Estava a aguardar com muita curiosidade sobre a próxima previsão do FMI. E eis que surge. E claro, com mais previsões desagradáveis para muita gente.
Há um ano atrás, em Abril de 2022, já com a guerra em curso, esta era a previsão:
IMF cuts global growth forecasts on Russia-Ukraine war, says risks to economy have risen sharply
...The IMF said these penalties will have “a severe impact on the Russian economy,” which estimated that the country’s GDP will fall by 8.5% this year, and by 2.3% in 2023...
... This is expected to hurt lower-income households globally and lead to higher inflation for longer than previously anticipated. The IMF estimates the inflation rate will reach 7.7% in the United States this year and 5.3% in the euro zone...
No post anterior percorri as várias correcções que o FMI ia lançando. E as previsões sobre a Rússia cada vez mais se afastavam desta primeira previsão catastrófica.
A primeira lançada este ano, já previa uma ligeira subida de 0,3% para surpresa de muitos. E esta previsão caiu mal a muita gente. Interroguei-me como seria a seguinte.
E agora temos a nova previsão, um ano depois da primeira após guerra. E uma vez mais vai cair muito, mas muito mal a muita gente.
IMF increases Russian growth forecast in 2023 on deficit-fueled government spending
Washington, United States: The International Monetary Fund increased its estimate of Russian economic growth in 2023 on Tuesday...
... After contracting by 2.1 per cent last year, the IMF now sees Russia’s economy growing by 0.7 per cent this year, up 0.4 percentage points from a previous forecast in January....
... The IMF raised its forecast for 2023 on the “very strong source of revenues” for the economy from high energy prices last year and during the first half of this year, IMF chief economist Pierre-Olivier Gourinchas said at the press conference...
Isto deve estar a deixar muita gente de boca aberta. A Rússia, o país mais sancionado do mundo, enterrado numa guerra, sem acesso ao SWIFT, barrado pelo Ocidente, está... a crescer...?
E não é só crescer, o FMI DUPLICOU a sua previsão de crescimento feita em janeiro. Curiosamente estou a dar com vários artigos a falar agora que a previsão anterior foi de 0,4% ao contrário dos 0,3%, e eu suspeito que é para anular a narrativa que outros falam em que o FMI DUPLICOU a sua previsão de crescimento para a Rússia este ano.
E logo no próximo parágrafo temos outra coisa horrível de se dizer: A Rússia teve uma grande fonte de receitas.
Ora, os especialistas da nossa praça e um pouco por esse Ocidente fora, andaram (e andam) a dizer que a Rússia anda a vender gás e petróleo por tuta e meia. Parece que não...
É claro que estas previsões estão a incomodar muita gente. E não foi preciso esperar muito tempo para começarem as críticas. É que até pode ser verdade, mas estas verdades pelos vistos estragam narrativas que se querem passar por verdades...
E podemos começar pela TIME:
Why Is the IMF Pushing Putin's Economic Propaganda?
Today, the IMF economists did it again with a certification of Vladmir Putin’s unsupported rosy economic forecasts, inexplicably doubling its forecast for Russian GDP growth, which at a projected 0.7% growth far exceeds that of much of Europe. The International Monetary Fund (IMF) has become a source of data distortion and policy confusion either as an unwittingly native tool of Putin’s propaganda machine due to incompetence and laziness, or perhaps something more sinister.
Sadly, beneath the smoke and mirrors obfuscation, the IMF is doubling down on its own worst mistake. At the end of January 2023, the IMF recklessly made Russian projections in their World Economic Outlook which their economists admitted to us over the past year they simply do not have. They certified the fictional projections that Russia will avoid a recession in 2023 with an economy that would expand by 0.3% after shrinking by 2.2% in 2022 and would outstrip growth of the U.K. and Germany. Furthermore, as we have demonstrated, the IMF economists privately admit that they have no basis to make such projections as they have covertly given Russia a pass on their membership obligation to provide comprehensive, timely, transparent, and verifiable data to the IMF.
