terça-feira, 26 de março de 2024

Guerra Na Europa: Contagem Decrescente

 


Bom, eu estava a pensar em colocar um post sobre a importância das eleições na Rússia, para o que viria aí para a Ucrânia e para a Europa.

Entretanto aconteceu este acto terrorista.

E suspeito que estamos de facto à beira duma guerra na Europa. Vamos por partes.

Relativamente às eleições, estas são as primeiras após o início deste conflito. Pelos resultados que Putin obteve, não obstante as várias tentativas de descredibilizar os mesmos, o facto inegável é que Putin sempre teve grande aprovação nas sondagens ao longo dos seus anos de presidência.

Nestas eleições confirma-se que as suas opções não tiveram um impacto negativo. Antes pelo o contrário. Parece que até a nível de afluência foi algo de muito significativo.

Ou seja, este escrutínio assenta principalmente na verificação do que a população russa sente sobre o conflito. E a população deu o apoio ao seu presidente.

A meu ver entramos numa nova fase. A Rússia e os russos percebem o caminho que vão trilhar.

Putin vai ser ainda mais assertivo no rumo que pretende dar à nação.

É mau sinal para a Ucrânia e mau sinal para a Europa. Para os EUA será um pouco diferente. Afinal são uma superpotência nuclear. E as superpotências não podem estar literalmente frente a frente.

O que isto significa?

Que se queremos mesmo a sério salvar o que resta da Ucrânia, vamos ter (nós os europeus) que arregaçar as mangas. E fora do chapéu da NATO.

A Ucrânia já mostra sinais de exaustão. E interrogo-me se vão conseguir resistir este ano à pressão crescente russa.

Esta situação parece estar a alarmar muitos políticos europeus, alguns procuram pelos vistos arranjar soluções criativas ao ponto de se querer enviar contingentes militares e continuar a dizer que não estamos em guerra com a Rússia.

Mas, uma coisa é dizer que vamos aumentar orçamentos, que vamos instaurar serviço militar obrigatório, que vamos produzir mais armamento, outra coisa é enviar tropas para a Ucrânia.

Uma coisa é o subterfúgio utilizado actualmente, os que vão são, digamos, voluntários, e não representam o seu país.

Agora esta curiosa solução de Macron de enviar tropas e o andar a conjurar um plano que envolva eles, os alemães e os polacos, pode ser um autêntico tiro no pé.

A partir do momento em que oficialmente entrem tropas estrangeiras, elas serão um alvo prioritário para a Rússia.

A Rússia poderá considerar que passa a estar em guerra com os países que meteram tropas no terreno.

E isto muda tudo.

O caso mais bicudo, é mesmo a França. A França, além de ser um membro com poder de veto no ONU é um país com armas nucleares.

Isto quererá dizer que ambos terão que contemplar um confronto nuclear. Não haverá hipótese.

Quanto aos outros, a coisa poderá evoluir mais lentamente. Diria que primeiro as embaixadas encerrariam, posteriormente deixariam de receber qualquer tipo de energia vindo da Rússia.

O passo seguinte, a meu ver, seria a destruição de todos os terminais GNL, dos países envolvidos.


Olhemos para o mapa, se a Rússia atacar os terminais existentes ou em construção na França, Alemanha e Polónia, teremos o caos instalado.

Vamos estar em guerra, os EUA não se vão chegar à frente, o artigo V não será invocado, porque estes países entraram por sua conta e risco num conflito com a Rússia.

Mas não haverá hipótese. A Europa será arrastada para a guerra. A energia terá que ser racionada, as economias terão que forçosamente ir para uma economia de guerra e depois teremos que ver quantos mais países irão ajudar os 3 países atacados.

Uma coisa é certa, não iremos ver tropas russas a meter um pé nestes países. Os ataques serão com mísseis a alvos específicos para acabar com o estilo de vida existente na Europa. A começar pela asfixia energética.

Será que é preciso mais?

Não. É imaginar o impacto disto nas nossas vidas. E depois teremos novamente equacionar se queremos atacar a Rússia.

Com o quê e como.

Em última instância, e havendo uma potência nuclear envolvida que possui mísseis intercontinentais (a França), teremos que considerar uma guerra nuclear na Europa.

Uma vez mais, não podemos esquecer que os EUA não podem ser arrastados para um conflito com a outra superpotência nuclear.

Mas a Europa pode.

E agora mais um pouco de pensamentos sombrios.

Vejamos o crescimento da população mundial.


