segunda-feira, 26 de junho de 2023

Os 4 Tratados Do Apocalipse II

 


Vou dar continuidade a este tema, dado que faz parte (a meu ver) da questão principal e que move os russos de uma forma mais agressiva. Na perspectiva deles, a questão tem que ser resolvida. A bem ou a mal, com todas as implicações associadas. 

Já o devia ter feito há muito tempo, mas como tantos outros assuntos que também queria deixar registado, o tempo que dedico ao blogue não é suficiente.

O Open Skies é um acordo relativamente recente, apesar de haver ideias de o implementar nos tempos da URSS. Mas só quando esta acabou é que o acordo foi assinado, em 1992. Já estavamos na era da Rússia.

E em que consiste este tratado?

Este tratado permitia aos países signatários conduzir voos de reconhecimento nos territórios de outros, com um curto espaço de pré-aviso, numa zona qualquer à sua escolha. Este voos eram realizados com equipamentos e aviões especiais preparados para o efeito. Um dos grandes objectivos deste tratado era fomentar a confiança e transparência entre potências.

Só em 2002, já com Putin aos comandos da nação é que o tratado entrou em vigor, com 35 países participantes.


Os aviões e o equipamento teriam que ser aprovados e certificados para poderem ser usados nestas missões de recolha de informação em território "inimigo".

Curiosamente podemos ver os tempos complicados em 2002, quando a Rússia estava com sérios problemas económicos e com o FMI a actuar no país, pelos aviões adaptados para o efeito.

Boeing 707 (OC-123 Open Skies) modificado para 
ser usado no tratado.

2 aviões foram adaptados para o efeito.

Antonov An-30

Os aviões usados são de classes completamente diferentes...

Preparação antes de um voo.

O tratado tinha regras bem explícitas, sobre como se podia observar o território de outro país. Coloco aqui uma parte para se perceber um pouco sobre o procedimento.

Process: An observing state-party must provide at least 72 hours' advance notice before arriving in the host country to conduct an overflight. The host country has 24 hours to acknowledge the request and to inform the observing party if it may use its own observation plane or if it must use a plane supplied by the host. At least 24 hours before the start of the flight, the observing party will supply its flight plan, which the host has four hours to review. The host may only request changes in flight plans for flight safety or logistical reasons. If it does so, the two states-parties have a total of eight hours after submission of the original flight plan to agree on changes, if they fail, the flight can be cancelled. The observation mission must be completed within 96 hours of the observing party's arrival unless otherwise agreed.3

Although state-parties are allowed to overfly all of a member’s territory, the treaty determines specific points of entry and exit and refueling airfields. The treaty also establishes ground resolution thresholds for the onboard still and video cameras. The aircraft and its sensors must undergo a certification procedure before being allowed to be used for Open Skies in order to confirm that they do not exceed the allowed resolutions.

Aircraft: The treaty lays out standards for aircraft used for observation flights. Aircraft may be equipped with four types of sensors: optical panoramic and framing cameras, video cameras with real-time display, infra-red line-scanning devices, and sideways-looking synthetic aperture radar. For the first three full years after the treaty entered into force, the observation aircraft had to be equipped with at least a single panoramic camera or a pair of optical framing cameras. The states-parties may now agree on outfitting the observation planes with additional sensors.

Data: A copy of all data collected will be supplied to the host country. All states-parties will receive a mission report and have the option of purchasing the data collected by the observing state-party.

[Link]

A Rússia conduziu o seu primeiro voo de observação em Agosto de 2002 e os Estados Unidos em Dezembro de 2002. Ao todo, enquanto o tratado esteve em vigor mais de 1500 voos foram efectuados.

Alguns desses voos foram efectuados em Portugal. 

Notícia de 2015:

Avião militar russo sobrevoa Portugal até 7 de março

Um avião militar russo vai sobrevoar Portugal e Espanha até 07 de março durante vários "voos de observação" ao abrigo do Tratado Internacional de Céu Aberto, confirmou domingo à agência Lusa o Estado Maior General das Forças Armadas (EMGFA).

Segundo o porta-voz do EMGFA, o Antonov-30B vai aterrar hoje no Aeródromo de Trânsito n.º 1, também conhecido como Aeroporto de Figo Maduro, em Lisboa, estando previsto regressar à Rússia no sábado, 07 de março.

"Estes voos de observação visam garantir a transparência e aumentar a segurança entre os países que assinaram este tratado. À exceção do ano passado, estas missões têm decorrido com regularidade e são sempre acompanhadas a bordo por militares portugueses. Como subscritor deste tratado, Portugal também pode realizar estas missões noutros países", explicou o tenente-coronel Ramos Silva.

Até sábado, o Antonov vai realizar voos de observação em território nacional e espanhol.