Since the Ukrainian invasion, our data has shown that the Kremlin’s economic releases have become increasingly cherry-picked, selectively tossing out unfavorable metrics while releasing only those that are more favorable...
... the Russian GDP number is a pure invention from Putin’s imagination and the ruble is not an exchange traded currency. Therefore, Putin’s proclamations of resurgent value are again pure invention ...
... The Putin-selected statistics are then recklessly trumpeted across the world media and relied upon by careless experts in constructing ludicrous forecasts which are unrealistically favorable to the Kremlin but are then repeated by naïve media and professional economists who wrongly think the IMF did their homework. We broke fresh ground last summer showing that the Russian economy was actually imploding ...
... Just a month ago, with former Morgan Stanley chief economist Stephen Roach, we showed how the IMF was covering up this implosion of the Russian economy due to haste or deceit. Privately, the IMF’s Russian economist desk confided to us that they have “zero visibility” into the Russian economy ...
... We are far from alone in our skepticism over Putin’s cherry-picked statistics, as scores of professional economists are alarmed by the IMF’s projections with significant media outcry...
O artigo é todo ele um grito de raiva pelo o FMI andar a destruir as narrativas de incontáveis especialistas das nossas (ocidentais) praças.
O FMI está obviamente entalado. É que se começa a inventar demasiado, perde a credibilidade e a instituição já não anda muito saudável. Ou seja, não dá para varrer para debaixo do tapete, um ano depois da guerra, que a Rússia está em queda económica descontrolada. E cada vez será mais difícil dizer isso. Mas será interessante assistir aos nossos especialistas contorcionistas da TV explicar como é que a Rússia está no estado em que está, de acordo com o FMI...
E o FMI anda a dizer umas coisas chatas. Vou só focar algumas:
Previsão Janeiro 2023
- Alemanha
O país passa de uma previsão de crescimento (0,1%) anémico para um valor negativo (-0,1%)! A maior potência da Europa! - Estados Unidos
Previsão de crescimento para 2024 de 1%, a Rússia, 1,3%... - Reino Unido
Passou de uns humilhantes -0,6% para -0,3%, crescimento para 2024, 1%...
Quanto às reservas monetárias da Rússia, os dados falam por si...
É olhar para quando começou a guerra, Fevereiro de 2022 e ver o que está a acontecer. Para comparação, ver o que aconteceu em 2014, com a questão da Crimeia. Agora está enfiada numa guerra, com um nível de sanções nunca visto.
Sim, é com esta "pobre" nação, que não tem mísseis, chips, munições, aviões, tanques que decidimos combater.
Uma super-potência nuclear.
Uma super-potência energética.
Atolada em reservas financeiras.
E com um FMI que não sabe como não dizer o que está à vista de toda a gente.
A Rússia após um ano de guerra, está pronta para coisas maiores. Muito maiores.
E nós,
Nós estamos enfeitiçados pelas flautas dos nossos especialistas, caminhando alegremente para o precipício.
A recordar.
ResponderEliminarAmanhã, Lula na China.
Definitivamente algo a acompanhar.
O facto de terem colocado um novo presidente brasileiro para o banco dos BRICS (Dilma Rousseff), para significar importantes decisões.
Trump defends Russia over Nord Stream pipeline explosion and hints US was responsible
ResponderEliminarFormer president Donald Trump said Russia didn't blow up the Nord Stream pipelines last year and hinted that the US might be involved in the incident.
"I don't want to get our country in trouble, so I won't answer it," the one-time president told Fox News host Tucker Carlson when asked about the pipeline blasts...
https://www.independent.co.uk/news/world/americas/us-politics/trump-russia-nord-stream-explosion-b2318161.html
Vá registando por aqui tudo o que puder, pois narrativas há muitas. É só escolher!
ResponderEliminarNão há coincidências e raros são os acasos!
"O panda enganou o urso?
A China passou grande parte da última década empenhada numa "ofensiva de encanto" diplomática mundial, empregando o seu poder económico para assegurar os recursos naturais muito necessários e expandindo a sua influência de "poder suave" como resultado. Este último passo na complexa política da Europa de Leste é qualitativamente diferente; a lógica económica e diplomática da China para o fazer está longe de ser clara.
