, commander of the Air Force Space and Missile Center. There would be modifications to launch vehicle structures, fuel systems, heat shields, thrust vector control and throttling, all adding time to an already tight deadline. 

...You cannot simply drop in a replacement rocket engine without extensively re-engineering the entire launch system."...

Michael Griffin, the deputy chair of an RD-180 Availability Risk Mitigation Study, said the Senate's action is "too abrupt," and does not allow the Pentagon to wean itself off of the Russian engine...

While Senate leaders, especially Armed Services Committee chairman Sen. John McCain, R-Arizona, are anxious to completely stop the use of the RD-180, House lawmakers were more accepting to the need to keep some of the rockets available to keep assured access to space.

The Senate Armed Services Committee's version of the fiscal 2016 National Defense Authorization Act limits the Pentagon's amount of Russian RD-180 rocket engines to nine...

...The Air Force wants to be able to buy 14 more of the engines to be able to cover launches until 2022...


Resumindo, o actual comandante, partilha a mesma opinião do anterior, não existe actualmente alternativa aos motores russos e é necessário garantir a sua aquisição. Mais, o actual comandante coloca em causa o prazo de 2019, duvidando que exista alternativa por essa altura.

Podemos ver isso claramente, pelo o que é pedido. É autorizada a compra de mais 9 motores russos, mas a Força Aérea pretendo 14 motores. Isto para cobrir os lançamentos até 2022!

Ou seja, as sanções à Rússia foram criadas em 2014 e foi no ano passado que começou esta polémica. Um ano depois, descobrimos que o prazo para 2019, não é realista e que pelo menos até 2022, não haverá alternativas credíveis, 8 anos depois de ter sido decidido aplicar sanções à Rússia!!!

Mas se isto só por si já é bastante grave, o que aí vem é bem pior!

Estes motores estão a ser construídos exclusivamente para os Estados Unidos, existindo aqui também uma dependência russa na sua venda. E se os EUA estão à procura de uma alternativa, a Rússia também está e ela chama-se China.

A China indicou este mês que está interessado no motor que a Rússia constrói para os Estados Unidos, para uso no seu programa lunar.

Ou seja, os EUA podem não ter 8 anos para encontrar uma alternativa, pois a Rússia já encontrou um novo cliente. A China.

O preço da "brincadeira" na Ucrânia, mostra-se cada vez mais elevado.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Sanções Europeias, O Preço A Pagar



Vou escrever um pouco mais sobre este assunto, de modo a reflectirmos e pensarmos no enorme impacto que as opções europeias vão ter na Europa, nós incluído.

Vou focar apenas um dos sectores que foi e está a ser afectado, o do leite.

Antes de mais, tentemos visualizar o que significa as sanções à Rússia. A Europa está a fazer sanções a UM país, a Rússia. Um país que demograficamente equivale a 14 países da dimensão de Portugal. Ou seja, pela nossa dimensão, a Europa estaria a sancionar 14 países. Muita gente.

Podemos dizer que parte da balança comercial entre a Europa e Rússia, possui algum equilíbrio, a Rússia exporta principalmente energia para a Europa e importa desta vários produtos. Com a entrada das sanções, gerou uma resposta simétrica, vários produtos europeus foram barrados de entrar, mas a energia continua a fluir para a Europa.

A Rússia continua a fornecer energia e a ser paga em moeda forte pela mesma, os produtores/fornecedores europeus, viram uma porta a ser fechada. Uma, ou 14 portas, depende da perspectiva que se queira ver.

Vamos então focar o sector do leite, algo que afecta também os produtores portugueses.

Final de 2014:

NUVENS NEGRAS SOBRE A PRODUÇÃO DE LEITE EM PORTUGAL

"Milhares de produtores de leite em Portugal foram surpreendidos com uma prenda amarga, poucos dias antes do Natal: a comunicação da baixa de 3 cêntimos por litro de leite pago ao produtor, a partir de 1 de Janeiro de 2015. Para a maioria dos produtores, isto representará uma descida de 6 cêntimos / litro no prazo de 8 meses. Para alguns, serão 8 cêntimos. Com esta baixa de quase 10%, a esmagadora maioria da produção irá ficar no limiar da rentabilidade...

