terça-feira, 28 de abril de 2015

A Economia Russa




Tenho estado a aguardar a publicação de alguns dados económicos sobre o país, e tendo estes já saído vou falar um pouco sobre o assunto. Dada a situação e opções russas, especialmente no que toca a Ucrânia, tenho colocado a questão de como a Rússia iria aguentar a pressão Ocidental.

A Rússia foi alvo de sanções económicas, a imprensa arrasou o país, o petróleo baixou drasticamente, o rublo estava em queda livre e o país consumia as suas reservas financeiras como se não houvesse amanhã.

Quanto às reservas financeiras foi dedicada muita atenção sobre o declínio das mesmas ao longo dos últimos meses, anunciando o colapso económico iminente.

Eu não concordo com esta perspectiva. A Rússia construiu as suas reservas para os dias maus. Os dias maus estão aí, e estão a usar as reservas. É para isso que elas servem, para compensar o desequilibro financeiro que surgiu em várias frentes. 

A Rússia está a combater os problemas, a acudir aos seus bancos, não está a pedir ao FMI, não está a pedir a ninguém. A Rússia mantém as suas políticas, as suas linhas de orientação, porque militarmente não pode ser confrontada. Apenas em termos económicos e aqui está a ser testada. Pode a Rússia aguentar um embate económico Ocidental? 

Parece que sim.

Os dados do ultimo trimestre de 2014 foram surpreendentes. Apesar da situação catastrófica que sempre foi reportado, a economia russa fechou o ano a crescer! Em forte desaceleração, mas ainda a crescer.

Como indicado pelo o Banco Mundial:


Russia Overview


...The weak investment demand resulting from deep structural problems in the Russian economy was an important cause of the slowing Russian growth in 2014, and this was compounded by the terms of trade shock, geopolitical uncertainties, and the economic sanctions later in the year.

And yet, despite the confluence of adverse factors that hit the economy in 2014, Russia has so far avoided recession. The impact of the main shock, the slump in oil prices, only began to affect the economy in the final quarter of last year, and the impact is likely to be more profound in 2015 and 2016. Moreover, the Russian government and Central Bank were able to respond swiftly with policy responses that successfully stabilized the economy...


E reportado pela Bloomberg:

Russian Economy Unexpectedly Expanded 0.4% in Fourth Quarter 

Russia’s economy unexpectedly grew in the fourth quarter before the full effect of the country’s currency crisis took hold.

Gross domestic product expanded 0.4 percent from a year earlier after a revised 0.9 percent gain in the previous three months, the Federal Statistics Service in Moscow said on Wednesday, citing a preliminary estimate. That was above the median estimate for zero growth by 11 economists in a Bloomberg survey. Full-year GDP rose 0.6 percent in 2014, the service said, confirming its first assessment in January...


Estes dados já saíram há algum tempo, e eu estou a aguardar pelos dados oficiais do 1º trimestre deste ano. Mas já estamos a ver algo, apesar da forte travagem, não parece haver "despiste". O país não entrou em convulsão, o rublo aparenta estar estável, o preço do petróleo também, as reservas financeiras estão estão a diminuir a um ritmo mais lento.

A adicionar isto, temos algo que considero surpreendente. A Rússia voltou a comprar ouro. E não foi pouco:

Russia Returns to Gold With Biggest Purchases in Six Months

After a two-month hiatus, Russia’s appetite for buying gold is back.

The nation increased foreign reserves of bullion to 39.8 million ounces, or about 1,238 metric tons, as of April 1, compared with 38.8 million ounces a month earlier, the central bank said on its website Monday. The 30-ton purchase was the most since September.

Russia, the fifth-biggest holder of the metal, returned to buying gold after taking a break in January and February...

...“It’s interesting that Russia is still buying because it’s economy has taken a knock from Western sanctions and from lower oil prices,” David Jollie, an analyst at Mitsui & Co. Precious Metals Inc., said...


A Rússia, com todos os seus problemas económicos, sanções, etc, voltou a comprar grandes quantidades de ouro, eles AINDA têm essa capacidade. 31 toneladas ou seja 40% do total de ouro adquirido no ano de 2013. E só estamos em Abril.

Definitivamente este é um ano muito interessante para assistir ao percurso económico do país. Consegue a Rússia aguentar o ataque económico e ao mesmo tempo prosseguir/manter as suas políticas/investimentos?