 [Link]

Tem como pormenor que no ano de 2014, o ano em que a situação da Ucrânia descarrilou, aparenta não ter havido voos.


Notícia de 2019:

Avião militar russo sobrevoou Portugal e fotografou áreas estratégicas

Um avião militar russo sobrevoou Portugal continental e o arquipélago dos Açores, durante esta semana, para fotografar áreas estratégicas.

A aeronave – um Tupolev 154, de fabrico soviético – chegou a Lisboa na segunda-feira e regressa à Rússia esta sexta-feira, confirmou à Renascença o Estado-Maior-General das Forças Armadas.

De acordo com a mesma fonte, Portugal tem uma “quota passiva” – pode receber dois voos por ano, sendo que cada país não pode gastar mais de 50% da quota – e uma “quota ativa” de um voo por ano, que pode exercer sobre a Bielorrússia, a Federação Russa, a Ucrânia, a Bósnia-Herzegovina e a Geórgia, todos Estados que não pertencem à NATO.

[Link]

Neste voo de 2019, podemos reparar numa coisa, o avião russo para o tratado não é o An-30, mas um TU-154.

Tu-154M-LK-1 

A Rússia estava a operar dois modelos e quando a sua economia começou a melhorar, também investiu nos aviões a usar neste tratado. O novo avião que queriam usar, encontrou resistência pelos EUA. Os americanos estavam desconfiados das capacidades deste novo avião e da sua nova electrónica, que ao que sei, era completamente russa.

Os novos aviões Tu-214ON para o tratado, foram em 2018 recusados pela Administração Trump. Não poderiam ser usados para o tratado.

Tu-214ON

Mas já estavamos em 2018. Muita coisa se passou (guerra da Geórgia, Ucrânia, Síria...), desde o momento em que o tratado entrou em vigor. Russos e americanos já olhavam desconfiados um para o outro.

Ainda assim, o novo avião acabou por ser certificado dias depois. Mas o processo já estava inquinado. O tratado estava em perigo.

U.S. Reverses Course on Open Skies Treaty

Days after refusing to certify a Russian aircraft for flights under the Open Skies Treaty, the Trump administration reversed course and agreed to approve the plane.

Initially, the United States, without explanation, declined on Sept. 11 to sign a document confirming the treaty compliance of the Russian TU-214 aircraft, which carries an upgraded digital electro-optical camera that had been approved in 2016 for use on two other Russian aircraft for treaty flights.

The United States cast the only dissenting vote among the 23 countries that took part in the certification. Under the treaty, certification of new aircraft requires unanimous member-state consent.

“In breach of the Open Skies Treaty provisions, the head of the U.S. delegation refused to sign the final document, without giving any explanations or reasons, and citing direct instructions from Washington,” Sergei Ryzhkov, the chief of Russia’s Nuclear Risk Reduction Center, said on Sept. 12 according to the Tass news agency...

[Link]

Dois anos depois, em Novembro de 2020, a adminstração Trump decide sair do tratado, alegando violações russas.

Em Janeiro de 2021, a Rússia anuncia que também irá abandonar o tratado.

Joe Biden, o novo presidente, em Maio diz que vai manter a decisão de Trump, apesar de na altura ser contra a saída do tratado.

A Rússia acaba por abandonar oficialmente em Junho de 2021.

Poucos meses depois, o Nord Stream 2 estava concluído apesar de tudo o que os americanos fizeram para o atrasar ou impedir a sua concretização.

E mais uns meses depois, o ultimato russo surgiu.

A importância deste tratado era essencialmente mostrar que se estava de boa fé ao outro lado, permitindo que se realizassem inspecções.

A meu ver, este tratado deixou de fazer sentido com os avanços dos EUA na Europa e o seu sistema anti-míssil cada vez mais perto da Rússia e todos os planos obscuros em redor dele.

Este tratado permitia à Rússia observar certas bases cada vez mais importantes no continente europeu para um certo tipo de estratégia.

O seu abandono por parte dos EUA indica à Rússia que o tratado é algo que não interessa (ou deixou de interessar) aos americanos.

A questão da confiança e transparência é algo do passado.

A Rússia e EUA olham desconfiados um para o outro novamente e um dos grandes prejudicados é a Europa. Afinal é no seu território que se movem as peças de xadrez.

E assim caiu mais um tratado que nos protegia de um holocausto nuclear.



P.S. Não esquecer que há muito mais a dizer sobre este tema e muitas ramificações em redor dos tratados. Isto pretende ser apenas uma visão superficial e pessoal com a minha interpretação do que está a acontecer. Deve ser consultado mais informação sobre os mesmos e tirarem as suas próprias conclusões.


P.S.2 Wagner

Muito se está a ser falar sobre este assunto. Deixo aqui a minha opinião.

