domingo, 29 de novembro de 2015

Guerras Energéticas: O Efeito Turquia







O abate do SU-24, veio trazer novas variáveis para a equação Síria já de si bastante complicada. A entrada da Rússia na Síria, deu um impulso muito significativo a Assad e é um sério revés a todos aqueles que procuram a saída de Assad.

Com a entrada da Rússia, o espaço aéreo passou a estar bem mais controlado favorecendo bastante Assad. As forças governamentais sírias, passam a ter protecção aérea e podem avançar com o apoio da força aérea russa que vai abrindo caminho.

A Rússia colocou uma pequena força, mas que se tem mostrada efectiva, com bombardeamentos diários. A maioria da sua força aérea é composto por vários tipo de bombardeiros e helicópteros. Existem apenas 4 caças e existe justificação para isso. Não existem ameaças aéreas. Tanto os rebeldes como o Estado Islâmico não possuem força aérea, o que existem sim são várias forças aéreas a operar no terreno, mas a guerra não é entre elas. Acordos foram estabelecidos entre as várias nações para não haverem incidentes.

Pelo o mesmo motivo, os sistemas anti-aéreos, são bastante limitados, com a função de proteger  a base onde estão instalados. Aumentar tanto os sistemas de defesa anti-aérea, como aumentar o número de caças, iria atrair as atenções e desconforto para as restantes nações que estão a operar no país. Seria difícil justificar sem ser conotado como um movimento agressivo por parte da Rússia, mostrando haver segundas e terceiras intenções por parte desta. E com isto não digo que todos os que estão na Síria não estejam com segundas e terceiras intenções. TODOS estão.


Protecção aérea da base, incluindo protecção naval


A Turquia que muitas intenções tem no que respeita a Síria, ficou bastante incomodada com a entrada dos russos na equação. A Rússia, coloca em cheque as pretensões turcas e resolveu ter uma infeliz ideia. Abater um avião russo quando este estava ocupado a bombardear posições na Síria, posições essas que estão ocupadas com facções que recebem apoio turco.

A Turquia ao fazer isto criou uma janela de oportunidade para a Rússia. Com o abate do seu avião, e a morte de um piloto atingido a descer de para-quedas, deu à Rússia a justificação de fazer uma entrada na Síria bem mais musculada.

Agora pode enviar um destacamento de caças  e colocar um forte dispositivo anti-aéreo. O envio foi imediato, enviaram o sistema mais moderno que possuem o S-400. Que permite controlar o espaço aéreo sírio, e uma boa parte do território território turco, chegando mesmo a Israel.
Área de cobertura do S-400

 Na foto, vários componentes do S-400 em posição

Agora, ficou bastante mais complicado remover Assad. A Rússia está entrincheirada na Síria e está em modo "agressivo" devido à actuação da Turquia. A infeliz opção dos rebeldes apoiados pela a Turquia, terem decidido abater o piloto enquanto este descia de para-quedas, permite aos russos arrasar a fronteira e desta vez não haverá caças turcos envolvidos.

A opção turca foi tão infeliz, que colocou meio mundo do lado da Rússia. Afinal esta está a combater os terroristas e esta maneira de abater aviões russos não é nada bonita. Os holofotes viraram-se para a Turquia. Parece que os valores democráticos estão meio tremidos no país, e parece haver uma relação demasiado próxima entre a Turquia e o Estado Islâmico.

Penso que estamos a assistir à viragem dos acontecimentos. A jogada turca, impediu os planos de haver um pipeline com origem no Qatar, que atravessa o Iraque e a Síria para chegar à Turquia e Europa. Com os russos no país, o plano cai por terra.

Neste momento, um outro pipeline, ganha força e possivelmente com a entrada em cena duma potência do calibre da Rússia, este pipeline irá ganhar. Os ganhos para os vencedores são imensos. Mas o palco da contenda é principalmente a Síria. À custa dos sírios.


  Este é o problema. A Síria é necessária nos dois pipelines. 
Necessário um governo amigável, para a parte vencedora

Este pipeline com origem no Irão, teve o anúncio da sua criação numa altura bastante interessante:

Iraq, Iran, Syria Sign $10 Billion Gas-Pipeline Deal

The oil ministers of Iraq, Iran and Syria Monday signed a preliminary agreement for a $10 billion natural-gas-pipeline deal, the official Iranian News Agency IRNA and other Iranian media reported.

