quinta-feira, 14 de maio de 2015

BRICS, O Banco, A Grécia E Putin



Eu ainda não tinha dedicado umas palavras sobre o novo banco, o banco dos BRICS. Um recente desenvolvimento compele-me a fazê-lo.

No ano passado, os países (Brasil, Russia, India, China e África do Sul) chegaram a um consenso e o banco avançou. O NDB (New Development Bank) terá um capital inicial de 50 mil milhões de dólares, onde cada um dos membros irá contribuir com 10 mil milhões de dólares, estando previsto ir para os 100 mil milhões.

De realçar que o arranque oficial do banco foi em Julho, em plena crise ucraniana.

Este banco, choca nitidamente com o FMI e o Banco Mundial. Ou seja, estas duas últimas instituições vão ter concorrência e esta poderá ser séria. Muito séria. 

O FMI e o Banco Mundial são controlados por países Ocidentais, e claro, por detrás de cada empréstimo existe também muitas opções políticas. Os países que pedem empréstimos estão muito restringidos nas suas opções políticas.

Este novo banco, vai criar novas opções para os países que precisem de um empréstimo. Também haverá opções políticas, resta perceber quais serão. Mas tendo em conta que é um banco criado por países emergentes, que discordam de como o FMI e Banco Mundial são geridos, decididamente o NDB não irá cair nas boas graças de alguns países. Vai definitivamente haver perda de influência.

Além disso, este banco ataca a moeda mundial, o dólar. A ideia é fomentar o uso das moedas dos BRICS e aumentar o intercâmbio destas moedas, entre os BRICS e com os países que recorram da ajuda destes.

O impacto disto é muito significativo, é uma grande ameaça ao dólar. A perda de força do dólar, implica perda de força/influência mundial por parte dos EUA. E aqui entra outro factor. A Rússia.

A Rússia, tem de facto, estar a incomodar cada vez mais os EUA. Tanto a nível geopolítico como económico. E como estes adversários não podem travar um confronto directo, as lutas são feitas a outros níveis.

Uma delas é no plano económico, a Rússia está a sofrer sanções económicas que visam o seu enfraquecimento e este não está apenas relacionado com a Ucrânia. Por outro lado, a Rússia quer diminuir a venda de petróleo em dólares. Tanto com a China, como com a Europa. Visando directamente atingir os EUA.

A Rússia não é a única a querer quebrar, esta dependência do dólar. Considero que o primeiro grande passo neste sentido, foi feito por Saddam, quando começou a vender petróleo em euros. Durou pouco tempo, mas a bola de neve começou a rolar.

De seguida tivemos o Irão, com a criação da sua bolsa de petróleo, onde começou a negociar vendas, sem usar o dólar.

Hoje já temos vários países a querer fazer o mesmo, principalmente países que não alinham com os EUA.

No caso da Rússia, além de querer fazer o mesmo, é o principal impulsionador deste banco juntamente com a China e na minha opinião uma das razões da grande acumulação de ouro que tenho vindo a indicar em artigos passados. A sua parte de capital para o banco está mais que assegurada em ouro.

Que faz de seguida? Putin convida a Grécia a juntar-se ao banco.

'Happy surprise' as Greece receives invitation to join BRICS bank

Greece has been invited to become a member of the development bank of the BRICS economies, including Russia and China, which is seeking to become a counterweight to the IMF, a move welcomed by Prime Minister Alexis Tsipras as "a happy surprise"...


Bem, as ramificações disto são vastas. Vou focar algumas. A Grécia está sem dinheiro, como é sobejamente conhecido. Para ser membro é preciso dinheiro. Todos os outros colocaram lá 10 mil milhões de entrada. Isto significa que esta oferta tem profundos contornos políticos.

- A Grécia é membro da UE.
- A Grécia é membro da NATO.
- As relações entre a Grécia e a Turquia sempre foram tensas, apesar de serem ambos  membros da NATO. A Grécia tem também material militar russo por isso mesmo.
- À Grécia foi oferecido uma ligação ao novo pipeline russo (Turkish Stream), onde seria um ponto de entrada para a Europa e uma enorme fonte de receitas (pais trânsito), dinheiro 
que actualmente é recebido pela a Ucrânia e que o deixará de receber, dentro de poucos anos.

E isto foi feito, com a marinha chinesa pela primeira vez a vir ao Mediterrâneo, fazer exercícios com a Rússia, entrando no Mar Negro. Ou seja, passou ao lado da Grécia, da Crimeia e da marinha americana, que quando algo "aquece" no Mar Negro (Geórgia, Ucrânia), os navios americanos gostam de marcar a sua presença. Agora os chineses também.

A oferta russa à Grécia é algo que poderá abanar os alicerces de várias instituições ocidentais, incluindo a UE.

Definitivamente é algo a acompanhar.

Algo que tem o potencial de mudar a Europa tal como a conhecemos hoje.

domingo, 10 de maio de 2015

O Isolamento Da Rússia (Act.)