...Esta baixa de preço, que ocorre quando estamos ainda a três meses do final do regime de quotas leiteiras, representa uma enorme nuvem negra sobre a produção do leite português. É público que o mercado europeu de leite regista dificuldades devido ao embargo russo e à redução de importações por parte da China...


Junho de 2015:

Setor do leite confrontado com "previsões ainda mais pessimistas"

As quotas leiteiras na União Europeia acabaram há três meses. Três associações de produtores, ouvidas pela TSF, dizem que o setor está a atravessar uma grave crise e que várias explorações poderão ter de fechar.

José Campos Oliveira da Associação de Produtores de Leite e Carne diz que o setor atravessa uma crise que "não tem paralelo desde que o país aderiu à União Europeia". Este dirigente associativo diz que o embargo à Rússia, o fim das quotas e a dimuição do consumo de leite estão a criar uma "situação gravíssima" que originou uma quebra de preços na "ordem dos 25 a 30%".

José Campos Oliveira revela que várias explorações estão a vender abaixo dos custos de produção e "isso não é sustentável por muito tempo.

Carlos Neves, da Associação de Produtores de Leite de Portugal diz que a situação "ultrapassou as previsões mais pessimistas. Há importações de queijo ao preço da chuva. Há menos consumo e mais produção na Europa"...



"Há menos consumo e mais produção na Europa..."

Pois há, e se a situação já ultrapassou as previsões mais pessimistas, então o que vem aí é um desastre. Um desastre que não vai passar ao lado do sector português.

A coisa vai rebentar-nos na cara. Vamos então ao problema que aí vem.

100,000-cow-power dairy farm in China to feed Russian market

A 100,000-cow dairy farm is being constructed in Northeast China to supply the Russian market with milk and cheese, in what can be construed as agricultural geopolitics.

Russia has extended an import ban of most agricultural products from the United States, Canada, Europe, Australia and Norway until August 2016, in retaliation for recently renewed Western economic sanctions over Russia's military moves in Ukraine and Crimea.

It will be the world's largest dairy farm and will be funded with 1 billion yuan ($161 million) from Russian and Chinese investors. China's Zhongding Dairy Farming and Russia's Severny Bur will work together on the project.

China already is home to the world's largest dairy operation, a 40,000-cow unit of the Maanshan, Anhui province-based China Modern Dairy Holdings Ltd, which operates 24 farms throughout the mainland.

The largest US dairy farm is in Fair Oaks, Indiana, where 30,000 cows ply their trade...

Earlier this month, China's Huae Sinban Co signed an agreement to lease 115,000 hectares (284,000 acres) in Russia's Transbaikal region for feedstock, according to state-run Russia Today. The company is expected to invest about $450 million in the project over the next half century.Huae Sinban plans to lease up to 200,000 hectares in Russia if the first stage of the project from 2015-2018 works out...

..."The scale of Chinese investment in dairy production is vast," Raymond told UK-based Farmers Weekly. "I wonder now whether we will ever get the Russian milk market back...

..."For the larger EU economies - Germany included - the costs are bearable. For some of the smaller EU economies, the pain will be more acute," the Times reported, quoting RBS Capital.


Uma vez mais, um projecto conjunto da Rússia e China. A maior quinta do mundo na China para alimentar o mercado russo e localizado na Rússia, uma enorme zona de pastagem. A quem se pode agradecer este empreendimento? à Europa.

A Europa com as suas sanções, fechou a porta. Quando quiser abrir de novo, irá descobrir, já não estará ninguém do outro lado à espera.

O que vai acontecer aos produtores dos países europeus mais frágeis como o caso de Portugal?

Vão contentar-se com um pensamento: 

"Estamos falidos, deixamos de produzir, mas demos uma lição àqueles russos sobre o que fizeram na Ucrânia."