A Wagner é um exército paramilitar que serve os interesses da Rússia. Os seus mercenários são essencialmente militares russos, muitos vindos de forças especiais.

Tem funções ou objectivos que não podem ser concretizados pelo exército russo.

O exército russo não pode andar a operar por África, como a Wagner faz.

O exército russo não é a melhor opção para lidar com formações neonazis como o batalhão Azov. A Wagner ou os homens de Kadyrov são os indicados para este tipo de "trabalho".

Combate urbano feroz e onde certas regras não são aplicadas. Homens que são apanhados com suásticas, não são para serem tratados como prisioneiros de guerra.

Para mim, estamos a falar de soldados russos, que sabem pelo o que estão a lutar e que receberam mais uma missão. Qual foi exactamente essa missão não sei. Embora tenha como teoria de que se esteve a agitar as águas para ver o que aparecia. Se funcionou ou não não sei.

Mas acredito que a Wagner não vai desaparecer, quanto muito mude de nome. A estrutura continua a ser necessária.

Pouco mais há a dizer. A guerra continua, para o mês que vem há a cimeira com África e a seguir a do BRICS.


Post anterior sobre o assunto:

Os 4 Tratados Do Apocalipse




segunda-feira, 19 de junho de 2023

Os 4 Tratados Do Apocalipse

 


Apesar de falar muito sobre estes assuntos, o facto é que nunca registei no blogue algo dedicado aos tratados. Dado que o que se está a passar na Europa é muito maior que a questão ucraniana, vou tentar explicar a minha visão sobre o que está a acontecer, de forma a ter um registo para consulta daqui a uns anos.

Estes são 4 tratados que têm como objectivo evitar uma guerra de dimensões catastróficas, ou seja, têm como objectivo prevenir uma guerra total nuclear.

Problema?

Os tratados têm estado a cair e não estamos a aperceber da gravidade da situação.

Vou falar um pouco sobre o tratado ABM (Anti-Ballistic Missile)




Assinado em 1972 por Richard Nixon e Leonid Brezhnev, foi um dos importantes passos para se evitar um holocausto nuclear. E no que consistia este tratado? Tal como o nome indica, o tratado incide sobre sistemas anti-mísseis.

Para se evitar uma corrida maior na produção de armas nucleares, o tratado não permite a criação de sistemas que possam por em causa a capacidade de ataque do inimigo. Imaginando que os EUA criavam um sistema anti-míssil que tenha o potencial de destruir 50% dos ICBM's soviéticos, a URSS em resposta iria produzir mais mísseis para tentar compensar a perda, os EUA por sua vez iria aumentar mais a capacidade de abater estes mísseis, numa expiral sem fim.

Este tratado coloca um travão sobre esta situação, ficando proibido a construção de sistemas anti-mísseis. Ou seja, fica garantido a teoria MAD (Mutual Assured Destruction), em caso de conflito nuclear, todos morrem.

No tratado ficou a possibilidade de cada uma das partes ter um (e apenas um) sistema anti-míssil limitado a 100 mísseis interceptores, podendo proteger um local à escolha.

Os EUA escolheram proteger uma base de ICBM's no Dakota do Norte, a URSS escolheu a proteger a capital, Moscovo.

No caso dos EUA, esta protecção não durou muito tempo, ou seja, não investiram no sistema .

No caso da URSS, a coisa foi levada a sério de forma a proteger a sua capital de um ataque nuclear.




Com a queda da URSS, tudo foi afectado, e a Rússia com uma economia de rastos, tudo se degradou. Ainda assim, o potencial nuclear da Rússia manteve-se.

Os EUA continuaram numa fase ascendente do seu poder, e, a meu ver, achou que não necessitaria mais de manter um tratado com uma potência em decadência e que não conseguiria manter a paridade, podendo agora investir num sistema anti-míssil que anulasse a capacidade nuclear russa. A Rússia na passagem do milénio estava em sérios problemas económicos e com o FMI a ditar as regras enquanto não pagassem o empréstimo.

Em finais de 2001, os EUA anunciam que vão abandonar o tratado, ficando efectiva a sua saída a 13 de Junho de 2002, decisão tomada por George W. Bush .


Em 2002, enquanto se prepara para abandonar o tratado, os EUA criam o Missile Defense Agency que é quem vai lidar com as novas armas que vão poder criar assim que abandonarem o tratado.





Considero esta decisão dos EUA uma das mais graves tomadas. A partir daqui temos uma nova corrida ao armamento nuclear. Que na altura não se julgava possível, dado a fraqueza da Rússia, mas a entrada de Putin veio mudar tudo.

Para agravar a situação, a nova doutrina para o espaço que Bush lançou em 2006 era de tal modo agressiva que ditou os planos de resposta da Rússia até aos dias de hoje.



