segunda-feira, 28 de novembro de 2022

Guerras Energéticas: O Preço Das Opções Europeias V

 



Vou fazer um balanço desta saga de posts, dado que já fez um ano desde que fiz o primeiro.

Começo por esta imagem acima, pois ela representa bem o que vem aí. E, mais interessante é que isto foi tirado em Dezembro do ano passado em Londres. É que antes da guerra começar em Fevereiro, não podemos esquecer que a Rússia já tinha começado a cortar as vendas de gás para a Europa. Esta sequência de posts começou a 4 de Outubro de 2021 (Guerras Energéticas: O Preço Das Opções Europeias). 

Eu nesse post chamei a atenção para várias coisas, destaco duas:

  • A Europa mudou a estratégia dos contratos de longo prazo com a Rússia.

    Esta nossa estratégia tinha como objectivo criar desestabilização no mercado energético com a Rússia, pensando sempre por este prima, ou seja, a Rússia precisa mais da Europa para vender gás, do que a Europa precisa da Rússia para comprar gás.

    Eu sempre afirmei o contrário, agora, está mais que confirmado que tinha razão.

    Com esta estratégia, a Rússia passou a vender apenas o que estava contratado e isso era (e é) completamente insuficiente para as necessidades europeias.

  • A Europa contou com o gás americano

    O que nunca contou, é que os americanos além de ser impossível vender nas quantidades que a Rússia fornecia, nunca eles iriam vender a preços russos.

    Neste momento, os EUA estão a encaixar avultadas somas pelo gás que os europeus compram. A preço quase de ouro. E claro, os políticos europeus queixam-se. Achavam que haveria preço de amigo. Erro crasso.

German minister criticizes U.S. over ‘astronomical’ natural gas prices

Germany’s economy minister accused the U.S. and other “friendly” gas supplier states of astronomical prices for their supplies, suggesting they were profiting from the fallout from the war in Ukraine.

“Some countries, including friendly ones, sometimes achieve astronomical prices [for their gas]. Of course, that brings with it problems that we have to talk about,” Economy Minister Robert Habeck told regional German paper NOZ in an interview published Wednesday which was translated by NBC News. He called for more solidarity from the U.S. when it comes to assisting its energy-pressed allies in Europe.

[Link]

E que a Europa se lembrou de fazer para contornar este "pequeno" problema do preço do gás...? A Ursula von der Leyen em Setembro arranjou a solução, meter um valor máximo para o gás russo, achando uma vez mais que a Rússia não tem outro remédio senão comer e calar.

Agora sabemos o valor que querem impôr como valor máximo. E uma vez mais somos a anedota para o resto do mundo.

O preço proposto para activar o mecanismo é de 275€ MWh. Deve haver gente a ser hospitalizada por não conseguir parar de rir. É mau demais. É mesmo mau demais.

Eu comecei esta sequência de posts com este gráfico:




A realidade do preço até início de 2021, rondava os 20€ MWh. Em Outubro de 2021, tinha atingido os 100€ MWh e tinha feito a seguinte afirmação:

...Estamos a falar de um aumento de 500% em menos de um ano...

Agora a Comissão Europeia saiu-se com este pérola: Se passar dos 275€ não pagamos. Portanto a Comissão Europeia só se mexe se o aumento do gás relativamente a início de 2021 que era de 20€, ultrapassar a fasquia dos 1375% !!

Vamos imaginar, se a factura do gás lá em casa em início de 2021 fosse de 100€/mês, a Comissão Europeia não se vai mexer até a factura chegar aos 1375€ ...!

E depois claro, esta é a reacção:

EU gas price cap proposal deemed ‘unworkable’ and ‘a joke’, even by advocates

...The European Commission unveiled its proposal to cap gas prices on Tuesday (22 November), attracting criticism from observers and government representatives who see it as “unworkable”, or even “a joke”...

... The proposal is “a joke”, says Simone Tagliapietra, a researcher at the economic think tank Bruegel. “We now have a ceiling that does not have a ceiling. A Brussels ceiling,” added Javier Blas, energy journalist at Bloomberg.

The measure “does not in any way protect against ‘too rapid an increase’ in gas prices in Europe”, said Nicolas Goldberg, senior manager for energy at the Colombus consulting firm, which is responsible for developing the European gas market...

... The current proposal is “a joke”, and a “definition of doing ‘something’ you don’t want to do”, adds Jude Kirton-Darling, Deputy General Secretary the union IndustriAll Europe...