A Europa fechou a porta a um mercado de 140 milhões e já não haverá retorno. E só me estou a referir ao leite.

terça-feira, 7 de julho de 2015

Europa Aumenta Dependência Energética Da Rússia II




Este artigo é uma continuação do artigo anterior e que foca o aumento da dependência da energia russa (Europa Aumenta Dependência Energética Da Rússia), o tema foi o Reino Unido, agora será a Alemanha.

A Alemanha, o motor da Europa, possui algo de muito valioso, um pipeline directo (Nord Stream) para o maior fornecedor energético do mundo,  a Rússia.

Quando foi acordado este pipeline, foi uma surpresa bastante desagradável para os países Bálticos e a Polónia. As relações destes países e a Rússia, não são nada boas, mas tinham uma segurança, para a energia russa chegar à Alemanha, tinham que passar por vários países trânsitos, estando a Polónia salvaguardada, podendo ter o seu quinhão de energia.


A decisão da Alemanha abandonar o nuclear, significou também a decisão de tornar-se mais dependente da energia russa, ou seja, as ligações entre a Rússia e Alemanha, teriam tendência a aumentar, algo que a Polónia nunca viu com bons olhos.

Alguns acontecimentos importantes, fizerem mudar a estratégia russa. O avançar da NATO para mais perto das fronteiras russas, gerou uma série de problemas com países candidatos à NATO, mas que ainda não tinham conseguido aderir. Neste caso a Ucrânia e a Geórgia. A Rússia não queria que estes países fossem para um bloco militar hostil.

Para agravar a situação, foi a decisão de basear o novo sistema antí-míssil na Polónia e Republica Checa. Agora já não era apenas o perigo da NATO, crescer um pouco mais. Agora os EUA, estavam a tentar diminuir a capacidade ofensiva nuclear da Rússia, colocando em perigo o equilibrio nuclear entre ambos.

Na minha opinião, foi devido a estes pontos que se decidiu eliminar os problemas dos países trânsito e diversificar as rotas energéticas. Com esta decisão, a Rússia aumenta a sua pressão sobre os países hostis/problemáticos sem prejudicar os países com que tem (e desja manter) boas relações.

Criando o Nord Stream, a Rússia diminui a sua dependência da Ucrânia, como país de trânsito e vai poder fornecer a Alemanha, mesmo que decida não vender energia à Polónia. Daí o grande alvoroço que os polacos tiveram com o acordo alcançado entre a Alemanha e Rússia. Se o pipeline tivesse ido para aprovação da UE, este não teria sido aprovado, vários países hostis à Rússia, mas dependentes da energia desta, nunca o teriam permitido. Mas estamos a falar da Alemanha.

Mas isto foi há uns anos e agora a realidade é outra, estamos a falar do periodo pós Ucrânia, tal como a conheciamos, a UE uma vez mais clama, por reduzirmos a dependência da energia russa. Conseguiu lançar o caos no South Stream, tudo aponta para deixarmos de depender da energia russa.

Pelo menos é assim que se fala, tanto pelos os políticos como pela a imprensa. Mas volto a insistir que devemos ver as coisas, não pelo o que se diz, mas sim pelo o que se faz. E o que se faz?

A Alemanha voltou a fazer novo acordo com a Rússia e o Nord Stream vai duplicar a sua capacidade. Ou seja, a Alemanha mostra algo contrário ao que se diz, a Alemanha considera a Rússia um fornecedor fiável e deu a à Rússia, um significativo aumento na capacidade política de fazer pressão a um outro membro da UE, bastante activo na situação ucraniana, ou seja, a Polónia. A Polónia que se tornou deveras hostil devido à situação do sistema anti-míssil, vai ter um grave problema de fornecimento energético.

Como se não bastasse a sua dependência de gás russo, a Alemanha aumenta também a sua dependência do carvão russo. Isto em pleno período de sanções económicas!

Germany Buys Most Russian Coal Since 2006 to Diversify

Germany imported the most coal from Russia in at least nine years, just as the European Union is trying to reduce its reliance on energy supplies from the former Soviet state.