In August 2006, President George W. Bush issued a controversial policy directive that asserted a right for the United States to defend its national interests in space, to exclude any state the United States views as an immediate or potential threat, and implied a right to create a strong military presence. The 2006 space policy directive authorized the United States to unilaterally determine which nations should be barred from space, for what reasons, and when


Também por esta altura já havia conversações para colocar bases avançadas antí-míssil no continente europeu, ou seja, mais perto da Rússia, a Polónia era um dos locais. Em 2008, ano do conflito da Geórgia, a decisão foi tomada. A Polónia iria fazer parte do sistema anti-míssil americano. Para a Rússia o perigo era ainda maior. O risco de intercepção na fase inicial do míssil é maior do que na sua fase final, onde as velocidades são incomparavelmente maiores.


Todas estas acções por parte dos EUA, extremamente agressivas, ditaram a estratégia da Rússia até aos dias de hoje. Á medida que a economia foi melhorando, o arsenal nuclear da Rússia foi modernizado, novas armas apareceram incluindo a capacidade de atacar no espaço.

Os EUA e a Rússia entraram numa nova corrida ao armamento nuclear e o ponto de partida foi o abandono do tratado ABM.

Actualmente a Rússia indica que tem armamento capaz de abater satélites e de anular o sistema anti-míssil criado pelos os EUA, recorrendo às novas ogivas hipersónicas e manobráveis.

Além disso a Rússia está a proteger o seu país com as suas novas soluções antí-míssil que promete anular uma boa parte do arsenal americano.



Sem o tratado ABM não há limites para a criação de sistemas anti-mísseis. E a Rússia mudou radicalmente o panorama em resposta às decisões tomadas há 20 anos atrás.

A Rússia de hoje, assinala que está preparada inclusive, para uma escalada nuclear com os EUA.

Embora exista muito mais a dizer, este é apenas um pequeno registo (aconselho a aprofundar mais estes assuntos), sobre um tratado, e que acho importante referir porque tem relação com o que estamos a viver hoje. Que como sempre digo, esta guerra é muito maior que a questão ucraniana.

A ver se faço um registo para cada um destes tratados, para mostrar a minha visão do que está a acontecer e do que poderá a vir acontecer.




quinta-feira, 15 de junho de 2023

O Mal Estar Espanhol

 



Cruzei-me com um manifesto interessante espanhol e que tal como os militares alemães, estão deveras preocupados com o futuro.  O nosso futuro.


Militares españoles piden a la UE que detenga el envío de armas a Ucrania y se centre en un acuerdo de paz

El manifiesto, firmado por varias decenas de militares retirados, solicita que se detenga la escalada bélica en Europa y pide a los gobiernos que "paren esta locura".

Entre los firmantes se encuentran decenas de rangos militares retirados o en la reserva, que animan a otros en su situación a unirse a su manifiesto...

[Link]

Também neste manifesto, temos uma alta patente envolvida (General da Força Aérea), tendo sido Chefe do Estado-Maior da Defesa durante o governo de Zapatero.


Coloco aqui o manifesto, para se ver o que se vai começando a dizer por esta Europa fora.

É mesmo necessário, começar a haver vozes que ponham em causa o caminho por onde estamos a ir.

A bem do nosso futuro.

Comunicado sobre la paz

y el alto el fuego en la guerra de Ucrania

Nosotros/as, un grupo de militares de las Fuerzas Armadas españolas, retirados o en la reserva, ante la grave situación desencadenada por la guerra de Ucrania, que lleva a una escalada de muerte y destrucción, hemos decidido alzar nuestras voces, junto al clamor de otros militares de diferentes naciones, pidiendo a nuestros gobiernos que paren esta locura.

Manifestamos nuestro rechazo a la agresión de la Federación de Rusia contra Ucrania y pedimos a los gobiernos de la Unión Europea que, en vez de alimentar la guerra con más envío de armas, paren de inmediato su actuación beligerante y se impliquen de forma eficaz en las negociaciones de paz.

La guerra de Ucrania está provocando la muerte y destrucción en el corazón del continente europeo y, de continuar la escalada, conducirá irremediablemente hacia una situación incontrolable que acabará poniendo en riesgo la vida sobre el planeta.

Condenamos la invasión de Ucrania por parte de la Federación de Rusia, así como el papel agresivo de la OTAN, brazo armado de los USA, por su irrefrenable y persistente actitud de acoso y provocación, que arrastra al conjunto de Europa hacia su autodestrucción.