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E qual a razão desde valor simplesmente anedótico?

A Europa não podia recuar depois de declarar que iria impôr um tecto máximo.

E porque a Europa tinha que recuar?

Por isto:

EU plans to cap Russian gas price as Putin issues warning

We must cut Russia’s revenues which Putin uses to finance this atrocious war in Ukraine,’ European Commission President Ursula von der Leyen told reporters on Wednesday.


Putin has warned that contracts could be discarded in the event of price caps.

“We will not supply anything at all if it contradicts our interests,” Putin said on Wednesday at an economic forum in Vladivostok.

We will not supply gas, oil, coal, heating oil – we will not supply anything,” Putin stated.

Despite the warnings, the EU is planning to press ahead with a price cap on Russian gas...

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O aviso de Putin, foi em Setembro, em Novembro a Europa sai-se com isto. Estamos em sérios sarilhos com estes políticos europeus que são uma cambada de inúteis arrogantes e que nos colocaram numa posição de extremo perigo.

Quanto a Scholz, que foi ao Qatar para ver se arranjava gás a preços decentes (perto de valores russos), teve azar.


Os árabes não são parvos. E percebem muito bem o que já está em jogo. E como tal:

Qatar assina o mais longo acordo de fornecimento de gás com a China

A QatarEnergy anunciou esta segunda-feira um acordo de abastecimento de gás natural com a China por 27 anos, chamando-lhe o "mais longo" alguma vez visto, num contrato que reforça os laços com a Ásia, enquanto a Europa luta por fontes alternativas de energia...

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A Europa está a descobrir e da forma mais penosa, que só os russos estiveram dispostos a vender energia a preços muito mais baixos ao longo dos anos, nem os nossos aliados americanos fazem tal coisa. Mas resolvemos pisar os calos a eles e agora vamos ter saudades, muitas saudades de quem nos fornecia energia barata.

Bem, pelo menos a Europa já reduziu e muito a importação de gás russo dando uma séria lição àqueles tipos...

European gas imports from Russia fall to 9%

Europe’s pipeline gas from Russia now only stands at 9% of imports, down from 40% at the start of the war.

European Commission President Ursula von der Leyen disclosed the sharp drop in an energy update statement today.

She said, ”Through diversification we have increased deliveries of LNG or pipeline gas from the US, Norway, Algeria, Azerbaijan, and others. For example Norway is now delivering more gas to the EU than Russia. And we are making massive investments in home-grown renewables through RePowerEU.”

[Link]

A mulher está felicíssima com as boas novas. 

Mas eu não abria já a garrafa de champanhe.

É que tiveram que ir buscar então 31% a outro lado. A preços incomportáveis a longo prazo. E se alguém pensa que é só aguentarmos um pouco com estes preços destrutivos para a economia europeia, que a Rússia irá ceder economicamente primeiro, é melhor verificar os dados que vem da própria Europa:



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Parece que as vendas russas estão muito mais eficientes. Apesar de terem reduzido as vendas para 9%, os russos estão a encaixar muito, mas muito mais por menos. Nos primeiros 9 meses deste ano a Europa passou a pagar quase mais 60 mil mihões de euros do que pagou no ano passado pelos mesmos 9 meses. E a Rússia ainda pode vender o restante gás à China.

E são os europeus os mais informados, escolarizados, etc, etc.

Para isto.

E se isto já é mau o suficiente, ainda assim a coisa não se fica por aqui.

EU Imports of Russian LNG Sore to Record Highs; Supply Mostly from Arctic


During the first nine months of 2022 Europe’s LNG imports from Russia increased by 50 percent. Some EU countries that previously did not import any or only small quantities of natural gas from Russia now receive regular shipments of LNG from the country.

While European imports of Russian pipeline gas have declined by more than 80 percent, shipments of Russian LNG (liquefied natural gas) to Europe have ballooned by 50 percent during the first 9 months of 2022 new data show.

The imports of Russian LNG are part of a sustained push by the EU to replace Russian pipeline gas with gas in the form of LNG... 

[Link]

O nosso futuro, o futuro da Europa, está seriamente comprometido. E agora começo a ter sérias dúvidas se vamos conseguir sair desta situação.

Estamos a assistir ao definhar da Europa e o nosso modo de vida vai acabar. E vai ser já dentro desta década.


