segunda-feira, 23 de outubro de 2023

América: O Declínio IV

 


Vou falar mais um pouco sobre este tema, dado que foi enviado um aviso interessante aos EUA pela Rússia.

As novas capacidades militares russas, principalmente no domínio das velocidades hipersónicas, coloca em xeque as movimentações americanas em vários pontos do globo. O anúncio feito directamente por Putin sobre a colocação de Mig-31s em patrulha no Mar Negro é uma ameaça de grande dimensão à movimentação dos porta-aviões americanos que é algo de impacto considerável, dado que estes navios são essenciais para uma projecção de força e influência a nível planetário.


Mig-31K - Armado com 1 míssil hipersónico Kinzhal


Russian MiG-31 Fighter Jets begin Patrols over the Black Sea

Russian MiG-31K strike fighters armed with Kinzhal hypersonic missiles began regularly patrolling the Black Sea. The news was announced by President Vladimir Putin at a briefing in Beijing.

"On my order, the military and space forces of Russia will start patrolling the airspace above the Black Sea on a permanent basis in a neutral zone. Our MiG-31 aircraft are armed with Kinzhal missiles. These missiles have a range of over a thousand kilometers and reach a speed 9 times that of the sound," he said.

Then, when asked by journalists, Putin specified that "this is not a threat" and that "we will carry out visual control, control with the help of weapons, of what is happening."...

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Este anúncio vem depois dos EUA terem indicado que iriam fazer deslocar duas das suas frotas lideradas por porta-aviões de propulsão nuclear para o Médio Oriente num acto de demonstração de força e de apoio a Israel.

O que a Rússia pretende demonstrar é que essas frotas não têm livre circulação naquela zona. E que a base aérea e naval russa que estão na Síria, não estão isoladas. Elas estão a escassos minutos para uma necessidade de protecção. Ou seja, tanto os EUA como a Rússia estão a demonstrar que possuem capacidade de projecção de forças numa zona quente como é o Médio Oriente.

Já sabemos como os EUA projectam força, com os seus porta-aviões e bases avançadas, vamos espreitar como a Rússia o está a fazer e o que é que isso tem a haver com o anúncio de patrulhas de Mig-31s no Mar Negro.

O Mig-31 é actualmente o avião de combate mais rápido do mundo podendo atingir os 3000 km/h. Estes aviões estão actualmente a serem adaptados para poder transportar o míssil hipersónico Kinzhal, não é do domínio público quantos aviões já estão preparados para o transportar.

O míssil Kinzhal consegue percorrer distâncias que vai desde os 1000 km a 2000 km. A verdadeira distância não se sabe, vou assumir na explicação que se segue, capacidade de chegar aos 1500 km de distância.

Quais as implicações de uma distância destas a partir de um avião no Mar Negro? Vamos ver isto aplicado no mapa.

Este é mais ou menos o raio de acção para 1500 km. Podemos rapidamente perceber que as frotas estacionadas nesta zona em apoio a Israel estão a uma distância a rondar os 1000 km. Um míssil Kinzhal estima-se que terá uma velocidade de Mach 9, algo como 10.000 Km/h

E aqui começam os problemas. Uma frota estacionada perto de Israel, está ser ameaçada por patrulhas de Migs-31 no Mar Negro. Num caso extremo em que a situação resvale para desenvolvimento catastrófico, estes porta-aviões estão à distância de 6 minutos de um míssil hipersónico lançado do Mar Negro.

Nunca existiu tal capacidade. Nunca existiu tal ameaça a porta-aviões americanos. E a situação não fica por aqui. Estes porta-aviões estão à distância de 6 minutos a partir de território russo.


Mas temos mais implicações. Um porta-aviões no Golfo Pérsico está a 7 minutos de um ataque a partir de território russo.


Um porta-aviões para chegar ao Golfo Pérsico, precisa de atravessar o Estreito de Ormuz, entrando pelo Golfo de Oman. Fica a uma distãncia de 9 minutos de um Mig-31 a patrulhar o Mar Cáspio.

Se considerarmos que estes Migs-31, já estiveram na Síria,em 2021,

Russia’s MiG-31 Fighter Jet Equipped With Kinzhal Hypersonic Missiles Deployed In Syria

Two MiG-31 K fighter jets capable of carrying Kinzhal hypersonic missiles have been deployed in the Khmeimim airbase in Syria for the first time as part of the preparation for upcoming joint military exercises...

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Significa que um porta-aviões que se aproxime pelo Mar Vermelho, está também ele na mira a escassos minutos de distância.

A adicionarmos a isto as recentes declarações de colocação de Migs-31, em bases na Bielorrússia, ficamos com um panorama complicado usando unicamente este tipo de avião e este tipo de míssil.


