terça-feira, 26 de abril de 2022

Guerras Energéticas: A Bomba Relógio Russa II

 


E cá estamos nós. A Rússia vai começar a apertar, a começar pela Polónia e Bulgária.

Russian demand for rubles for gas causes first shutdowns in Poland, Bulgaria

Polish natural gas company PGNiG said Gazprom would cut supplies starting Wednesday. Bulgaria's energy minister said Gazprom sent Bulgargaz a similar notice...

[Link]

Penso que a partir daqui a situação na Europa vai começar a azedar. Não é a Europa que não está a deixar de comprar gás à Rússia, é esta que deixa de vender a quem não cumpre com exigido.

A Europa deveria estar neste momento a encher as reservas para o próximo Inverno. Não está.

Como é que os políticos vão conseguir esconder o elefante na sala aos europeus é que não consigo descortinar. Não há país neste planeta que consiga compensar o fornecimento russo. E quanto a valores... é que nem pensar em comparar.

Como evitar os brutais aumentos que esperam aos europeus? Como evitar a destruição da capacidade industrial europeia quando confrontado com valores energéticos que são impossíveis de lidar?

E não é só no gás.

Estão a começar a fazer o mesmo com o petróleo.

Russia's Rosneft seeks pre-payment in roubles for oil products

Russia's top oil company Rosneft offered oil products from its refineries for loading during May-June in a tender requiring pre-payment in roubles, three market sources told Reuters on Tuesday...

...Rosneft has followed on the footsteps of Putin's orders to Gazprom and asked for 100% prepayment and conversion of the payment into roubles for purchases of its oil...

...The company also gave buyers the option, where it is not possible to pay in roubles, to pay in Chinese yuan, U.S. dollars, euros, United Arab Emirates dirhams and Turkish lira, the sources said. These options, however, would be subject to negotiation and could be refused by Rosneft...

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A Rússia está a atacar o dólar. Os países que se atreveram a fazer isto no passado deram-se mal. Mas nenhum deles era uma super-potência militar e nuclear.

O rublo tem estado a subir desde o anúncio que as vendas seriam feitas em rublos para países hostis.


Neste momento, o valor da moeda voltou aos valores pré-guerra.

A Rússia dá o início a uma guerra económica, sendo a Europa duramente afectada.

A Europa que como o resto do mundo acaba de sair de um inédito periodo pandémico, vê-se a braços com uma guerra, custos energéticos com subidas exponenciais, vaga de milhões de refugiados e que não são instalados em simples tendas amontoadas como aquelas que a Europa paga à Turquia para manter os refugiados sírios afastados das fronteiras europeias.

Mais, estão a enviar milhares de milhões de euros para manter a Ucrânia minimamente a funcionar e estão a despejar milhares de milhões em armamento onde muito deste vai ser destruído antes de ser usado.

Internamente para os europeus, não haverá saída. Aumentos exponenciais aguardam à medida que os meses avançam.

Estamos em guerra. E os nosso políticos não nos explicaram bem a coisa, nem como foram tomadas algumas decisões. 

Dentro de alguns meses, as interrogações vão subir de tom.


Artigo anterior:
Guerras Energéticas: A Bomba Relógio Russa

terça-feira, 19 de abril de 2022

A Nova Frota Russa II

Um dos novos navios escoltado  por um quebra-gelos 
nuclear, dos maiores do mundo.
 

Este é uma actualização de um artigo que fiz em 2019 ( A Nova Frota Russa ), onde na altura tinha mostrado que a Rússia começava a fazer uma aposta séria no GNL. Estamos em 2022 e podemos constatar que a encomenda de 15 novos navios de uma nova classe especial (arc 7) para navegar nas regiões geladas da Rússia estão entregues e operacionais.

É com esta nova frota operacional que a Rússia já luta no mercado global e competiu com os americanos na entrega de gás GNL na Europa, Portugal incluído, tendo entregue sensivelmente a mesma quantidade tal como indiquei no artigo ( Gás Americano: Uma História Da Carochinha )

E para termos ideia da dimensão da aposta que a Rússia está a fazer neste segmento, vamos actualizar com a nova encomenda feita. Estão a caminho mais 42 navios semelhantes e ainda com capacidade navegar em gelo até 2,1 metros de forma autónoma.