P.S. Estamos a escassos dias da entrada em vigor do embargo do petróleo russo. Curiosamente os EUA deixam cair Guaidó e permitem à Venezuela que uma companhia americana comece de novo a extrair petróleo dali:

U.S. gives Chevron go ahead to pump oil in Venezuela again

The Treasury Department on Saturday said it would allow Chevron to resume pumping oil from Venezuela oil fields.

Why it matters: The license, granted by the Treasury Department, would allow the California-based oil company to pump Venezuelan oil for the first time in years in joint ventures with Venezuela's national oil company Petróleos de Venezuela (PdVSA.)

It also signals an opening for other oil companies to resume their business in the South American country...

[Link]

Coincidências. De certeza que não está de maneira nenhuma relacionada com o embargo que está para começar daqui a uns dias...

Os americanos safam-se, nós...

sábado, 19 de novembro de 2022

Guerras Energéticas: A Bomba Relógio Russa VII

 


Bom, já sairam os dados de Outubro. E uma vez mais, não desiludem.

Vamos ao gráfico do mês passado:


Os dados de Outubro, serão os primeiros que vão começar a dar sinais do impacto da sabotagem dos Nord Stream, os sinais apenas. Mais a sério será lá para a frente. Ainda vamos ter saudades da ligeira inflação que estamos a assistir agora...

Olhemos para os novos dados. Eu fiz alguns ajustes ao gráfico, considerando que acima dos 10% (como se abaixo disto fosse uma coisa boa), os países entrariam no amarelo. Penso que ajuda a ver o belo panorama onde estes políticos nos enfiaram.


Vou continuar também a assinalar o nosso país, para vermos por andamos. E já andamos no amarelo...

No mês passado tinha colocado alguns pontos de destaque, vou colocar aqui para facilitar a comparação:

Para os dados de Setembro temos o seguinte:

    • 4 países no vermelho em vez de 3  (acima dos 20%)
    • Valor da UE passa de 10.1% para 10.9% já a bater na porta dos 11%
    • Portugal passa de 9.3% para 9.8% prestes a entrar na casa dos 2 dígitos.
    • Alemanha tem um grande salto de 8,8% para 10,9%, comparativamente com Portugal, estava abaixo de nós e passou disparado para cima.

Para os dados de Outubro temos o seguinte:
  • 4 países no vermelho
  • Valor da UE passa claramente os 11% (11,5%) e já lança o olho para os 12%
  • Portugal entra claramente na casa dos 2 dígitos (10.6%) e já aponta para os 11%
  • A Alemanha caminha para os 12% e suspeito que irá acelerar este subida, vamos vr nos próximos meses, se confirma esta minha teoria (potência industrial asfixiada por falta de energia)
O panorama melhora a cada mês que passa e estamos longe, muito longe de ver a luz ao fim do túnel. Estou a recordar-me quando no início desta guerra, troquei ideias com muita gente que quando chegássemos ao Inverno, estariamos numa situação muito séria.

As pessoas com quem falava, duvidavam sequer que a Rússia tivesse capacidade para estar um mês aos tiros, quanto mais chegar ao Inverno... e isto claro, também era reflectido na nossa imprensa. Imagino quantos começam a olhar para trás e começam a interrogar-se...

E já que estamos numa de olhar para trás, porque não vamos espreitar como era a inflação em Outubro de 2021 (exactamente um ano atrás?)




Bons tempos...

Nem tenho o trabalho de pintar países a vermelho, nem a amarelo...

E Portugal? quase no início da tabela. Com 1.8%. Estamos agora com 10.6%, o que isto significa? um aumento de 588% (!!!), num espaço de 1 ano!

E qual a expectativa para os próximos meses? É que ainda não vimos nada!

Apesar de não estar reflectido neste gráfico, os ingleses estão completamente solidários com os europeus, e a sua taxa entrou nos 11.1% que, diga-se de passagem, é a maior valor desde...

UK inflation hits 41-year high of 11.1% as food and energy prices continue to soar

U.K. inflation jumped to a 41-year high of 11.1% in October, exceeding expectations as food, transport and energy prices continued to squeeze households and businesses.

Despite the introduction of the government’s Energy Price Guarantee program, the Office for National Statistics said the largest upward contributions came from electricity, gas and other fuels...

...Domestic gas prices have seen the largest increase, with prices in October 2022 being more than double the price a year earlier.”...

...The country faces its longest recession on record, according to the Bank of England, while the government and central bank are attempting to coordinate the tightening of fiscal and monetary policy in order to rein in inflation...

... The Bank raised interest rates by 75 basis points earlier this month, its largest hike in 33 years, to take the Bank Rate to 3% ...


