Este foi o mapa (agora com pequenas actualizações) que usei no primeiro post sobre este tema em Janeiro deste ano (O Ataque À Polónia). A guerra ainda não tinha começado. Vou colocar os primeiros parágrafos desse post:
"Penso que estamos a assistir ao início do ataque à Polónia. Com a conclusão do Nord Stream 2 ficou assegurado o abastecimento à Alemanha. O pipeline aguarda certificação alemã, mas este já está cheio de gás e pronto a funcionar. Falta agora a questão política.O Pipeline Yamal, o que atravessa a Polónia, deixou de passar gás. Há 12 dias que não há gás vindo da Rússia. Curiosamente, o fluxo está invertido e está a ser usado para retirar gás das reservas alemãs e abastecer a Polónia e a Ucrânia..."
O que tinhamos nessa altura? um dos pipelines, o que passava pela Polónia, tinha deixado de passar gás russo.
Agora, mais um deixou de passar e garantidamente não poderá passar, pois foi alvo de sabotagem. Os Nord Stream. Os tais que tinha indicado que com a sua realização, passava a existir condições para endereçar a base de mísseis americana em solo polaco. Marquei os pipelines a amarelo para se perceber o impacto. Dos 4 acessos principais para transporte de gás, restam 2. E um destes, atravessa a Ucrânia e que ainda continua activo a enviar gás russo para a Europa.
Na minha opinião, alguém tomou a decisão de que sabotando o Nord Stream, a Rússia voltaria à estava zero, onde tinha como objectivo garantir sempre à Alemanha energia, quando esta assim o decidisse.
Considero um erro. A questão é que a Rússia tomou a decisão de ir para a frente, começando primeiro pela questão ucraniana. Mas, não podemos esquecer que o tema PRINCIPAL do ultimato russo são as bases americanas na Polónia e Roménia e o recuo da NATO.
A Rússia esperou alguns anos para garantir o abastecimento energético a alguns países à custa de não tratar da situação ucraniana (acordo Minsk era para estar resolvido em 2015), sacrificando ucranianos que se consideram russos.
Agora, o problema energético é com a Europa, somos todos crescidos, temos que nos fazer à vida.
Dito isto, parece-me temos um sério aviso sobre o que nos espera em breve. Vamos à questão do ataque de ontem. Pelo o que indicam, foi o maior ataque de mísseis num só dia desde que esta guerra começou, fala-se numa centena de mísseis. Muitos deles eram "Range Rovers", que foi a comparação que usei no post (Mais Um Passo Para O Precipício II), lançados por TU-95.
TU-95 com carga máxima de KH-101 (8 mísseis)
Acho que era uma boa altura, os jornalistas começarem a confrontar os "experts" que vão para as televisões afirmar que a Rússia está com falta de mísseis desde Março e estando em Novembro como é que ainda conseguem fazer uma coisa destas.
Seja como for, a realidade é que o ataque foi um sucesso. A Ucrânia está com sérios problemas energéticos e movimentar uma máquina de guerra sem energia é algo, diria, condenado ao fracasso.
E além disto, além de ter estragado o encontro G20 que acabou por ser abafado por isto, temos o míssil que cai na Polónia.
Este míssil diria que foi um verdadeiro bónus para os objectivos da Rússia.
Eu já tinha chamado a atenção que tenho como teoria que a Rússia está a ameaçar discretamente os países que albergam as bases de mísseis americanas.
Esta questão do míssil permitiu ver a respectiva reacção da Polónia, da NATO, dos americanos. A Polónia chegou a falar em invocar o artigo 5º, depois passou a falar em invocar o artigo 4º e agora parece que já não pretende invocar coisa nenhuma. Mas viu-se a confusão instalada sobre como reagir. Deu para perceber que a população polaca está cada vez mais apreensiva sobre se a guerra vai lá chegar.
O facto é que estamos todos os dias a ouvir a nossa imprensa, os nossos políticos, os nossos experts a dizer que a Rússia está com problemas crescentes a cada dia que passa. Mas a realidade parece não bater certo com o que se ouve todos os dias.
- A NATO não se mete
- Ninguém fecha o espaço aéreo
- Nenhum país europeu se atreve a meter os seus exércitos na Ucrânia
- Onde estão, ou, o que estão a fazer os sistemas de defesa da NATO prometidos?
Estamos a meio de Novembro, as temperaturas estão a baixar, aproxima-se a data para o embargo ao petróleo russo e aproxima-se a data do ultimato.
As coisas vão começar a "aquecer" e se nada for negociado, e não estou a falar da Ucrânia, que para mim é apenas uma questão de tempo, até a Rússia ter o que quer dali, em breve o conflito vai alastrar-se para a Europa.