Os porta-aviões têm um raio de acção de combate a rondar os 500 km, ou seja, não têm nada que possa impedir o lançamento dos mísseis e também não possuem capacidade de intercepção de mísseis hipersónicos.

Um autêntico pesadelo, os EUA nunca se viram numa situação destas. As frotas americanas não estão seguras no Mediterrâneo, Mar Vermelho e Golfo do Pérsico. As intervenções no Médio Oriente ficaram extremamente complexas e perigosas.

E estou apenas a focar o potencial nesta parte do globo. As implicações são vastas.

O que os EUA necessitam para contrariar isto? Mais dinheiro. Dinheiro para investir na tecnologia hipersónica que tarda em aparecer.

Hypersonic Missiles Are Game-Changers, and America Doesn’t Have Them

The approximate speed and trajectory, in pink, of a hypersonic glide vehicle weapon, which is boosted into the air and then glides at high speeds to its target, compared with a non-hypersonic cruise missile and a ballistic missile.

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Os EUA ainda não possuem a tecnologia e a sua preocupação é baixar os custos...

US Army seeks to drive down costs within hypersonic missile industry

WASHINGTON — The U.S. Army sees opportunities for industry to drive down the cost of producing hypersonic missiles as it helps to grow the industrial base, which was essentially nonexistent roughly five years ago, according to Chris Mills, the deputy director for the service’s hypersonics project office within the Rapid Capabilities and Critical Technologies Office...

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E porquê esta preocupação dos custos? Bem... o algodão não engana. A dívida americana não pára de subir.


E o que subiu em apenas 13 anos, se olharmos para 2010 é qualquer de impressionante. Em 2010 andava pelos 10 Triliões de dólares, agora passou dos 30. Dentro de uns anos...

O pagamento dos juros desta coisa monstruosa, começa a ser também um monstro por si só.

U.S. payments on debt spike to $659 billion, nearly doubling in two years

The federal government’s interest payments are at record high, and among the country’s largest annual expenditures

The U.S. government spent $659 billion this year paying off the interest on its debt, according to a Treasury report released Friday, as the nation’s widening fiscal imbalance and the Federal Reserve’s rate hikes dramatically raised the federal cost of borrowing...


...the United States spent more on interest than on all federal programs for children, including child care, education and tax credits for families, according to the Committee for a Responsible Federal Budget, which advocates for a lower deficit...

...Within three years, if interest rates remain elevated, payments on the debt could become the second-largest federal program — behind only Social Security...



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Não irá faltar muito para que os EUA comecem a trabalhar apenas para pagarem os juros da dívida.

A este ritmo, a questão de uma implosão, não será um "se", mas sim um "quando".

Até lá vamos a ver o que vão conseguindo fazer. A começar por demonstrar se são ou não capazes de chegar à tecnologia hipersónica, como seria suposto. Afinal são a 1ª super potência deste planeta...



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América: O Declínio III

sábado, 14 de outubro de 2023

Os 4 Tratados Do Apocalipse III

 


O Tratado START (Strategic Arms Reduction Treaty), é um tratado muito importante que vem mudar o curso da corrida de quem teria mais ogivas nucleares e que estava a atingir patamares completamente alucinantes. Como podemos verificar pela imagem,



Quando o tratado entrou em vigor (1991), o nº de ogivas estava em valores insanos. E como se pode ver pelos valores em 2019, houve uma importante e significativa redução. Algo extremamente importante para o futuro da humanidade.




Conforme podemos ver pela imagem acima o START I entrou em vigor em 1991 e expirou em 2009.

Este tratado impede que os arsenais nucleares aumentem. Podem ser modernizados, mas os números têm que ser respeitados.

Em 2011 entra em vigor o novo tratado START com mais uma redução importante, passamos de um valor de 6000 ogivas para 1550. Uma redução deveras importante, como qualquer redução para armas deste tipo, tanto para as armas como para as plataformas que as transportam.




O tratado tem regras explícitas para o controlo da implementação do mesmo, com possibilidade de inspeções.


E de acordo com o tratado, ambas as partes chegaram a 2018 com os valores acordados.

O texto que coloco abaixo, indica isso e mais alguns pormenores interessantes essenciais para se compreender a evolução destes quatro tratados que estou a referir nestes posts. Este texto é extraido directamente de um site governamental dos EUA.

New START Treaty

Under the treaty, the United States and the Russian Federation had seven years to meet the treaty's central limits on strategic offensive arms (by February 5, 2018) and are then obligated to maintain those limits for as long as the treaty remains in force.


