domingo, 10 de janeiro de 2016

Rússia Continua A Dominar O Sector Espacial


Agora com a entrada de um novo ano estou com ideias de fazer alguma reavaliações e vou começar por um que costumo dedicar atenção, ao sector espacial.

Apesar das sanções e da grande queda dos valores energéticos, a Rússia continua a dar cartas neste sector. E não podemos esquecer o que é dito até à exaustão, o país é um dependente da venda de matérias primas. É verdade. Mas apenas parcialmente. Não é um típico país exportador de matérias primas e esta parte parece sempre "esquecida".

Nos 87 lançamentos efectuados em 2015, A Rússia está em 1º lugar com 29 lançamentos, em 2º lugar os EUA com 20 lançamentos, em 3º lugar a China com 19 lançamentos e a Europa em 4º lugar com apenas 9.

Destaque algo que considero interessante. A Rússia falhou em 3 lançamentos, os EUA em 2 e surpreendentemente a China em 19 lançamentos, não falhou nenhum. A China está de facto a crescer nesta área.

Rússia

O novo cosmódromo tem previsto o 1º lançamento 
em Abril deste ano.

Penso que o que temos a destacar para 2016 é a abertura do novo cosmódromo, onde recentemente indicaram que está previsto o 1º lançamento para este ano. É um dos grandes projectos do país e que mostra a capacidade e o desejo de independência de terceiros. Será um marco a nível político, pois aumenta o prestígio do país e mostra as capacidades que possuem mesmo estando debaixo de sanções e com os problemas económicos amplamente conhecidos.

Rússia e EUA

Atlas V com um motor russo RD-180

Já dediquei artigos sobre a dependência americana dos motores russos, vou fazer uma breve passagem, para relembrar a importância do mesmo. Dos 19 lançamentos efectuados pelos os EUA, quase metade (9), só foram possível porque a Rússia lhes vendeu os motores para o Atlas V, ou seja, o Atlas V foi o foguetão mais usado pelos os EUA, mas este só voa com motores russos. Se a Rússia tivesse aplicado sanções aos EUA que impedisse a venda dos motores, é imaginar o impacto e prestígio do sector espacial americano.

Mas nem a Rússia aplica sanções nem os EUA param de comprar os motores russos. Em Dezembro passado voltam a fazer nova encomenda de mais 20 motores russos:

ULA Orders 20 More RD-180 Rocket Engines

United Launch Alliance, a joint venture of Lockheed Martin Corp. and Boeing Co. on Wednesday said it had ordered 20 more RD-180 rocket engines from Russia, on top of 29 engines ordered before Russia’s invasion of the Crimea region of Ukraine last year...

...The new order came days after the enactment of a massive U.S. spending bill that eased a ban on using Russian engines to launch U.S. military and intelligence satellites for fiscal 2016, which ends Sept. 30...

[Link]

Russian engine purchase adds to ULA’s Atlas 5 inventory

...Language inserted into the 2015 National Defense Authorization Act limited ULA’s use of RD-180 engines for future U.S. military launch competitions with SpaceX, outlawing engines that were paid for after Feb. 1, 2014...

...A clause in a U.S. government spending bill signed into law earlier this month effectively removed the RD-180 engine ban, stating that the Air Force could award launch contracts to any company certified to fly the Pentagon’s satellites, regardless of the country of origin of the rocket’s engines...


[Link]

O sector espacial dos EUA depende de uma nação hostil, baseada numa economia do petróleo. O que estará errado aqui...?

Rússia e Europa

Bom, na Europa temos também um envolvimento importante por parte da Rússia. Vou salientar 2 casos:

O sistema GPS Europeu. No mês passado, em Dezembro, dia 17, foram lançados mais 2 satélites na Guiana Francesa. E isto só foi possível, porque foi utilizado um foguetão russo. A coisa deve ser tão embaraçosa de referir, que não encontrei na imprensa portuguesa, uma referência a isto. Como explicar que o sistema GPS europeu, depende dos foguetões russos? Um país debaixo de sanções europeias. Sanções? Porque a Europa não aplicou sanções aos foguetões russos? pois é...

17 de Dezembro de 2015, lançamento do 11º e 12º satélite 
do sistema GPS Europeu, a bordo de uma nave russa, 
Soyuz.

Bom e quanto aos ingleses, que muito têm dito da Rússia, as inúmeras violações de espaço aéreo, etc, etc devem ter sido bastante mais rígidos na aplicação de sanções para fazer doer.

Ou talvez não.

Os ingleses estavam rejubilantes, em Dezembro assistiram à ida para Estação Espacial Internacional do seu primeiro astronauta. Mas isto só é possível graças à Rússia...

Comandante, cosmonauta russo, seguido do 
americano da NASA e 
por último, o astronauta britânico da ESA

O homem vai para a estação espacial numa nave russa, com um fato russo, onde o comandante é russo, vai entrar na estação espacial, pelo o segmento russo, enquanto lá está tem uma nave russa de emergência e vai voltar para terra, numa nave russa.

Se isto não é "dormir com o inimigo", não sei o que é...

Rússia e China

Também em Dezembro, novos acordos foram redigidos entre a Rússia e a China estreitando ainda mais os laços entre eles neste sector, com destaque para a cooperação nos sistemas GPS.

Resumindo, este é um sector onde a Rússia domina e mostra a enorme dependência que tanto os EUA como a Europa têm deles. Basta olhar, se a Rússia aplicasse sanções aos EUA e Europa, metade dos lançamentos americanos ficaria em terra, os satélites europeus ficavam no chão e o astronauta inglês passaria o Natal em casa.

EUA e Europa dependentes de um país que "só" tem petróleo para vender.

Se ninguém vê algo de errado nisto...

Sem comentários:

Enviar um comentário