No grande jogo da geopolítica, a notícia de que a China estava a alargar o seu alcance ao que a Rússia considera como a sua "esfera de interesse privilegiada" nas antigas repúblicas soviéticas foi largamente interpretada pelos comentadores ocidentais como um movimento contra Moscovo no tabuleiro de xadrez global.
Pelo contrário, muitos estudiosos chineses vêem a acção como dirigida contra o Ocidente, particularmente a União Europeia, que revelou o seu projecto de "Parceria Oriental" em Maio. O projecto oferece uma série de incentivos económicos às antigas repúblicas soviéticas, incluindo a Bielorrússia e a Moldávia, com o objectivo geopolítico não declarado de reduzir a influência da Rússia na região.
De acordo com Mei Xinyu, analista da Academia Chinesa de Comércio Internacional e Cooperação Económica, Pequim está preocupada que uma crise económica na Bielorrússia desestabilize ainda mais a região, particularmente as relações entre a Bielorrússia, a Rússia e a União Europeia. Ao fornecer ajuda económica à Bielorússia, a China pretende, alegadamente, evitar mais interferências na região por parte das nações ocidentais. ("Economic and Political Considerations of Currency Swaps", Oriental Morning Post, 13 de Março de 2009)"
"Face às consequências da crise financeira global, muito se tem escrito sobre os Estados Unidos, na medida em que podem continuar a desempenhar o seu papel de potência económica predominante no mundo e se as economias emergentes dos BRIC, particularmente a China, estão prontas a desafiar a actual arquitectura financeira e económica. Nos últimos meses, a especulação tem-se centrado no futuro do dólar americano, em grande parte devido aos comentários de altos funcionários chineses que levaram alguns observadores a concluir que o renminbi (RMB) está "fixado para usurpar o dólar americano" como a moeda de reserva mundial. Tal especulação atingiu um pico de febre durante a cimeira do BRIC realizada em Junho de 2009, tendo um comentador opinado que os delegados da reunião "emergiram com uma arma apontada dirigida ao dólar americano".
ResponderEliminarReport of the CSIS Freeman Chair in China Studies
A paciência (de chinês) é uma virtude.
Cimeira dos BRIC de 2009? A sério? É que já choveu muito desde então…
Eliminarhttp://www.ronpaulinstitute.org/archives/featured-articles/2023/april/17/will-the-end-of-the-petrodollar-end-the-us-empire/
Ainda no mesmo artigo:
ResponderEliminar[Em reuniões privadas com os seus homólogos americanos, os funcionários chineses aproveitaram todas as oportunidades para manifestar os seus receios de que a política monetária expansionista da administração Obama e as pesadas despesas deficitárias na sequência da crise financeira pudessem gerar inflação, corroendo assim o valor das enormes reservas de dólares de Pequim. Apesar do impacto de tais comentários nos já nervosos mercados monetários, os funcionários superiores têm vindo a fazê-los também em público. Por exemplo, o Primeiro-Ministro Wen Jiabao escolheu uma conferência de imprensa anual na reunião do Congresso Nacional do Povo, realizada em Março
2009 para tornar públicas as suas preocupações em relação à segurança dos bens chineses nos Estados Unidos. Num raro momento de franqueza para com o primeiro-ministro tipicamente cauteloso, Wen disse aos meios de comunicação social mundiais que "emprestamos um fundo tão grande aos Estados Unidos e, claro, estamos preocupados... em falar com sinceridade, estou um pouco preocupado".
Cerca de 10 dias depois, o governador do banco central chinês Zhou Xiaochuan publicou o primeiro de três artigos apelando à reforma do sistema financeiro global, especificamente para a criação de "uma moeda de reserva internacional desligada de nações individuais e capaz de se manter estável a longo prazo, eliminando assim as deficiências inerentes à utilização de moedas nacionais baseadas no crédito"].
É por volta desta altura que as relações EU/RU começam a azedar seriamente.