Hacemos un llamamiento a todos los militares retirados para que contribuyan a la denuncia de la grave situación que se avecina. Jóvenes que acabarán siendo alistados, si el conflicto se expande. Juventud que se verá obligada a despedazarse en los frentes de batalla, como preludio de un posible holocausto final. Quizás nuestros propios hijos y nietos, que irremediablemente acabarían siendo llamados a filas.

Es necesario presionar a nuestros gobiernos para que paren sin dilación esta huida hacia adelante que nos conduce a la llamada Destrucción Mutua Asegurada (DMA), una demencial estrategia puesta en marcha en el siglo pasado por las potencias nucleares.

El riesgo de pasar a una fase de escalada nuclear crece de día en día. Ninguna potencia nuclear aceptará una derrota humillante. El gigantesco número de víctimas civiles, y la enorme destrucción a la que puede verse abocada Europa, pueden llegar a ser de proporciones nunca vistas, quizá irreversibles.

Es necesario parar la guerra, es urgente y necesario el alto el fuego.

 

Aqui já temos a constatação de que militares europeus podem ser enviados para a Ucrânia. E de facto, esta é uma das hipóteses que a Europa terá que equacionar em breve quando descobrir que a contra-ofensiva ucraniana não vai ter os resultados pretendidos. A Ucrânia precisa de exércitos completamente equipados para vir dar uma ajuda.

Problema? A Rússia.

A entrada de militares europeus, significa de imediato que a guerra começará na Europa. A Rússia tem capacidade de atacar à distância o que bem entender e não estará em causa o artigo V. Os EUA não se podem envolver directamente com a outra super-potência nuclear.

Isto significa que cada vez estamos mais próximos de ser o próximo palco de batalha. Se a Ucrânia e os ucranianos não chegarem para arrumar com os russos, atira-se os europeus para a fornalha.

Penso que as coisas vão ficar sériamente tensas quando se começar a verificar de facto que a contra-ofensiva falhou. E não deverá demorar muito a chegar a essa evidência.

E enquanto a guerra não chega para os nossos lados, vamos vendo as coisas a aquecerem. Mais uma subida nas taxas de juro. O gráfico é claro, estamos a assistir a uma subida brutal numa questão de meses e a Rússia ainda nem deu um murro na mesa e parou de nos fornecer energia...



A taxa de juro na Rússia...




Está algo bem mais equilibrada. E cada vez será mais difícil explicar como é que um país em guerra, debaixo de sanções dantescas consegue gerir a coisa desta forma. Mais tarde ou mais cedo, as pessoas vão começar a questionar-se.

US Rushes F-22s to Stop Russian Harassment Over Syria


 Iran and Russia's efforts to push the U.S. out of the airspace include an aerial incident last week, Air Forces Central commander says.

As Russian planes continue to provoke U.S. fighter jets over Syria, the Air Force is sending F-22s to respond to aggression in the region. 

Russia continues to “pressure our presence,” despite the U.S.’s de-escalatory posture, Lt. Gen. Alexus Grynkewich, who leads Air Forces Central Command, said Wednesday during the annual Defense One Tech Summit.

In April, the general told Defense One that Russian warplanes had tried to bait U.S. jets into “dogfighting” over Syria. 

And just last week, Russia tried again to bait U.S. pilots, Grynkewich said.

But Russia can’t push the U.S. out of the airspace in the Middle East, Grynkewich said...

[Link]

Muitas, muitas coisas se constatam.

  • Os EUA necessitam de enviar caças de 5ª geração para enfrentar um país que está atolado na Ucrânia, sem munições, sem mísseis e com tanques dos anos 50. Eu adorava ver um dos nossos "especialistas" da tv explicar isto...

  • A Rússia tem os SU-35 na Síria, que, para os aborrecer, parece-me mais que suficiente.

  • A Rússia tem o sistema S-400 na Síria, o que será sempre interessante como exercício a identificação (a capacidade de detectar) caças de 5ª geração.

  • A Rússia não quer empurrar os americanos para fora do espaço aéreo do Médio Oriente como indica o artigo, a Rússia quer os americanos para fora da Síria. E a situação vai intensificar. Sem dúvida nenhuma.


domingo, 11 de junho de 2023

Espanha Continua A Importar (Cada Vez Mais) Gás Russo

 


A Espanha continua na sua rebeldia. E vai deixar certo tipo de gente insatisfeita.


Importações de gás natural da Rússia para Espanha atingem recorde em maio

As importações de gás natural da Rússia para Espanha dispararam em maio para níveis recorde, atingindo 9.663 gigawatts-hora (GWh), tornando-se assim no segundo principal fornecedor do mês, próximo da Argélia, segundo dados da Enagás.

De acordo com o último boletim da Enagás (rede de distribuição de gás espanhola), o gás natural da Rússia, transportado por metano na forma de gás natural liquefeito (GNL), quase triplicou em maio face ao mesmo mês do ano passado, quando somou 3.289 GWh.

