sábado, 30 de novembro de 2024

O Míssil

 


Bom,entramos numa nova fase. Quem pode dizer hoje, que não ouviu falar sobre o míssil? UM apenas. Estamos há dias a ouvir algo sobre O míssil.

E é algo preocupante? Sim, a meu ver é e muito. 


Isto é algo nunca visto. E as imagens percorreram o mundo. Um único míssil, 6 ogivas onde cada ogiva aparentemente lançava 6 "sub-ogivas" e que se deslocam a velocidades hipersónicas até ao seu destino.

Há aqui vários recados com este míssil.

A Rússia está a dominar muito bem a tecnologia hipersónica. Do lado americano ainda andam às voltas com a coisa. Ou seja, nem podem validar os seus sistemas anti-missil contra armas deste género, porque não as têm.

Esta arma, não seria possível a sua existência com o tratado INF, exactamente o tratado abandonado pelos EUA e que eu considero que foi a gota de àgua para os russos. Relembrar em (Os 4 Tratados Do Apocalipse IV). 

E, convém relembrar uma outra coisa. Este tratado foi abandonado em 2019. Em 2019 quem estava ao leme dos EUA era Trump. Que é quem vai entrar novamente em 2025. O que isto significa? Que independentemente do presidente que esteja ao leme dos EUA, os avanços têm sido consistentes ao longo de mais de duas décadas. Afinal, o primeiro tratado a ser abandonado foi em 2001, há 23 anos.

As forças que têm estado a impelir os avanços dos EUA para terem soluções de ataque cada vez mais perto da Rússia, estão bem enraizadas nas estruturas governamentais. Há uma linha dura, há um plano que tem estado a ser seguido, independentemente de quem vai para presidente, independentemente das suas ideias.

Trump anda a prometer uma reviravolta nas estruturas de comando, mas é mais fácil dizer do que fazer. Portanto vamos aguardar para ver o que vai acontecer.

Mas enquanto não se sabe o que os EUA vão ou não fazer, a Rússia está na prática a demonstrar o que vai acontecer na Europa.

A capacidade não nuclear de um único míssil deste modelo, mostra uma grande capacidade destrutiva. Mostra em teoria, porque se começarmos a pensar, não há imagens da sua capacidade de destruição. Não há fotos, não há videos, não há imagens de satélite que para outras coisas aparecem logo, sobre o resultado do ataque.

Mas há muita gente a fazer contas sobre a capacidade destrutiva demonstrada. E é tanta, que só se ouve falar do míssil.

E este míssil assenta que nem uma luva para atacar exactamente o que bem entenderem na Europa. De forma não nuclear e vão dar-se ao luxo de avisar antecipadamente para evitar baixas.

Esta terá que ser uma das demonstrações que terá que ser feita na Ucrânia. Um aviso de um ataque de um só míssil a um alvo. E toda a gente vai ver se são capazes de o fazer ou não. E toda a gente vai ver se os patriots são capazes de o interceptar ou não.

Após esta demonstração, ficará claro para toda a gente que toda a Europa estará desprotegida de um ataque convencional.

E caso falhem as negociações, (não as da Ucrânia que aí nada há a negociar), os mísseis vão começar a voar para destinos europeus.

Candidatos:

Complexos industriais onde se fabrica os storm shadows, Leopards, qualquer estrutura militar que esteja a dar suporte à Ucrânia.

A seguir?

As bases estratégicas americanas na Europa, como tenho repetidamente vindo a falar, caso as negociações falhem.

E se tal acontecer, o que pode a Europa fazer? O que pode a Europa fazer para dar uma resposta convencional à Rússia? Ou a Europa, prefere pedir aos franceses e ingleses para dispararem os seus mísseis nucleares?

E quanto aos americanos? Os americanos vão lançar um ataque nuclear, devido a um ataque convencional em território europeu?


Boa sorte para todos nós.


A Europa está a caminho da sua destruição.


domingo, 17 de novembro de 2024

Mais Um Passo Para O Precipício VIII

 


No meio de tanta coisa a acontecer em simultâneo, algo que considero importante, passa quase despercebido.

No post anterior sobre o tema (Mais Um Passo Para O Precipício VII), foquei a tomada de decisão muito perigosa por parte da Alemanha. A decisão de albergar mísseis americanos.

Agora, temos mais um passo deveras perigoso. 

A abertura da base na Polónia.




Poland Opens Long-Awaited US Missile Base

Polish and American officials on Wednesday opened a US missile base in northern Poland originally intended to defend the West against threats from the Middle East, but now aimed at confronting Russia.

“A US destroyer on Polish soil has become a fact,” Polish Defense Minister Wladyslaw Kosiniak-Kamysz said at the ribbon-cutting ceremony, describing it as “of historical importance for the security of Poland, the United States and NATO.”

First announced in 2009, the project was plagued by delays, and Russia has since emerged as the main security concern for the military alliance’s eastern flank.

Despite NATO stating that the Redzikowo facility and a similar system in Romania are purely defensive, Moscow has frequently labeled it a threat.

The new base “constitutes an advance of US military infrastructure in Europe towards our borders,” Kremlin spokesman Dmitry Peskov told reporters Wednesday...


[Link]


Avançamos a passo firme para que os EUA tenham a capacidade de efectuar um ataque de decapitação. Algo que a Rússia não vai permitir.

A adicionar isto temos o recente telefonema de Scholz a Putin. 



Embora o que esteja a ser dito foi que falaram sobre a Ucrânia, eu suspeito que a conversa teve um tema mais profundo. A recente tomada de decisão da Alemanha permitir a instalação de mísseis americanos no seu território. Algo que deveria ser impensável. Como é que alguém na Alemanha permitiu tal aberração é coisa que penso que iremos descobrir num futuro recente. É nitidamente brincar com o fogo.

Vou continuar a focar este assunto, pois é algo que nos poderá afectar e de forma muito séria. E o caminho que estamos a seguir deixa-me cada vez mais apreensivo.