Russian coal imports rose 6.6 percent to 12.6 million metric tons last year, according to data from the Federal Statistics Office in Wiesbaden, Germany. That’s more than a quarter of all foreign purchases. Total imports into Europe’s biggest economy also rose to their highest level since 2006...


Esta situação mostra claramente, que as relações entre importantes países europeus e a Rússia, não estão tão más como podem parecer. Infelizmente interesses externos estão a colocar muitos grãos de areia na engrenagem da relação Europa-Rússia.

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Rússia E Paquistão, Uma Surpreendente Evolução






Vamos falar de um país, onde até há relativamente pouco tempo seria impensável haver tal tipo de aproximação. O Paquistão, nos tempos da guerra fria, estava do outro lado da barricada e a sua influência na guerra do Afeganistão, não pode ser ignorada.

Entretanto, o passado foi ficando um pouco para trás e a realidade geopolítica de hoje é significativamente diferente e infelizmente também o comportamento Europeu está a dar um importante empurrão na construção da nova política externa russa.

Vamos então focar alguns pontos que acho bastante interessantes.

Estávamos em Outubro de 2013, quando pela primeira vez um navio da marinha paquistanesa visita um porto russo:


Visita feita a um porto no Mar Negro



Meses depois, em Abril de 2014, seguiu-se uma visita da marinha russa a um porto paquistanês:






Uma segunda visita é feita pela marinha russa em Outubro de 2014, um ano depois da primeira visita feito pelos os paquistaneses, com a realização de exercícios conjuntos demonstrando uma aproximação entre as duas nações.

Se dúvidas existe nas crescentes ligações entre ambos, elas dissipam-se com um acontecimento bastante interessante, o levantamento do embargo de armas em 2014:

Russia lifts embargo on weapons supplies to Pakistan


Russia has lifted an embargo from supplies of weapons and military hardware to Pakistan and is negotiating the delivery of several helicopter gunships Mil Mi-25 to the country...

[Link]

Ou seja o ano de 2014, não foi só a questão ucraniana, a Crimeia, as sanções económicas, a queda do rublo, os acordos com a China, etc.

Em simultâneo a Rússia está deveras activa na sua política externa a nível global, estreitando ligações com países como o Paquistão e mostrando ao mundo que apesar de todas as pressões colocadas em si, continua com poder de iniciativa.

Com o levantamento do embargo, começamos a ver algumas das coisas que o Paquistão quer e o que a Rússia está disposta a vender, nesta nova amizade. Uma delas é o interesse no helicóptero de ataque MI-35, mas o que considero significativo é relativamente ao caça paquistanês JF-17.


Helicóptero russo - MI-35


Caça paquistanês - JF-17

O caça JF-17 concebido pela China/Paquistão, utiliza um motor russo, o RD-93. A China tem encomendado o motor à Rússia e entregue ao Paquistão.


Airshow China 2014: Russia to supply China with more RD-93 turbofans

Russia is to supply China with an additional batch of 100 Klimov RD-93 turbofan engines for the FC-1/JF-17 Thunder combat aircraft before the end of 2016...

...A joint venture between China and Pakistan, the JF-17 is currently only in Pakistan Air Force service...

...The first contract for 100 RD-93s had an option for 400 more, which will be produced by Moscow-based machine-building plant Chernyshev, a division of the United Engines Corporation (UEC)...


...Under UEC's existing contract with CATIC the Russian company is to perform deliveries, designer supervision, maintenance, refurbishment, and assistance in organising the RD-93 overhaul for basic and export FC-1/JF-17 fighters.

[Link]

Ou seja, a Rússia tem estado ocupada a produzir os motores para o novo caça paquistanês. E o Paquistão tem consciência da sua dependência na Rússia, para ter os seus caças a voar, apesar de os estar a receber a partir da China.

Dado o aquecimento das relações entre o Paquistão e a Rússia e sendo a Rússia e a China parceiros em vários sectores, a evolução natural seria a Rússia fornecer directamente os motores ao Paquistão. E de facto parece que é para aí que caminhamos.

