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quarta-feira, 16 de junho de 2010

Ucrânia: O Preço a Pagar - Parte III

Dada a grave situação económica em que a Ucrânia se encontra, eles não tinham outra solução que não pedir uma redução dos preços da energia à Rússia. E estes concederam uma enorme redução, que vai custar à Rússia qualquer coisa como 40 mil milhões de dólares.

E que ganha a Rússia com o desembolsar desta quantia gigantesca? O renovar por mais 25 anos da base onde se aloja a Frota do Mar Negro, pelo menos oficialmente. Mas apenas isto é nitidamente inferior ao valor que a Rússia concede à Ucrânia. O que falta? O que precisa a Rússia? Das várias empresas que ficaram do lado da Ucrânia, quando a URSS se dissolveu estas têm que passar para o controlo russo e este é o verdadeiro preço que a Ucrânia irá pagar, mas que nunca será dito oficialmente. A Ucrânia vai passar importantes sectores para o controlo russo e não vejo grandes alternativas pois foi a própria Ucrânia que se colocou nesta situação.

Assim existem para mim 2 sectores essenciais para a Rússia e que necessitam de obter o controlo, o sector aeronáutico (aviões Antonov) e o sector naval (estaleiros de grandes dimensões) e as coisas parecem realmente estar a evoluir nesse sentido:


Admiral Kuznetsov


Ukraine’s Nikolayev shipbuilding plant to join Russian company 2010

Ukraine’s ship-building plant in Nikolayev, on the Black Sea, and a number of other Ukrainian enterprises, will be handed over to Russia’s United Ship-Building Corporation soon, the corporation’s chief Roman Trotsenko told Itar-Tass.

“The Black Sea Shipbuilding Plant will be a joint venture. Half of its shares and of a number of other Ukrainian enterprises will be handed over to the USC,” Trotsenko said, adding that the plans were to materialize by the end of this year.

The USC chief said that the OSCE chief would develop a program that would provide enough contracts for all these enterprises and their subcontractors.

Trotsenko recalled that the Black Sea Shipbuilding Plant was the most technologically advanced one in the whole of the USSR. It has a unique 900-tonne crane, while most Russian shipyards have 500-tonne cranes.

“We are way behind the leading countries in that respect, because we need cranes capable of lifting loads up to 20,000 tonnes,” Trotsenko said.

According to his estimates, the Black Sea Shipbuilding Plant is in grave condition. It has no contracts and requires major investments for restoration.


Fonte

UAC and Antonov Reach Agreement on JV Establishment

Antonov and United Aircraft Corporation (UAC) reached an agreement to establish a joint venture on parity basis. The agreement was reached after several rounds of negotiations between the aircraft builders of Ukraine and Russia. The documents may be completed by the next meeting of the working group on cooperation between Ukraine and Russia in the industry which may be held in July-August. The joint venture will be established on parity basis.


Fonte

Another attempt at integrating Ukraine’s aircraft maker

Russia and Ukraine have once again announced their decision to merge their aircraft manufacturers. Meanwhile, if no progress had been made previously, this time they have agreed to set up a management company intended to supervise the production and marketing of An-148, An-140, An-70 and An-124 planes. However, the joint venture is no more than an interim stage in integrating the two nation’s aircraft industries. Presumably, Russia's United Aircraft Corporation (UAC) will gain control over Ukraine’s Antonov ASTC by means of a share swap...

...The joint venture seems to be the only way forward for the parties. Russia, anxious to lay its hands on the Antonov design bureau, has tried to kick start consolidation three times: the UAC drafted agreements between the two nation’s aircraft makers which were invariably turned down by the Ukrainian side. Established in 2008, Antonov is a state-run holding which cannot form joint ventures. At this point, it incorporates the Antonov design bureau, the Antonov plant, Kharkov Aircraft Manufacturing Company and 410 Civil Aviation Plant...

...According to the latest draft cooperation agreement on aircraft building (which had been drawn up ahead of the recent meeting of the Russian and Ukrainian presidents, but failed to be signed), the UAC is supposed to get 50 percent plus one share in Antonov – a stake it will pay for with its own shares. It is not clear what stake Ukraine may get in UAC, however. The document also stipulates that all the decisions needed for the companies to merge must be made no later than August 1, 2010. ...

[...]

Fonte

A Rússia precisa dos estaleiros ucranianos, para embarcações de grandes dimensões (por exemplo porta-aviões) e precisa da Antonov, principalmente pelos aviões de carga de grandes dimensões como o AN-124 e do AN-70 (semelhante ao projecto europeu A-400M), a Rússia tem como construir os AN-124, mas o "core" da Antonov reside na Ucrânia.

AN-124


A Rússia está cada vez mais próxima de obter o que quer, o que fará criar empresas de grandes dimensões, que no caso do sector da Aeronáutica é claro o que pretendem, entrar no grande mercado onde neste momento existem apenas 2 concorrentes: a Airbus e a Boeing.

