domingo, 16 de outubro de 2022

A Guerra Já Começou, Europa Está Na Reserva II

 

Este post teve início a 20 de Fevereiro (A Guerra Já Começou, Europa Está Na Reserva), dias antes de começar a guerra na Ucrânia.

Ou seja, ainda antes do Inverno acabar, as reservas estavam na últimas, isto porque o fornecimento de gás russo já estava muito abaixo do que devia. E porquê? porque a Europa alterou os contratos de fornecimento e a Rússia passou a fornecer APENAS o que estava contratado e nem uma gota mais. E não esquecer que o pipeline que passava pela Polónia (Yamal), também já há alguns meses que não transitava gás.

Seja como for, Fevereiro estava no fim e em breve as temperaturas iriam abrandar para patamares mais "geríveis" e em breve esta pressão iria abrandar, com a vinda da Primavera e depois o Verão.

Assunto resolvido? É claro que não.

A guerra começou, as sanções arrancaram e a energia passou a ser o ponto de batalha entre a Rússia e a Europa.

A Europa iria pagar pela energia russa, fora do contratado, 2, 3, 4, 10 vezes mais. E em rublos.


Vamos olhar novamente para este gráfico que coloquei no post anterior. A Europa começa a encher as suas reservas em Abril e fê-lo a este ano a valores astronómicos, de tal forma que é impossível passar esse valor para o consumidor final. Todos nós vamos vendo pelas notícias as massivas injeções de dinheiro que todos os países da UE estão a fazer para ajudar a pagar as facturas e desta forma não termos um descalabro neste Continente e não vermos a população a querer pendurar políticos em postes.

Mas o dinheiro não nasce nas árvores e se metem num lado, tiram doutro..., fica a questão, durante quanto tempo vamos poder estar nesta situação de tentar esconder a verdadeira magnitude do desastre que paira sobre nós.

Mas voltemos ao gráfico. Eu na imagem tinha assinalado quando a Europa começa novamente a usar as reservas. Em Outubro, o mês em que estamos. E isto tem-se repetido ao longo dos anos. Aproximando-se o Inverno, começamos a usar as reservas. E  porquê? porque vai chegar a uma altura do Inverno que o consumo de gás é tão grande, que mesmo com todos os pipelines que a Rússia tem a funcionar em pleno, o consumo excede o fornecimento. E aqui entra a parte da reserva, ir compensando os picos quando necessário. 

Agora começa a parte interessante. Porque se chegou a Fevereiro com as reservas no fim, muito antes do "usual"? Porque houve menos gás disponível vindo do fornecedor e parte desse gás estava a ser enviado para a Ucrânia. Ou seja, no último Inverno a coisa foi à pele, quase que se gastou as reservas todas.

Bem, então vamos agora pensar no seguinte. Estamos em Outubro, com as reservas no máximo, mas praticamente sem fornecimento.

- Gasoduto que passa pela Polónia. Fora de questão
- Nord Stream 1 parado e alvo de sabotagem
- Nord Stream 2, nunca chegou a arrancar,  alvo de sabotagem, apenas uma das linhas poderá eventualmente ser usado.

Os únicos que estão em funcionamento com capacidade para fornecer a Alemanha, país que não tem capacidade de receber GNL? os gasodutos que estão na Ucrânia. No meio da guerra.

Ou seja, há grandes, muito grandes hipóteses de estes também serem desactivados e tanto pode ser pelos russos como pelos ucranianos, depende para onde evoluir a situação.

Resumindo, vamos entrar no Inverno e só podemos contar com a reserva. Alguém já iniciou uma longa viagem, contando apenas com a reserva?

Este Inverno, algo vai acontecer na Europa.






P.S.

Só por curiosidade e relativo a uma série de notícias sobre a preparação de aviões SU-25 para poderem usar armas nucleares.

É, como se costuma dizer, uma tempestade num copo de água.

A Rússia é uma super-potência nuclear e tem todos os meios possíveis e imaginários para o uso de armas nucleares.

Os aviões SU-25, (que estão ser muito usados na Ucrânia), é um avião subsónico (950 km/h), de ataque ao solo e dos aviões mais pequenos usados pela Rússia. Estão a prepará-lo para usar armas nucleares...? ok. É só mais um no arsenal. E que decididamente não será este que será usado, se chegarmos ao ponto de usar armas nucleares.  Para isso, tem aviões preparados para esse tipo de conflito, tal como os americanos têm. 

Dizer que a Rússia iria utilizar o SU-25 para o nuclear, seria o mesmo que os EUA anunciarem que teriam o A-10 a fazer o mesmo. Precisam disso? nem uns nem outros.

Isto é um SU-25:



Mas para um conflito nuclear o que a Rússia tem?


TU-95 Subsónico (925 km/h)


Mig-31 Supersónico (3000 km/h)


TU-22M3 Supersónico (2300 km/h)


TU-160 Supersónico (2200 Km/h)
Maior bombardeiro do mundo


Ou seja, e para termos uma perspectiva do horror que é prepararem o SU-25 para transportar armas nucleares, nada melhor que usar uma perspectiva da dimensão do problema...