Desta forma, em maio confirmou-se a tendência ascendente dos últimos meses nas compras de gás natural à Rússia, embora tenham atingido níveis máximos desde o início da guerra na Ucrânia, no final de fevereiro de 2022.

Com estas importações de 9.663 GWh em maio, o gás natural de origem russa cobriu 27,8% da procura total no mês em Espanha, ficando atrás apenas da Argélia, que com 9.824 GWh, voltou a ser o principal fornecedor, com 28,3% do total.

Em maio, a tendência de alta nas importações de gás natural da Rússia ocorreu em toda a Europa.

No caso específico de Espanha, a maior parte do gás natural que chega da Rússia ao país está relacionada com contratos de longo prazo com a Yamal LNG, um consórcio liderado pela empresa privada russa Novatek e cujos acionistas incluem capital europeu e capital de outros países.

A ministra da Transição Ecológica, Teresa Ribera, já apelou às empresas energéticas espanholas para que diversifiquem as fontes de abastecimento de GNL e prescindam da Rússia.

[Link]

Parece que há vários países, que não estão a achar piada às decisões "europeias" e vão arrastando os pés no seu empenho contra a Rússia.

Apesar de o artigo focar a Espanha, algo que tenho vindo a assinalar por aqui, o artigo diz algo que considero mais importante.

São vários os países que estão a importar gás russo na Europa e aparentemente essa tendência está em alta.

Nitidamente há problemas dentro da UE sobre decisões tomadas para o futuro da Europa.

E para piorar ainda mais as coisas, temos mais dados para Maio. E muita gente não vai gostar.


India's Russian oil buy is now more than Saudi, UAE, Iraq and US combined


India's import of cheap Russian oil is now more than the combined amount bought from Saudi Arabia, Iraq, UAE and the US, industry data showed.

India took 1.96 million barrels a day from Russia in May, 15% more than the previous high in April, according to data from energy cargo tracker Vortexa.

The imports from Russia are now more than the combined purchases from Iraq and Saudi Arabia -- India's biggest suppliers in the last decade -- as well as UAE and the US.

Iraq supplied 0.83 million barrels per day (bpd) oil in May, while UAE shipped 203,000 bpd. As much as 138,000 bpd was sourced from the US, the data showed.

Russia now makes up for nearly 42% of all crude oil India imported in May. This is the highest share for an individual country in recent years.

Oil producers cartel OPEC's share in India's oil imports fell to an all-time low of 39% in May.

Organisation of the Petroleum Exporting Countries (OPEC), mainly in the Middle East and Africa, made up for as much as 90 per cent of all crude oil India imported at one point of time...

[Link]

A Índia não pára de surpreender. Apesar de toda a pressão que lhe foi exercida, a Índia não alinha com  a Europa e compra toda a energia que esta não quer.

Um pormenor que considero deveras importante no artigo. A constatação de que a OPEC passou de 90% (!) para 39%. É uma redução radical para o país com a segunda maior população do planeta.

Outro pormenor importante que quero salientar. A OPEC acabou. Agora é a OPEC+. E o "+" é a Rússia.

Como tenho vindo a chamar a atenção no passado, a Rússia está numa posição dominante na OPEC. E Vê-se.


Russian Diesel Reexported by Saudi Arabia Hits Records


Leading crude exporter Saudi Arabia is maximizing refining profits by importing unprecedented amounts of cheap Russian diesel and in turn shipping record volumes to Singapore, where the fuel can achieve higher margins, shiptracking data show.

Russia has had to divert the volumes it sold to Europe, previously its dominant product market, after the European Union banned oil product imports in February as part of its response to Moscow's invasion of Ukraine, Xm.com reported.

That allowed state oil giant Saudi Aramco to increase its May import arrivals to Singapore to record levels and cash in on better arbitrage netbacks in the east than Europe, driven by tighter Asian supply during the maintenance season, traders and analysts said.

[Link]


E para onde a Arábia Saudita está a exportar o diesel russo...?


Saudi Arabia buying Russian diesel and sending its own to Europe


Saudi Arabia is buying millions of barrels of Russian diesel, while selling its own supplies to European countries amid European bans on Russian fuels, according to a Bloomberg report.

Bloomberg said roughly 35% of Saudi Arabia’s overall exports of diesel and gasoil in April were shipped to the EU countries and the UK, while at the same time, the Russian-origin barrels arrived at the Saudi ports of Ras Tanura and Jizan.

[Link]

Será que os europeus têm sequer a noção da triste figura que estamos a dar ao resto do mundo...? 

Como a "selva" de Borrell está a ver isto...?

E ficamos por aqui? Não.


