domingo, 26 de junho de 2022

Rússia: O Factor Índia

 


Eu tenho focado essencialmente em termos energéticos o gás e já tinha dedicado um post sobre isso no ano passado (O Novo Caminho Marítimo Para A Índia). Estão a acontecer coisas muito grandes na Ásia Central e com a saída dos americanos da zona, as coisa têm acelerado. Tenho que fazer um post acerca disto.

A Índia está a ser crucial para a Rússia ultrapassar as sanções que giram à volta do petróleo russo. O que me surpreende foi a rapidez da adaptação. A Rússia simplesmente desviou a energia para outras paragens. E a Índia está mais que feliz por poder adquirir energia a preços muito competitivos.

Estamos a falar do 2º maior país em termos de população e o 3º maior importador de petróleo do mundo. No entanto o consumo deste país de petróleo russo era algo insignificante, como podemos ver:



Petróleo russo ocupava um nicho de 0,2% de quota no mercado indiano. Tudo mudou com a guerra e as sanções.

Com uma guerra que começou em finais de Fevereiro e com várias sanções em curso, constata-se que em Maio, que a Índia recebeu de braços abertos todo o petróleo que a Rússia lhe quisesse vender, conforme podemos constatar:

A Rússia saltou para o 2º maior fornecedor, ultrapassando a Arábia Saudita! Passou de uma quota de 0,2% para 10%, estamos a falar do 3º maior importador de petróleo do mundo e o 2º  mais populoso, com perto de 1.4 mil milhões de seres humanos. 

É muito petróleo.

Vários dirigentes ocidentais visitaram e tentaram exercer pressão para que a Índia não comprasse petróleo vindo da Rússia que isto anulava as sanções ocidentais. Tudo em vão. Primeiro estão os interesses da Índia.

Algo que tanto os dirigentes ucranianos, bem como europeus, deveriam ter feito.

Os países ocidentais, ao ver que não conseguiam convencer os indianos a não comprarem, tentaram de outra forma. Foram fazer pressão via seguradoras, impedindo os navios russos de navegarem. Mas até nisto falharam.

 Russian oil tankers get India safety cover via Dubai company

India is providing safety certification for dozens of ships managed by a Dubai subsidiary of top Russian shipping group Sovcomflot, official data showed, enabling oil exports to India and elsewhere after Western certifiers withdrew their services due to global sanctions against Moscow.

Certification by the Indian Register of Shipping (IRClass), one of the world's top classification companies, provides a final link in the paperwork chain - after insurance coverage - needed to keep state-owned Sovcomflot's tanker fleet afloat and delivering Russian crude oil to overseas markets...


[Link]

Porque é que a Rússia vai voltar a vender a países europeus, que albergam organizações militares hostis, quando pode vender e oferecer maior competitividade económica a países com quem tem relações bastante mais amigáveis?

Acabou-se a era da energia barata na Europa. E vamos a ver se é só isto que acaba no continente Europeu.


P.S. Apesar de estar a focar apenas a Índia, dado que o impacto foi tremendo, a China está também a ajudar e não é coisa pouca.

A China, o país mais populoso do mundo, com quase 1.5 mil milhões e o maior importador de petróleo do mundo, mostrou um aumento brutal de consumo de petróleo russo em Maio. Ultrapassou a Arábia Saudita, tornando-se o maior fornecedor da China.

China May oil imports from Russia soar to a record, surpass top supplier Saudi

China's crude oil imports from Russia soared 55% from a year earlier to a record level in May, displacing Saudi Arabia as the top supplier...

[Link]

 A Arábia Saudita foi ultrapassada pelos russos na Índia e China. Mas não há problema, pode vender com valor premium, aos ricalhaços dos países europeus.

Onde estamos metidos.

5 comentários:

  1. Maria da Conceição Gaivão27 de junho de 2022 às 15:33

    Assim sendo, a India aumentou as suas importações de petróleo em mais de 1 milhão de barris/dia.
    Ou seja, a China com um aumento de 55% e a India com um aumento de 25% estão a sair fortemente impulsionadas/beneficiadas com as sanções ao petróleo russo.
    A Europa, no seu delírio, está a promover o desenvolvimento dos BRICS, enquanto cava a sua tumba e reduz a sua cidadania à crise e inflação.

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    1. "India com um aumento de 25%"

      Repare que passou de 0,2 para 10%, é um aumento de 50x relativamente ao ano anterior.

      India’s crude oil imports from Russia jumps 50 times; now accounts for 10% of all import

      https://www.hellenicshippingnews.com/indias-crude-oil-imports-from-russia-jumps-50-times-now-accounts-for-10-of-all-import/

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    2. Maria da Conceição Gaivão27 de junho de 2022 às 22:25

      Tem razão!
      Precipitei-me e confundi conceitos.
      Referia-me ao aumento total ( 25%) da compra de petróleo diária da India ao comprar à Russia 50 vezes mais que no ano anterior.
      Também não se aplica esse raciocínio à China uma vez que respeita somente o aumento da compra à Russia.
      O que sim é certo é o benefício que estes dois países retiram das sanções.

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  2. Artigo de 2019! Não é preciso grandes teorias, basta, muitas das vezes, aceder directamente à fontes primárias e oficiais. Está lá praticamente tudo, passo-a-passo, mas como a capacidade de concentração e foco tem vindo a diminuir gravemente, já ninguém consegue ler mais que 2 linhas...

    https://www.rand.org/pubs/research_briefs/RB10014.html

    Maria Rebelo

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    1. Verdade, há muita informação disponível, mas as pessoas apenas vêem ou consultam o que já foi "mastigado". E acabam por ser conduzidos para a narrativa pretendida. Infelizmente.

      Análise interessante. Desconhecia e tem lá umas tabelas interessantes.

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