domingo, 9 de outubro de 2022

A Rússia em África II

 



Estamos a perder de vista a realidade que está a acontecer "lá fora". A cada mês que passa, a Rússia cresce aos olhos de muitos. E muitos estão com a Rússia. 


Desta vez no Burkina Faso.

Se a Rússia no Médio Oriente consegue convencer a Arábia Saudita a reduzir a produção de petróleo, deixando os EUA aos gritos...


US Democrats urge Biden to drop Saudi Arabia, UAE support after OPEC oil production 'betrayal'

Democrat members of Congress are calling on the US to drop support for the UAE and Saudi Arabia after OPEC announced a controversial cut in oil production this week.

Three Democrats have introduced a bill to Congress calling for the removal of US troops and missile batteries from Saudi Arabia and the UAE, which have both been targeted by Houthi missile attacks, and described OPEC's decision to cut oil production a "hostile act against the US".

OPEC on Wednesday announced the biggest oil production cuts since 2020, a move which will likely send petrol prices upwards and is viewed as a boost for sanction-hit Russia...

...em África gritam literalmente pela Rússia.







Parece-me que está a crescer uma nova Primavera Árabe ou neste caso "Primavera Africana", onde se vê a Rússia de uma forma completamente oposta à nossa visão ocidental.

A potência mais afectada por esta situação é nitidamente a França. Os seus interesses estão sem sombra de dúvida afectados. Se a China tem entrado em África, principalmente com recurso a investimento, a Rússia fornece segurança, ou seja, protecção musculada a quem pedir. E, curiosamente, parece estar sendo depositado muitas esperanças de que a Rússia não se irá comportar com uma potência colonialista.

Se vai ser ou não, não sabemos, o que sabemos, é que afecta os interesses das actuais potências por ali instaladas.

Afinal, pelos vistos, foi esta a única potência a denunciar a situação do acordo para o  envio de trigo para países em risco de fome.

Putin Criticizes Implementation of Ukrainian Grain Export Deal

Putin lashed out against the program saying that Russia was being cheated by the implementation of the agreement according to a report carried by Reuters. The report on the wire quotes Putin as saying, "What we see is a brazen deception ... a deception by the international community of our partners in Africa, and other countries that are in dire need of food. It's just a scam.”

Putin asserted that the agreement was for the gains to be sent to the poorest countries and those facing famine. Instead, he says most of the grain is going into the developed world, and specifically he asserts to EU countries. Reuters quotes Putin as saying that “only two of 87 ships, carrying 60,000 tonnes of products, went to poor countries.

The criticism of the program comes just one month after vessels began to depart Ukraine for the first time since February...

[Link]

Há africanos que sabem ler. e conseguem aceder à internet. E muitos, viram, tal como eu, estas declarações. Como será que eles se sentem ao verem como são tratados? 

E uma vez mais temos a questão do "isolamento" da Rússia e que já tenho chamado por aqui a atenção. A Rússia não está isolada. E nota-se nas situações a que vamos assistindo e nas votações que vão ocorrendo nas Nações Unidas. E temos mais uma esta semana, que tenho alguma curiosidade sobre o que vai acontecer.

Vai ser votada uma resolução para condenar a anexação das 4 regiões ucranianas pela Rússia e esta pediu uma coisa curiosa para a votação. Que ela seja secreta.

Russia seeks secret UN vote on condemning Ukraine annexation

Russia called for a secret ballot vote next week on a Western-backed resolution that would condemn its “attempted illegal annexation” of part of four Ukrainian regions and demand that Moscow immediately reverse its actions. Russia apparently hopes it would get more support from the 193 nations in the General Assembly if their votes are not public...


Isto é muito interessante. Nas democracias, o voto é secreto. Será que vão aceder à solicitação da Rússia? ou alguém está com receio do que possa acontecer num voto secreto?

Será que as democracias estão com receio do resultado?

Afinal, a Rússia está isolada, não está?

Está...?





P.S.

Quanto à sabotagem da Ponte.

A sabotagem importante, e que não se pode perder de vista, é a outra. A do Nord Stream. Mesmo que tivessem com sucesso conseguido interromper o fluxo pela ponte, a Rússia tem vários tipos de alternativas para passar o que bem entender em direcção para a Crimeia.

Agora, alternativa ao Nord Stream? é pela Ucrânia. E quem precisa de gás desesperadamente, mais ainda que a Europa? a Ucrânia. Afinal esta ainda recebe gás russo...

E claro, vir a público quem sabotou aquilo. Scholz, está numa encruzilhada e o futuro da Alemanha também.

O Inverno está mesmo a chegar. Para todos nós.