Iranian oil officials said Syria would purchase between 20 million to 25 million cubic meters a day of Iranian gas. Iraq has already signed a deal with Tehran to purchase up to 25 million cubic meters a day to feed its power stations.

The project requires some $10 billion investment and will be constructed within three years, the semi-official Iranian news agency Mehr reported...

...The gas will be produced from the Iranian South Pars gas field in the Gulf, which Iran shares with Qatar, and holds estimated reserves of 16 trillion cubic meters of recoverable gas...


Estávamos em Julho de 2011, quando foi feito o anúncio. Previsto estar pronto para 2014/2015. Pouco tempo depois do anúncio feito, a guerra começa.

sábado, 21 de novembro de 2015

A Qualquer Hora, Em Qualquer Lugar


Maior bombardeiro supersónico do mundo TU-160, lança míssil de cruzeiro no 
Mediterrâneo, escoltado por um SU-30 vindo de base na Síria

O envolvimento da Rússia na Síria, tem vastas implicações. A Rússia está debaixo de sanções, enfrenta um clima económico adverso e no entanto está a demonstrar uma capacidade e determinação que estará a surpreender muita gente.

A Rússia tem mostrado que consegue manter uma base activa num local hostil com bombardeamentos diários e onde várias nações estão envolvidas com diferentes interesses. Desde que a Rússia chegou à Síria, o panorama mudou radicalmente. Neste momento as forças de Assad com o apoio da aviação russa, estão a ganhar terreno.

Mas não é só isso que estão a fazer. A Rússia está novamente a fazer um aviso á navegação. Não há país no mundo que esteja fora do alcance dos bombardeiros russos. É bom lembrar que quando a Rússia tentou abrir a base na Síria, a NATO tentou fechar o espaço aéreo circundante de modo a impedir que a aviação russa pudesse lá chegar. Com uma desagradável surpresa, os EUA descobriram, que não conseguiam "convencer" o Iraque a fechar o espaço aéreo aos russos, permitindo a estes levar mais rapidamente todo o material necessário para a base, em vez de estarem dependentes do transporte marítimo mais lento.

AN-124 - Maior avião de carga de mundo, só ultrapassado 
pelo o AN-225 (existe apenas 1 exemplar), preparando para 
levar a sua carga para a base na Síria

 Todo este material pôde chegar mais rapidamente, porque o Iraque 
abriu o seu espaço aéreo aos russos, apesar de pressionados pelos 
os americanos.

Ou seja neste momento, os bombardeiros russos de longo alcance, podem efectuar bombardeamentos na Síria, com autorização do Irão e do Iraque, principalmente deste último.

Mas, e se os EUA conseguissem "convencer" os iraquianos a fechar também o seu espaço aéreo? a resposta russa foi agora dada. Podem ter que atravessar meio mundo, mas nenhum país está longe de mais para os bombardeiros russos de longo alcance.


Algures no Mediterrâneo 

Rota usada pelos TU-160

tu-160

Os bombardeiros, voaram à volta da Europa, por todo o espaço da NATO, entraram no Mediterrâneo, lançaram os seus mísseis e passaram por cima da Síria, tendo o seu vôo ficado registado por fotos e vídeos por sírios.

A Rússia demonstrou que não precisa de autorização de ninguém para chegar onde quer e muito menos de países da NATO. 

E agora que bombardeiros armados e em missão passam ao lado de Portugal, não há notícias de F-16 a correr para interceptá-los.

Os TU-160, criados para um holocausto nuclear, tiveram o seu baptismo de fogo na Síria estando a criar um holocausto ao Estado Islâmico.

A qualquer hora, em qualquer lugar. Fomos avisados.

domingo, 1 de novembro de 2015

Aviso à Navegação: A Nova Armada Russa




A decisão por parte da Rússia de entrar no conflito da Síria em força, tem inúmeras ramificações. Serão necessários a meu ver alguns artigos para analisar alguns dos aspectos que considero cruciais, pois a Rússia, está  a demonstrar bastantes novas capacidades, com significativo impacto estratégico.