P.S. Isolamento da Rússia

Como se costuma dizer, uma imagem vale por mil palavras. Deixo duas.



Cimeira dos BRICS em Outubro de 2024



Cimeira Rússia - África em Novembro de 2024


E já tinha feito um post a falar de eventos de envergadura ocorridos na Rússia em 2024 (Guerra Das Cimeiras).

E estão isolados. É imaginar se não estivessem...


P.S Mais aviões

UAC delivers Su-57, Su-35S fighter jets

SU-35


SU-57

The United Aircraft Corporation (UAC) delivered to the Russian Aerospace Forces a batch of Su-57 and Su-35S fighter jets. UAC CEO Vadim Badekha said there would be other batches this year...

[Link]

Não se consegue perceber o número de aviões envolvidos. Mas houve uma entrega anunciada em Setembro e agora uma em Novembro. E a notícia indica que vai haver ainda mais este ano.


P.S Mais navios




Este navio está muito perto de estar concluido. Mais um navio com capacidade de disparar mísseis de cruzeiro.


P.S. Mais ICBM's

Rússia carrega míssil Intercontinental RK Yars em complexo de Kozelsky

Vídeo divulgado pelo Ministério da Defesa Russo, mostra o míssil RK Yars sendo instalado em um lançador de silo por meio de uma unidade especial de transporte e carregamento...

[Link]


A Rússia prepara-se para o pós Ucrânia.

Caso as negociações com os EUA falhem.


terça-feira, 22 de outubro de 2024

América: O Declínio VII

 



Vou relembrar o que disse há um ano sobre a dívida americana:


E o que subiu em apenas 13 anos, se olharmos para 2010 é qualquer coisa de impressionante. Em 2010 andava pelos 10 Triliões de dólares, agora passou dos 30. Dentro de uns anos...

O pagamento dos juros desta coisa monstruosa, começa a ser também um monstro por si só.

U.S. payments on debt spike to $659 billion, nearly doubling in two years

The federal government’s interest payments are at record high, and among the country’s largest annual expenditures...


Em Outubro de 2023, chamei a atenção para a dívida galopante dos EUA e em consequência disso, o brutal crescimento dos juros. Há um ano atrás, o valor dos juros atingia os 659 biliões de dólares, e esse valor representava quase o dobro do que era dois anos antes.

Passado um ano como está a situação?

Terrivelmente pior. Podemos dizer que quase duplicou no espaço de um ano! Sim, o pagamento dos juros ultrapassou a barreira do trilião de dólares, quase o dobro do que tiveram que pagar no ano passado.

US budget deficit tops $1.8 trillion in fiscal 2024, third-largest on record

 The U.S. budget deficit grew to $1.833 trillion for fiscal 2024, the highest outside of the COVID era, as interest on the federal debt exceeded $1 trillion for the first time and spending grew for the Social Security retirement program, health care and the military, the Treasury Department said on Friday...

INTEREST COSTS

The biggest driver of the year's deficit was a 29% increase in interest costs for Treasury debt to $1.133 trillion due to a combination of higher interest rates and more debt to finance. The total exceeded outlays for the Medicare healthcare program for seniors and for defense spending.

Other drivers of increased outlays for the fiscal year included Social Security, up 7% to $1.520 trillion, Medicare, up 4% to $1.050 trillion, and military programs, up 6% to $826 billion.


[Link]


Ora, se estou ver bem a coisa, acima do 1 trilião está a segurança social e a medicare. Os gastos com os juros ultrapassaram os gastos com a defesa, que está a rondar os 800 biliões. O valor do aumento dos juros num ano esteve perto dos 500 biliões. Mais de metade do que gastam no sector da defesa.

A meu ver, como é que conseguem desviar dinheiro para a defesa, para mísseis hipersónicos, novas armas, manter todas as frotas activas e bases pelo mundo, quando a cada ano que passa cada vez precisam de desviar mais dinheiro para pagar os juros da dívida?




Não conseguem. Algo vai ceder. E não vai demorar muito tempo.

A nível de curiosidade que andam a Rússia e a China a fazer quanto à divida americana que possuem? Como digo muitas vezes uma imagem vale por mil palavras.


A China tem estado consistentemente a reduzir a sua exposição nos últimos anos. E desde o pico, já reduziu para perto de metade.

Quanto à Rússia...

Value of U.S. Treasury securities held by residents of
 Russia from January 2020 to April 2024



Uns saiem de cena, outros entram em cena. Vamos ver por outra perspectiva, os maiores detentores da dívida americana ao longo dos anos:



Esta imagem tira uma "foto" de 10 em 10 anos. 2004, 2014, 2024. Por aqui vemos a forte redução chinesa, de 2014 para 2024. Curiosamente também conseguimos ver o brutal crescimento nas mãos do Reino Unido. Achei tão curioso que resolvi medir as diferenças entre a diminuição da China e o aumento do Reino Unido. O resultado é deveras interessante.


Peguei no crescimento do Reino Unido e "colei" na China. Parece estar encontrado o comprador. Os chineses vendiam, os ingleses compravam.

Ora, a economia inglesa tem andado nas ruas da amargura. Tenho dúvidas que possa absorver muito mais dívida americana. 

Minister warns of 'tough choices' on defence spending

Some military projects are likely to be cut or cancelled because of financial pressures, the defence secretary has suggested.

John Healey told BBC Radio 4's Today programme the government would make "tough choices", including on defence.

He said they needed to "get a grip of the public finances", which he said were in a "far worse" state than anyone thought before the election...

[Link]

Cheira-me que a seguir terá que ser a Europa. Se calhar para o ano já se poderá confirmar se é assim ou não.

É neste estado, que andam a despejar milhões em cima de milhões na Ucrânia. As eleições americanas estão à porta, poderá ser indício de alguém não querer meter mais milhões naquele buraco negro.

Nesse caso, e mais uma vez, será a Europa a ter que pagar.