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7 comentários:

  1. A meu ver, o ataque à ponte teve e tem influência determinante no curso deste conflito. Pela simples razão de que aconteceu em território “russo”, acrescendo ainda que o regime de Kiev tinha sido avisado que tal constituía uma linha vermelha. Moscovo não podia deixar passar isto sem consequências. Concordo que a guerra energética conta muitíssimo mas a imagem política também conta e muito! E que consequências serão estas? A meu ver, Dmitry Peskov já o disse. O regime de Kiev passou a ser considerado uma ameaça permanente à integridade do território russo (além de atacarem alvos russos recusam qualquer tipo de negociação com Moscovo), os objectivos russos passaram agora a incluir o derrube do regime de Kiev. Na sua página pessoal do Telegram, Kadyrov aconselhou Zelensky a fugir para os seus amigos do Ocidente. A leitura que faço de tudo isto é que se deve estar a preparar uma nova frente de guerra no norte da Ucrânia para levar a cabo essa missão. E não deverá ser uma frente russa.
    E quando o regime de Kiev cair, os russos terão ainda os demais termos do ultimato para resolver…

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    1. Sim, o ultimato está esquecido. Muito esquecido. Mas aproxima-se a marca de um ano após o ultimato lançado.

      Esta resposta russa à sabotagem da ponte é mais que um aviso para a Ucrânia, é um aviso para todos nós.

      O potencial de destruição que a Rússia consegue desencadear é brutal e nem necessita de usar armas nucleares.

      A Rússia não precisa do arsenal nuclear. Faz-me uma confusão tremenda só se falar nisto ultimamente. A banalização do discurso nuclear.

      Interrogo-me sobre a evolução do conflito. O ataque às estruturas energéticas é um aviso que a Rússia pode acabar com a vida relativamente normal em toda a Ucrânia. Vai cada vez ser mais difícil gerir e só resta a Zelensky pedir mais e mais e mais à Europa, ou seja, a todos nós.

      Vamos entrar no Inverno. Vai começar a doer a sério.

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    2. "Esta resposta russa à sabotagem da ponte é mais que um aviso para a Ucrânia, é um aviso para todos nós."
      Na verdade, depois de ter lido que as tropas russas estáo a entrar em massa na Bielorússia e que a Bielorússia se prepara para intervir em território ucraniano, começo a temer o inimaginável...

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    3. "começo a temer o inimaginável..."

      Pode ser muita coisa. Pode simplesmente ser um desviar das atenções. A Ucrânia para olhar para "cima", pode distrair-se com a actual ofensiva a Sul. também pode ser uma distração para Odessa, um recado para a Polónia...

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  2. Estes entusiamos africanos são o que são...não ia muito por aí. É ver o que se passa em AO e MZ.
    A U-nita, mais próxima dos EUA, está a tentar ganhar terreno e afirma ser o verdadeiro vencedor das eleições (se bem que aqui tenho algumas dúvidas da natureza da proximidade entre o actual presidente e os EU - o afastamento da Belinha tem muito que se lhe diga).
    No Norte de MZ lá continuam as atrocidades sem grandes comoções aqui na tugalândia, ao contrário do que aconteceu quando foram uns jovens de AO presos (o mais conhecido é filho de um general), ao ponto do B-E ter ido para a assembleia com as fotos dos revus (nome dado pelos AO's() estampadas nas t-shirts - num acto do mais puro demagogismo - é rever as páginas do Pu-blico dessa altura que andaram 1 mês inteiro a fomentar este suposto atentado aos direitos humanos. Já os desgraçados de MZ, não tendo ainda filhos de generais decapitados, quanto mais presos, terão que esperar por algum alinhamento astral mais propício a indignações por parte deste lado mais ocidental.
    Enfim...
    mª r.

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    1. A questão africana tem impacto. A médio/longo prazo. É que a seguir vem as empresas russas. E os franceses estão a sair. Macron está farto de reclamar.

      Já na Arábia Saudita, esta redução da OPEC+... foi um grande murro no estomago para os americanos.

      Isto há uns anos era impensável.

      São "pequenas" coisas que todas juntas...

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  3. "Israel e o Líbano alcançaram um acordo descrito como "histórico" sobre a fronteira marítima que partilham."

    Washington tem mediado, nos últimos dois anos, as negociações entre Telavive e Beirute, que reivindicam ambos cerca de 860 quilómetros quadrados. Com este acordo, cabe aos israelitas explorar o campo de Karish e cabe aos libaneses explorar as reservas do campo de Cana, embora parte do mesmo ultrapasse a futura fronteira.

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