Entre 2000 e 2024, a população mundial aumentou algo como 2 mil milhões de seres humanos.

Na Europa, contabiliza-se actualmente menos de 500 milhões de seres humanos.

Se a Europa quiser realmente ir para a frente com isto, podemos em última instância ser arrasados nuclearmente.

É o fim da espécie humana?

Não, sobrariam outros 7.500 mil milhões de seres humanos.

A vida continuaria.

Um pouco diferente.

Mas sem nós, europeus.

Para reflectir.

Enquanto cá estamos.






P.S. Mais pensamentos sombrios

O atentado terrorista.

Caso este esteja de alguma forma ligado à Ucrânia, significará apenas uma coisa. O regime ucraniano está a ficar desesperado e com cada vez menos opções.

Neste caso vou relembrar algo muito importante que existe no país.



As várias centras nucleares existentes na Ucrânia. Acesso a material nuclear. O desespero de um regime que ameaça colapsar.

Muita coisa errada que poderá acontecer nos próximos tempos.

Eu nunca pensei que teria tantos pensamentos sombrios para o futuro da Europa.

O nosso futuro está em risco.

segunda-feira, 11 de março de 2024

Mar Vermelho: Efeitos da Impotência Americana

 


Em ano de eleições as coisas não estão a correr nada bem para Biden. E a juntar a todos os problemas existentes vou adicionar mais uma consequência da incapacidade americana de manter uma rota marítima crucial a funcionar.

E que consequência é essa? A inquestionável vantagem da Rússia como elo de ligação entre a Europa e a Ásia. Aquilo que os EUA têm tentado impedir por todos os meios, a famosa ligação Lisboa - Vladivostok, em que o contexto tem sido manipulado por muita gente, incluindo a imprensa, dando a entender que é intenção russa conquistar Europa. A Rússia tem sim como objectivo ser o principal eixo de ligação entre a Ásia e a Europa e, claro, uma coisa destas colocaria os EUA na periferia do mundo, para um plano secundário, algo inadmissível e perigoso para uma superpotência que se quer manter no topo.

E como se está a demonstrar esta vantagem? Pela evidência. Não se consegue esconder a (dura) realidade.

E a realidade é esta:

Russia’s rail boosted by demand to move goods to Europe after Red Sea attacks

 


Demand to move goods from Asia to Europe by rail via Russia has soared since the start of the Red Sea crisis, according to logistics companies and rail operators, boosting the finances of the country’s state-owned rail monopoly.

Germany’s DHL said requests to transport goods on the Russian rail corridor had jumped about 40 per cent since container ships started diverting via a longer route in December. RailGate Europe said demand was up 25 to 35 per cent, while Netherlands-based Rail Bridge Cargo said cargo rail traffic via Russia this year was 31 per cent higher compared with the same time last year... 


...The diversions have pushed up door-to-door journey times between China and Northern Europe by seven to 10 days, to between 50 and 55 days. DHL said door-to-door journey times by rail through Russia between Chengdu in China and Duisburg in Germany were currently between 25 and 30 days.

“The requests have picked up since the beginning of the situation in the Red Sea by around 40 per cent,” DHL said of customer inquiries about rail. “The overwhelming amount is going through Russia.”..

Apesar das sanções, apesar da guerra, o tráfego ferroviário entre a Europa e China via Rússia aumenta consideravelmente.

O tempo é brutalmente inferior à opção de contornar o Continente Africano. Pelos valores indicados, podemos dizer que por cada viagem que contorne África, duas viagens podem ser feitas via Rússia.

Os políticos europeus até devem estar a engolir em seco, ao verem que a Europa dá ainda mais dinheiro à Rússia.

Mas a inflação e as taxas de juro na Europa...

Ou seja, o dinheiro que a Rússia tem estado a investir no sector ferroviário, mesmo após o início das hostilidades e debaixo de sanções faroónicas mostra o empenho e determinação do país em ser uma ligação entre a Europa e Ásia.

 

Russian Railways’ investment programme for 2023 to grow by one third to RUB 1.7 trillion

The investment programme of Russian Railways for 2023 exceeds 1.7 trillion roubles, which is almost a third more than in 2022, RF Transport Minister Vitaly Savelyev said at the Government meeting, the transcript of which is available on the official website of the Russian Government.