Bem, pelo menos serve-nos de consolação que se nós estamos assim, os russos então..., sem mísseis, sem chips, sem combustível, sem roupa de inverno para os seus soldados...

Vamos espreitar:


Palavras para quê...?

Neste momento a diferença entre a média da UE (11.5%, a subir) e a Rússia (12.6%, a descer) já é de apenas 1.1% .

Isto vai ser curioso como os nossos experts vão falar da coisa na televisão quando estas taxas se cruzarem em direcções diferentes...

E a Rússia, ao assistir a Europa a cozer em lume brando, está com pressa em acabar com a guerra...? Quando ainda estão longe dos seus objectivos?



P.S E a aposta no nuclear?

Ainda há pouco tempo falei sobre isto, Rússia: Uma Questão Nuclear, aconselho a rever.

Os franceses estão a mostrar a toda a gente que deviam ter apostado no nuclear que assim não estavam dependentes de energia barata russa...

As Europe Quits Russian Gas, Half of France’s Nuclear Plants Are Off-Line

As Europe braces for a winter without Russian gas, France is moving fast to repair a series of problems plaguing its atomic fleet. A record 26 of its 56 reactors are off-line for maintenance or repairs after the worrisome discovery of cracks and corrosion in some pipes used to cool reactor cores...

... The crisis is upending the role that France has long played as Europe’s biggest producer of nuclear energy, raising questions about how much its nuclear power arsenal will be able to help bridge the continent’s looming crunch...

... The company, which is nearly €45 billion in debt, has tumbled further into financial difficulty and announced that its 2022 profit would drop by €29 billion because of the problems with its reactors ...


É assim que está o maior país europeu na produção de energia nuclear. Em pleno Inverno e com uma guerra com a Rússia.

Mas, inacreditavelmente, ainda há melhor:

Opening speech by Commissioner Simson at the 15th European Nuclear Energy Forum

...We still find ourselves in a situation where we have a critical dependence on Russia for nuclear fuel supply to Russian designed reactors operated in five of our Member States. And many other Member States rely on Russia for services – conversion and enrichment...

... Today the average age of the EU nuclear fleet is greater than 30 years. And our analysis shows that without immediate investment, around 90% of existing reactors would be shut down around the time when we need them most – in 2030 ...

... Maintain the same generation capacity as today, by replacing retiring units with new reactors, will need about 350 – 450 billion euro of investment. Another 45-50 billion will be invested in long-term operation of existing reactors ...


Isto é inacreditável, absolutamente inacreditável. A nossa situação é bem mais grave do que suspeitava.

90% dos reactores nucleares existentes vão ter que ser desligados num prazo de 7 anos (isto não é nada num contexto nuclear) se não começarmos já a preparar as coisas. E está estimado algo como 400 mil milhões de euros, só para manter a mesma capacidade que temos hoje.

O que isto significa? Adeus à nossa boa qualidade de vida que temos hoje e isto será o melhor que podemos esperar...




P.S.2 E já que estou numa de falar de nuclear...




O novo submarino nuclear da classe BOREI-II, finalizou os testes e quase de certeza vai ser entregue à marinha agora em Dezembro, como prenda de Natal. Este é o 2º, o primeiro foi entregue em Janeiro deste ano. O que para submarinos desta dimensão, esta velocidade de construção e entrega deve dar que pensar a muita gente...

16 Mísseis Bulava (só me vem à recordação as discussões que tive com o José Milhazes, quando ele dizia que o míssil era um fracasso e que representava a degradação da Rússia...), cada míssil leva 6 ogivas, ou seja, 96 ogivas nucleares neste submarino.

Para recordar, a Rússia tem apenas um tipo de submarino (e a diesel) a ser usado na Ucrânia.


Que está aqui assinalado e que falei no post (Mais Um Passo Para O Precipício). O submarino que falo agora é o primeiro da imagem. E estão mais em construção.

Como venho a avisar, este tipo de submarinos não estão destinados para guerras como a da Ucrânia. Este tipo de submarinos é para combater oponentes tipo NATO. A Rússia está a levar estas coisas muito a sério e nós continuamos sem perceber isto.

Ou seja, enquanto a Europa luta para manter a sua energia nuclear a funcionar, a Rússia dispoê-se a ajudar e pode entregar da forma que preferirmos para mantermos as nossas casas aquecidas.

Estava a brincar. Toda a gente sabe que é um disparate. A Rússia não tem mísseis, estes submarinos vão para o mar vazios.