E para o conflito com a Europa será que a Rússia precisa se esforçar muito? É ver o que a Polónia faz. Este é o país que anunciou que se libertou da energia russa:
Druzhba Oil Flows Resume as Markets See Relief: Energy LatestOil flows on the Druzhba pipeline from Russia to Eastern Europe resumed following repairs on electrical infrastructure damaged in Moscow’s latest assault on Ukraine, according to officials from Hungary and Slovakia.Druzhba’s Dependents
Germany’s eastern refineries depend on crude from Russia
Poland Seeks Oil for ‘23: Russia Pipeline OperatorPoland is asking to receive crude oil from Russia next year despite its pledge to stop doing so by the end of 2022, according to Transneft PJSC.“There are requests from consumers in Poland” for oil flows for 2023 via the Druzhba pipeline through Belarus, Sergey Andronov, vice president at Transneft, Russia’s oil-pipeline operator, told Bloomberg on Wednesday...
Até hoje, a Rússia ainda não parou de vender energia a países europeus. É apenas a Europa que está a colocar sanções e a tentar não usar energia russa.
Que como se vê, até a Polónia não larga a energia barata.
É nitido por onde vai começar a Rússia fazer pressão aos europeus antes de se chatear a sério.
E as coisas vão começar a ficar sérias.
P.S. Cada vez surgem mais indicações que a NATO está a ter problemas em fornecer munições, pois não conseguem produzir para um contexto de guerra.
US plans to buy 100,000 rounds of artillery ammo from South Korea for Ukraine... “There’s no question that it’s put pressure on our own stockpiles,” said Colin Kahl, Under Secretary of Defense for Policy, speaking to reporters at a virtual meeting of George Washington University’s Project for Media and National Security. “It’s put pressure on our own industrial base. That’s been true of our allies.” ...... The challenge has been the supply of ammunition as the war nears its 9-month mark. ...... “[The war] has revealed that we have work to do to make our defense industrial base more nimble, more responsive, more resilient,” Kahl said.... The US has sent nearly one million rounds of 155mm ammo to Ukraine in recent months. Last week, a defense official said Ukraine is going through 4,000 to 7,000 rounds of artillery ammunition per day, while Russia is firing approximately 20,000 rounds....
Portanto, vamos lá a fazer as contas. 100.000 munições à média de 4000 por dia (a poupar), dá para os ucranianos aí uns 25 dias.
Os russos, que estão na ofensiva, vamos colocar as 20.000/dia. Eles gastam 100.000 em 5 dias. Alguém acha que eles andam a pedinchar munições a alguém? Que começavam uma guerra sem fazer as contas?
E nós? nós fizemos as contas quando mandamos o ultimato russo à fava...?
Uma opinião de certa forma similar à sua:
ResponderEliminarhttps://paginaum.pt/2022/11/16/a-emboscada-em-kherson-ja-aconteceu/
m.ª r.
De certa forma. :-)
EliminarContinuo a considerar que está a ser dado demasiado a atenção/importância ao recuo em Kherson.
Continuo a achar também que a Rússia não quer deixar à Ucrânia nenhum tipo de acesso ao mar.
Não acredito que Odessa fique incólume e muito possivelmente vão querer estar perto, muito perto da Roménia.
Diria que nos próximos 2 meses, algumas destas coisas vão ficar mais claras e permitirá (ou não) confirmar estas minhas suspeitas.
Não sei se é informação fidedigna mas faz sentido e está na linha das suas avaliações. https://youtu.be/oF2h__hsEnI
ResponderEliminarm.c.g.
Sim, deverá ser baseada em informação fidedigna, ou por outra forma, de declarações aqui e ali e que escapam ao radar da imprensa ocidental.
EliminarA Rússia está preparada para a guerra. E quando digo isto não é para uma guerra com a Ucrânia, é uma guerra para impor pela força o recuo das posições americanas em solo europeu.
Tudo no plano convencional da coisa.
É daqui a minha constante insistência com a questão do ultimato russo. Este não é sobre a Ucrânia.
Á medida que o tempo passa, vou cada vez chamando mais a atenção para isto e para o facto da Europa pode acabar na mesma situação que a Ucrânia.
Não na questão de invasão de território, mas na destruição de infraestruturas energéticas, forçando o colapso europeu.
O artigo 5º não nos garante protecção. Garante ajuda americana e isto pode ser algo muito vago...
Começo a acreditar que o artigo 5º garante proteção...
EliminarNão, a proteção que nós Europeus pensamos, mas sim, a proteção dos EUA.
Ao a invocarem, vamos todos a correr que nem uns doidos de olhos vendados (do tipo 9/11)...
Não, a proteção que nós Europeus pensamos, mas sim, a proteção dos EUA.
EliminarPodemos pensar assim:
A Ucrânia é o "canário da mina" para a Europa e o canário já foi...
A Europa é o "canário da mina" para os EUA e para já ainda mexe...
Estamos iludidos quanto ao artigo 5º.
Nunca os EUA vão arriscar um conflito nuclear com a Rússia.
Portanto em caso de guerra em solo europeu, o artigo 5º será activado, os americanos vão ajudar, mas quem terá que se mexer são os europeus.
Afinal somos mais 400 milhões e há muita carne para canhão.
Podem começar por pegar nos politicos, jornalistas, experts e enviá-los para a linha da frente.
Aqueles que dizem que a Rússia está nas lonas, que não têm mísseis, chips, combustível, fardas de inverno, etc, etc...