Aggregate Limits

Both the United States and the Russian Federation met the central limits of the New START Treaty by February 5, 2018, and have stayed at or below them ever since. Those limits are:
    • 700 deployed intercontinental ballistic missiles (ICBMs), deployed submarine-launched ballistic missiles (SLBMs), and deployed heavy bombers equipped for nuclear armaments;

    • 1,550 nuclear warheads on deployed ICBMs, deployed SLBMs, and deployed heavy bombers equipped for nuclear armaments (each such heavy bomber is counted as one warhead toward this limit);

    • 800 deployed and non-deployed ICBM launchers, SLBM launchers, and heavy bombers equipped for nuclear armaments.
New START limits all Russian deployed intercontinental-range nuclear weapons, including every Russian nuclear warhead that is loaded onto an intercontinental-range ballistic missile that can reach the United States in approximately 30 minutes. It also limits the deployed Avangard and the under development Sarmat, the two most operationally available of the Russian Federation’s new long-range nuclear weapons that can reach the United States. Extending New START ensures we will have verifiable limits on the mainstay of Russian nuclear weapons that can reach the U.S. homeland for the next five years. As of the most recent data exchange on September 1, 2020, the Russian Federation declared 1,447 deployed strategic warheads. The Russian Federation has the capacity to deploy many more than 1,550 warheads on its modernized ICBMs and SLBMs, as well as heavy bombers, but is constrained from doing so by New START.

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Após terem chegado ao limite imposto pelo tratado em Fevereiro de 2018, no mês seguinte, Março de 2018, Putin faz o seu discurso onde anuncia as novas armas. Seis novas armas.

Duas delas estão aqui referidas, o Avangard e o Sarmat. O Sarmat é um míssil intercontinental de enorme dimensão pesando mais de 200 toneladas e podendo transportar até 24 Avangard, que possuem velocidade hipersónica.

Estas novas armas reduzem o tempo de chegada a território americano. O tratado não impede a colocação destas novas armas, apenas impede o número máximo de ogivas a plataformas. Os EUA não pensaram que a Rússia conseguiria ser mais rápida que eles no desenvolvimento de capacidades hipersónicas e agora estão interessados em que seja criado um acordo onde este tipo de armas seja especificamente tratada.

E porquê?

Porque é que este tratado ao contrário dos outros, não foi abandonado pelos EUA? Porque este tratado é de todo o interesse que seja mantido. Quanto menor for o nº de ogivas que o inimiga possua, maior são as chances de que o seu escudo antí-míssil funcione. Daí o terem abandonado o primeiro tratado que referi, o tratado ABM.

O problema é que se chegou à conclusão que o sistema ABM americano não conseguiu atingir a capacidade prometida de intercepção, tendo-se gasto centenas de biliões de dólares em mais de duas décadas e agora está praticamente anulado com a introdução de armas hipersónicas.

Os EUA ao verem-se numa situação bem mais perigosa, após verificarem que o seu sistema ABM não os vai proteger e o progresso das armas hipersónicas por parte da Rússia, avança com uma decisão ainda mais perigosa e que nos coloca num perigo extremo, principalmente a Europa. A saída do tratado INF, que deixo para último dos tratados que quero falar.

Entretanto, este tratado, que os EUA não abandonam, é suspenso pela Rússia este ano.

Putin pulls back from last remaining nuclear arms control pact with the US

Russian President Vladimir Putin said he is suspending his country’s participation in the New START nuclear arms reduction treaty with the United States, imperiling the last remaining pact that regulates the world’s two largest nuclear arsenals.

Putin made the declaration in his much-delayed annual state of the nation address to Russia’s National Assembly on Tuesday...

[Link]

A situação está a ficar mortalmente séria. E não é por causa da Ucrânia.



P.S. As 6 novas armas anunciadas em 2018

De recordar que na altura, muita gente aludiu como fanfarronice, o anúncio destas novas armas. Que a Rússia não teria capacidade, que era discurso populista para consumo interno, que a economia deles iria desabar (uma vez mais) se tentassem ir por esse caminho.

Vamos dar uma olhadela às seis armas anunciadas:

  1. Sarmat




    Anunciado como activo em Setembro de 2023


  2. Avangard





    Anunciado como activo em 2019


  3. Poseidon

    Anunciado testes com sucesso em Junho de 2023 


  4. Burevestnik 





    Anuciado testes com sucesso em Outubro de 2023

  5. Zircon



    Anunciado como activo em Janeiro de 2023


  6. Kinzhal




Anunciado como activo em Dezembro de 2017, já utilizado na Ucrânia.



Quem em 2018, desdenhou o anúncio das novas armas, agora enfrenta a realidade. E a realidade é que os avisos russos são para serem tomados como sérios.

E estamos numa situação cada vez mais séria.




Posts anteriores sobre o assunto:

Os 4 Tratados Do Apocalipse
Os 4 Tratados Do Apocalipse II