A Rússia só está a trabalhar para aquecer.

quarta-feira, 16 de novembro de 2022

O Ataque À Polónia IV

 


Este foi o mapa (agora com pequenas actualizações) que usei no primeiro post sobre este tema em Janeiro deste ano (O Ataque À Polónia). A guerra ainda não tinha começado. Vou colocar os primeiros parágrafos desse post:

"Penso que estamos a assistir ao início do ataque à Polónia. Com a conclusão do Nord Stream 2 ficou assegurado o abastecimento à Alemanha. O pipeline aguarda certificação alemã, mas este já está cheio de gás e pronto a funcionar. Falta agora a questão política.

O Pipeline Yamal, o que atravessa a Polónia, deixou de passar gás. Há 12 dias que não há gás vindo da Rússia. Curiosamente, o fluxo está invertido e está a ser usado para retirar gás das reservas alemãs e abastecer a Polónia e a Ucrânia..."

O que tinhamos nessa altura? um dos pipelines, o que passava pela Polónia, tinha deixado de passar gás russo.

Agora, mais um deixou de passar e garantidamente não poderá passar, pois foi alvo de sabotagem. Os Nord Stream. Os tais que tinha indicado que com a sua realização, passava a existir condições para endereçar a base de mísseis americana em solo polaco. Marquei os pipelines a amarelo para se perceber o impacto. Dos 4 acessos principais para transporte de gás, restam 2. E um destes, atravessa a Ucrânia e que ainda continua activo a enviar gás russo para a Europa.

Na minha opinião, alguém tomou a decisão de que sabotando o Nord Stream, a Rússia voltaria à estava zero, onde tinha como objectivo garantir sempre à Alemanha energia, quando esta assim o decidisse.

Considero um erro. A questão é que a Rússia tomou a decisão de ir para a frente, começando primeiro pela questão ucraniana. Mas, não podemos esquecer que o tema PRINCIPAL do ultimato russo são as bases americanas na Polónia e Roménia e o recuo da NATO.

A Rússia esperou alguns anos para garantir o abastecimento energético a alguns países à custa de não tratar da situação ucraniana (acordo Minsk era para estar resolvido em 2015), sacrificando ucranianos que se consideram russos.

Agora, o problema energético é com a Europa, somos todos crescidos, temos que nos fazer à vida.

Dito isto, parece-me temos um sério aviso sobre o que nos espera em breve. Vamos à questão do ataque de ontem. Pelo o que indicam, foi o maior ataque de mísseis num só dia desde que esta guerra começou, fala-se numa centena de mísseis. Muitos deles eram "Range Rovers", que foi a comparação que usei no post (Mais Um Passo Para O Precipício II), lançados por TU-95.

TU-95 com carga máxima de KH-101 (8 mísseis)

Acho que era uma boa altura, os jornalistas começarem a confrontar os "experts" que vão para as televisões afirmar que a Rússia está com falta de mísseis desde Março e estando em Novembro como é que ainda conseguem fazer uma coisa destas.

Seja como for, a realidade é que o ataque foi um sucesso. A Ucrânia está com sérios problemas energéticos e movimentar uma máquina de guerra sem energia é algo, diria, condenado ao fracasso.

E além disto, além de ter estragado o encontro G20 que acabou por ser abafado por isto, temos o míssil que cai na Polónia.

Este míssil diria que foi um verdadeiro bónus para os objectivos da Rússia.

Eu já tinha chamado a atenção que tenho como teoria que a Rússia está a ameaçar discretamente os países que albergam as bases de mísseis americanas.


E se olharmos para a zona onde caiu o míssil, ele está num local interessante a meu ver.


Esta imagem (agora actualizada para marcar a zona aproximada de impacto do míssil) tinha colocado no post (O Ataque À Polónia III), com a teoria que houve um disparo de aviso, com duplo significado. E novamente suspeito que o míssil S-300 que caiu agora na Polónia ia em perseguição de um míssil com uma rota semelhante. A Rússia está a avisar o que virá a seguir à Ucrânia. O ultimato russo ou é resolvido pela negociação, ou será resolvido pela força.

Esta questão do míssil permitiu ver a respectiva reacção da Polónia, da NATO, dos americanos. A Polónia chegou a falar em invocar o artigo 5º, depois passou a falar em invocar o artigo 4º e agora parece que já não pretende invocar coisa nenhuma. Mas viu-se a confusão instalada sobre como reagir. Deu para perceber que a população polaca está cada vez mais apreensiva sobre se a guerra vai lá chegar.