As comemorações dos 70 anos da vitória sobre os nazis, permite fazer uma avaliação sobre o isolamento a que a Rússia está sujeita devido à crise ucraniana.

A imprensa tem falado bastante sobre isso. O Ocidente não marca presença nas comemorações. Regra geral mostram isso como prova da isolação da Rússia.

Eu não veja a coisa desta forma. Estas comemorações mostraram algo de interessante. Apesar da Rússia estar a ser alvo de sanções/pressões ocidentais, outros líderes marcaram presença e esta não pode ser ignorada. Estes líderes sabem perfeitamente que o Ocidente está de costas voltadas à Rússia, mas isso não é impedimento para a sua comparência, transmitindo uma mensagem de apoio.

Os países que destaco, são essencialmente os países BRIC.



Com excepção do Brasil, que se fez representar pelo o seu Ministro da Defesa, os líderes da China, Índia e África do Sul, estiveram presentes. Dado a importância crescente dos BRICS no mundo, é relevante ver a diferente atitude destes comparado com os países Ocidentais.

Dificilmente se pode falar em isolamento, quando os líderes que representam 40% da população do mundo marcam presença ao lado da Rússia.

Pela 1ª vez uma guarda de honra chinesa está presente
nas comemorações


Também esteve presente um contingente indiano

Além de todas estas presenças, destaco uma outra que considero muito importante e positivo a sua comparência, o que indica para mim, a existência de um diálogo, um não querer fechar portas.

O motor da União Europeia, a Alemanha, esteve no dia seguinte representado pela sua líder Angela Merkel, tendo estado com Putin.



Considero de extrema importância e deveras positivo o facto de Merkel ter comparecido. A Alemanha não é um país qualquer e foi exactamente a Alemanha que compareceu na Rússia.



A situação da Ucrânia é bastante delicada e prejudicou imenso as relações Rússia - UE. Por outro lado, intensificou as relações com os BRICS, especialmente a China. Algo que terei que escrever num outro artigo.

Feitas as contas, e pela quantidades de chefes de estado que estiveram presentes, salientado o presidente chinês e a chanceler alemã, a Rússia de facto esteve longe de estar isolada. O que demonstra que o "isolamento" e as sanções aplicadas ao país, não vão conseguir desviar as linhas políticas que estão a ser seguidas actualmente.

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Resolvi acrescentar mais um dado que considero pertinente para a linha de pensamento que pretendo transmitir neste artigo.

Também os EUA fizeram-se representar, indo mais tarde, tal como fez a Chanceler Merkel, com o secretário de estado John Kerry.

John Kerry e Sergei Lavrov, memorial da 2ª Guerra Mundial


John Kerry em Sochi

Esta é a primeira visita de John Kerry desde o inicio da crise ucraniana. Apesar de não estar no dia 9 nas comemorações, esteve hoje dia 12. Apesar do conflito ucraniano ser um conflito geopolítico entre os EUA e a Rússia, é importante manter uma porta aberta, uma ligação. Pois são dois adversários que não se podem enfrentar directamente na arena.

sábado, 2 de maio de 2015

China e Rússia: O "Ataque" Ao Mediterrâneo




Se tem havido tanto indignação, sobre "invasões" russas no espaço aéreo Europeu, tendo em Portugal registado várias "intrusões" tanto aéreas como navais, vai ser interessante ver como o Ocidente irá reagir ao que vem aí.

Numa altura em que a Rússia tem estado ao rubro devido à questão ucraniana,  ver, pela primeira vez no Mediterrâneo um exercício conjunto (este mês) entre as Marinhas russas e chinesas vai concerteza dar que falar.

Esta parceria naval no meio do Mediterrâneo, é uma mensagem aos EUA, à NATO, à Europa. Tanto a Rússia como a China querem ter uma palavra a dizer em outras partes do Globo e será interessante verificar se irão fazer alguma visita a um dos portos amigáveis disponíveis no Mediterrâneo. Afinal a China tem muitos interesses e muitos investimentos em países que banham o Mediterrâneo.

Iremos ver a frota chinesa em algum porto amigável?

Infelizmente, o facto da Europa ter entrado em rota de colisão com o seu maior fornecedor energético, tem empurrado para uma maior parceria entre a China e a Rússia. Estas opções europeias terão grandes repercussões no futuro, e duvido que sejam positivas.



China, Russia to hold first joint Mediterranean naval drills in May


China will hold joint naval drills with Russia in mid-May in the Mediterranean Sea, the first time the two countries will hold military exercises together in that part of the world, the Chinese Defence Ministry said on Thursday. 

China and Russia have held naval drills in Pacific waters since 2012. The May maneuvers come as the United States ramps up military cooperation with its allies in Asia in response to China's increasingly assertive pursuit of maritime territorial claims...

...Since Western powers imposed economic sanctions on Russia last year over the violence in Ukraine, Moscow has accelerated attempts to build ties with Asia, Africa and South America, as well as warming relations with its former Soviet-era allies.

...U.S. President Barack Obama accused China on Tuesday of "flexing its muscles" to advance its territorial claims at sea...