A ver.

sábado, 18 de abril de 2015

Europa Enterra Mais Dinheiro Na Ucrânia



European Parliament approves €1.8 billion EU loan to Ukraine
 
EU plans to lend Ukraine €1.8 billion to help plug its short-term balance of payments gap were approved by MEPs on Wednesday. The EU will borrow the money externally and lend it on to Ukraine with the same interest rate. The disbursement will be tied to Ukraine pledging structural reforms to tackle problems that contributed to the current crisis.
 
 
Enquanto se assiste à novela que a imprensa dedica ao que será de ter que dar mais ajudas a um país DENTRO da União Europeia, estando a Grécia a debater-se para sair dos seus problemas, temos uma vez mais, dinheiro europeu para dar suporte a um país que´está nas condições em que está, pela actuação da UE, que nunca deveria ter quebrado o delicado equilibrio existente no país.
 
O dinheiro necessário para dar suporte ao maior país da Europa, será de envergadura. E enquanto nós pagamos aqui pelas nossas facturas do gás, electricidade, etc, - porque temos pagar as nossas contas -, teremos também que contribuir por muitos anos, pelas facturas dos ucranianos.
 
Esta factura que todos os europeus terão que pagar, e que não me lembro de me terem questionado se quero pagar contas de outros, terá que ainda aumentar ainda mais, quando a Rússia deixar de usar a Ucrânia como país de trânsito da energia para a Europa.
Quando chegar a essa altura, e será dentro de poucos anos, vamos pagar pela manutenção da gigantesca rede de pipelines que o país tem, pois a Ucrânia, já não possui dinheiro para manter a estrutura e deixará de receber dinheiro pela passagem da energia para a Europa.
 
Enquanto se debate se damos mais dinheiro a um membro da União Europeia, toda a gente olha para o lado, sempre que se assina mais um cheque para a Ucrânia.
 
É bom ver a solidariedade europeia em acção. Se calhar teremos que tirar a Grécia, esse sorvedouro de dinheiro, da União Europeia, e convidarmos a Ucrânia.
 
A Ucrânia parece que sai mais barato e ninguém se choca com os rios de dinheiro que para lá vão.
 
A Ucrânia está falida, em guerra civil, perdeu partes de território, um dos países mais corruptos do mundo e tem perto de 50 milhões de bocas para alimentar.
 
Mas que importa isso? Estamos a lixar a Rússia, e parece que só pelo o gozo, há alguém na Europa que não se importa de passar cheques atrás de cheques.
 
Para um projecto como a União Europeia, onde se aspira a valores mais altos e democráticos, estamos parece-me a desviar um "pouco" do caminho.
 
Ninguém nos perguntou quantos cheques queremos passar à Ucrânia e se queremos passar.
 
Mas a UE anda um pouco dura de ouvidos.
 
Nem consegue ouvir os gritos dos que se afogam no Mediterrâneo. Parece que não há dinheiro para esses.
 
Só havia dinheiro para os libertar de um ditador.
 
Agora, a UE deu-lhes a liberdade de escolher, morrerem na sua terra, mergulhada em guerra civil, morrerem no meio de mar.
 
Liberdade de escolha.
 
By UE.
 

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Egipto: Uma Nova Frente Russa ?


Cairo

A visita de Putin em Fevereiro passado ao Egipto, realça os avanços russos em países que banham o Mediterrâneo. Já tinha focado anteriormente a Argélia e também a Líbia, vamos agora falar um pouco sobre o Egipto.
 
O Mediterrâneo é algo complicado para  a Rússia. Está completamente dominado pela NATO, com pontos de entrada muito específicos.
 
 
Andei a "brincar " um pouco com esta imagem, para percebermos melhor numa perspectiva russa, as dificuldades que representa o Mediterrãneo. Um dos lados está "infestado" de países da NATO.
 
Sendo uma organização militar considerada hostil pela a Rússia, não restam grandes hipóteses, as alternativas estão nos países que banham a margem sul deste mar.
 
Não estamos aqui a falar de uma aliança militar, mas sim de países amigáveis, onde poderá ser negociado o uso de portos para a marinha russa e quem sabe, algum uso para a força aérea russa.
 
A Rússia "perdeu" a Líbia, mas "ganhou" o Egipto. Não sabemos se haverá estabilidade política suficiente no país, mas Putin aproveitou para por o pé na porta. E dado a importância do canal do Suez, a Rússia estará muito interessada, em fomentar esta amizade.
 
A visita de Putin, o acordo para construir a primeira central nuclear do Egipto, e o fornecimento de armas por parte da Rússia, merece que este assunto seja focado num futuro próximo para se avaliar o impacto desta aproximação entre os dois países e a reação dos EUA, ao ver um país que estava na sua esfera de influência "deslizar" para o "outro" lado.