O facto é que estamos todos os dias a ouvir a nossa imprensa, os nossos políticos, os nossos experts a dizer que a Rússia está com problemas crescentes a cada dia que passa. Mas a realidade parece não bater certo com o que se ouve todos os dias.
  • A NATO não se mete
  • Ninguém fecha o espaço aéreo
  • Nenhum país europeu se atreve a meter os seus exércitos na Ucrânia
  • Onde estão, ou, o que estão a fazer os sistemas de defesa da NATO prometidos?
Estamos a meio de Novembro, as temperaturas estão a baixar, aproxima-se a data para o embargo ao petróleo russo e aproxima-se a data do ultimato.

As coisas vão começar a "aquecer" e se nada for negociado, e não estou a falar da Ucrânia, que para mim é apenas uma questão de tempo, até a Rússia ter o que quer dali, em breve o conflito vai alastrar-se para a Europa.

E para o conflito com a Europa será que a Rússia precisa se esforçar muito? É ver o que a Polónia faz. Este é o país que anunciou que se libertou da energia russa:

Druzhba Oil Flows Resume as Markets See Relief: Energy Latest

Oil flows on the Druzhba pipeline from Russia to Eastern Europe resumed following repairs on electrical infrastructure damaged in Moscow’s latest assault on Ukraine, according to officials from Hungary and Slovakia. 

Druzhba’s Dependents

Germany’s eastern refineries depend on crude from Russia


Poland Seeks Oil for ‘23: Russia Pipeline Operator 

Poland is asking to receive crude oil from Russia next year despite its pledge to stop doing so by the end of 2022, according to Transneft PJSC.

“There are requests from consumers in Poland” for oil flows for 2023 via the Druzhba pipeline through Belarus, Sergey Andronov, vice president at Transneft, Russia’s oil-pipeline operator, told Bloomberg on Wednesday...


Até hoje, a Rússia ainda não parou de vender energia a países europeus. É apenas a Europa que está a colocar sanções e a tentar não usar energia russa.

Que como se vê, até a Polónia não larga a energia barata.

É nitido por onde vai começar a Rússia fazer pressão aos europeus antes de se chatear a sério.

E as coisas vão começar a ficar sérias.




P.S. Cada vez surgem mais indicações que a NATO está a ter problemas em fornecer munições, pois não conseguem produzir para um contexto de guerra.

US plans to buy 100,000 rounds of artillery ammo from South Korea for Ukraine

... “There’s no question that it’s put pressure on our own stockpiles,” said Colin Kahl, Under Secretary of Defense for Policy, speaking to reporters at a virtual meeting of George Washington University’s Project for Media and National Security. “It’s put pressure on our own industrial base. That’s been true of our allies.” ...

... The challenge has been the supply of ammunition as the war nears its 9-month mark. ...

... “[The war] has revealed that we have work to do to make our defense industrial base more nimble, more responsive, more resilient,” Kahl said.

... The US has sent nearly one million rounds of 155mm ammo to Ukraine in recent months. Last week, a defense official said Ukraine is going through 4,000 to 7,000 rounds of artillery ammunition per day, while Russia is firing approximately 20,000 rounds....


Portanto, vamos lá a fazer as contas. 100.000 munições à média de 4000 por dia (a poupar), dá para os ucranianos aí uns 25 dias.

Os russos, que estão na ofensiva, vamos colocar as 20.000/dia. Eles gastam 100.000 em 5 dias. Alguém acha que eles andam a pedinchar munições a alguém? Que começavam uma guerra sem fazer as contas?

E nós? nós fizemos as contas quando mandamos o ultimato russo à fava...?

domingo, 13 de novembro de 2022

Putin A Erdogan: "Não Há Gelados Grátis"

 

Muita coisa mudou deste o abate de um avião russo pela Turquia, na guerra da Síria em 2015. Ou seja, desde que um membro da NATO abateu um caça russo.

As coisas tinham acabado de ficar muito perigosas e foi o motivo para o envio de SU-35's e os temíveis S-400, para a Síria.

A situação mudou radicalmente desde essa altura. Ao ponto de avançar para a compra do sistema S-400 e de Putin lhe mostrar o caça russo de 5ª geração.

SU-57




Devido a esta situação que irritou profundamente os EUA, estes retiraram a Turquia do programa do F-35. O país estava fortemente empenhado para receber este novo avião, mas os EUA exigiram que abandonassem o S-400, coisa que recusaram fazer.