Under the plan for 2023, investment will be made in the following main areas: over 40 percent of the investment programme, or 440 billion roubles, will be channeled into projects under the Comprehensive Plan for the Modernisation and Expansion of the Trunk Infrastructure. Of this amount, 250 billion roubles will be allocated for the second stage of eastern lines. The 2023 target of 173 million tonnes in shipping capacity will be met in full. In 2023, 350 billion roubles will be spent on upgrading railway infrastructure.

[Link]



Russian Railways to invest record amount in 2024

Russian Railways (RZD) plans to invest in 2024 a record amount of about 400 billion rubles (4.4 billion U.S. dollars) of its own funds in the construction of the Eastern Polygon, which includes the Baikal-Amur Mainline (BAM) and the Trans-Siberian Railway (Transsib), RIA Novosti reported on Tuesday.

According to RZD Vice President Oleg Makarov, quoted by the news agency, it will be the highest investment for this project in its history. He said that the next year will hit a peak, with about 400 billion rubles allocated only for the Eastern Polygon, adding that the exact figure has yet to be approved.

The current program for the development of the Eastern Polygon, or the second stage, runs until 2024 and envisages increasing the capacity of BAM and Transsib to 180 million tons in 2024. The measures aim to ensure further growth of cargo flow to seaports.

In 2023, the RZD expects to increase the carrying capacity of the Eastern Polygon to 173 million tons. By the end of 2022, the carrying capacity increased to 158 million tons.

The third stage is being prepared for after 2025. Deputy Minister of Transport of Russia Valentin Ivanov said last year that capacity will increase to 197 million tons by 2027-2028 and 210 million tons by 2029-2030. He added that the Ministry of Transport is considering possibly increasing the Eastern Polygon's capacity to 255 million tons by 2031-2032.

[Link]

Ou seja, a Rússia está com dinheiro para projectos de grande envergadura. Anteriormente tinha falado no investimento da nova rota marítima Northern Sea Route e agora vemos que estão a investir em grande e em paralelo.

E andam a dizer aos europeus que o país está isolado, falido, que combate com pás e tanques dos anos 50.

Os europeus estao a ser enganados. Pelos nossos políticos!

Este investimento em ferrovia também se pode constatar pelo metro de Moscovo. Eles completaram uma linha circular que passou a ser a maior do mundo em 2023. É importante pensar na quantidade de dinheiro que estão a ser colocados em variadíssimos projectos apesar da situação em que se encontram.


Este vídeo mostra esta nova linha, que tem mais de 60 km's. Novas estações e ao que entendo também novas carruagens.

Recomendo dar uma pequena olhadela pelas estações. Há muito dinheiro investido. E tecnologia também.

E já que estou no tópico da ferrovia, aproveito para chamar a atenção à estação de Mariupol.

Em 2022:


Este mês:



Ou seja, a Rússia também está a construir fortemente na ferrovia desta zona. Nitidamente procuram uma alternativa à ponte, para ligar à Crimeia. E Mariupol é zona estratégica de ligação. Interessante.

Resumindo, enquanto uns estão atolados no Mar Vermelho sem soluções, outros é o que se vê.

O mundo já não é o que era.





Post anterior sobre o tema:

Mar Vermelho: A Estratégia Desastrosa Americana


sexta-feira, 1 de março de 2024

Mais Um Passo Para O Precipício V


Continuamos a bom ritmo para uma desgraça na Europa. Vou chamar a atenção para o novo armamento estratégico que está a sair da fornalha russa.

Eu no post Mais Um Passo Para O Precipício II falei dos mísseis KH-101 e dos bombardeiros TU-95.


Mísseis de grandes dimensões, onde o TU-95 consegue levar 8 nas suas asas, a uma velocidade a rondar os 900 Km/h.

Mas há uma outra plataforma, maior e mais rápida, capaz de transportar não 8 mas 12 mísseis deste calibre.

O TU-160, o maior e mais rápido bombardeiro do mundo transporta estes mísseis a velocidades a rondar os 2.200 Km/h .


E o que foi anunciado recentemente? 4 desdes mastodontes foram entregues à Força Aérea Russa.

Onde dois deles são plataformas que foram completamente modernizadas, e as outras duas são completamente novas.

E aqui temos vários pormenores importantes. A Rússia consegue efectuar modernizações importantes na sua aviação estratégica nuclear e, mais importante que isso, a Rússia não perdeu a capacidade de construir novos. Julgava-se perdida essa capacidade. Em 2024 ficou provado que não.




Putin faz uma visita aos novos bombardeiros.



E não se fica por aí. Vai voar num deles também.


