sábado, 16 de setembro de 2023

Guerras Energéticas: A Bomba Relógio Russa XIII

 


Os dados de Julho permitem ver uma acalmia significativa da inflação na Europa. Em Julho, a média da UE está nos 6.1, Portugal pouco acima dos 4% e deixamos de ter países no vermelho (acima dos 20%)



Os ingleses também estão no bom caminho, com a taxa abaixo dos 7%


Quanto à Rússia, ela tem estado a subir, já acima dos 5% em Agosto.




Agora, se a inflação tem acalmado, as taxa de juro têm estado a subir. No caso da Europa parece querer apontar para os 5%. Será que chegamos lá...?


BCE anuncia novo aumento das taxas de juro em 25 pontos base

O Banco Central Europeu (BCE) anunciou esta quinta-feira uma nova subida das taxas de juro em 25 pontos base. O BCE informa que a taxa de facilidade de depósito subiu assim para 4%, a taxa de juro das principais operações de refinanciamento em 4,50%, e a taxa de juro aplicável à facilidade permanente de cedência de liquidez em 4,75%. Esta é a décima subida consecutiva das taxas de juro, atingindo o valor mais alto da história da zona euro...

 O BCE prevê um aumento da inflação para 2023 e 2024 devido aos impactos dos preços da energia e dos alimentos...

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A Rússia também tem estado a subir as taxas, saltando agora para os 13%.




Outro dado que gosto de ir acompanhando são as reservas monetárias e o ouro. As reservas continuam perto dos valores máximos. Muito perto dos 600 mil milhões de dólares.



E o ouro, até estou surpreso, mas continuam a  acumular ouro, com uma pequena subida já depois de iniciada a guerra.




Ano e meio de guerra parece-me ser suficiente para pensar que a Rússia está a aguentar bem o embate económico  que lhe foi lançado. 

E com esta constatação, penso que teremos equacionar o passo provável seguinte. A Rússia vai lançar também ela um ataque económico à Europa em algo que somos muito frágeis. Na energia.

Estou convicto que no próximo post deste tema, as coisas vão começar a mudar um pouco. A subida das taxas de juro tem como objectivo combater a inflação, no entanto o preço da energia tem impacto (e muito) na inflação.

E para onde caminhamos? para o Inverno.

E o que tem estado a Rússia a fazer? A aumentar os preços da energia via OPEC+. O barril de petróleo já anda a rondar os 90 dólares e com tendência para subir. Ora, com os preços a subir, a inflação na Europa vai inverter a sua tendência de descida. E a mesma está com estes valores tão baixos devido aos massivos apoios governamentais para não passar para os europeus a verdadeira factura energética.

Mas tudo isto está para acabar, com Lagarde a exigir que se acabe com os apoios. A Europa não pode estar neste ritmo a injectar massivamente e simultaneamente na Ucrânia e nos preços da energia. É que já estamos há mais de ano e meio a esturricar dinheiro para que os europeus não percebam a gravidade da situação. Os euros não são infinitos.


Lagarde pede fim de apoios temporários, Costa quer alargar os que existem

A presidente do Banco Central Europeu (BCE) insistiu na importância de os governos da Zona Euro reduzirem as medidas de apoio a empresas e famílias, à medida que a crise energética se for dissipando para reduzir as pressões inflacionistas. Mas, afinal, que medidas temporárias de apoio ainda vigoram em Portugal, depois do Covid e da resposta ao choque energético que resultou da invasão da Ucrânia?

Desde logo os apoios aos combustíveis...

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Lagarde sabe e a Rússia também. 

A Rússia vai começar a pôr o dedo na ferida energética europeia.

OPEC+ cuts to tighten oil market sharply in fourth quarter, IEA says

Oil output cuts which Saudi Arabia and Russia have extended to the end of 2023 will mean a substantial market deficit through the fourth quarter, the International Energy Agency (IEA) said on Wednesday, as it largely stuck by its estimates for demand growth this year and next.