Rússia supera EUA e se torna maior vendedor de diesel para o Brasil em abril


Russos responderam por mais da metade das importações brasileiras de diesel no mês passado

A Rússia ultrapassou os Estados Unidos e se tornou a principal fonte de importações de diesel do Brasil em abril. Mais da metade (56%) das cargas importadas vieram de refinarias russas, contra 21% dos EUA, de acordo com dados do ComexStat, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).

Historicamente pouco relevantes, as importações do derivado de origem russa dispararam nos últimos meses, em meio a mudanças no fluxo do comércio global de combustíveis desde o início da guerra da Ucrânia, em 2022.

As vendas de diesel russo para o mercado brasileiro foram 48 vezes maiores no primeiro quadrimestre deste ano, ante igual período do ano passado...

[Link]

O crescimento no mercado brasileiro foi qualquer coisa absolutamente brutal. 48 (!!) vezes maior.

O que estamos a assistir? A uma mudança radical no mundo. A Rússia está longe de estar isolada, e está a alargar as suas parcerias pelos quatro cantos do mundo. Tanto os EUA como a Europa não estão a conseguir parar esta "avalanche" de rebeldias.

A cimeira dos BRICS candidata-se para realmente ser um dos grandes acontecimentos do ano.

Até onde alguém estará disposto a ir para a sabotar...?



2017
Gás Russo A Caminho Da Península Ibérica

2022
Espanha Quadriplica Importação De Gás Russo

2023
Espanha Quase Duplica Importação De Gás Russo


sexta-feira, 9 de junho de 2023

Não É Preciso Uma Bola De Cristal ...

 


... Para Perceber Para Onde Estamos A Ir


A Europa está a caminho da sua destruição e cada vez há mais sinais disso. Alguns pontos a ter em conta:


Economia da zona euro entrou em recessão técnica

 

No primeiro trimestre do ano, o PIB da zona euro recuou 0,1% na variação em cadeia, a mesma taxa de contração que tinha sido registada nos últimos três meses de 2022...

Na União Europeia (UE), o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) também abrandou para 1,0% na variação homóloga (1,7% nos primeiros três meses de 2022) ...

[Link]

E não esquecer que a maior economia da Europa, aquela a quem sabotaram os gasodutos que lhe permitia acesso a energia barata, entrou também em recessão.

Economia alemã entra em recessão

Quebra do consumo não é compensada pelo investimento mais forte nem pela retoma industrial e arrasta maior economia europeia para um segundo trimestre consecutivo com quebra no PIB, desta vez de 0,3%...

[Link] 

Quanto aos gastos que os países têm feito para disfarçar a verdadeira factura energética aos europeus, eu referi isso no Europa Vai Ter 12 Porta-Aviões E 40 Submarinos De Propulsão Nuclear e no Portugal Vai Comprar 80 Leopard 2, apareceu uma decisão interessante vinda do BCE:


BCE desliga bazuca, exige fim imediato de apoios na energia e diz que não pode ajudar mais Portugal


As taxas de juro centrais (diretoras) da zona euro subiram novamente, mas agora num registo de abrandamento, anunciou ontem (quinta-feira, 4 de maio) o Banco Central Europeu (BCE). Para compensar, a maior bazuca de dinheiro barato (o programa APP, concebido para terminar com a crise do euro, em 2014), será desligada em julho.

Terminam os reinvestimentos que têm permitido conservar no balanço do BCE quantidades monumentais de dívida pública, por exemplo.

À medida que as obrigações vencem, elas retornam ao mercado secundário, o que as pode fazer desvalorizar e assim agravar os juros dos Estados.

O BCE também mostrou grande impaciência com os apoios dos governos no campo da energia e exigiu aos governos que "suprimam já" os apoios públicos nesta área, porque ameaçam "intensificar as pressões inflacionistas".

Sobre as famílias endividadas e mais apertadas pela subida das taxas de juro (as portuguesas foram diretamente referidas pela presidente do BCE) também houve uma palavra e, descodificando, vão ter de se aguentar, porque o combate contra a inflação está primeiro. As taxas de juro vão continuar a subir durante muito tempo, reiterou Christine Lagarde, a presidente do BCE...

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Ou seja, quando todos formos à bomba ver qual o preço a pagar por litro, é pensar que em breve teremos que somar o desconto que o governo vai retirar. Ou seja, é somar ao preço que vemos na bomba, uns 30 centimos por litro. 

Gasolina e Gasóleo com desconto de 30 e 28 cêntimos por litro em junho

Em junho manter-se-á o desconto no Imposto sobre os Produtos Petrolíferos (ISP) que esteve em vigor no mês anterior. A medida prossegue a política de apoio a todos os consumidores face à escala dos preços dos combustíveis espoletada pela guerra na Ucrânia e permite que a redução da carga fiscal passe a ser de 28 cêntimos por litro de gasóleo e de 30 cêntimos por litro de gasolina, considerando todas as medidas em vigor...

