Eu ainda não tinha dedicado umas palavras sobre o novo banco, o banco dos BRICS. Um recente desenvolvimento compele-me a fazê-lo.
No ano passado, os países (Brasil, Russia, India, China e África do Sul) chegaram a um consenso e o banco avançou. O NDB (New Development Bank) terá um capital inicial de 50 mil milhões de dólares, onde cada um dos membros irá contribuir com 10 mil milhões de dólares, estando previsto ir para os 100 mil milhões.
De realçar que o arranque oficial do banco foi em Julho, em plena crise ucraniana.
Este banco, choca nitidamente com o FMI e o Banco Mundial. Ou seja, estas duas últimas instituições vão ter concorrência e esta poderá ser séria. Muito séria.
O FMI e o Banco Mundial são controlados por países Ocidentais, e claro, por detrás de cada empréstimo existe também muitas opções políticas. Os países que pedem empréstimos estão muito restringidos nas suas opções políticas.
Este novo banco, vai criar novas opções para os países que precisem de um empréstimo. Também haverá opções políticas, resta perceber quais serão. Mas tendo em conta que é um banco criado por países emergentes, que discordam de como o FMI e Banco Mundial são geridos, decididamente o NDB não irá cair nas boas graças de alguns países. Vai definitivamente haver perda de influência.
Além disso, este banco ataca a moeda mundial, o dólar. A ideia é fomentar o uso das moedas dos BRICS e aumentar o intercâmbio destas moedas, entre os BRICS e com os países que recorram da ajuda destes.
O impacto disto é muito significativo, é uma grande ameaça ao dólar. A perda de força do dólar, implica perda de força/influência mundial por parte dos EUA. E aqui entra outro factor. A Rússia.
A Rússia, tem de facto, estar a incomodar cada vez mais os EUA. Tanto a nível geopolítico como económico. E como estes adversários não podem travar um confronto directo, as lutas são feitas a outros níveis.
Uma delas é no plano económico, a Rússia está a sofrer sanções económicas que visam o seu enfraquecimento e este não está apenas relacionado com a Ucrânia. Por outro lado, a Rússia quer diminuir a venda de petróleo em dólares. Tanto com a China, como com a Europa. Visando directamente atingir os EUA.
A Rússia não é a única a querer quebrar, esta dependência do dólar. Considero que o primeiro grande passo neste sentido, foi feito por Saddam, quando começou a vender petróleo em euros. Durou pouco tempo, mas a bola de neve começou a rolar.
De seguida tivemos o Irão, com a criação da sua bolsa de petróleo, onde começou a negociar vendas, sem usar o dólar.
Hoje já temos vários países a querer fazer o mesmo, principalmente países que não alinham com os EUA.
No caso da Rússia, além de querer fazer o mesmo, é o principal impulsionador deste banco juntamente com a China e na minha opinião uma das razões da grande acumulação de ouro que tenho vindo a indicar em artigos passados. A sua parte de capital para o banco está mais que assegurada em ouro.
Que faz de seguida? Putin convida a Grécia a juntar-se ao banco.
'Happy surprise' as Greece receives invitation to join BRICS bank
Greece has been invited to become a member of the development bank of the BRICS economies, including Russia and China, which is seeking to become a counterweight to the IMF, a move welcomed by Prime Minister Alexis Tsipras as "a happy surprise"...
Bem, as ramificações disto são vastas. Vou focar algumas. A Grécia está sem dinheiro, como é sobejamente conhecido. Para ser membro é preciso dinheiro. Todos os outros colocaram lá 10 mil milhões de entrada. Isto significa que esta oferta tem profundos contornos políticos.
- A Grécia é membro da UE.
- A Grécia é membro da NATO.
- As relações entre a Grécia e a Turquia sempre foram tensas, apesar de serem ambos membros da NATO. A Grécia tem também material militar russo por isso mesmo.
- À Grécia foi oferecido uma ligação ao novo pipeline russo (Turkish Stream), onde seria um ponto de entrada para a Europa e uma enorme fonte de receitas (pais trânsito), dinheiro que actualmente é recebido pela a Ucrânia e que o deixará de receber, dentro de poucos anos.
- À Grécia foi oferecido uma ligação ao novo pipeline russo (Turkish Stream), onde seria um ponto de entrada para a Europa e uma enorme fonte de receitas (pais trânsito), dinheiro que actualmente é recebido pela a Ucrânia e que o deixará de receber, dentro de poucos anos.
E isto foi feito, com a marinha chinesa pela primeira vez a vir ao Mediterrâneo, fazer exercícios com a Rússia, entrando no Mar Negro. Ou seja, passou ao lado da Grécia, da Crimeia e da marinha americana, que quando algo "aquece" no Mar Negro (Geórgia, Ucrânia), os navios americanos gostam de marcar a sua presença. Agora os chineses também.
A oferta russa à Grécia é algo que poderá abanar os alicerces de várias instituições ocidentais, incluindo a UE.
Definitivamente é algo a acompanhar.
Algo que tem o potencial de mudar a Europa tal como a conhecemos hoje.