Se a América está em declínio, a Europa está a afundar. 




Post anterior:

América: O Declínio VI




P.S. BRICS

A cimeira dos BRICS na Rússia isolada vai começar. E cheira-me que muita gente não vai gostar. nada mesmo. A ver o que irá sair dali.



terça-feira, 24 de setembro de 2024

O Futuro Da Europa Está Na Alemanha II

 


Bem, o post anterior sobre o tema, foi há um ano atrás. (O Futuro Da Europa Está Na Alemanha). E podemos constatar que a Alemanha está hoje muito pior que há um ano atrás.

E os dados começam a aparecer.

A maior recessão da Alemanha em sete meses arrasta a zona do euro para a contração

A atividade empresarial alemã contraiu no ritmo mais rápido em sete meses, de acordo com dados divulgados na segunda-feira.

O Índice de Gerentes de Compras (PMI) composto preliminar alemão do HCOB, compilado pelo S&P Global, caiu para 47,2 em setembro, antes 48,4 em agosto.

Essa leitura, abaixo do limite de 50 pontos, indica uma contração significativa na maior economia da Europa...

[Link]

E a Europa?

Tal como se previa.

Atividade empresarial da zona euro contrai em setembro, aumentando receios de recessão

A atividade empresarial da zona do euro contraiu inesperadamente em setembro, sinalizando problemas cada vez maiores nos setores de serviços e manufatura.

O Índice de Gerentes de Compras (PMI) da região, compilado pelo S&P Global, caiu de 51,0 para 48,9 em agosto, marcando a primeira contração desde fevereiro.

Esse declínio, impulsionado pela fraca demanda e pelos desafios econômicos em grandes economias como Alemanha e França, levanta preocupações significativas sobre as perspectivas de crescimento futuro e intensifica as especulações sobre uma possível flexibilização da política monetária pelo Banco Central Europeu (BCE).

A queda do PMI abaixo do limite crítico de 50 destaca a deterioração das condições econômicas em toda a zona do euro...

.. .a indústria na zona do euro continua enfrentando grandes desafios, como evidenciado pelo declínio do PMI para 44,8, o nível mais baixo desde o início de 2023.

Isso marca o 26º mês consecutivo de leituras abaixo de 50, indicando contração sustentada...

... os dados do PMI de setembro despertam temores de que as medidas recentes do BCE podem não ser suficientes para evitar uma crise prolongada...

[Link]

E se dúvidas houvesse como a coisa anda no motor da Europa, basta ver como anda a Volkswagen.

Volkswagen admite pela primeira vez encerrar fábricas na Alemanha


 

A gigante alemã Volkswagen, que produz carros na fábrica da Autoeuropa, em Palmela, admitiu pela primeira vez a possibilidade de encerrar fábricas na Alemanha, numa tentativa de poupar milhares de milhões de euros. Além do fecho de fábricas, a multinacional pondera ainda desfazer um acordo que impedia o corte de postos de trabalho antes de 2029...

[Link]

Pensar que nós vamos passar pelos pingos da chuva...

Pensar que a Alemanha está a ter todos estes problemas porque virou as costas à energia russa...

Pensar que um dos gasodutos do Nord Stream está funcional mas a Alemanha não tem condições políticas para engolir um sapo deste tamanho (pelo menos enquanto houver dinheiro para disfarçar as contas...)

Pensar que um país a agoniar lentamente, com acesso a energia barata e vê as suas opções energéticas a reduzir ainda mais...


NORWAY'S EQUINOR SCRAPS PLANS TO EXPORT BLUE HYDROGEN TO GERMANY

Norway's Equinor has scrapped plans to export so-called blue hydrogen to Germany because it is too expensive and there is insufficient demand, a spokesperson for the energy company said on Friday.

Equinor and Germany's RWE signed a memorandum of understanding in January 2022 to build a hydrogen supply chain for German power plants to help reduce greenhouse gas emissions.

The plans included producing hydrogen from natural gas in combination with carbon capture and storage - known as blue hydrogen - in Norway and exporting it to hydrogen-ready gas power plants in Germany via the world's first offshore hydrogen pipeline.

"The hydrogen pipeline hasn't proved to be viable. That also implies that hydrogen production plans are also put aside," Equinor spokesperson Magnus Frantzen Eidsvold told Reuters.

Last year, Equinor CEO Anders Opedal said the cost of the total supply chain could run into the "tens of billion euros", while the pipeline alone would cost some 3 billion euros ($3.35 billion)...

[Link]

Políticos inúteis atiraram-se de cabeça em fantasias, em soluções não comprovadas e arrastaram-nos a todos para o precipício. A Europa, tal como venho dizendo há imenso tempo, não pode competir com a China (salários baixos, energia barata) e os EUA (salários altos, energia barata). Porque na Europa os salários são altos e a energia cada vez mais cara.

A Europa para consumir menos energia, só tem uma alternativa, produzir menos.Porque a produção consome muita energia. Temos que nos sentar todos num banquinho de jardim, deixar que outros produzam e rezar para que tenhamos dinheiro para comprar os produtos...

Como por exemplo os fertilizantes. Mas antes de atacar os fertilizantes, gostaria de relembrar dois outros temas parecidos de algo que se produzia em abundância na Europa, mas com a guerra das sanções à Rússia...


O sector do leite

Eu, em 2015, coloquei um post (Sanções Europeias, O Preço A Pagar) sobre a decisão catastrófica para a Europa sobre a guerra das sanções com a Rússia neste sector. Tão catastróficas que até nisto empurraram a Rússia para uma parceria com a China.

Resultado?

The Russian Dairy Industry After 10 Years of Food Embargo

Over the past 10 years, the volume of investments in Russia's dairy processing sector has exceeded 460 billion rubles, while more than 1 trillion rubles have been invested in the raw materials sector. According to Artem Belov, CEO of Soyuzmoloko, the sanctions played a positive role in accelerating the sector's development despite the challenges faced by the industry.