AN-70


A Ucrânia não irá perder com isto, a Rússia tem o capital necessário para o arranque dos projectos, o que irá trazer benefícios para a economia ucraniana, mas irá perder o controlo das mesmas.

Como se costuma dizer, "Vão-se os anéis, ficam os dedos"...

Mas este controlo é necessário pois não se sabe se nas próximas eleições haverá de novo um governo que se vire para a Rússia e estamos a falar de projectos de grandes dimensões e que afectam a segurança nacional (construção de porta-aviões) e a Rússia não vai investir estas somas astronómicas para depois os projectos pararem a meio. Se é para arrancar, eles precisam de ter o controlo da situação.

sábado, 17 de outubro de 2009

Ucrânia: O Preço a Pagar - Parte II

Com parte da Europa a parar e a arrefecer por falta de energia, era urgente pôr cobro à situação. A situação tinha que ser desbloqueada e mediação era requerida, porque Yushchenko e Putin estavam de costas voltadas.

Se alguma dúvida subsiste quanto à responsabilidade da Ucrânia desta situação, ela fica dissipada com o contrato feito. Ele é simplesmente arrasador para a Ucrânia. A Ucrânia iria pagar preço de mercado com desconto de 20% e o pagamento teria que ser mensal e a horas. Falha de pagamento trazia grandes penalizações. E isto seria apenas por um ano. Em 2010 seria a sério, ou seja passa a pagar o valor de preço de mercado na sua totalidade.

A Ucrânia, que se tinha recusado ao valor pedido pela Rússia de 250 dólares, iria passar a pagar 360 dólares. A Ucrânia estava a pagar 179.50 dólares em 2008 e teve um aumento de 100% em 2009! Embora o valor fosse sendo revisto de 3 em 3 meses e com tendência para baixar, nos 3ºs primeiros meses o aumento seria de facto 100% e depois disso estaria sempre longe dos 179.5 de 2008. E agora o contrato não permite uma falha sequer no pagamento e este teria que ser feito todos os meses. Um contrato duro.

Este ano o mundo está numa recessão económica grave e a Ucrânia com um abrandamento claro na sua economia, iria ter energia muito mais cara, o que iria arrasar com a sua indústria dependente do gás e barato. Este é o panorama para a realidade ucraniana durante o ano de 2009, os ucranianos vão sentir na pele as decisões do seu presidente. Nitidamente isto vai ter repercussões nas eleições presidenciais. As dificuldades sentidas em 2009 e saber que em 2010 o preço a pagar ainda será maior, vai sem dúvida ter impacto nos votos.

Dada a dureza do contrato e o significado disso para a indústria e economia do país (além do impacto da opinião pública) o governo mascara a situação. Apesar do aumento brutal, este não iria ser transmitido ao cliente final, que são as empresas e os ucranianos. O Governo iria pagar a diferença. As pessoas não sentiam o grande aumento, mas o governo estava a afundar-se em dividas. Depressa começaram a pedir ajuda e hoje tem empréstimos do FMI, do Banco Mundial e da UE no valor de Biliões de dólares de modo a poder pagar as contas do gás.

O valor da moeda caiu vertiginosamente e todos os meses a questão levanta-se, tem a Ucrânia dinheio para pagar a conta? Desde que vá recebendo os empréstimos. Entretanto para piorar ainda mais a situação, o FMI que está a fornecer o seu empréstimos por tranches impôe condições. O défice tem que ser controlado, a Ucrânia tem que refletir o preço da energia à população é à indústria. Dada a gravidade da situação económica, esta decisão seria arrasadora e impopular, deixando a 1ª ministra num dilema, aumentar os preços com todas as suas consequências e receber mais uns Biliões do FMI, ou manter os preços de modo a Tymoshenko ter hipóteses nas eleições presidenciais.

A situação actual da Ucrânia é favorável à Rússia. O principal objectivo é impedir a adesão à NATO e dada a situação económica e dependência de gás russo subsidiado, irá obrigar ao novo presidente lançar novas negociações, dando garantias de que não haverá adesão à NATO, a não ser que seja obrigada a pagar preços de mercado.

Infelizmente e mesmo que para o ano se venham a entender, a Ucrânia já tem um preço alto a pagar. Para a Rússia a Ucrânia representa uma ameaça à sua segurança pois mesmo que este novo mandato presidencial seja mais amigável com a Rússia, ninguém garante como seja o próximo.

Para a UE a Ucrânia também oferece perigos. A Ucrânia usa o seu poder de trânsito de energia para a Europa, ignorando as suas responsabilidades de pais de trânsito. E quando as coisas correm mal, é a Europa que tem que pagar com as suas reservas monetárias.

Portanto o objectivo principal tanto da UE como a Rússia é reduzir a sua dependência de tantos países intermediários. A resolução deste problema implica problemas acrescidos para a Ucrânia. A Ucrânia deixa de ser um problema para ambos, e a Rússia aumenta o seu poder de influência. Pode passar o gás a valor de mercado ou pode mesmo cortá-lo. No futuro, a UE não será afectada por isso, não tendo por isso pagar pelas opções políticas ucranianas.