Parte desta encomenda já está em curso no novo estaleiro Zvezda situado no Oriente. Enquanto que os primeiros 15 navios foram construidos na Coreia do Sul, agora a Rússia já detem a capacidade de os construir.

Estão já 7 em várias fase de construção, o 7º arrancou em Fevereiro deste ano e a partir de 2023 vão começar a integrar a frota.


Zvezda starts 7th Arctic LNG 2 carrier construction

Russian shipyard Zvezda Shipbuilding Complex has started cutting steel for the seventh ARC 7 ice-class LNG carrier for the Arctic LNG 2 project.

SSK Zvezda is the first Russian shipyard to implement a project for the construction of such vessels... 

Link

E os investimentos não se ficam por aqui. Em Janeiro deste ano, chegou o mais recente quebra-gelos nuclear. O segundo desta nova classe de quebra-gelos.


Esta nova geração de quebra gelos são os mais potentes do mundo, ultrapassando a geração anterior. Estão mais 3 em várias fases de construção e o previsto são 7 ao todo.

E os russos não se ficam por aqui. A Rússia avançou com um novo monstro, com capacidade que ofusca tudo o que o que foi construido até hoje e previsto para entrar em acção dentro de 5 anos.


Quebra-gelos da classe "Leader"

Dá para nos apercebermos a seriedade deste assunto. A aposta no North Sea Route diz tudo.


Tal como já tinha chamado a atenção no artigo (O Novo Caminho Marítimo Para A Índia), a Rússia prepara-se para desviar a sua energia (com preço muito competitivo) para outros mercados.

Suspeito que a Europa terá este ano para reflectir o que quererá para o seu futuro. E em função disso, a Rússia irá escolher o seu.

E eu não vejo políticos europeus à altura do desafio que está à nossa frente.





Alguns vídeos sobre esta temática. Para reflectir na capacidade e planeamento que a Rússia tem andado a demonstrar ao longo dos anos, mas que teimamos em não querer perceber.








sábado, 9 de abril de 2022

Rússia, A Votação Na ONU

 


Esta votação mostra algumas situações interessantes, a nível de votos contra e abstenções.

Os que votaram a favor, não representam de forma expressiva o panorama a nível global.

BRICS - Brasil, Rússia, China, India, África do Sul

Tirando o voto russo, temos um voto contra (China) e os restantes abstiveram-se.

Os BRICS representam quase 3,5 mil milhões de pessoas, ou quase 40% da população mundial

Ásia Central  

Práticamente todos os países votaram contra.

Médio Oriente

Não temos ninguém que tenha votado a favor (tirando Israel). Nem mesmo aliados americanos ou com bases americanas.

África

Temos uma larga maioria que ou se absteve ou votou contra.

América do Sul

Podemos dizer que está dividida ao meio.

A nível individual, também reparo em situações interessantes.

México

País que faz fronteira com os EUA, além de se ter abstido, tem comprado armas russas e foi um dos países que apostou no novo avião civil russo, o sukhoi superjet. Este voto, não caiu bem nos EUA.

Afeganistão

Tem havido uma aproximação cada vez maior com os taliban, tendo a Rússia acreditado o primeiro representante no país. Quase em simultâneo os talibans anunciaram a proibição da produção de droga no país. O Afeganistão é uma das peças chave para ligações energéticas terrestres entre a Rússia e a Índia.

Paquistão

Temos a recente visita à Rússia, pouco antes de eclodir a guerra. As relações entre estes países cresceu imenso, principalmente depois dos americanos começarem a namorar a India. No entanto com o Paquistão e o a Afeganistão desenham-se novas ligações energéticas entre a Rússia e a India, com estes pelo meio onde todos beneficiam.

Ou seja, olhando para o panorama global, temos muita gente que não vê isto com os mesmos olhos que o mundo Ocidental. E são muitos.