Cheese production has increased by 132%, cream by 205%, whole milk powder by 221.8%, and skimmed milk powder by 104.2%.

the total volume of cheese exports from Russia in 2023 was 25,000 tons, 53.7% higher than in 2013.

The Russian dairy industry is now shifting its development vector from import substitution to realizing export potential. Russian producers are actively working on entering the markets of East and Southeast Asia, Africa, and the Middle East. Dairy exports exceed 1 million tons, with 15-20% going beyond the CIS...

[Link]

Quanto às exportações da UE para a Rússia, um gráfico para se ter uma ideia do antes e depois.


Os nossos produtores agradecem.


O sector da suinicultura

Em 2016, voltei a focar outro sector (Sanções Europeias, O Preço A Pagar II). Uma vez mais a Europa é atingida.

A Rússia em 2014 deixou de importar carne de porco vindo da Europa. Realidade de hoje? 


Pork export Russia is soaring

Russia exported 46,800 tonnes of pork in the first quarter of 2023. That is 32% more than in 2022, the Russian Union of pork producers estimated. Pork sales grew in key export directions, driving further growth in production.

Export to Vietnam for instance jumped with 130% to 18,800 tonnes and to Hongkong with 140% to 1,600 tonnes. Sales to Belarus increased with 18%, reaching 16,600 tonnes, and Mongolia jumped with 44% to 1,400 tonnes.

[Link]

A Rússia deixou de importar da Europa.

E passou a exportar.

Vamos a ver a realidade em 2024.


A Rússia é hoje o quarto maior a nível mundial em termos de produção.

[Fonte]


 A Rússia hoje, está no top 10 dos maiores exportadores de carne de porco, no sexto lugar. (Estou a considerar apenas países).

A Rússia tem de facto, muito a agradecer à Europa.


Vamos agora à questão dos fertilizantes.


Grinding to a halt, Europe’s fertiliser sector facing ruin by Russia

Europe’s Herculean efforts to reduce energy reliance on Russia have not been matched when it comes to fertiliser. The European Council’s hesitation to add fertilisers to Russian sanctions is putting Europe’s fertiliser industry at risk of catastrophe, and accentuating Europe’s food insecurity.

Echoes of Europe’s steel sector demise now sound for Europe’s fertiliser firms, as lawmakers torturously calibrate the risk-reward of adding cheaper Russian fertiliser to the banned import list. As with EU steel a decade ago, when Europe failed to facedown China’s anti-competitive strategy, it could be too little too late – many of Europe’s fertiliser plants are already shuttered or on reduced capacity.

Euractiv spoke in depth with Fertilizers Europe’s new President, Leo Alders, he said: “If Europe is to ensure food sovereignty, it must maintain resilient domestic production chains with a minimized dependency on imports. Since the war in the Ukraine, the surge in fertiliser imports from Russia has weakened the EU’s food security. One reason is that the fertiliser sector is a high energy consumer.”

According to Eurostat, the European Union experienced significant changes in its fertiliser imports from Russia during 2022-23. Nitrogen imports into the EU increased by 34% compared to the previous period. Urea imports surged by 53%, effectively doubling the volumes recorded in 2020-2021. Russia contributed significantly, with 40% of the urea imports originating there.

[Link]

O que se está a passar com os fertilizantes? De uma forma muito sucinta, tudo se resume a uma coisa e que está referida no texto.

É um sector que consome muita energia.

E energia barata e em grandes quantidades na Europa... acabou.

Então se não temos energia barata, vamos produzir os fertilizantes onde ela é barata. À custa, claro, dos nossos produtores... 

E onde?

Na Rússia, claro. 


‘Russian fertiliser is the new gas’ for Europe, top producer warns

Europe is “sleep walking” into becoming dependent on Russian fertiliser, just as it did with gas, says one of the largest producers of crop nutrients.

Nitrogen fertilisers, which are important to plant growth, are made using natural gas and Russia is exporting more of it to Europe, replacing some of the gas banned by the EU, said Svein Tore Holsether, chief executive of Yara International, one of the world’s largest producers of nitrogen-based mineral fertilisers.

Fertiliser is the new gas,” Holsether said. “It is a paradox that the aim is to reduce Europe’s dependency on Russia, and then now we are sleepwalking into handing over critical food and fertilising power to Russia.”

The EU imported twice as much urea, a common fertiliser, from Russia in the year to June 2023 compared with a year earlier, according to Eurostat...

The price of crop nutrients soared in the wake of Moscow’s full-scale invasion of Ukraine in February 2022, as sanctions imposed on Russia limited availability of natural gas, a main input for nitrogen fertilisers such as ammonia and urea.

Russia is one of the world’s largest producers and exporters of nitrogen-containing fertilisers. This is also the case for potash and phosphate, which are mined and cannot replace the nitrogen-based fertilisers.

Russian fertiliser export revenue surged 70 per cent in 2022 on the back of higher prices.

[Link]


A Europa está num processo de auto-destruição. Estamos a ir ao fundo.

E não estou a ver uma saída para esta queda. 

Dentro de uma década, se ainda cá estiver, gostaria de fazer um update a esta questão dos fertilizantes tal como fiz com o sector do leite e da suinicultura.

Agora, ainda teremos Europa?


sábado, 14 de setembro de 2024

Europa Vai Ter 24 Porta-Aviões E 80 Submarinos De Propulsão Nuclear

 


Vamos ser a maior força militar do planeta. Diria até do sistema solar. E como é que isto vai ser possível? Vou recordar o que disse no post anterior sobre este tema, em Europa Vai Ter 12 Porta-Aviões E 40 Submarinos De Propulsão Nuclear:

... É absolutamente impressionante a forte aposta na defesa europeia que vem aí. A grande questão é, isto é verdade?

Não. Isto é um exercício que estou a fazer relativamente a custos, ou mais concretamente sobre gastos na Europa.

