terça-feira, 24 de setembro de 2024

O Futuro Da Europa Está Na Alemanha II

 


Bem, o post anterior sobre o tema, foi há um ano atrás. (O Futuro Da Europa Está Na Alemanha). E podemos constatar que a Alemanha está hoje muito pior que há um ano atrás.

E os dados começam a aparecer.

A maior recessão da Alemanha em sete meses arrasta a zona do euro para a contração

A atividade empresarial alemã contraiu no ritmo mais rápido em sete meses, de acordo com dados divulgados na segunda-feira.

O Índice de Gerentes de Compras (PMI) composto preliminar alemão do HCOB, compilado pelo S&P Global, caiu para 47,2 em setembro, antes 48,4 em agosto.

Essa leitura, abaixo do limite de 50 pontos, indica uma contração significativa na maior economia da Europa...

[Link]

E a Europa?

Tal como se previa.

Atividade empresarial da zona euro contrai em setembro, aumentando receios de recessão

A atividade empresarial da zona do euro contraiu inesperadamente em setembro, sinalizando problemas cada vez maiores nos setores de serviços e manufatura.

O Índice de Gerentes de Compras (PMI) da região, compilado pelo S&P Global, caiu de 51,0 para 48,9 em agosto, marcando a primeira contração desde fevereiro.

Esse declínio, impulsionado pela fraca demanda e pelos desafios econômicos em grandes economias como Alemanha e França, levanta preocupações significativas sobre as perspectivas de crescimento futuro e intensifica as especulações sobre uma possível flexibilização da política monetária pelo Banco Central Europeu (BCE).

A queda do PMI abaixo do limite crítico de 50 destaca a deterioração das condições econômicas em toda a zona do euro...

.. .a indústria na zona do euro continua enfrentando grandes desafios, como evidenciado pelo declínio do PMI para 44,8, o nível mais baixo desde o início de 2023.

Isso marca o 26º mês consecutivo de leituras abaixo de 50, indicando contração sustentada...

... os dados do PMI de setembro despertam temores de que as medidas recentes do BCE podem não ser suficientes para evitar uma crise prolongada...

[Link]

E se dúvidas houvesse como a coisa anda no motor da Europa, basta ver como anda a Volkswagen.

Volkswagen admite pela primeira vez encerrar fábricas na Alemanha


 

A gigante alemã Volkswagen, que produz carros na fábrica da Autoeuropa, em Palmela, admitiu pela primeira vez a possibilidade de encerrar fábricas na Alemanha, numa tentativa de poupar milhares de milhões de euros. Além do fecho de fábricas, a multinacional pondera ainda desfazer um acordo que impedia o corte de postos de trabalho antes de 2029...

[Link]

Pensar que nós vamos passar pelos pingos da chuva...

Pensar que a Alemanha está a ter todos estes problemas porque virou as costas à energia russa...

Pensar que um dos gasodutos do Nord Stream está funcional mas a Alemanha não tem condições políticas para engolir um sapo deste tamanho (pelo menos enquanto houver dinheiro para disfarçar as contas...)

Pensar que um país a agoniar lentamente, com acesso a energia barata e vê as suas opções energéticas a reduzir ainda mais...


NORWAY'S EQUINOR SCRAPS PLANS TO EXPORT BLUE HYDROGEN TO GERMANY

Norway's Equinor has scrapped plans to export so-called blue hydrogen to Germany because it is too expensive and there is insufficient demand, a spokesperson for the energy company said on Friday.

Equinor and Germany's RWE signed a memorandum of understanding in January 2022 to build a hydrogen supply chain for German power plants to help reduce greenhouse gas emissions.

The plans included producing hydrogen from natural gas in combination with carbon capture and storage - known as blue hydrogen - in Norway and exporting it to hydrogen-ready gas power plants in Germany via the world's first offshore hydrogen pipeline.

"The hydrogen pipeline hasn't proved to be viable. That also implies that hydrogen production plans are also put aside," Equinor spokesperson Magnus Frantzen Eidsvold told Reuters.

Last year, Equinor CEO Anders Opedal said the cost of the total supply chain could run into the "tens of billion euros", while the pipeline alone would cost some 3 billion euros ($3.35 billion)...

[Link]

Políticos inúteis atiraram-se de cabeça em fantasias, em soluções não comprovadas e arrastaram-nos a todos para o precipício. A Europa, tal como venho dizendo há imenso tempo, não pode competir com a China (salários baixos, energia barata) e os EUA (salários altos, energia barata). Porque na Europa os salários são altos e a energia cada vez mais cara.

A Europa para consumir menos energia, só tem uma alternativa, produzir menos.Porque a produção consome muita energia. Temos que nos sentar todos num banquinho de jardim, deixar que outros produzam e rezar para que tenhamos dinheiro para comprar os produtos...

Como por exemplo os fertilizantes. Mas antes de atacar os fertilizantes, gostaria de relembrar dois outros temas parecidos de algo que se produzia em abundância na Europa, mas com a guerra das sanções à Rússia...


O sector do leite

Eu, em 2015, coloquei um post (Sanções Europeias, O Preço A Pagar) sobre a decisão catastrófica para a Europa sobre a guerra das sanções com a Rússia neste sector. Tão catastróficas que até nisto empurraram a Rússia para uma parceria com a China.

Resultado?

