A entrada musculada da Rússia na Síria, veio colocar um sério travão às sinistras ambições da Arábia Saudita e da Turquia. Com a Rússia presente no país, não será possível avançar com o pipeline previsto, com origem no Qatar e a acabar na Turquia (ver Guerras Energéticas: O Efeito Turquia). Muitos teriam a ganhar, a Turquia passaria a ser um importante Hub energético para a Europa, o Qatar teria um pipeline para a Turquia e Europa.
A Rússia alterou todo o panorama. Hoje, Assad está a ganhar terreno, devido à ferocidade dos bombardeamentos russos. E que pode fazer a Arábia Saudita? Muito pouco parece-me. Vejamos:
Arábia Saudita
Preço do Petróleo
A Arábia Saudita resolveu atacar a concorrência e inundou o mercado de petróleo. Ao fazer isso baixar drasticamente o preço, todos os produtores sentiram a pressão. uns mais, outros menos. Os produtores americanos estão com sérios problemas, e altamente endividados. Mas continuam a resistir. Em parte porque também os bancos que emprestaram o dinheiros a eles estão tentar não perder tudo o que investiram. Mas este ano, muito produtor vai falir nos EUA, ou seja a produção americana vai baixar.
Podemos dizer que está a ser uma aposta acertada da Arábia Saudita? No que diz respeito aos produtores americanos, mais frágeis neste mercado, parece ser. A Arábia Saudita tem reservas financeiras para aguentar estes valores, os produtores americanos só têm dívidas, e não há como pagá-las.
De caminho ataca um outro concorrente, este mais perigoso. A Rússia. A Rússia a braço com sanções ocidentais, viu a sua situação piorar com o crash do preço do petróleo. Mas...
Algo não bateu certo nas contas da Arábia Saudita. O erro foi considerar que a Rússia por esta altura estaria muito mais fraca. Mas isso não está a acontecer.
A Arábia Saudita esturricou, em 2015 muito dinheiro nesta aventura. Com um défice a rondar uns 15% do seu PIB (e estou a ser muito conservador neste valor). Está a sair perigosamente caro e têm uma guerra no Iémen a decorrer. O dinheiro está a sair da carteira tão rápido quanto o petróleo sai dos seus poços.
A Rússia mostra uma resiliência que não estava nos planos de ninguém. A perspectiva que se dava em 2015 era um colapso económico, mas tal não aconteceu.
Não aconteceu isso, mas aconteceu algo desagradável para os sauditas. A Rússia, acompanhou o aumento da produção, batendo records. A Rússia nunca produziu tanto.
Russian oil output hits post-Soviet record high in December, 2015
Oil output in Russia, one of the world's largest producers, hit a post-Soviet high last month and in 2015 as small- and medium-sized energy companies cranked up the pumps despite falling crude prices, Energy Ministry data showed ...
Além de competir em termos de produção, também está a roubar quota de mercado no mais importador energético, a China.
Russia surpasses Saudi Arabia for third time in China crude supply
Russia overtook Saudi Arabia for the third time this year in November as China's largest crude oil supplier, customs data showed on Monday, as Russia captures fresh demand from China's new crude buyers...
Russia, which ramped up exports by 28 percent over the same period...
...Saudi crude is less appealing to China's new crude importers when compared to Russian grades, traders have said.
Cheaper freight costs for Russian crude versus suppliers from outside the Asia-Pacific region were also helping Russia boost its exports to China...
Ou seja, a Arábia Saudita ficou refém da sua própria estratégia. Actualmente, como se pode ver, a Arábia Saudita tenta fazer aumentar os preços para diminuir a sangria que corre nos seus cofres. E tenta convencer a Rússia a baixar a sua produção. E porque necessita que a Rússia baixe também a sua produção? Para a Rússia não roubar quota de mercado no maior importador energético, a China, como já está a fazê-lo.
Saudi Arabia, Russia to Freeze Oil Output Near Record Levels
Saudi Arabia and Russia agreed to freeze oil output at near-record levels, the first coordinated move by the world’s two largest producers to counter a slump that has pummeled economies, markets and companies.
While the deal is preliminary and doesn’t include Iran, it’s the first significant cooperation between OPEC and non-OPEC producers in 15 years and Saudi Arabia said it’s open to further action...
A Rússia não demonstra tanta urgência em fazer baixar os preços. Os baixos preços estão a afectar TODOS os produtores, uns mais, outros menos e como tenho chamado a atenção em artigos anteriores, a Rússia não está a ser tão afectada como a impressa andou a dizer em 2015.