Poderia a Europa financiar rapidamente isto tudo? Podia.

Afinal um porta-aviões americano do modelo mais recente, custa a módica quantia de 13 mil milhões de dólares. 

Um submarino da classe Virginia custa à volta de 3 mil milhões.

Um F-35 uns 75 milhões.

Ora, vamos fazer algumas contas:

12 Porta aviões - 12 X 13.000 = 156 mil milhões

40 Submarinos - 40 X 3.000 = 120 mil milhões

400 F-35 - 400 X 75 = 30 mil milhões

Vamos ficar por aqui e somar a coisa, pois além de comprar o material, temos que o operar e manter, etc, etc.

Estamos a falar só nestas 3 aquisições de 300 mil milhões de dólares.

Parece muito? não é. Ainda nos sobra muito, mas muito dinheiro para comprar todo o tipo de armamento que a Europa quiser até chegar aos 800 mil milhões de euros que a Europa esturricou num ano.

E a Europa esturricou 800 mil milhões de euros em quê?


A Europa num ano ESTURRICOU 800 mil milhões de euros para disfarçar aos contribuintes europeus a VERDADEIRA factura energética que estamos todos a pagar. E mesmo assim, não foi possível evitar o descalabro de uma inflação como há muito não viamos.

Isto num ano de guerra, com a Rússia ainda a vender energia para a Europa. A Rússia ainda não deu uma machadada nas ligações que tem com a Europa. Estamos apenas a assistir ao resultado das sanções impostas por nós...

 

Bem, e como vamos passar de 12 para os 24 porta-aviões?

"Simples".

Vamos enterrar mais 800 mil milhões. 


Ex-chefe do Banco Central Europeu vê economia da UE em risco "pela 1ª vez desde a Guerra Fria"

"Pela primeira vez desde a Guerra Fria, devemos realmente temer por nossa sobrevivência", diz Draghi. Ele defende nova estratégia, investimentos para aumentar competitividade e emissão de dívida conjunta...afirma um relatório apresentado pelo ex-presidente do Banco Central Europeu (BCE) e ex-primeiro-ministro da Itália Mario Draghi nesta segunda-feira (09/09) em Bruxelas...

... Para enfrentar o que ele considera um "desafio existencial", Draghi propõe uma "nova estratégia industrial" que permita agir em três frentes para melhorar a competitividade e a produtividade europeias: acelerar a inovação, reduzir os preços da energia e aproveitar as oportunidades industriais da descarbonização, além de reduzir as dependências estratégicas de terceiros e fortalecer a segurança...

No documento, Draghi afirma que são necessários investimentos adicionais mínimos anuais de 750 bilhões a 800 bilhões de euros ... o que equivale a quase 5% do Produto Interno Bruto (PIB) da UE. Isso seria mais do que o dobro da ajuda do Plano Marshall após a Segunda Guerra Mundial.

... O economista italiano argumenta que o processo de descarbonização deve ser uma "fonte de crescimento" e, para isso, será vital "reduzir o custo da energia para os usuários finais" – por exemplo, implementando políticas que dissociem ainda mais o preço do gás natural do preço da energia limpa...



Bem, por um lado poderia ficar satisfeito, por ver confirmado tudo aquilo que tenho vindo a dizer sobre o rumo que a Europa tomou, mas a realidade é que isto é a constatação da gravidade da situação em que estamos e que tenho vindo a alertar.

Draghi está a querer ESTURRICAR 800 mil milhões de euro por ano. Isto porquê? porque a Europa é um barco a afundar e em ver de repararmos os buracos, estamos simplesmente a tentar tirar a água que entra. Como por exemplo, disfarçar o verdadeiro preço da energia que a Europa está a pagar. Os europeus estão a ser enganados, onde os preços são artificiais, e a informação está cada vez mais controlada. 

É isto o jardim de Borrell.

Para piorar a situação, o conflito com a Rússia está sem fim à vista e a tendência é para AGRAVAR.

E podemos só focar ainda na dependência da energia russa, após quase 3 anos de conflito.


UE continua a hesitar em sancionar o gás russo

Apesar de uma enorme queda no fornecimento desde que o Kremlin iniciou a sua guerra total contra a Ucrânia em 2022, a UE ainda depende da Rússia para quase um quinto do seu fornecimento de gás e a comissária da Energia, Kadri Simson, hesitou quando questionada se o bloco estava pronto para a incluir num regime de sanções em constante expansão...

... Reconhece que, embora o consumo de gás russo tenha diminuído drasticamente em relação aos 150 mil milhões de metros cúbicos, ou 45% de todas as importações antes da invasão, a UE ainda dependia da Rússia para 18% das importações nos oito meses até agosto - um pouco mais do que o total das importações de GNL dos EUA, o que significa que a Rússia continua a ser o segundo maior fornecedor da Europa, a seguir à Noruega...

...O executivo da UE tem estado a preparar-se para quando o acordo de trânsito entre a Gazprom da Rússia e a Ucrânia expirar no final do ano, disse. "Encontrámos rotas de abastecimento alternativas e os Estados-Membros ou as suas empresas que ainda estão a receber gás da Rússia tiveram mais dois anos em comparação com outras empresas que a Rússia decidiu cortar em 2022...


Dois "pormenores" a apontar neste artigo. 

  1. UE depende da Rússia

    Depende e não é pouco. Após este tempo todo, a Rússia continua a ser o segundo maior fornecedor da Europa.

  2. Acordo de trânsito entre a Rússia e a Ucrânia

    Está prestes a acabar. Os maiores prejudicados? A Ucrânia e a Europa. Nem consigo imaginar o impacto da coisa para a Europa, tal o rombo económico.

Rombo económico esse que tenho vindo a alertar no blogue. A Europa está a ser crucificada energéticamente, nós estamos a ser esfolados energeticamente em nome de quem? Em nome de quem, está a Europa a ser sacrificada? Mas não sou só eu que o digo. Surpreendentemente a Euronews saiu recentemente com alguns artigos curiosos. Algo anda a mudar...