OPEC and its allies, known as OPEC+, began limiting supplies in 2022 to bolster the market. This month, benchmark Brent crude breached $90 a barrel for the first time this year after OPEC+ leaders Saudi Arabia and Russia extended their combined 1.3 million barrel per day (bpd) cuts until the end of 2023.

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Curiosamente, aos poucos vai-se descobrindo as hipocrisias europeias, que se por um lado apoiam a Ucrânia, por outro, financiam a Rússia.

Se já se tinha descoberto que a Espanha andava a prevaricar, agora a situação ainda ficou  mais embaraçosa.

A Espanha tornou-se o segundo maior cliente de GNL russo logo a seguir à China! O segundo maior cliente da Rússia em GNL é um país europeu que apoia a Ucrânia e as sanções à Rússia!

Spanish imports of Russian gas rise 65% in July

Spain and Belgium are now the second and third-largest importers of Russian gas respectively.

Spain’s imports of Russian natural gas rose by 65% in July compared with the same month last year.  The country is now Russia’s second-largest customer behind China.

between January and July 2023, EU countries bought 22 million cubic metres of LNG, an increase of 40% since 2021. According to government data published on Friday, the share of Russian gas out of total imports in Spain rose to 28% in July. Ribera told Reuters there was no immediate plan to ban Russian gas, saying “there is this feeling of scarcity and fear”, which could prompt a spike in global prices...

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Mas as surpresas não ficam por aqui. Agora, mais um país foi apanhado com a boca na botija. Um país que tem gasodutos novos e directos que não quer usar, está a comprar petróleo russo através de intermediários, mais concretamente a Índia.

Sim, estou a falar da Alemanha! Nos primeiros 7 meses deste ano, houve um aumento de mais de 1000% (!!) .

Germany snapping up Indian fuels amid Russia sanctions

German imports of refined oil products from India soared in the first seven months of the year, official data showed Tuesday, much of which was likely made using crude oil from sanctions-hit Russia.

Germany bought 451 million euros' ($480 million) worth of Indian petroleum products between January and July.

That was an increase of more than 1,100 percent on the €37 million spent over the same period a year earlier, national statistics agency Destatis said...

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Estamos metidos numa alhada de todo o tamanho. E estou convencido que a Rússia vai começar atacar a economia europeia via energia muito em breve.

Nós os europeus vamos começar a ficar um pouco cansados com os sucessivos aumentos. É uma maçada, sem dúvida.

Mas ainda assim, duvido que algum europeu queira trocar a sua vidinha pela vidinha de um ucraniano.

E se os europeus escaparem incólume ao que aí vem, bem podem acender velinhas a algum santo.

Agora, os políticos europeus que nos meteram nesta alhada, não sei onde se irão conseguir esconder.



Post anterior:

[Guerras Energéticas: A Bomba Relógio Russa XII]




P.S Os IL-76

Para quem se recordar da situação do ataque com drones a um aeroporto no final do mês passado, que danificaram/destruiram uns 4:

Aeroporto russo atacado por drones. Espaço aéreo encerrado e quatro aviões destruídos

Quatro aviões de transporte militar russos foram destruídos.

"Como resultado do ataque do drone, quatro aviões Il-76 foram danificados. Houve um incêndio e dois aviões arderam em chamas", informou a Tass...

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Queria mostrar uma questão importante, de que se evita falar nas notícias.  A Rússia é um dos maiores produtores do mundo e estão a acelerar a sua produção.

São aviões de grandes dimensões como se pode ver pela imagem.




Mas neste momento a Rússia está a produzir um a cada dois meses deste modelo. E só estou a referir especificamente da produção deste modelo de avião. A Rússia está praticamente a funcionar numa escala de guerra.


Agora é imaginar esta situação replicada para aviões, navios, submarinos, mísseis...

Nas guerras perde-se material, mas a capacidade de reposição é um factor crítico. E a Rússia possui esse factor.

Tempos complicados nos esperam.