sábado, 4 de março de 2023

Japão: De Meter Os Olhos Em Bico

 


O Japão, que técnicamente está em guerra com a Rússia, pois a coisa não ficou resolvida após a 2ª Guerra Mundial e é motivo de atrito entre os dois a questão de algumas ilhas terem ficado na posse da Rússia, tem acompanhado as decisões dos países ocidentais sobre a questão ucraniana.

E como tal, aderiu às sanções, ao apoio da Ucrânia, ou seja pressão máxima sobre a Rússia, tendo mesmo a partir de Junho do ano passado parado de importar petróleo russo. O gás é outra conversa, pois desde o acidente nuclear, o Japão tornou-se um ávido cliente e é difícil abandonar um fornecedor como a Rússia, que está perto e onde partilha alguns projectos de exploração de gás que claro, não andam a correr muito bem, para os interesses japoneses.

How Japan’s Russia policy changed after Ukraine

Since Russia invaded Ukraine on 24 February 2022, Japan has actively supported the resistance through the provision of non-lethal defence equipment, emergency humanitarian and financial assistance and the acceptance of evacuees.

Japan has also joined international sanctions through several financial measures, such as the restriction of transactions with Russia’s central bank and the exclusion of selected Russian banks from SWIFT. After the report on Russian war crimes, Prime Minister Fumio Kishida announced that Japan would also phase out Russian oil and coal imports...


...Kishida also stressed that Japan would enhance its cooperation with both NATO and the European Union toward a Free and Open Indo-Pacific. During his trip to Europe in May 2022, Kishida repeated his views that the invasion of Ukraine was not just a European problem because ‘Ukraine may be East Asia tomorrow’...


É claro que esta postura japonesa, piorou e bastante as relações com a Rússia. Principalmente porque o Japão é o equivalente à Polónia no que toca ao sistema antí-míssil americano e eu tenho as minhas teorias sobre o que poderá acontecer com a Polónia, o Japão, bem o Japão tem a atenção não só da Rússia, como também da China.

É preciso não esquecer, e já o tenho referido por aqui, que a saída do tratado ABM pelos EUA em 2001 deu início a uma escalada que culminou agora com a Rússia a usar músculo de modo a acabar com a ameaça das bases que colocou na Polónia e Roménia.

Assim que o tratado foi abandonado, as coisas foram rolando...

Dezembro de 2003:

Japan plans US ABM tie

Sea Based X-Band Radar-1

Japan wants to manufacture elements of an advanced anti-ballistic missile (ABM) in an un-named joint US-Japanese team. The missile has been studied since 1999 and would replace the Raytheon Standard SM-3 ABM due for initial purchase in 2004. Service entry would not be for several years, writes Brendan Sobie...

... Japan is preparing to purchase SM-3 ship-based and Lockheed Martin Patriot Advanced Capability-3 (PAC-3) ground-based anti-ballistic missiles over the next two to three years, for deployment in three to five years...


A justificação para a colocação e desenvolvimento do sistema antí-míssil no Japão tem como justificação a Coreia do Norte, e a  colocação do sistema na Europa tem como justificação a ameaça do Irão. Claro que não tem nada a haver com a Rússia nem a China. Andamos, claro, todos a dormir...

O Japão tem aproximadamente 50.000 tropas americanas estacionadas e espalhadas por todo o território japonês.






Para termos uma melhor noção do significado da presença americana nesta zona do globo, temos que olhar para um mapa mais abrangente onde eu fiz umas anotações e tento mostrar a correlação de forças que está em curso. Aqui, ao contrário do teatro de operações europeu, há muito pouco espaço para usar países como a Ucrânia como saco de pancada. Russos, chineses e americanos estão frente a frente. A haver conflito ele será directo envolvendo as 3 maiores potências nucleares, arrastando tudo e todos. E o todos incluirá a Europa e será sem sombra de dúvida nuclear. Ou seja, o que está ali a acontecer tem o potêncial de ser muito, mais muito mais perigoso de tudo que possa acontecer aqui pelos nossos lados.


A zona de tensão 1, são as novas ilhas onde os chineses têm construido bases, a zona de tensão 2 é onde a Rússia tem estado a abrir bases, nas ilhas disputadas pelo Japão,  mesmo encostado ao território japonês.



O Japão está literalmente entricheirado e rodeado de bases russas numa parte do seu território, ou de outra forma, todas as bases americanas no Japão, estão muito perto de um certo tipo de mísseis que concerteza estão por ali. E a colocação de sistemas S-400 ali, vai concerteza originar muito barulho.