Sanções ocidentais contra a Rússia - desesperadas, ridículas e arbitrárias

...o corte dos laços com a Rússia no sector da energia inflacionou os preços do gás em 2022, forçando as autoridades europeias a subsidiar os consumidores, de acordo com algumas fontes (acho difícil de acreditar) em quase 800 mil milhões de euros - e, ao mesmo tempo, este boom deu a Putin 78 mil milhões de dólares (70,5 mil milhões de euros) de receitas adicionais de exportação em 2022...

... As sanções são hoje uma forma de guerra. Mas na guerra, uma operação bem sucedida é aquela em que o inimigo sofreu mais danos do que o seu exército. Eu adotaria a mesma abordagem: as sanções são eficazes se causarem mais danos à Rússia do que aos países que as impõem...

...... todas as tentativas falharam em cortar as exportações de petróleo da Rússia, enquanto as receitas provenientes dessas exportações estão a aumentar...


[Link]

Não é só a questão de estarmos a ser trucidados energéticamente e a arruinar o nosso futuro. A Europa, e tal como tenho vindo a dizer, está a pagar a ambos os lados desta guerra.

A Europa caminha para a sua destruição.

O quão grave, e catastrófica, será esta destruição, estamos ainda por descobrir.

Comecem a olhar pelos vossos. Pois poderemos ter grandes mudanças nas nossas vidas.






P.S. Mais mísseis de cruzeiro para o Mar Negro

New missile corvette delivered to Russian Navy

 

Russia's Zaliv Shipbuilding handed over a new guided-missile corvette to the Russian Navy in a ceremony in the city of Kaspiysk on Monday, August 26.

Amur, which was commissioned into Russian Navy service on the same day, belongs to the Project 22800 series, otherwise known as the Karakurt-class, designed by the Almaz Central Marine Design Bureau. The ship will be operated by the Caspian Sea Fleet.

Like its Project 22800 sisters, Amur has a length of 67 metres, a beam of 11 metres, a displacement of around 800 tonnes, and a speed in excess of 30 knots. Armament includes Oniks and Kalibr anti-ship missiles, 76mm naval guns, a Pantsir-M close-in weapon system (CIWS) consisting of surface-to-air missiles (SAMs), and 14.5mm machine guns.

[Link] 

Este navio, adiciona mais 8 mísseis de cruzeiro à frota do Mar Negro. A capacidade ofensiva desta frota de disparar mísseis de cruzeiro não pára de aumentar.

E aqui fica algo mais para pensar. A Inglaterra, que foi a primeira nação a afirmar que autorizava o uso dos seus mísseis pelos ucranianos e que foi logo de seguida notificada oficialmente pela Rússia que haveria retaliação, sendo o próprio território inglês como alvo, pode ser atacada usando apenas a frota que está a ser utilizada no conflito ucraniano. Ou seja, sem sequer usar recursos da frota do Mar Báltico e muito menos a frota do Norte.

 


 Para reflectir.


P.S.2 Kursk


Está assinalado o território que a Rússia tomou para si na Ucrânia e a aventura da Ucrânia em Kursk.

Por algum motivo que me escapa, o histerismo tomou conta da imprensa e "especialistas" banha da cobra.

A Ucrânia que não consegue tirar os russos do seu território, vai abrir uma nova frente, com todos os custos que isso implica.

Como é possível estar a ser lançado tanto areia para os olhos dos europeus e alguém pensar que esta incursão poderá dar algum tipo de vantagem no quer que seja aos ucranianos.


P.S.3 FMI

Nine European countries protest against IMF resuming missions to Russia

Nine European countries protested on Friday against the International Monetary Fund's plans to resume missions to Russia, saying it would damage the reputation of the Fund to resume dialogue with a country that has invaded another.

After Moscow's all-out invasion of Ukraine in February 2022, the IMF stopped its annual consultations with Russia, which the Washington-based lender of last resort does for all its members.

But on Sept 2, the IMF's Russian executive director Aleksei Mozhin told Reuters the Fund would re-start online consultations on Sept. 16, and continue with an IMF delegation visit to Moscow for meetings with Russian officials until Oct. 1...

[Link] 

 

Se dúvidas houvesse que o mundo está a mudar...


sexta-feira, 16 de agosto de 2024

Era Uma Vez: Um País Que Dominava Os Céus

 


Já lá vai o tempo em que a América dominava o mundo com a sua aviação comercial. E tinha grandes fabricantes como a Douglas, a Lockheed ou a Boeing. A nossa transportadora teve ao longo dos tempos aviões destes fabricantes até mudar para a europeia Airbus.


Douglas


Boeing


Lockheed

Aos poucos estes fabricantes foram desaparecendo em fusões (pelo menos a componente civil) até restar apenas um grande fabricante americano. A Boeing. Os EUA começavam a ter o seu domínio contestado pelo consórcio europeu Airbus. Ficando o mundo (e com a queda da URSS), com um duopólio Boeing/Airbus.

No ano em que comecei este blogue, dediquei um post à Boeing. Há 15 anos atrás. O tempo passa...

Nele, (Boeing 787: Um Pesadelo De Avião - Parte I), já chamava a atenção para o que eu achava que era o caminho errado que estavam a seguir. Coloco aqui algumas partes do que disse na altura:

Há dois anos atrás, escrevi um artigo bastante crítico sobre este avião e no início deste ano voltei a falar do projecto. Dado que saiu notícias sobre os resultados da Boeing e eu ainda não tenho nenhum artigo no blogue sobre este assunto, penso ser uma boa altura para escrever um pouco sobre o que acho deste novo Boeing.
Antes de mais, é importante realçar que no meu ponto de vista, este Boeing representa um pouco o estado em que os EUA se encontram, com muitos problemas e más opões tomadas, os anos vão passando e continuo a pensar exactamente o mesmo...