E estes olhos têm mais liberdade a aceder a informação do que nós Ocidentais.

Eles podem tanto ver informação de canais ocidentais, como de canais russos.

Nós não temos essa liberdade.

Começa a ser difícil invocar nas notícias que "A Comunidade Internacional está unida/chocada, etc, etc"

Não está.

E onde é que ela está unida?

Na condenação ao nazismo.




Bem, tirando o voto contra da Ucrânia e os EUA.

E a abstenção dos países de 1ª linha.

Anda algo de muito errado neste planeta.

sexta-feira, 8 de abril de 2022

EUA VS Rússia: Militares Não Se Falam

 


Este telefone que está na imagem é (pelo que dizem) o telefone usado pelos militares americanos numa base do Qatar para falar com os militares russos.

Tem sido extensivamente usado devido à situação na Siria. Afinal as duas super-potências nucleares estão frente a frente no pais em lados opostos.

Não pode haver erros, não pode haver enganos, não pode haver confrontos directos entre americanos e russos.

Isto para dizer que apesar de toda a conversa e postura dos políticos, os militares de ambas as partes tentam prevenir algum desentendimento que possa originar algo gravíssimo para todos nós.

Para a situação da Ucrânia, fizeram o mesmo:

...The Department of the Defense recently established a de-confliction line with the Russian Ministry of Defense on March 1 for the purposes of preventing miscalculation, military incidents, and escalation,” the spokesperson said

They noted that the U.S. “retains a number of channels to discuss critical security issues with the Russians during a contingency or emergency.”

 ...one from the U.S. European Command’s operations center in Stuttgart, Germany, and the other expected from the Ministry of Defense in Moscow...

Mas apesar de terem indicado que foi estabelecido uma linha de comunicação para uma zona extremamente sensível e onde a Rússia está de facto em acção de uma forma nunca vista e ao lado de vários países membros da NATO, constata-se o seguinte:

... The new deconfliction line is of interest as Pentagon officials have previously said they have not had any direct communications with Russia since the invasion began eight days ago...

... Defense Secretary Lloyd Austin last spoke with Russian Minister of Defense Sergey Shoygu on Feb. 18, while Joint Chiefs of Staff Chairman Gen. Mark Milley last spoke to the Chief of Russian General Staff Gen. Valery Gerasimov on Feb. 11, nearly a month ago ...





As indicações são que a última vez que falaram foi em Fevereiro antes do conflito eclodir, mas já numa altura muito tensa.

Quase um mês e meio depois, constatamos de facto que não há comunicações entre os militares:

Multiple attempts by Washington's top military leaders to speak with their Russian counterparts have been rejected by Moscow, raising fears that a battlefield miscalculation could plunge Ukraine and the world further into crisis. 

Ever since Russia's invasion of Ukraine, Defense Secretary Lloyd Austin and Gen. Mark A. Milley, the chairman of the Joint Chiefs of Staff, have tried to reach Defense Minister Sergei Shoigu and Gen. Valery Gerasimov by phone.

But the Russians are not picking up, according to Pentagon spokesman John Kirby. 

Details emerged on day 29 of the conflict, as President Joe Biden met with N.A.T.O. leaders in Brussels and unveiled a fresh raft of sanctions designed to further isolate Vladimir Putin and his supporters.

'We've made multiple attempts here but they have not answered up.

'They have declined to take the calls.' 

Estamos em guerra. Todos sabem quais são as linhas vermelhas. Incluindo nós europeus onde esta batalha está em curso.

O tempo de conversa acabou.

A Ucrânia é apenas o princípio.



Links de suporte:

https://thehill.com/policy/defense/596789-us-russia-set-up-military-communication-line-to-prevent-accidental-clash/

https://www.dailymail.co.uk/news/article-10648501/Pentagon-confirms-Kremlin-REJECTED-calls-Gen-Mark-Milley-Defense-Secretary-Austin.html

https://www.washingtontimes.com/news/2017/oct/5/us-russia-use-military-deconfliction-phone-20-time/