ResponderEliminarA preparação da populaça para a crise (será que o woke'ismo faz parte deste dito programa?) com direito a programa especial.
"Em setembro/outubro de 2006 é publicado o artigo de Jacob Kipp et al., intitulado The Human Terrain System: A CORDS for the 21st century, que descreve a construção do
programa como um sistema que estava a ser especificamente desenhado para endereçar as deficiências de cultural awareness que eram reconhecidas ao nível tático e operacional, atribuindo assim, ao nível da brigada, uma capacidade orgânica para colmatar e ajudar a
compreender a perceção do human terrain, ou seja, os elementos sociais, etnográficos, culturais, económicos e políticos da população que rodeia a força operacional (2006, p. 9), tendo por base o programa desenvolvido pelos EUA para a guerra do Vietname. É ainda com base no exemplo do Vietname, como sintetiza Faugstad (2010, pp. 32-33), em que os EUA procuraram focar-se em soluções securitárias de curto prazo, negligenciando a
preparação para a sua retirada, diminuindo a probabilidade do sucesso da sua estratégia, que surge realçada a necessidade de uma alternativa credível a longo prazo.
Ou seja, um programa em que estas capacidades permitem aos líderes compreender que um programa de contrainsurgência efetivo requere proteção e o incitamento à cooperação por parte da população, o denominado human terrain, que, por sua vez, necessita de um perspicaz entendimento das caraterísticas sociais e culturais (Lamb et al., 2013, p. 21), procurando assim salvaguardar os interesses da nação [...]"
Paper de Palestra
5 e 6 de Abril de 2018
Instituto da Defesa Nacional
Da mesma palestra (que decorreu em 2018):
ResponderEliminar"Considere-se, portanto, que a NATO constitui um dos fatores de impedimento expansionista da Rússia (Daehnhardt, 2010). Contudo, caso a situação se converta e os EUA se aliem à Rússia em deterioramento da NATO, seria extremamente mais fácil para a Rússia dominar a “Ilha Mundo” (Stratfor, 2017). Tal parecia posível no início do mandato de Donald Trump, algo que agora não se verifica viável. Particularmente desde a intervenção militar na Ucrânia, as relações entre a NATO e a Rússia são cada vez mais hostis. Nos últimos meses, essas querelas foram intensificadas, não só devido ao alegado envolvimento russo no caso de espionagem Skripal (o primeiro uso ofensivo de um agente de gás dos nervos no território da Aliança desde a sua fundação), causando uma rutura diplomática entre os países da Aliança e a Federação; mas também pelo alinhamento da Rússia com o governo de Assad, na Síria, apontado pela NATO como o autor dos ataques de armas químicas contra civis em Douma, a 7 de abril de 2018, fortemente condenados pela Aliança (NATO, 2018). Com efeito, prevê-se que os EUA mantenham a posição estratégica de conter o avanço expansionista da Rússia, assumida desde 1991, ao proferir que iriam reunir esforços contra o país “quando e onde [a Rússia] perpetuasse um risco de aumento de influências” (Idem, 2017).
A “parceria estratégica” entre a Rússia e a UE verifica-se frágil, sobretudo após as denominadas “guerras do gás” entre 2006 e 2009 (Simão, 2014), dada a extrema relevância que esta questão assume para a Rússia, essencialmente por se tratar de um dos principais
produtores mundiais de gás natural (Unit, Energy, Russia, 2016). Como tal, a tentativa de aproximação da Ucrânia à UE e aos EUA não foi bem aceite por parte da Rússia.
Deste modo, depreende-se que o Ocidente enfrenta hoje um desafio geopolítico no qual a Rússia reclama e o Ocidente persegue (Oliveira, 2016). Este facto põe em causa a ordem euro-atlântica criada aquando o final da Guerra Fria (Idem, 2016). A crise na Ucrânia constitui uma das maiores ameaças à segurança europeia desde o fim da Guerra Fria, uma vez que o país está a ultrapassar os termos estabelecidos na nova ordem mundial (Oliveira, 2016)."