Há 15 anos atrás quis registar neste blogue, as más opções da Boeing. Destaco também este parágrafo:
2 - Pressa na entrega. Devido ao agressivo marketing feito e datas irrealistas, a Boeing está disposta a sacrificar tempo de testes, para cumprir prazos. A Boeing esquece-se da sua principal função que é construir aviões e não satisfazer accionistas que não querem ver as suas acções descerem. A credibilidade da Boeing poderá ficar sériamente em risco, com o que se tem feito com este avião.

Há 15 anos atrás, eu chamei a atenção que engenheiros da Boeing, estavam a alertar sobre o caminho perigoso que a companhia estava a tomar.

... 787 unsafe, claims former Boeing engineer
Este foi um artigo interessante que apareceu em 2007, onde é referido um engenheiro da Boeing que foi despedido.
"Boeing 787 Dreamliner 'could be unsafe'
BOEING'S new carbon-composite 787 Dreamliner plane may turn out to be unsafe and could lead to more deaths in crashes..."

Resultado? Despedimentos para quem é crítico. A pressão é exercida para quem sabe construir aviões, esteja de bico calado. Foi despedido em 2006, há 18 anos atrás.

E a quem este engenheiro sénior tinha falado sobre as suas preocupações? à FAA (Federal Aviation Administration) , que é o regulador. E que disse eu sobre o regulador?

A FAA (Federal Aviation Administration) ajusta as suas regras de modo a poder "passar" o 787. Se eu já sou muito negativo sobre este avião, isto deixou-me muito pessimista e perplexo por este cumplicidade por parte da FAA.

FAA to loosen fuel-tank safety rules, benefiting Boeing's 787

"The Federal Aviation Administration (FAA) has quietly decided to loosen stringent fuel-tank safety regulations written after the 1996 fuel-tank explosion that destroyed flight TWA 800 off the coast of New York state.


10 anos depois, escrevi sobre outro avião da Boeing. Algo ainda mais grave e já com consequências trágicas. O Boeing 737 Max. O avião que hoje dificilmente alguém poderá dizer que nunca ouviu falar dele.

Em 2019, coloquei um post "Houston: We Have... a Big Boeing Problem" e voltei a apontar as situações.

... a Boeing enfiou-se num buraco que pode não conseguir sair. O que fizeram com o 737 MAX é algo que não poderiam ter feito.
E se a Boeing não o poderia ter feito, a FAA (Federal Aviation Administration) muito menos poderia aprovar tal coisa. E aprovou.
Parece-me que há algo muito mais preocupante ainda do que a Boeinge a FAA.
Parece-me um sintoma do declínio dos EUA...

... estão a tentar manterem-se na corrida por qualquer meio. Mas no caso da indústria aeronautica civil não podemos aldrabar, porque os aviões caiem, juntamente com todas as pessoas que lá estão dentro...

... Como é que a FAA perdeu a capacidade de fazer o que é suposto, verificar que o avião é seguro, é algo que vai acender muitas luzinhas por esse mundo fora...

Com o que fizeram no 737, eu não sei se a Boeing vai conseguir sobreviver. A companhia está ferida de morte e no próximo desastre de um Boeing 737 MAX vai muito possivelmente haver uma brutal quebra de confiança nos aviões Boeing.

E o incidente com a porta que saltou e que só por acaso é que não matou uma série de gente naquele avião, parece-me a mim que é um dos últimos pregos do caixão. As companhias mais importantes  e com reputações a defender têm que se afastar o mais rapidamente e de forma discreta dos Boeings que possuem.

Destaco um artigo que saiu no mês passado:


A crise da Boeing: a empresa conseguirá sair viva?

... Boeing, em retrospecto, já que atualmente se encontra dominada por provavelmente sua pior crise até o momento, aparentemente incapaz de obter o controle das alavancas, pois um problema após o outro continua jogando-o no ar. um espetáculo de descrença tanto para a companhia aérea quanto para o mundo, enquanto observa um dos ícones americanos mais duradouros se debater e falhar com o sangue de 346 vidas em suas mãos.

O mais recente da série é o enfrentamento de possíveis acusações criminais de fraude que estão sendo contempladas pelo Departamento de Justiça dos EUA, segundo a Reuters, em um tipo raro de ação contra uma empresa desta grande escala.

A reputação da Boeing destruída

Nos últimos meses, após os acidentes fatais de 2018 e 2019 e o episódio de 5 de janeiro, dois de seus denunciantes faleceram, incluindo o ex-funcionário da Boeing, John Barnett, que se matou devido ao que sua família disse ser um “ambiente de trabalho hostil” na Boeing, causando-lhe TEPT. .

A reputação da empresa foi publicamente destruída, com o CEO Dave Calhoun enfrentando críticas de um painel do Senado na presença de famílias de vítimas de acidentes, sobre falhas de segurança e qualidade da Boeing e alegações de denunciantes de que a empresa estava cortando atalhos...

...A empresa também está enfrentando dificuldades para conseguir novos pedidos devido a questões de segurança. De acordo com um relatório da Associated Press, no mês passado, a Boeing recebeu pedidos de apenas quatro novos aviões, enquanto nenhum pedido foi feito para seu 737 Max, o mais vendido, marcando o segundo mês consecutivo sem pedidos do 737 Max...

Até agora, em 2024, a Boeing recebeu apenas 142 novos pedidos brutos, em comparação com 1.456 em 2023.

Mais do que apenas afetar os resultados financeiros e o preço das ações da Boeing, a empresa foi acusada de arrastar para baixo toda a indústria manufatureira dos Estados Unidos.

O que deu errado?

Os especialistas atribuíram amplamente o colapso da Boeing a uma cultura desconhecida de colocar os lucros à frente da segurança e do design, o que acabou afetando a qualidade dos aviões...

[Link]


E no mês passado, o presidente da maior companhia internacional do mundo falou. O que indicia a gravidade da situação e que já não é possível esconder.


