domingo, 7 de junho de 2015

China E Rússia: Mais Um Passo Para A Guerra Económica





Nos últimos anos, todos passámos a conhecer, devido às recorrentes crises económicas que foram ocorrendo a nível global, as agências de rating. As agências de rating tem sído alvo de críticas pois muitas das suas análises e ratings são consideradas no mínimo estranhas, para um sem número de pessoas, de empresas, de países e de uniões de países.

Quem já não criticou, ou ouviu criticar, sobre uma atribuição de rating fornecida por uma das principais agências?

A situação subiu de tom, quando as agências começaram a "atacar" várias países da União Europeia. As suspeitas começaram a ouvir-se mais alto, estas agências parecem atacar tudo, tudo, excepto o que seja americano.


As 3 grandes agências (Moody's ; Standard & Poor's ; Fitch Ratings), detêm o controlo de atribuição de ratings e são americanas. Quando começaram a fazer atribuições bastante negativas a vários países europeus (incluindo Portugal), fazendo tremer os alicerces da União Europeia, esta resolveu agir.

A Europa decidiu criar uma agência de rating europeia, que rivalizasse com as 3 dominantes, de modo a diminuir a importância e o impacto das suas avaliações nesta zona do globo.

Hoje, podemos dizer que essa intenção falhou. Penso que a maior parte das pessoas se lembra das notícias que saíram sensivelmente em 2012, sobre a possibilidade de agência aparecer, o facto é que estamos em 2015 e o assunto caiu no esquecimento.

É difícil lutar contra os 3 grandes, sabendo o quanto estas podem prejudicar, a quem precise de financiamentos de envergadura. O receio de represálias, as pressões americanas, arrefeceram os ímpetos europeus no desafio que se propunha fazer.

É de facto complicado. Os EUA têm as agências de rating, têm o FMI, o Banco Mundial, e a moeda que circula no globo é o dólar. Os EUA detêm o controlo económico e militar a nível global e são muito poucos os que se atrevem a atravessar o seu caminho.

É aqui que entra a nova agência de rating. Esta na minha opinião tem mais pernas para andar, mas também é a mais perigosa, para o actual sistema em vigor. A nova agência de rating tem o potencial de quebrar o monopólio das agências americanas. E os países que a suportam, têm a capacidade financeira e militar para impedir determinado tipo de pressões que os EUA são capazes de fazer a tudo o que lhes ameace a sua supremacia global.




A China e a Rússia decidiram avançar com uma agência de rating. E estão a falar a sério.

Estávamos no ano de 2013, quando:

Hong Kong-based credit rating agency launched to challenge 'Big Three'

A new credit rating agency backed by Chinese, Russian and American firms has launched today in Hong Kong, with a mission to displace the "Big Three" Western firms at the heart of the international ratings system. 

The joint venture, the Universal Credit Rating Group (UCRG), says it intends to reform the current international credit rating regime, creating the initial framework for a new system by 2020, with the ability to provide credit risk information on all the world's economies by 2025.

Beijing-based Dagong Global Credit Rating, Russia's RusRating and U.S.-based agency Egan-Jones Ratings are behind the project, which they consider part of a necessary overhaul of a system whose failings contributed to the 2008 global financial crisis...


Este é um artigo da CNN,  um órgão de informação americano e que dá esta notícia, calculando que algo aparecerá em 2020.

Vamos ver como estão as coisas agora, 2 anos depois:


Russia and China setting up Universal Credit Rating Group to rival West's
'Big Three' credit raters

China and Russia are joining hands to pose stiff competition to US-based credit rating agencies, Moody's, S&P and Fitch, by setting up the new Universal Credit Rating Group (UCRG).

The first ratings of UCRG, which was created jointly by Russia and China, would be issued in 2015, according to Sputnik News Agency.

"In our opinion, the first ratings [will] appear ... during the current year," Alexander Ovchinnikov, head of the research department at RusRating told Sputnik.

The project is in its final stage, according to Ovchinnikov...


Este ano assistimos a declarações de que esta agência vai começar a operar ainda este ano. E na minha opinião esta agência vai ser usada para países que recorram a financiamentos alternativos, ou seja, é o mesmo que dizer, que recorram a financiamentos chineses. Longe do dólar, longe dos EUA, longe do FMI, longe do Banco Mundial.

Estes dois países, Rússia e China, formam em conjunto um formidável oponente aos EUA. Tenho acompanhado aqui neste blogue, algumas situações que ajudam a visualizar o quadro que se está a formar. A recordar:

- As reservas financeiras russas
- A acumulação de ouro por parte da Rússia
- O banco dos BRICS
- O uso de moedas dos BRICS nas suas transações
- Os acordos económicos e militares entre a Rússia e a China
- O redireccionar a energia russa para a China

Estes dois países possuem capacidade militar e económica para desafiar a potência dominante e estão dar uma série de passos, que irão a médio prazo, alterar o mundo tal como o conhecemos.

terça-feira, 2 de junho de 2015

Europa Aumenta Dependência Energética Da Rússia






Vou novamente focar duas situações já faladas por aqui. A questão das sanções à Rússia e a questão da diminuição da dependência energética vinda da Rússia.

Este artigo pretende demonstrar que se está a passar exactamente o contrário do que se fala, do que se pretende.

A Europa tem vindo a dizer que tem como objectivo a diversificação de fornecedores e a diminuição da sua dependência da Rússia. Este objectivo tornou-se mais importante, dada a situação da Ucrânia.

Além disso, temos a questão das sanções, onde se pretende infligir economicamente o país pelas suas opções políticas.

O problema é que a Europa, é um grande consumidor energético, mas esgotado. A Europa  produz cada vez menos energia e as suas necessidades de importação aumentam. Daí o grande problema que se criou ao entrar em rota de colisão com o seu maior fornecedor. Certos países resolvem o problema à sua maneira, ou seja, renovam contratos com a Rússia, dando como prioridade o interesse nacional em detrimento das políticas europeias/nacionais para com a Rússia.

Mais um país resolveu dar uma "ajuda" à Gazprom e aumentou a sua importação de gás. Neste caso o Reino Unido. O novo acordo com a Centrica, aumenta a importação de gás russo em 70%.

De realçar as declarações do grupo:

Gas imports from Russia's Gazprom giant to soar after new Centrica deal 

...Last month, Centrica’s senior managers warned at the group’s annual general meeting that Europe will remain dependent on Russian gas for years to come, and dismissed suggestions that the EU can replace it with other sources as “unrealistic”.

“You can’t switch that [amount of gas] off easily without huge consequences. There is no way the United States can supply that volume of liquefied natural gas to replace it,” said the group’s chief executive, Iain Conn.


Russia has been a “reliable supplier of gas all the way through the Cold War”, and it needed European demand too, he added...


A Europa está a fazer um jogo muito perigoso com o seu maior fornecedor. Com o consumo continuamente a aumentar, a produção diminuir e empurrando a Rússia para a China, dentro de poucos anos, vamos estar dependente de muita gente. Se calhar bem pior do que os russos.