quarta-feira, 2 de novembro de 2022

Rússia: O Factor Índia II

 


Como podemos ver pela cara da felicidade de ambos, algo correu bem. E o que foi? Simples. Como se costuma dizer, "Azar de uns, sorte de outros". Bem, neste caso a comparação nem é a mais apropriada, afinal os europeus estão a fazer isto de forma voluntária.

E a fazer o quê? a empurrar o petróleo barato, perdão, petróleo russo para outras paragens. Nós temos dinheiro, não precisamos de andar a contar tostões...

No post anterior, que fiz em Junho, Rússia: O Factor Índia, tinha chamado a atenção para a importância da Índia para ultrapassar as sanções que estavam a ser aplicadas ao petróleo russo. Os gráficos que tinha colocado são claríssimos.


Em Maio, a Rússia tinha saltado para ser o 2º maior fornecedor do 2º país mais populoso do planeta. E que aconteceu agora em Outubro?

Russia becomes the No. 1 oil supplier for India in October

Russia has become India's top oil supplier, edging past the traditionally dominant suppliers Saudi Arabia and Iraq, according to the energy cargo tracker Vortexa.

Russia supplied 946,000 barrels per day of crude to India in October, the highest ever in a month. It accounted for 22% of India's total crude imports, ahead of Iraq's 20.5% and Saudi Arabia's 16%...

[Link]

Isto confirma que a India não cedeu à pressão americana para não comprar petróleo russo. A coisa não tinha corrido bem quando o ministro indiano esteve em Washington no princípio de Outubro.


No one told India to not buy oil from Russia: Hardeep Singh Puri; 'What Europe buys in one afternoon...'

Union petroleum and natural gas minister Hardeep Sing Puri said India has not been told by anyone to stop buying oil from Russia. The Indian government has a moral duty to provide energy to its citizens and it will continue to buy oil from wherever it has to as this kind of a discussion can not be taken to the consuming popultion, the union minister said in Washington after his bilateral meeting with US energy secretary Jennifer Granholm. “If you are clear about your policy, which means you believe in energy security and energy affordability, you will buy from wherever you have to purchase energy from sources,” the minister said.

"India will buy oil from wherever it has to for the simple reason that this kind of a discussion cannot be taken to the consuming population of India," the minister said reiterating New Delhi's stand on buying oil from Russia amid the ongoing Ukraine war.

[Link]

A Rússia está a descobrir que não precisa da Europa para coisa nenhuma, vamos a ver se a Europa também não precisa da Rússia. Da maneira como as coisas estão a correr, é bom que não precisemos...

Estamos a um mês de colocar um embargo ao petróleo russo. Em Dezembro, as coisas vão começar a tornar-se um pouco mais sérias.

Dezembro é o mês:

  • Do Natal.
  • Da entrada do Inverno.
  • Do embargo ao petróleo russo.
  • Do aniversário do ultimato russo feito aos EUA e Europa.
É já para o mês que vem.

P.S. Para quem acha que a guerra na Ucrânia está a correr mal para a Rússia, bom, então não precisam de se preocupar com nada disto. Estamos a dar uma coça daquelas àqueles vermelhos...

P.S.2 Para quem não pensa assim, não perder de vista os acontecimentos do Nord Stream. Temos os ingredientes para uma nova guerra. Desta vez à porta de casa. Não esquecer que ataques a infraestruturas energéticas são considerados actos de guerra. Tem filhos? pense neles.

5 comentários:

  1. Um pouco ao lado. Acebei de ter acesso este mini relatório:
    RISK OUTLOOK 2023 da Economist Intelligence

    Cenário um: o Inverno frio agrava a crise energética da Europa
    Elevada probabilidade; impacto muito elevado
    Cenário dois: condições meteorológicas extremas aumentam os picos de preços das mercadorias, alimentando a insegurança alimentar global
    Elevada probabilidade; Alto impacto
    "Pelos vistos o clima é que nos vai lix@r, segundo este relatório. No IPMA apenas consigo a previsão do tempo no máximo até 10 dias"

    Cenário três: eclosão de conflito directo entre a China e Taiwan, obrigando os EUA a intervir
    Probabilidade moderada; impacto muito elevado