The Russian Dairy Industry After 10 Years of Food Embargo

Over the past 10 years, the volume of investments in Russia's dairy processing sector has exceeded 460 billion rubles, while more than 1 trillion rubles have been invested in the raw materials sector. According to Artem Belov, CEO of Soyuzmoloko, the sanctions played a positive role in accelerating the sector's development despite the challenges faced by the industry.

Cheese production has increased by 132%, cream by 205%, whole milk powder by 221.8%, and skimmed milk powder by 104.2%.

the total volume of cheese exports from Russia in 2023 was 25,000 tons, 53.7% higher than in 2013.

The Russian dairy industry is now shifting its development vector from import substitution to realizing export potential. Russian producers are actively working on entering the markets of East and Southeast Asia, Africa, and the Middle East. Dairy exports exceed 1 million tons, with 15-20% going beyond the CIS...

[Link]

Quanto às exportações da UE para a Rússia, um gráfico para se ter uma ideia do antes e depois.


Os nossos produtores agradecem.


O sector da suinicultura

Em 2016, voltei a focar outro sector (Sanções Europeias, O Preço A Pagar II). Uma vez mais a Europa é atingida.

A Rússia em 2014 deixou de importar carne de porco vindo da Europa. Realidade de hoje? 


Pork export Russia is soaring

Russia exported 46,800 tonnes of pork in the first quarter of 2023. That is 32% more than in 2022, the Russian Union of pork producers estimated. Pork sales grew in key export directions, driving further growth in production.

Export to Vietnam for instance jumped with 130% to 18,800 tonnes and to Hongkong with 140% to 1,600 tonnes. Sales to Belarus increased with 18%, reaching 16,600 tonnes, and Mongolia jumped with 44% to 1,400 tonnes.

[Link]

A Rússia deixou de importar da Europa.

E passou a exportar.

Vamos a ver a realidade em 2024.


A Rússia é hoje o quarto maior a nível mundial em termos de produção.

[Fonte]


 A Rússia hoje, está no top 10 dos maiores exportadores de carne de porco, no sexto lugar. (Estou a considerar apenas países).

A Rússia tem de facto, muito a agradecer à Europa.


Vamos agora à questão dos fertilizantes.


Grinding to a halt, Europe’s fertiliser sector facing ruin by Russia

Europe’s Herculean efforts to reduce energy reliance on Russia have not been matched when it comes to fertiliser. The European Council’s hesitation to add fertilisers to Russian sanctions is putting Europe’s fertiliser industry at risk of catastrophe, and accentuating Europe’s food insecurity.

Echoes of Europe’s steel sector demise now sound for Europe’s fertiliser firms, as lawmakers torturously calibrate the risk-reward of adding cheaper Russian fertiliser to the banned import list. As with EU steel a decade ago, when Europe failed to facedown China’s anti-competitive strategy, it could be too little too late – many of Europe’s fertiliser plants are already shuttered or on reduced capacity.

Euractiv spoke in depth with Fertilizers Europe’s new President, Leo Alders, he said: “If Europe is to ensure food sovereignty, it must maintain resilient domestic production chains with a minimized dependency on imports. Since the war in the Ukraine, the surge in fertiliser imports from Russia has weakened the EU’s food security. One reason is that the fertiliser sector is a high energy consumer.”

According to Eurostat, the European Union experienced significant changes in its fertiliser imports from Russia during 2022-23. Nitrogen imports into the EU increased by 34% compared to the previous period. Urea imports surged by 53%, effectively doubling the volumes recorded in 2020-2021. Russia contributed significantly, with 40% of the urea imports originating there.

[Link]

O que se está a passar com os fertilizantes? De uma forma muito sucinta, tudo se resume a uma coisa e que está referida no texto.

É um sector que consome muita energia.

E energia barata e em grandes quantidades na Europa... acabou.

Então se não temos energia barata, vamos produzir os fertilizantes onde ela é barata. À custa, claro, dos nossos produtores... 

E onde?

Na Rússia, claro. 


‘Russian fertiliser is the new gas’ for Europe, top producer warns

Europe is “sleep walking” into becoming dependent on Russian fertiliser, just as it did with gas, says one of the largest producers of crop nutrients.

Nitrogen fertilisers, which are important to plant growth, are made using natural gas and Russia is exporting more of it to Europe, replacing some of the gas banned by the EU, said Svein Tore Holsether, chief executive of Yara International, one of the world’s largest producers of nitrogen-based mineral fertilisers.

Fertiliser is the new gas,” Holsether said. “It is a paradox that the aim is to reduce Europe’s dependency on Russia, and then now we are sleepwalking into handing over critical food and fertilising power to Russia.”

The EU imported twice as much urea, a common fertiliser, from Russia in the year to June 2023 compared with a year earlier, according to Eurostat...

The price of crop nutrients soared in the wake of Moscow’s full-scale invasion of Ukraine in February 2022, as sanctions imposed on Russia limited availability of natural gas, a main input for nitrogen fertilisers such as ammonia and urea.

Russia is one of the world’s largest producers and exporters of nitrogen-containing fertilisers. This is also the case for potash and phosphate, which are mined and cannot replace the nitrogen-based fertilisers.

Russian fertiliser export revenue surged 70 per cent in 2022 on the back of higher prices.

[Link]


A Europa está num processo de auto-destruição. Estamos a ir ao fundo.

E não estou a ver uma saída para esta queda. 

Dentro de uma década, se ainda cá estiver, gostaria de fazer um update a esta questão dos fertilizantes tal como fiz com o sector do leite e da suinicultura.

Agora, ainda teremos Europa?