domingo, 10 de maio de 2015

O Isolamento Da Rússia (Act.)



As comemorações dos 70 anos da vitória sobre os nazis, permite fazer uma avaliação sobre o isolamento a que a Rússia está sujeita devido à crise ucraniana.

A imprensa tem falado bastante sobre isso. O Ocidente não marca presença nas comemorações. Regra geral mostram isso como prova da isolação da Rússia.

Eu não veja a coisa desta forma. Estas comemorações mostraram algo de interessante. Apesar da Rússia estar a ser alvo de sanções/pressões ocidentais, outros líderes marcaram presença e esta não pode ser ignorada. Estes líderes sabem perfeitamente que o Ocidente está de costas voltadas à Rússia, mas isso não é impedimento para a sua comparência, transmitindo uma mensagem de apoio.

Os países que destaco, são essencialmente os países BRIC.



Com excepção do Brasil, que se fez representar pelo o seu Ministro da Defesa, os líderes da China, Índia e África do Sul, estiveram presentes. Dado a importância crescente dos BRICS no mundo, é relevante ver a diferente atitude destes comparado com os países Ocidentais.

Dificilmente se pode falar em isolamento, quando os líderes que representam 40% da população do mundo marcam presença ao lado da Rússia.

Pela 1ª vez uma guarda de honra chinesa está presente
nas comemorações


Também esteve presente um contingente indiano

Além de todas estas presenças, destaco uma outra que considero muito importante e positivo a sua comparência, o que indica para mim, a existência de um diálogo, um não querer fechar portas.

O motor da União Europeia, a Alemanha, esteve no dia seguinte representado pela sua líder Angela Merkel, tendo estado com Putin.



Considero de extrema importância e deveras positivo o facto de Merkel ter comparecido. A Alemanha não é um país qualquer e foi exactamente a Alemanha que compareceu na Rússia.



A situação da Ucrânia é bastante delicada e prejudicou imenso as relações Rússia - UE. Por outro lado, intensificou as relações com os BRICS, especialmente a China. Algo que terei que escrever num outro artigo.

Feitas as contas, e pela quantidades de chefes de estado que estiveram presentes, salientado o presidente chinês e a chanceler alemã, a Rússia de facto esteve longe de estar isolada. O que demonstra que o "isolamento" e as sanções aplicadas ao país, não vão conseguir desviar as linhas políticas que estão a ser seguidas actualmente.

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Resolvi acrescentar mais um dado que considero pertinente para a linha de pensamento que pretendo transmitir neste artigo.

Também os EUA fizeram-se representar, indo mais tarde, tal como fez a Chanceler Merkel, com o secretário de estado John Kerry.

John Kerry e Sergei Lavrov, memorial da 2ª Guerra Mundial


John Kerry em Sochi

Esta é a primeira visita de John Kerry desde o inicio da crise ucraniana. Apesar de não estar no dia 9 nas comemorações, esteve hoje dia 12. Apesar do conflito ucraniano ser um conflito geopolítico entre os EUA e a Rússia, é importante manter uma porta aberta, uma ligação. Pois são dois adversários que não se podem enfrentar directamente na arena.

2 comentários:

  1. O que mais me chamou a atenção foi Putin, ao lado de Xi Jinping, ter dito publicamente que apoia a rota da seda chinesa e irá trabalhar para uma convergência entre essa rota e a União Euroasiática. Chegou a dizer que no futuro isto tudo pode levar a um espaço econômico comum na região! E iniciou-se a discussão para um acordo de livre-comércio no longo prazo. É bem possível que isso seja só palavras ao vento e não haja sinceridade, mas mesmo assim chama a atenção. Afinal, todo mundo acha que os dois projetos são mutuamente excludentes e a Rússia irá entrar em choque direto com a China por influência na Ásia Central. Afinal, a Rússia não pode competir com os chineses, perde de goleada na região. Mas tudo vai depender de como a chancelaria chinesa vai agir. Se eles apresentarem um plano pros russos do tipo GANHA-GANHA, também beneficiando significativamente os russos, quem sabe eles não concordam? Será que a chancelaria chinesa é tão competente assim? Afinal, se os russos veem os EUA como grande ameaça, é bom lembrar que, se a China não crescer no referido quintal russo, quem irá crescer serão os ocidentais. Agora, se os russos-chineses se unirem, na SCO (Shangai Cooperation Organization), eles podem bloquear a influência ocidental na região, beneficiando os russos. Ou seja, seria melhor trocar a influência ocidental na região pela chinesa; ter somente a russa é impossível. A ver como tudo isso vai se passar! O fato é que o timing deste conflito ucraniano foi perfeito pros chineses, pois talvez se ele não tivesse existido, os russos teriam atrapalhado significativamente a citada rota chinesa. Além disso, caso algum neoconservador americano suba ao poder, e esteja obcecado em frear o crescimento chinês, ele pode querer bater de frente até mesmo militarmente com os chineses, aproveitando a sua fraqueza militar. Só que com os russos na jogada, fica impossível, bater de frente com os 2 ao mesmo tempo é um pesadelo. A China pode aproveitar estes anos turbulentos na relação russo-ocidente pra se armar maciçamente e assim fechar essa vulnerabilidade frente aos americanos, com um grande poder de dissuasão. Afinal, na área econômica este poder já está quase fechado, mas ainda falta na área militar, o que é uma brecha. E, para tanto, os chineses precisam de paz nos próximos anos. Se este conflito ucraniano tivesse ocorrido em 2035 talvez a China já tivesse um bom poder militar. O momento em que os chineses precisam de ajuda é AGORA.

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  2. ERRATA
    Ops, digitando rápido teve uma linha que ficou confusa (sorry!): "Só que com os russos na jogada, fica impossível, bater de frente com os 2 ao mesmo tempo é um pesadelo."

    Leia-se: Só que, com os russos na jogada, fica impossível bater de frente com os 2 ao mesmo tempo. Isso seria um pesadelo.

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