Também a venda de mais F-16 ficou ameaçada e a Turquia ameaçou avançar para os SU-35 ou mesmo o SU-57.

SU-35

Mas as ligações com a Rússia não se ficam por aqui.

Não é o Ocidente que está a construir centrais nucleares na Turquia. É a Rússia.

Não é o Ocidente que está a fornecer gás com valores interessantes. É a Rússia.

Não foi o Ocidente que construiu um gasoduto para alimentar a Turquia, foi a Rússia.


O Blue Stream é dedicado ao país, o TurkStream pretende alimentar a Europa via Turquia, podendo ele também fornecer os turcos.

A Turquia tem estado com problemas económicos crescentes. A sua moeda tem perdido valor em relação ao dólar.


A inflação... explodiu.


Há mais de duas décadas que os turcos não viam nada assim. A Europa, como tenho vindo a apontar, anda a rondar os 10%. Valores desta envergadura são (para já...) impensáveis para os europeus.

E quem está a ser cada vez mais importante para a Turquia? Para ajudar nestes momentos económicos cada vez mais complicados?

Não deve ser difícil de descobrir. Vou dar umas dicas:

Turkey has turned into a trade platform between Russia and the West

As the only NATO member state not to apply sanctions against Russia, Turkey has seen its trade with Moscow increase by 87% in one year

Faced with sanctions implemented by the United States and the European Union (EU), since March Russia has turned to alternative import routes, converting Turkey into one of its main transit hubs.

Cargoes from different countries around the world are unloaded in the ports of Mersin, Istanbul and Izmir, before being transferred into containers owned by local companies or subcontractors, which then ship them to the Black Sea port of Novorossiysk in Russia or transport them by truck through Georgia. A similar strategy is used for road transport in bonded areas. But in times of war and embargoes, this re-export of goods by Turkey looks like a sleight of hand performed by a NATO stalwart under the nose of the West. It's the hole in the wall of sanctions.

'A win-win'
According to a study by the Central Bank of Finland, between February and July Russian imports contracted by 38%, EU imports by 45% and American ones by 87%. Over the same period, Turkey increased its exports of goods and products to Russia by 42%. In August alone, the increase reached 87% compared to the same period in 2021, according to data from the Turkish Exporters' Assembly (TIM)...

Que mais faz a Rússia? Um país que está quase falido, com uma guerra às costas, debaixo de sanções, e com reservas monetárias retidas pelo o Ocidente?

Empresta dinheiro...

Russian state firm signs $9.1bn loan deal to fund nuclear plant in Turkey

A Russian state-owned company signed a $9.1bn loan deal with Gazprombank in August to fund the construction and development of Turkey's Akkuyu nuclear power plant, according to the official documents. 

In a public announcement on Wednesday, Rosatom Corp published the deal signed on 3 August, which opens a line of credit to finance Akkuyu Nuclear JSC, its subsidiary in Turkey.

The official documents suggest the money would be used for the following:

$7bn for construction and operation of a nuclear power plant at the Akkuyu site, including four power units with VVER-1200 reactors
$1.6bn for financing the acquisition and development of a uranium deposit in Kazakhstan
$500m for financing expenses for the acquisition and development of lithium assets...


De facto as dificuldades financeiras da Rússia são qualquer coisa...

A Rússia sózinha, empresta à Turquia 50% do valor que a União Europeia se propõe agora (para 2023) emprestar à Ucrânia, 18 mil milhões e nem sabemos se vai ser aprovado.

Mais, a Rússia empresta 9 mil milhões à Turquia, a mesma soma que a Europa não conseguiu fornecer (e se comprometeu) para ajudar a Ucrânia agora em 2022.


Ukraine war: EU pledges €18 billion to cover Kyiv's budget gap, despite previous aid stuck in limbo

In a bid to help Ukraine cover the widening gap in its government budget, the European Commission has unveiled a new package of €18 billion in financial assistance to be disbursed over the course of 2023.

The envelope will attempt to make the money more predictable and reliable, following the EU's publicised failure to deliver the €9 billion that were earmarked for 2022.

That original package, announced back in May, remains stuck in negotiations between member states, despite repeated pleas from Kyiv, including by President Volodomyr Zelenskyy himself.

So far, only €3 billion have been sent to Kyiv, with a further €2.5 billion expected to be released by the end of the month and another €0.5 billion scheduled for next month...

[Link] 

Até no apoio monetário à Ucrânia, somos uma vergonha.