Um problema enorme...

Enfim...

10 comentários:

  1. Começo a desconfiar seriamente que já estamos em guerra há algum tempo.
    Posso estar a ver muito mal a coisa, mas creio (como não sou especialista, apenas dou palpites) que lá para os finais da década de 90, quando supostamente a RU estaria mais próxima do Oci, algo correu mal. Dito de outra forma, a viragem para este novo milénio trouxe à luz um novo paradigma geoestratégico global, pelos vistos inevitável, que levou os EU-A a pôr em prática uma abordagem mais bélica e agressiva no terreno – hard power puro e duro.
    Posso estar muito enganada, mas esta coisa da pande*mia não é mais que um esforço de guerra para fazer face a esta confrontação e desafio à sua hegemonia e como tal fazem tudo o que seja necessário, doe a quem doer, custe o que custar – não há hesitações em sacrificar seja quem for – achei estranho esta sincronia geral no que toca a implementação de medidas (sempre as mesmas, independentemente das geografias) e os lucros vitais para fazer face ao custo de uma guerra. E este esforço continua agora com as ditas alterações cli-máticas – em tempos de guerra, sacrifícios exigem-se sempre.
    Revendo alguma cronologia:
    Após a queda da UR-SS, que transfere a hegemonia global a uma só única potência, eis que simultaneamente ou em reacção à mesma, surgem tensões no ar:
    2 a 4 de agosto de 1990 – Invasão do Kuwait
    2 de agosto de 1990 até 28 de fevereiro de 1991 - Guerra do Golfo
    1994 GATT Rectificação – permitiu à CH tornar-se, em apenas 20 anos, na fábrica do mundo (e por isso muito deve aos EU-A) – é a Era da Globalização
    A partir desta data surgem, qual efeito dominó, sucessivas crises de divida e bolhas financeiras, sendo a mais conhecida a de 2008.
    1994 - Crise económica do México (adesão posterior à NAFTA)
    1997 - Crise asiática
    1998 - Crise russa
    1999 - Crise económica da Argentina
    2001 – 11 de setembro. E começa a subida de tensão entre as principais potências (emergentes VS EU-A)
    2002 Crise económica sul-americana
    2007-2008 - Grande Recessão
    Crise da dívida pública da Zona Euro
    A consolidação da destabilização do médio oriente (AKA revoluções coloridas)
    2009 - RU retoma construção de segmento na ISS com envio de novo módulo espacial
    2010-211 Primavera Árabe
    2011 Guerra Civil Síria
    2011 Guerra Civil Líbia
    2013 Crise na Venezuela
    2014-2016 Crise económica brasileira (início em 2014)
    2014 Revolução Ucraniana (aqui é mais revolução, guerras civiis é para os outros)
    2015 Crise migratória na Europa
    2015 – Movimento dos indignados em Espanha (ascensão do partido Po-demos)
    2015-2016 Impeachment de Dilma Rousseff
    2016 Donald T. é eleito presidente dos EU-A
    23 de junho de 2016 – Referendo sobre a saída do Reino Unido da União Europeia
    2017 Referendo na Catalunha (uns dizem que foi coisa dos RU, outros do So-ros)
    2018 Guerra Comercial EU-A/CH
    Protestos no Chile em 2019-2020 – tubo de ensaio para o que seria o verão quente de 2020 nos EU-A
    2020 Janeiro EU-A e CH assinam acordo comercial (acordo este que ficou pelos vistos sem efeito pelas razões que já conhecemos)
    2020 Março Pand*emia
    mª r.

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    1. Dê uma espreitadela a este post de 2009, infelizmente só a partir desta altura criei o blogue e muito do que fui dizendo anteriormente não tenho registado com muita pena minha.

      Espaço: Bush Abriu A Caixa De Pandora
      https://portugueseman.blogspot.com/2009/11/espaco-bush-abriu-caixa-de-pandora.html

      Bush de facto abriu a caixa de pandora, mas não nesta altura. Foi em 2001, quando anunciou a saída do tratado ABM, tratado que impedia o nascimento e evolução do projecto "Star Wars".

      Espreite este artigo do New York Times de 1985, onde coloco aqui o último parágrafo:

      "...The ABM treaty was ratified by the Senate by a vote of 98 to 2 in 1972. Thirteen years later, many of us still believe that a better approach to dealing with any ambiguities or loopholes that might be in the treaty would be to tighten them through negotiations with the Russians at the standing consultative commission established by the treaty, rather than to exploit them and further tear the seam, as the Reagan Administration is doing with ''Star Wars.''

      https://www.nytimes.com/1985/07/21/opinion/l-star-wars-violates-the-abm-treaty-135439.html

      Com a queda da URSS e os críticos anos 90 da Rússia, os EUA não acreditavam que a Rússia tivesse qualquer condição de manter a paridade nuclear e jogaram a sua cartada em 2001.

      A Rússia, deu realmente a volta nestes 20 anos. E tenho uma enorme suspeita que se sentem preparados para um conflito nuclear e que neste momento detêm a supremacia.

      Porque enquanto a Rússia renovou o seu arsenal nuclear e criou armas hipersónicas, os EUA dedicaram-se ao seu sistema anti-míssil.