Agora até saem notícias a confirmar a situação:
Rating agency Standard & Poor's downgraded Saudi Arabia, Brazil, Kazakhstan, Bahrain and Oman's credit ratings on Wednesday, in its second mass cut of large oil producers in almost exactly a year.
S&P cited the pressures being created by the drop in oil prices for the moves which included double-notch downgrades of Saudi Arabia to A- stable from A+ negative and stripping Bahrain of its investment grade status...
...One country that was spared this time was Russia...
...Like Saudi Arabia, Bahrain saw its rating cut two notches...
[Link]
Agora até saem notícias a confirmar a situação:
S&P cuts Saudi Arabia, Brazil, Oman, Kazakhstan, Bahrain, spares Russia
Rating agency Standard & Poor's downgraded Saudi Arabia, Brazil, Kazakhstan, Bahrain and Oman's credit ratings on Wednesday, in its second mass cut of large oil producers in almost exactly a year.
S&P cited the pressures being created by the drop in oil prices for the moves which included double-notch downgrades of Saudi Arabia to A- stable from A+ negative and stripping Bahrain of its investment grade status...
...One country that was spared this time was Russia...
...Like Saudi Arabia, Bahrain saw its rating cut two notches...
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Comparando com a Arábia Saudita, uma guerra energética entre estes dois, será fácil adivinhar o desfecho, dando uma olhadela aos défices anuais de cada um. A Arábia Saudita não consegue manter esta "velocidade" por muito tempo.
Como fica a Arábia Saudita agora? parece-me que numa situação extremamente delicada. O máximo que conseguiu arrancar dos russos, foi um congelamento da produção. Ora isto apenas irá permitir uma estabilização dos preços actuais. Algo com que a Arábia Saudita não pode viver muito tempo, dado os seus gastos actuais. Nem a Arábia Saudita, nem os novos produtores de xisto americanos.
Se a coisa está preta, ainda vai ficar pior. É que existe um grande produtor energético que tem estado debaixo de sanções e não tem estado a produzir a sua respectiva quota de mercado. Estamos a falar do Irão.
Agora que foram levantadas as sanções ao Irão, este pode passar a produzir normalmente. Só para se manter o actual preço de mercado, os restantes produtores terão que reduzir a sua quota, o que fará ainda ganhar menos.
Mas a perspectiva ainda fica pior para a Arábia Saudita. O Irão é um membro da OPEP. Se a OPEP quer manter pelo o menos os preços, terá que acomodar a produção do seu membro que estava debaixo de sanções. E qual o membro que mais tem produzido à custa do Irão todos estes anos? a Arábia Saudita.
Qual a opinião do Irão sobre congelamento da sua própria produção, estagnada no tempo devido a sanções?
Iran calls Saudi oil production freeze a 'joke'
Iran's oil minister Bijan Zangeneh on Tuesday called the Saudi Arabia-led idea for countries to freeze production a "joke," according to Iranian state broadcaster Press TV.
"The freeze is the beginning of a process," Saudi oil minister Ali al-Naimi said during a highly-anticipated speech on Tuesday at the IHS CERAWeek oil conference in Houston.
"Maybe not all of them, but most of the countries that count will freeze,"...
While Iran initially said it supported the output freeze, Zangeneh's comments on Tuesday suggest the country has no desire to join.
"This is more like a joke that they tell us they would freeze their production above 10 million barrels per day and that we should also in turn freeze our production at one million," the Iranian official said in Tehran...
Ou seja, o Irão já sinalizou que vai aumentar a sua produção. A Rússia disse que aceita congelar a produção desde que os outros o façam. Para manter os níveis de congelamento aceitáveis para a Rússia, a Arábia Saudita terá que reduzir, o equivalente à quota de mercado que o Irão tem direito. Ou seja, apenas para manter os preços actuais, já de si prejudiciais para a Arábia Saudita, estes vão ter que reduzir a sua produção, ou seja, vão vender ao mesmo preço, mas vão vender MENOS, logo ainda vão agravar mais a sua situação.
Como se a coisa não fosse mau o suficiente. A Rússia e Irão são aliadas na Síria e também são parceiros preferenciais da China.
O aumento de produção por parte do Irão, irá fortalecer este em detrimento da Arábia Saudita.
O tom beligerante da Arábia Saudita na Síria, com o anúncio de envio de milhares de soldados e equipamento para a Síria, coloca em directa colisão com a Rússia e Irão.
A Rússia é uma potencia mundial tanto em termos energéticos como em produção de armamento.
A Arábia Saudita só possui dinheiro para comprar armas a terceiros.
E o único trunfo deles (dinheiro) está a evaporar-se rapidamente.
A Arábia Saudita poderá ter cavado a sua própria cova.