Este artigo será dedicado essencialmente a uma parte da modernização em curso da marinha russa. A frota do Mar Cáspio e a frota do Mar negro, sobre esta última já tenho alguns artigos dedicados.

As 3 novas corvetas russas que entraram ao serviço no Mar Cáspio no ano passado, são navios de pequenas dimensões, mais dedicadas a um controlo próximo do litoral, das fronteiras russas. Mas estas pequenas embarcações, algumas com menos de um ano em serviço, tiveram o seu baptismo de fogo. E apanhou muita gente desprevenida. Apesar de pequenas, conseguem influenciar numa zona a milhares de quilómetros.


Nova corveta Buyan-M, entrada em serviço em 2014

O lançamento dos 26 mísseis de cruzeiro, tiveram como origem o Mar Cáspio, recorrendo a 4 embarcações novas, uma fragata e 3 corvetas e um tipo de míssil novo.

Fragata, entrada ao serviço em 2012, corvetas em 2014, míssil em 2012


3M-14T - Entrada ao serviço em 2012
Opção de instalação do míssil num contentor, o que permite ser colocado 
na marinha mercante, para orçamentos mais apertados e não só.

O acto de disparar 26 mísseis de cruzeiro, a partir do Mar Cáspio, pretende transmitir vários avisos:

- Determinação russa nos seus objectivos.
- Capacidade em atingir alvos com precisão a 1500 km de distância.
- As novas embarcações e o novo míssil funcionam.
- O sistema GPS russo GLONASS, funciona.
- A integração de uma embarcação nova, com um míssil novo e um sistema GPS também novo, funciona e está demonstrada.
- Embarcações no Mar Cáspio e fora do alcance dos porta aviões americanos possuem a capacidade de afectar vários teatros de operações. Possuem capacidade de dar suporte às nova zonas de intervenção russa, Crimeia e Síria.
- Demonstração aos clientes e potenciais clientes da letalidade e precisão do armamento russo.
- Clientes russos com acesso a armamento disponível com sistema GPS. Monopólio americano quebrado. O "desligar" do sistema GPS deixa de ter importância, existe alternativa.
- Aviso a várias nações, que não estão tão longe assim das novas armas disponíveis.


Precisão GLONASS, correcções de rota, míssil e embarcações testadas

Ao apercebermos do poder de fogo destas pequenas embarcações, podemos agora ter uma ideia mais clara do significado do surgimento destas no Mar Negro. A Crimeia vai ter dentro de poucos dias, as duas primeiras corvetas Buyan-M para a frota do Mar Negro.

A Frota do Mar Negro vai receber ainda este ano duas corvetas Buyan-M

Juntamente com estas novas corvetas, a frota do Mar Negro, está a receber também este ano, novos submarinos com a capacidade de disparar os mesmos mísseis. Ficando o actual panorama neste mar com 3 novos submarinos e 2 novas corvetas. Esta evolução confirma o que já foi indicado num post anterior,  o fornecimento de 6 novos submarinos e 6 novas embarcações para esta frota.

 Isto em plena crise do preço do petróleo, sanções, rublo. E ainda compram ouro.

Quanto a estas novas embarcações ao contrário das que estão no Mar Cáspio, estas podem deslocar-se para o mediterrâneo. Aqui novos contornos se formam:


Apesar da proibição de sobrevoo em direcção à Síria, por vários países, todos membros da NATO, a Rússia conseguiu chegar à Síria, por mar e ar, e estas novas embarcações conseguem atingir qualquer país da NATO e conseguem envolver-se em países onde estão instalados interesses russos, ou seja, mais algumas peças para esta complicada equação. 


Os novos navios não vão andar sozinhos, principalmente numa zona cheio de embarcações NATO. Eles serão complementares ao que já existe e fornecem novas opções aos militares russos.

Frota russa no Mediterrâneo perto da Síria

Estamos a assistir em "directo" à modernização do arsenal russo. Os russos resolveram dar uma pequena amostra do potencial, mostrando os seus mais pequenos recursos que estão a ser construídos, os submarinos Kilo a diesel e as pequenas corvetas.

Um sinal do que aí vem e que também está a ser construído e a sair. Novos submarinos nucleares, novos mísseis nucleares, supersónicos e hipersónicos, novas embarcações de superfície, bem maiores e letais.

Num mar, perto de si.