Dado as suas dimensões e opções políticas, a Ucrânia é vista com suspeita pelos dois lados e se ainda vai tendo apoios, é porque ainda serve como país de trânsito.

A Ucrânia está entalada entre a Europa e a Rússia e nenhum dos dois terá pressa em criar amizades mais profundas. As más opções do presidente ucraniano, ditaram o preço a pagar por todos e por muito tempo.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Ucrânia: O Preço a Pagar - Parte I



Nunca os ucranianos imaginaram o que lhes estava destinado pelas opções tomadas na revolução laranja.

A aproximação ao Ocidente, a aproximação à Europa davam esperanças de algo melhor nas suas vidas, mas tudo tem um senão. E esse senão é que além de se querer aderir à UE, o presidente tinha um grande objectivo, o da adesão da NATO.

Aqui começam os problemas, a NATO é uma estrutra militar que a Rússia considera uma ameaça e a vizinha Ucrânia pretende aderir. As ligações militares são grandes entre a Rússia e a Ucrânia e este salto para o "outro lado", afecta consideravelmente o sistema de segurança russo.

Para agravar a situação, o presidente é bastante hostil para com a Rússia e com o apoio de muitos outros países, acelerou agressivamente a tentativa de entrar na NATO, tal como o fizeram os países Bálticos, a Polónia e a Rep. Checa e aqui começaram os problemas. A Ucrânia quer mudar para um bloco militar hostil à Rússia, mas continua dependente da energia desta. Pior, a Ucrânia vive com gás subsidiado pela Rússia.

Dado o caminho que a Ucrânia começou a percorrer, a Rússia reagiu e a sua resposta acaba por ser fulminante, a Ucrânia tem que passar a pagar o gás a preços de mercado, pois não faz sentido a Rússia apoiar um país que se está a tornar hostil.

Ainda assim o salto para preços de mercado não foi imediato, mas sim gradual, a cada ano o preço é revisto e este iria acelerar de modo a atingir o preço de mercado num periodo mais curto que o previsto.

A Ucrânia começou a reagir a este aperto, tentando impedir esta escalada de preços, pois a sua estrutura económica e industrial não consegue suportar estes custos energéticos. Ao longo dos anos a situação foi-se deteriorando, com aumentos, dívidas, ameaças e cortes de gás e que acabou por rebentar na entrada deste ano. Em 2006/2007 já tinha havido cortes onde o abastecimento a outros países europeus tinha sido afectado, tendo nessa altura a Rússia ficado com uma má imagem como fornecedor, porque a imprensa reportou básicamente a perspectiva ucraniana da situação, tendo com resultado a ideia de que a Rússia cortou o fornecimento à Europa.

No periodo de 2008/2009, a Ucrânia tentou repetir de novo a dose e deu-se mal. muito mal. Além dos valores em dívida e Ucrãnia recusou negociar o valor a ser aplicado para o ano de 2009, a Rússia baixou o valor pretendido pelo o seu lado, mas a Ucrânia oferecia um valor muito abaixo do que a Rússia pretendia. A Rússia lançou avisos à Europa e à Ucrânia de que iria haver novos problemas se a Ucrânia não saldasse as suas dívidas e se não fosse acordado o preço para 2009. Tendo o prazo expirado sem contrato acordado, preços de mercado foram aplicados e a situação rebentou. Os valores não foram pagos e o gás para a Ucrânia foi cortado. A Ucrânia passou a desviar o gás destinado para a Europa para consumo interno e ao mesmo tempo a dizer que a Rússia estava a cortar o gás para a Europa. Uma vez mais, a imprensa dava voz ao que saia da Ucrânia, e artigos por todo lado saiam dizendo, que a Rússia estava a cortar o gás à Europa, a Rússia não era um fornecedor fiável. Não se colocava em causa as responsabilidades da Ucrânia como país de trânsito.

Com esta pressão em cima da Rússia, (vários países afectados, imagem como fornecedor afectado e pressão via imprensa e via política) a Ucrânia, pensou repetir o feito e obter um melhor acordo para o ano de 2009.

Mas a situação não correu como o previsto. Desta vez a Rússia deu um murro na mesa e cortou todo o gás que transitava via Ucrânia (a maioria do seu gás) e só iria abrir depois de observadores independentes estivessem colocados em ambas as extremidades dos pipelines para mostrar o quanto estava a entrar na Ucrânia e quanto gás estava à saida do país. A Rússia fechou as torneiras, até ser pago o que lhe era devido. E se a Europa queria o seu gás, teria que verificar onde é que este se "perdia".

A Ucrânia ficou debaixo de fogo. A imprensa começou a interrogar-se se a culpa residia apenas na Rússia, a pressão recaia agora sobre ela e sobre a Europa.