Presidente da Emirates Airlines põe segurança da Boeing em causa

A crise de segurança que afecta a Boeing está a ser preparada há mais de uma década”, afirmou o chefe da maior companhia aérea internacional do mundo. Sir Tim Clark afirmou que os problemas do gigante aeroespacial começaram há 10 ou 15 anos, quando, segundo o próprio, a empresa começou a concentrar-se nos lucros em vez de se concentrar na excelência da engenharia...

...Na conferência da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) que se realizou no Dubai, Sir Tim  acrescenta que a Boeing não tinha “nenhuma boa razão para fazer impiedosamente cortes de custos” que, segundo ele, lançaram a cadeia de suprimentos em turbulência, particularmente porque começaram esses cortes na altura em que deram inicio à produção do novo 787 Dreamliner...

... Na nossa actividade, não se pode tirar os olhos da bola. Certamente que os fabricantes não o podem fazer. As finanças não são difíceis. A engenharia é que é”...

... Sir Tim afirmou ainda que a Boeing deveria ter tomado as rédeas da situação na sequência de dois acidentes mortais com o avião 737 Max, que ocorreram depois de o software instalado pela empresa ter interferido com a capacidade dos pilotos para pilotar o avião...

[Link]

As declarações no mês passado do presidente da Emirates, acabam por validar tudo aquilo que tenho vindo a dizer desde 2009 e que está registado neste blogue.

A situação da Boeing é gravíssima. E é preciso muita coragem por parte de uma companhia de aviação sabendo dos problemas, comprar Boeings. E só os compram porque não há alternativas. A Airbus não consegue dar conta de tantas encomendas. Mas se começar a haver mais desastres...

Estamos numa fase de encruzilhada, quando há um nítido declínio dos EUA neste segmento tão complexo e temos duas potências a tentar entrar nele. A China e a Rússia. E a quem a Boeing está a estender o tapete vermelho...

Mas a Boeing não se fica por aqui. A Boeing sonhou em voar ainda mais alto. A Boeing quer chegar ao espaço. E o que está a acontecer? o expectável para uma companhia que trocou a segurança, o conhecimento, a tecnologia por lucros.

A Starliner.



A Starliner é o novo caixão, perdão, a nova nave, da Boeing com capacidade de levar astronautas para a Estação Espacial Internacional. E o que aconteceu mais uma vez? A coisa correu mal. Já tinha corrido mal anteriormente, foi adiado várias vezes o seu lançamento, mas a pressão, o dinheiro, o prestígio empurraram a decisão arriscada de enviar esta nave, sabendo que havia e há problemas com ela. Resultado? Uma nave com problemas, presa na estação, juntamente com os seus astronautas que eram para passar uma semanita. Já lá vão 70 dias e sem fim à vista.

Os problemas são mais que muitos. Estão duas pessoas a mais na estação que não deveriam estar lá. Precisam de comer, beber e claro, consumir oxigénio. Pelo menos. Não há um supermercado ali na esquina. A Uber também não costuma andar por estas zonas. E as portas não abundam na estação. Uma está agora ocupada com uma nave encalhada. E não há muitos táxis disponíveis por aqui. Nem reboques.



Este é o panorama da estação a 12 de Agosto. Está assinalado a vermelho a Starliner. O risco vermelho separa (duma forma grosseira) o segmento americano/Ocidental da russa. Há 2 dias atrás a Rússia lançou a Progress 89.

A estação tem 6 pontos de entrada completamente funcionais. 4 do lado russo, dois do lado americano. AMBAS as portas do lado americano estão ocupadas. E uma delas ficou com uma nave empanada.

Ou seja, a estação espacial ficou com menos um ponto de entrada. Que se fosse do lado russo, significaria perda de 25%, mas do lado americano representa 50%. Para piorar as coisas, não podemos esquecer que estas naves acopladas também são as naves de socorro, caso algo corra mal na estação.

Do lado russo, podem estar em simultâneo duas naves que transportam astronautas e duas naves de carga. Do lado americano, agora só pode estar uma nave de cada vez. Porque eu suspeito que não vai ser possível retirar dali aquela malfadada nave da Boeing. E nem a NASA nem a Boeing têm soluções para aquilo. E num ano de eleições nem pensar em soluções arriscadas.


Regresso a Terra dos astronautas que viajaram na Starliner "ainda é incerto", admite NASA 

O regresso a Terra dos dois astronautas que viajaram em junho na primeira missão tripulada da nave Starliner da Boeing à Estação Espacial Internacional (ISS), que teve falhas de propulsão e fugas de hélio, ainda é incerto.

Em conferência de imprensa realizada hoje, a NASA acrescentou que continua a analisar os dados dobre o sistema de propulsão da nave Strarliner para avaliar as "opções de regresso".

Os astronautas Barry `Butch` Wilmore e Sunita `Suni` Williams cumprem hoje setenta dias a bordo da Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla original), quase oito semanas mais do que o tempo previsto...

...Em 07 de agosto, a NASA revelou que estava a avaliar a possibilidade de trazer os dois astronautas de volta em fevereiro de 2025 a bordo de uma cápsula Dragon da SpaceX...

[Link]

A NASA está a atirar a coisa para depois das eleições, a visibilidade absolutamente negativa para os EUA é abismal. Nenhum político quererá ficar agarrado a isto. Isto começou mal e tem muita probabilidade de acabar mal. A situação é um desastre e a Boeing está, diria eu, arrumada quanto ao espaço. Falta saber quanto tempo demorará para ficar arrumada nos céus.

Uma coisa não podemos ignorar. Os EUA estão numa indiscutível fase descendente. Estão com problemas em empresas de topo, em reguladores e no controlo e primazia do domínio da tecnologia. Isto numa altura em que o seu controlo pelo dominio planetário está a ser contestado por outras potências. Contestado também no domínio dos céus e do espaço.

Temas a acompanhar nos próximos anos. Pois vem aí muitas alterações.