Isto para dizer que o Japão pisa gelo fino, muito fino se deixar ser usado apenas por interesses americanos.

E curiosamente, acerca disto, houve um desenvolvimento interessante. O Japão parece estar a aumentar a sua contribuição para a máquina de guerra russa. Interrogo-me se parte da coisa se deve exactamente à "finura" do gelo onde andam. Um ano se passou após início das hostilidades, tenho que começar a analisar os dados que vão surgindo a conta-gotas para se ver o quanto isolada a Rússia está.

Russia-Japan trade surges despite sanctions

Trade between Russia and Japan saw an annual increase of 10% in the first 11 months of 2022 despite Ukraine-related sanctions introduced against Moscow by the West, according to estimates made by TASS, based on Japanese trade statistics.

In monetary terms, bilateral trade reportedly amounted to 2.365 trillion yen (some $18 billion).

Russia, one of the world’s biggest oil producers and exporters, remains one of the major suppliers of liquefied natural gas (LNG) to Japan. The sanctions-hit country accounts for about 9% of Japanese imports of the fuel. Russian gas accounts for 3% of electricity generation in Japan.

Consequently, soaring gas prices during 2022 sent Japan’s imports from Russia in monetary terms surging 35% to 1.82 trillion yen (nearly $13.9 billion). Meanwhile, Japan’s exports to Russia dropped 30.7% to some 540 billion yen (about $4.14 billion).

Tokyo reduced purchases of Russian crude to almost zero in July and August. Moreover, Japan has joined the oil price cap scheme adopted by the Group Seven nations last month...


É extremamente interessante ver o que aconteceu às exportações russas para o Japão em 2022. Elas cresceram. Não estagnaram, não diminuiram. Cresceram.

E que decisão tomaram os japoneses em 2023 além de se terem juntado às sanções do petróleo que entraram em vigor recentemente?

Surpresa...

Japan returned to importing crude oil from Russia in January

Tokyo has exempted the Sakhalin 1 and 2 oil and gas projects from sanctions on Russia

Japan imported 747.706 barrels of Sakhalin Blend crude oil from Russia in January. This is what emerges from the latest preliminary data published by the Japanese Ministry of Economy, Trade and Industry, according to which in January the country imported an average of 2,72 million barrels of oil per day, up by 0,3 per cent on an annual basis. Imports from Russia, which make up a fraction of the total, are nonetheless the first that Japan has made from that country for eight months now.

The Russian oil was imported by Japanese refiner Taiyo Oil, which took delivery in December. 94,4 percent of the crude oil Japan imported in January came from the Middle East, up from 91,8 percent in January 2022. Japanese Prime Minister Fumio Kishida announced a halt to oil imports on 9 May 2022 crude oil from Russia “in principle”. However, Tokyo has exempted the oil and gas extraction project of Sakhalin 1 and 2, strategic for the national supply of natural gas, from sanctions against Russia.

Pois é. Um grande aliado dos americanos. Alguém deve estar com o olhos em bico. 

E não são os russos.

5 comentários:

  1. Faulty part from Ukraine likely cause of rocket launch failure: ESA

    The European Space Agency said Friday that an investigation into the failure of a rocket carrying two Earth observation satellites last year indicated the cause was a faulty part procured from Ukraine.

    The Vega-C rocket ditched in the sea less than three minutes after liftoff from a spaceport in French Guiana in December. Arianespace, which provided the launch service, said at the time that decrease in pressure was observed in the rocket's second stage, "leading to the premature end of the mission."


    https://www.ctvnews.ca/sci-tech/faulty-part-from-ukraine-likely-cause-of-rocket-launch-failure-esa-1.6297408

    Até nisto somos lixados.

    A agência espacial europeia tinha uma parceria com a Rússia e uma das soluções era o uso de foguetes russos na Guiana Francesa.

    Agora estamos definitivamente melhores com a nova parceria...

    Mais dinheiro esturricado. Parece que temos muito para esbanjar.

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    1. Ter não temos mas já nem é preciso impressora. É só premir algumas teclas num teclado.

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    2. Bem verdade.

      Mas um dia a coisa rebenta-nos na cara.

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  2. Não é relacionado com o Japão mas para mostrar que há povos que merecem o que aí vem - https://news.err.ee/1608905309/reform-party-takes-landslide-win-in-2023-riigikogu-elections

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  3. https://www.youtube.com/watch?v=CG8DRuzjXtQ

    Parece que as coisas andam a correr bem para Macron por terras africanas...

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