      Eles falharam ao criar o sistema, mas os russos não falharam na renovação e nas novas armas.

      Para concluir, sim, penso que neste momento está a ser equacionado por ambas as partes se é possível enveredar por um ataque nuclear e SOBREVIVER.

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    2. Grata pelos links... pois, pode ter sido em 2001, e estes pequenos eventos normalmente passam ao lado sem causar grande alarido - é os media que temos, muito selectivos no que toca a escolher escândalos e notícias bombásticas, mas creio que a tensão já vinha de trás.
      Ah e outra coisa que esqueci de mencionar... como o texto já ia longo - ou é impressão minha ou a verdadeira ameaça para os EU-A é a RU e não tanto a CH, como tem sido repetido quase ad nauseam nestes últimos 10 anos. Recordo-me de algumas conferências sobre este assunto em que no final (estas ditas eram pró-americanas) se afirmava de forma categórica que a CH não iria substituir os EU-A como potência global. Ora, pensei para os meus botões, se não é a CH, quem será? Como a comparação era entre EU-A e a CH, subentendia-se que seriam os EU-A, mas os palestrantes, curiosamente, não faziam tal afirmação literal, era algo que ficava no ar.
      A CH deve muito aos EU-A, 1º com Ni-xon e depois com Clin-ton (o famoso GATT) na sua ascenção como potência - relembrar que nos anos 90 a principal ameaça asiática era o JP que a partir de 2000 pura e simplesmente estagna.
      Quem então consegue mesmo revitalizar e ter a ousadia de bater mesmo de frente com os EU-A? Sem atalhos nem paninhos quentes? Até ultimatos faz! Pois, parece que agora a resposta é mais óbvia.
      mª r.

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    3. "...é impressão minha ou a verdadeira ameaça para os EU-A é a RU..."

      A verdadeira ameaça é a Rússia.

      A China é um potencial adversário no futuro. Mas num futuro onde ainda os EUA sejam uma potência como o são ainda hoje e isso está a ser posto em causa agora, exactamente pela Rússia.

      A Rússia é a única nação do planeta que pode confrontar os EUA com pura força bruta.

      Felizmente, que (na minha opinião), não é isso que a Rússia quer aplicar na Europa, embora todos nós, estejamos a anos luz de perceber as capacidades que a Rússia possui em termos militares.

      Tenho estado a pensar que tenho que colocar mais posts a explicar o potencial de destruição que a Rússia consegue aplicar, mesmo sem recorrer ao nuclear.

      Fiquei abismado com as notícias bombásticas a falar do potencial de SU-25's estarem a ser preparados para uso nuclear e de como vários opinadores na praça falaram sobre o assunto.

      É não ter a mínima noção, (ou não querer dar essa noção) de que estamos a falar da Rússia uma super potência nuclear.

      E precisamos de ter. Para perceber no rico sarilho em que estamos todos metidos.

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    4. O maior equívoco do mundo ocidental foi ter expandido a sua influência para leste na premissa de que a Rússia jamais voltaria a ter poder de fazer exigências. Estamos presentemente num estado de negação muito perigoso. Com a vontade de atirar a Rússia de novo para os anos noventa, o que vamos conseguir arranjar é mais uma guerra em espaço europeu. Espero que haja o bom senso de reconhecer que só a via negociada, fazer cedências, nos interessa verdadeiramente.

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    5. "...Espero que haja o bom senso de reconhecer que só a via negociada, fazer cedências, nos interessa verdadeiramente..."

      Infelizmente, estamos muito, muito longe desta fase.

      Nem as pessoas conseguem compreender o grau de destruição que a Rússia consegue causar, (o que está a acontecer na Ucrânia, tal como na Síria são conflitos muito controlados).

      E porque as pessoas não conseguem perceber que estamos todos sentados em cima dum barril de pólvora a brincar com fósforos?

      Porque temos os políticos e a imprensa alinhada na mesma narrativa.

      Simplesmente não temos a noção da gravidade da situação em que estamos.

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  2. "Tenho estado a pensar que tenho que colocar mais posts a explicar o potencial de destruição que a Rússia consegue aplicar, mesmo sem recorrer ao nuclear."

    Uma pequena ajuda:
    https://bulgarianmilitary.com/2022/10/15/russian-uuv-caused-a-tsunami-57x-higher-the-empire-state-building/

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    1. Uma arma assustadora. Não existe nada parecido. Mas eu já falei dela. :-)

      https://portugueseman.blogspot.com/2022/07/mais-um-passo-para-o-precipicio.html

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  3. Disso não me restam dúvidas. O problema é que antes disso, sem disparar uma bala na nossa direção, os russos têm o poder e sua influência noutros países para nos pôr de joelhos. Neste inverno arriscamo-nos, nós europeus, a uma humilhação à escala planetária.

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    1. Estou convencido que disso já não nos livramos.

      A questão é o que poderá haver além disso.

      E a nossa postura neste momento, a meu ver, dada a gravidade da situação, deveria ser:

      "Vão-se os anéis, mas ficam os dedos"

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