    Cenário quatro: inflação global elevada alimenta a agitação social
    Muito alta probabilidade; Impacto moderado
    "Pudera! Mas, atenção que o impacto será moderado, portanto, nada de preocupante"

    Cenário cinco: nova variante do coronavírus, ou outra doença infecciosa, envia a economia global de volta para a recessão
    Probabilidade moderada; impacto muito elevado
    "Pelos vistos já saímos da recessão. No caso de PT, afirmo aqui sem qualquer problema, que estamos desde meados de 2019 e de lá não vamos sair tão cedo"

    Cenário seis: a guerra cibernética entre estados paralisa as infraestruturas estatais nas grandes economias
    Probabilidade moderada; impacto muito elevado
    "Aqui creio que a probabilidade será elevada. Aliás, já tivemos vários exemplos desses ataques"

    Cenário sete: maior deterioração dos laços entre a China e o Ocidente obriga à dissociação total da economia global
    Probabilidade moderada; Alto impacto

    Cenário oito: aperto monetário agressivo leva a recessão global
    Probabilidade moderada; Impacto moderado

    Cenário nove: A política chinesa de "zero-covid" conduz a uma grave recessão
    Baixa probabilidade; Alto impacto

    Cenário dez: O conflito Rússia-Ucrânia transforma-se numa guerra global
    Probabilidade muito baixa; impacto muito elevado
    "Como vê, para esta gente não há grande risco de o conflito estender-se"

    Mas uma coisa que achei interessante foi este pequeno apontamento:
    Dois terços da população mundial vivem em países neutros ou pró-russos no que concerne à guerra na Ucrânia

    mª r.

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    1. "Como vê, para esta gente não há grande risco de o conflito estender-se"

      De facto, isto é um dos componentes que me preocupa.

      Tal como as crianças, a maioria das pessoas não tem ideia do perigo que nos rodeia.

      E temos pessoas em lugares de topo e decisão, que pensam que o perigo lhes passa ao lado.

      "Dois terços da população mundial vivem em países neutros ou pró-russos no que concerne à guerra na Ucrânia"

      Exato. É esta a situação em que nós estamos. Os europeus não pensam que vivem muito bem, relativamente à maioria da população deste mundo.

      Os europeus não têm a mínima noção de como os que vivem na "selva" olham para eles. Isto é uma guerra de países ricos contra a Rússia. É assim visto por muita gente.

      E depois acha-se estranho quando um ministro do Qatar, nos chama de hipócritas por querermos impor tectos de preços à energia.

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  2. (…) não perder de vista os acontecimentos do Nord Stream.

    A Alemanha deve estar furiosa com a sabotagem do Nord Stream ainda para mais por ter sido levada a cabo, entre outros, pela marinha real britânica. É uma afronta de todo o tamanho e com desfecho imprevisível. Com aliados assim… Continuo a achar que a Alemanha vai acabar por parar o seu apoio à Ucrânia e que vai fazer novos amigos a oriente. A sobrevivência da indústria alemã a isso obriga.

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    1. A Alemanha está em sério perigo. Está dependente de pipelines que passam pela Ucrânia.

      E os russos... os russos estão a arranjar justificação para agir sobre esta situação.

      Muito, muito perigoso.

      Quem fez isto, atacou a Alemanha e a Rússia. Algo desta dimensão...

      Não vai ficar sem resposta.

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  3. E é a França a maior potêncial nuclear civil da Europa.

    "France's EDF lowers 2022 nuclear output target to 275-285 twh

    French utility EDF said in a statement late on Thursday that it had lowered its nuclear output target for 2022 to 275-285 terawatthour from 280-300 TWh previously due to the impact of strikes on its reactor maintenance schedule and extended maintenance outages of four reactors affected by corrosion..."

    https://www.reuters.com/business/energy/frances-edf-lowers-2022-nuclear-output-target-275-285-twh-2022-11-03/#:~:text=PARIS%2C%20Nov%203%20(Reuters),of%20four%20reactors%20affected%20by


    Parece que podemos contar com a energia nuclear, nestes tempos conturbados...

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