Estamos em 2015 e as notícias confirmam esta evolução.


Pakistan: JF-17 engine straight from Russia

Motor russo - RD-93

Pakistan is set to import the JF-17 Thunder’s RD-93  engine directly from Russia in the near future. Earlier, the engines were purchased from China, which in turn resourced the RD-93 from Russia. According to sources in Pakistan, China has now issued a ‘no objection certificate’ that allows Pakistan to do business directly with Russia...


...With current Western economic sanctions against Russia over the situation in Ukraine, it is safe to say Russia seized this export opportunity to Pakistan.

[Link]

Um país, ter os seus aviões dependentes de motores russos é algo de muito significativo e sendo o Paquistão, tem ainda mais relevância devido à grande ligação existente entre a Rússia e a Índia. Sendo a Índia, um dos mais importantes parceiros militares, um grande cliente de armamento russo, ao ponto de conseguir alugar submarinos nucleares, assiste com grande apreensão a este estreitamento de ligações com o Paquistão.

E aqui a Rússia, volta a mostrar a sua capacidade na arena geopolítica. A Índia tem nos últimos anos, diversificado os seus fornecedores, onde se destaca uma grande aproximação com os Estados Unidos, tendo começado a comprar material de envergadura.

A Rússia está a mostrar também à India, que possui a capacidade de vender a outros nomeadamente o Paquistão. E a Rússia só levantou o embargo de armas, após a India ter começado a comprar em grande escala aos EUA.

India becomes biggest foreign buyer of US weapons

C-17

P-8

India imported $1.9bn of military kit from the US last year, making it the biggest foreign buyer of US weapons, according to research from IHS Jane’s.


The US, which remained the largest exporter of military equipment, displaced Russia as India’s biggest arms supplier. In total, the US exported $25.2bn of military equipment in 2013, compared with $24.9bn the previous year.

[Link]

Com isto parece-me que o aviso está feito, a Rússia irá vender ao Paquistão, algo equivalente ao que os EUA fornecem à Índia, olho por olho, dente por dente.

Agora se adicionarmos a isto, uma ligação energética, estaremos então a assistir a uma importante reviravolta nesta zona do globo.

Em 2015, em plena crise com o Ocidente e sofrendo de sanções económicas, a Rússia avança com novas ligações energéticas desta vez com o Paquistão e ainda tem fôlego para investimentos:

Russia to Finance a $2 Billion LNG Pipeline in Pakistan




New pipeline represents the first infrastructure deal between the two countries since the 1970s

Pakistan is expected to sign an agreement with Russia for the construction of a 1,100 km (about 684 mile) liquefied natural gas (LNG) pipeline from Karachi in southern Pakistan to Lahore in the North. Under the partnership, Russia will provide $2 billion to lay the pipeline, and in exchange Pakistan will award the contract to Russia without inviting bids, reports The Express Tribune.

We are trying to sign an LNG pipeline accord with Russia in a government-to-government arrangement during the visit of Prime Minister [Nawaz Sharif] to Moscow,” Peroleum Minister Shahid Khaqan Abbasi said. Prime Minister Sharif is expected in the Russian capital July 9, to attend a summit of the Shanghai Cooperation Organization (SCO).

In addition to financing the pipeline, Russia agreed to export LNG to Pakistan, which has suffered from energy shortages...

[Link]

Esta questão do fornecimento energético ao Paquistão, merece no futuro uma análise mais detalhada, englobada na estratégia de fornecimento de energia para o mercado Asiático. Mas o que estamos a ver aqui é uma das consequências da diversificação da carteira de clientes de energia russa, o que demonstra o perigo crescente para a Europa. A Rússia está a diversificar mais depressa a sua carteira de clientes, do que a Europa a sua carteira de fornecedores.

Como já tenho dito, a Rússia prepara-se para escolher para que países europeus quer vender a sua energia e vai ser uma descoberta muito desagradável para a Europa como um todo, verificar que o seu maior e mais importante fornecedor energético, já não depende de nós, europeus para vender a sua energia. E por nossa culpa.