A nível de curiosidade, parece que a modernização do cockpit é secreta. Ainda não vi uma foto/imagem que mostre a modernização. Estão sempre ocultas.

Voltemos ao míssil KH-101. Este míssil consegue percorrer uns 3000 Km o que lhe permite chegar a Lisboa, caso o TU-160 o lance a partir de espaço Bielorrusso.

Ou seja, podemos constatar que todo o continente europeu está ao alcance deste míssil. Um míssil com características stealth e velocidades subsonicas. Ou seja, lançado em direcção a Lisboa, talvez demore umas 5/6 horas a chegar a nós.

Mas até isto está em mudanças. A Rússia está a modernizar tudo. E, claro, prepara um míssil ainda mais letal.

Russia Arms ‘World’s Fastest’ Tu-160 Bomber With New 6500-Km Range Missile, Enthralls Kim Jong-un

Russia’s most advanced strategic bomber, the  Tupolev Tu-160 White Swan, has received the new 6,500-km range Kh-BD cruise missile that would significantly enhance the Air Force’s offensive strike capability. It also adds to the diversity of options and weapons before its commanders...

[Link]

O TU-160 tem um novo  míssil para ser usado. E este cobre pelos vistos uma distância de 6500 Km.

O que significa, que os mísseis podem ser lançados a partir de Moscovo em vez da Bielorrússia e atingir não Lisboa, mas a base das Lages. Nas calmas.

Os rumores é que este míssil é ou supersónico ou hipersónico. E apostaria no hipersónico, pois todas os novos mísseis que a Rússia tem apostado têm essas características.

Ou seja, se o míssil atingir velocidades a rondar por exemplo os 6000 km/h, Lisboa está a pouco mais de meia hora de distância. É imaginar as restantes capitais europeias, todas elas mais perto...



Mas um míssil que cobre uma distância destas, pode chegar a outros lados. Um TU-160 no meio da Rússia a voar a mais de 2200 Km/h, pode lançar os seus mísseis, ainda dentro do espaço aéreo russo em direcção aos EUA.


A Rússia, sem recorrer a mísseis intercontinentais consegue a partir do seu território lançar mísseis de cruzeiro que demoram pouco mais do que uma hora a chegar ao destino.

Estamos a falar de muitas novas capacidades e opções que a Rússia tem. É preciso ter a noção da seriedade da coisa.

Mas vamos focar apenas o teatro europeu que é o grande candidato a ser o próximo palco de algo que não se sabe muito bem o que será.

Focar o teatro europeu, estes 4 TU-160 saídos do forno e o novo míssil.

Vamos fazer umas contas.

Com apenas estes 4 bombardeiros supersónicos, onde cada um pode lançar 12 mísseis destes, temos uma salva de 48 mísseis hipersónicos. Ou seja, 48 alvos na Europa, qualquer parte da Europa, com um tempo máximo a rondar a meia hora. Estes aviões estão protegidos porque nem precisam de sair do espaço aéreo russo.

A Rússia tem uns 18 TU-160 no activo. Ou seja, podemos pensar em várias salvas de 4. Vamos pensar que 2 estão em manutenção e dispôem de 16 prontos a voar. Imaginemos 4 salvas de 4 Tu-160 com um intervalo de meia em meia hora.

Em 2 horas, estes aviões lançam 192 mísseis hipersónicos a partir da Rússia para toda a Europa e que demoram no máximo meia hora a chegar ao seu destino.

E enquanto a Rússia aumenta o seu potencial militar a cada mês que passa, a Europa definha economicamente e luta para fornecer munições à Ucrânia e nem isto sequer consegue.

Com estes políticos, só podemos ter uma certeza.

Estamos a caminhar para o precipício.

Os sinais estão todos aí.



Post anterior:

Mais Um Passo Para O Precipício IV



P.S. Todos para a Ucrânia


Americans Can Now Join Ukraine's National Guard, Zelensky Says

United States citizens and other foreign nationals can now join Ukraine's national guard, the country's president, Volodymyr Zelensky, has said, as Kyiv hopes to maintain its forces heading over the threshold of two years of war against Russia.

"Foreigners and stateless persons" can join the Ukrainian national guard as of Wednesday, the Ukrainian leader said in a statement published by the presidential office...

[Link]


"Macron foi longe demais. No dia em que a NATO entrar numa guerra com a Rússia todos os patamares são possíveis"

[Link]


Estamos a avançar para um ponto de não retorno. É preciso novas lideranças na Europa. Que coloquem um travão a tudo isto.