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Ora se actualmente o preço médio em Portugal para a gasolina 95 simples ronda os 1,73 €/litro, sem o apoio energético, irá passar para cima dos 2€/litro. E não vai faltar muito para estarmos nesta situação, com todas as implicações associadas.

A somar a isto temos também, a questão das taxas de juro:

Taxas Euribor sobem a todos os prazos


 A taxa Euribor a 12 meses, que atualmente é a mais utilizada em Portugal nos créditos à habitação com taxa variável, subiu hoje para 3,936%, mais 0,013 pontos do que na quarta-feira, depois de ter aumentado em 29 de maio para 3,982%, um novo máximo desde novembro de 2008.

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E claro, para ajudar à festa temos também a decisão da Arábia Saudita que vai reduzir a sua produção, que vai ajudar a manter os valores energéticos em valores "interessantes".

Todos estes sinais mostram o que vem aí. E há mais sinais. Sinais para onde a Europa se dirige.

Para a guerra.

Todos estes indicadores, mostram que a Europa não pode estar indefinidamente a apoiar a guerra, ou seja, a Rússia está a aguentar melhor o embate económico do que muita gente esperava. Que coisa estranha...

A Rússia está com a sua economia controlada, está a expandir e a criar novas rotas para com os países que não a vêem como um inimigo. E são muitos.

Além disso a Europa, terá que gastar ainda mais para começar a produzir mais armamento, coisa que tem estado a evitar, pois obriga a desviar ainda mais dinheiro para a guerra. E os cheques estão a ser passados a um ritmo avassalador.

Ora neste momento, já muita gente deve estar a desconfiar que a famosa e tão esperada contra-ofensiva ucraniana não vai obter os resultados que muita gente pensava que iria ter.

E têm a consciência do desgaste que os ucranianos estão a sentir, sabendo que a sua capacidade de resistência poderá estar a atingir o seu limite.

Isto significa que se aproxima o momento da decisão na Europa se quer avançar para a guerra com a Rússia. 

O problema é que isso significará que os EUA não vão poder participar e os membros que entrarem estarão fora da protecção do artigo V. Mas isso não impede de alguns países de pensarem que têm que fazer alguma coisa, afinal tal como eu suspeito, a Rússia vai falar com alguns deles e tenho como teoria que o primeiro será a Polónia, tal como tenho referido por aqui.


Vários países da NATO podem enviar soldados para a Ucrânia, alerta antigo líder da aliança

 

Vários países da NATO admitem a possibilidade de enviar soldados para solo ucraniano, caso os membros da Aliança Atlântica não sejam capazes de acordar garantias de segurança suficientes para Kiev durante a próxima cimeira, em Vilnius, avança o antigo secretário-geral da organização...

“Se a NATO não conseguir chegar a um acordo sobre um caminho claro para a Ucrânia, há uma possibilidade clara de que alguns países individualmente possam tomar medidas. Nós sabemos que a Polónia está bastante focada em dar a assistência necessária à Ucrânia. E não podemos excluir a possibilidade de que a Polónia queira tomar medidas ainda mais duras a nível nacional, seguido pelos países Bálticos, talvez isso inclua a possibilidade de enviar tropas para o terreno", admite Anders Rasmussen...

...Eu acredito que os polacos considerariam claramente a possibilidade de ir e reunir uma coligação de países dispostos a ajudar se a Ucrânia não obtiver nada em Vilnius. Não devemos subestimar os sentimentos polacos, eles sentem que, por demasiado tempo, a Europa não escutou os seus avisos acerca da verdadeira mentalidade russa”, alerta Rasmussen...

Rasmussen, que atualmente trabalha como conselheiro para o presidente Zelensky...

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Eu vou colocar aqui novamente o mapa que tenho colocado em alguns posts sobre a Polónia (O Ataque À Polónia V).


Ora, os polacos sabem muito bem, com quem os russos vão falar à seguir à Ucrânia. E estão a ver que a situação na Ucrânia não está a correr nada bem.

Suspeito que a partir do momento em que se perceba que a contra-ofensiva ucraniana não vá ter os resultados desejados e se comece a assistir a novos avanços russos, por esgotamento das capacidades ucranianas, vai haver pânico em algumas capitais europeias.

E políticos em pânico não tomam boas decisões, daquelas do género de mandar avançar as tropas para dentro da Ucrânia e sair da protecção do artigo V...

Espera-nos tempos muito perigosos.

A Europa caminha para a sua destruição e não temos gente com força suficiente para travar todas estas opções vindas de políticos que não estão a pensar no futuro do continente.

Afinal, eles representam interesses externos.