A Rússia, esse pobre país, sem dinheiro para dar roupa aos seus soldados subnutridos, sem chips, sem mísseis, isolado internacionalmente, sem acesso às suas reservas financeiras, corrida do sistema bancário, passa um cheque de 9 mil milhões aos turcos, coisa que a Europa com um PIB estratosférico é incapaz de passar a um país que está a ser atacado e que chama de aliado. É esta imagem que todos lá fora vêem dos europeus.

E a ajuda russa fica por aqui?

Não.

Para que a Turquia, não gaste as suas reservas de moedas fortes, esta vai poder pagar em rublos o gás que adquire.

Mais, a Rússia sugeriu que a Turquia se transforme num ponto estratégico para exportação de gás russo.


‘No waiting’: Turkey, Russia to act on Putin’s gas hub offer

Turkish President Recep Tayyip Erdogan said Friday that Turkey and Russia have instructed their respective energy authorities to immediately begin technical work on a Russian proposal that would turn Turkey into a gas hub for Europe.

Russian President Vladimir Putin has floated the idea of exporting more gas through the TurkStream gas pipeline running beneath the Black Sea to Turkey after gas deliveries to Germany through the Baltic Sea’s Nord Stream pipeline were halted.

“Together with Mr. Putin, we have instructed our Ministry of Energy and Natural Resources and the relevant institution on the Russian side to work together,” Erdogan was quoted as saying. “They will conduct this study. Wherever the most appropriate place is, we will hopefully establish this distribution center there.

[Link]

Ou seja, a Rússia está a mostrar que pode ser um aliado, que pode vender armas de topo, fornecer energia, construir centrais nucleares e até emprestar dinheiro.

Claro que a meu ver há algo mais neste empenho para com a Turquia. Não há gelados grátis.

A Rússia está a criar sérias rachas na coesão da NATO.

Se a Turquia perdesse o interesse por esta organização...

Estaria atingido um dos grandes objectivos estratégicos da Rússia e mostra também a capacidade de manobra deste país, para quem pense que está atolado na Ucrânia...

Para reflectir e acompanhar.

sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Mariupol e Ponte Da Crimeia

 


Este post é mais um update sobre o que anda a fazer a Rússia nos novos territórios e a sua capacidade de resposta, numa altura em que está em guerra com a Ucrânia e Ocidente.

Considero este tipo de informação bastante importante, mas que não é fácil de encontrá-la e pensar então em vê-la referida em algum canal ocidental...

Enfim, é a democracia que temos.

Nestes novos vídeos, dá para perceber que a construção/reparação é maior do que me pareceu em videos anteriores.




Aqui temos também a inauguração de serviços de emergência. 









Parece-me que a Rússia está a levar bastante a sério sobre o que fazer nos novos territórios. Isto exige, recursos, dinheiro, tempo e não está a fazê-lo depois da guerra acabar. A reconstrução/reparação está em simultâneo com a guerra em curso.

E na ponte da Crimeia? o que andam a fazer depois que foi alvo de sabotagem? Esta ponte, é a maior ponte da Europa, tendo destronado a nossa Vasco da Gama desse posto.

A nível de curiosidade a Ponte da Vasco da Gama demorou sensivelmente 3 anos a ser construida.

A Ponte da Crimeia demorou mais ou menos 2 anos. É maior, e tem ferrovia. Ainda me lembro bem de quando começou de que muita gente duvidava da capacidade de construção da Rússia para fazer uma obra destas.

E agora muita gente duvida da capacidade de reparação, pois o país está debaixo de sanções, numa guerra, reservas monetárias congeladas, etc, etc.

A ponte a 8 de Outubro sofreu a explosão que todos sabemos. Um mês depois, vemos uma coisa destas:






Tenho pena de não ter encontrado nenhum artigo, analisado por quem sabe destas coisas e avaliasse o que a Rússia está a conseguir fazer um mês depois de uma explosão daquelas.

Porque parece-me que a Rússia está a demonstrar uma supreendente capacidade de resposta e de engenharia para reparar a ponte.

Pretendo ir acompanhando estas situações, pois para mim é informação muito pertinente e equaciono em ir colocando aqui no blogue.



P.S. Como já tenho indicado, cada vez "ouço" mais indícios de que as fábricas estão a funcionar 24/7 com 3 turnos e muitas estão a acelerar a produção.

Ficam aqui algumas fotos para reflexão.








Sukhois


Mísseis S-400


Tu-160 maior bombardeiro do mundo


SU-34




A procissão ainda vai no adro...