quinta-feira, 28 de julho de 2022

A Rússia em África

 

Este post é um convite à reflexão sobre as movimentações russas em África. A recente visita de Lavrov a 4 países africanos (Egipto, Etiópia, Uganda e República do Congo)  é muito mais que uma visita a quatro países, embora seja apenas este o destaque na imprensa além da contínua narrativa que estão a tentar quebrar o isolamento. Não estão. A Rússia está de costas viradas com o Ocidente, não com o mundo.

Lavrov no Egipto também esteve reunido com a Liga Árabe. Esta liga é constituída por 22 países e todos eles estiveram lá para cumprimentar Lavrov.

E a recepção pareceu-me calorosa. Esta liga representa mais de 400 milhões de seres humanos. Não têm o poder de compra dos ocidentais, mas há muita coisa que a Rússia lhes pode fornecer.


E foi a estes que Lavrov esteve quase 40 mintutos a explicar a posição russa sobre a situação na Ucrânia e o que enfrenta com o ocidente/NATO.

A partir do minuto 11, torna-se audível o que ele diz (em inglês).

E não podemos esquecer que a Rússia fez uma grande cimeira com países africanos em Outubro de 2019, grande mesmo.

Russia-Africa Summit

The inaugural Russia-Africa summit was held in October 23–24 in the Black Sea resort of Sochi, Russia. With the attendance of some 40 African heads of state and a vast group of 10,000 guests from both Russia and African countries, the Russia-Africa summit confirms the continent’s high level of interest in cementing cooperation with Moscow.

This was the biggest and most costly international conference ever staged in Russia. The event cost Moscow 4.5 billion roubles more than the St. Petersburg International Economic Forum. Its very first edition was co-chaired by Russian President Vladimir Putin and his Egyptian counterpart, President Abdel Fattah Al-Sisi, who serves as the current president of the African Union. Speaking at the opening of the summit, Vladimir Putin said Russia would pour billions into investments and double its trade with Africa within five years. Besides weaponry, Russia wants to export grain and agricultural machinery, aircraft, trucks, chemical and pharmaceutical products...

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E claro, também não podemos esquecer deste pormenor:


A Rússia é o principal fornecedor de armamento...
E que é a nação que constroi centrais nucleares no Continente. Afinal poucos dias antes da visita de Lavrov arranca a contrução da central nuclear no Egipto pela Rosatom.


Russian company starts building Egypt's first nuclear plant

Russia's atomic energy giant Rosatom started work on Egypt's first nuclear power plant, calling it "the largest project of Russian-Egyptian cooperation" since the 1950s...

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E todas estas movimentações irritam o Ocidente e pode-se constatar pela reacção de Macron, também ele a passar por África a tentar mudar a narrativa e convencer os africanos de que devem estar do lado do Ocidente.

Macron denuncia "hipocrisia" em África sobre a agressão russa

O Presidente francês, Emmanuel Macron, denunciou hoje "a hipocrisia", ouvida "especialmente no continente africano", que consiste em não reconhecer claramente a "agressão unilateral" da Rússia à Ucrânia, como faz a União Europeia.

... Emmanuel Macron iniciou esta terça-feira, nos Camarões, uma deslocação de quatro dias pelo continente africano, que o levará depois ao Benim e Guiné-Bissau, que acontece na mesma altura em que o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia também visita quatro países africanos...

... O Presidente francês disse que a França era "o país que mais se comprometia com os Estados africanos, a seu pedido, pela sua segurança", mas "num quadro claro, a pedido de um Estado soberano e para combater o terrorismo"...

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Achei curioso este último parágrafo que destaquei. Macron está irritado. E está irritado por isto:






Isto é uma estátua de soldados da Wagner que surgiu na República Centro Africana em agradecimento pela sua presença. A estátua mostra soldados da Wagner a proteger uma mãe e os seus filhos. Ou seja, não me parece que muitos africanos tenham a mesma visão que o Ocidente sobre a Rússia e a sua presença por terras africanas.

A Rússia (e também a China) cada vez mais presentes em África.

A guerra na Ucrânia é apenas a ponta do iceberg do que começou a rolar a nível planetário.

E não me parece que a coisa esteja a correr bem para nós. Nós Ocidentais. Nós Europeus.

Posts anteriores sobre o continente:

sábado, 23 de julho de 2022

Luís Delgado e o "Kremlin Voador"

 




Andava a vasculhar a net e deparei-me com este artigo do Luís Delgado O “Kremlin Voador” de Putin e que fala dos aviões presidenciais de Putin.

É muito devido a atitudes destas que estamos onde estamos. Tal como José Milhazes e muitos outros, passam a vida a falar de forma negativa sobre qualquer tema que tenha a haver com a Rússia. E não é a subestimar um adversário que vamos lá.

Dado que um dos meus interesses reside na aeronautica, tenho sempre dado um olho para a aviação russa. Há ali potencial para tentarem entrar no segmentos dos grandes (Airbus/Boeing) e já o tenho referido aqui, mas temos o factor político que impede muito dos avanços.

Para Luís Delgado, Putin foi ao Irão para comprar drones iranianos. Curiosamente, não fala que Erdogan também foi ao Irão. Erdogan é um membro da NATO e vende drones à Ucrânia. Se calhar Luís Delgado devia pensar o que foi então Erdogan falar com Putin no Irão...

Luís Delgado diz que o avião russo não tem a imponência do "Air Force One", bem, de facto não é tão grande, mas o IL-96 é um avião grande (largura de asas é maior) e tal como os americanos, é um avião feito em casa, pela sua indústria.





Se calhar Putin, poderia ter feito como os chineses e comprar também um Boeing 747.


Mas os chineses tiveram uma desagradável surpresa quando em 2001, receberam um novo Boeing 767. Deram com quase 30 dispositivos de espionagem instalados.

China Finds Bugs on Jet Equipped in U.S.

Somewhere on a military airfield north of Beijing, China's presidential aircraft, a new Boeing 767-300ER with all the trimmings, sits unused with parts of its innards torn out.

Last October, days before its planned maiden voyage, Chinese military communications experts discovered numerous high-tech listening devices planted inside the plane...

...The Chinese source said that, to date, 27 listening devices had been found, including devices in the presidential bathroom and in the headboard of the presidential bed...

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Os chineses sujeitam-se a estas coisas, porque não sabem construir aviões deste tipo e têm que comprar a quem os constroi.

Os russos não se sujeitam, porque sabem construi-los.

Luís Delgado, diz que Putin rebentou com 2 mil milhões para a sua frota pessoal e que cada exemplar custa 500 milhões de dólares. Atenção que estes exemplares foram sendo entregues ao longo de quase 20 anos. E outros aviões foram sendo desactivados. É que tal como os americanos, os russos têm uma frota especial para representantes de estado.

Boeing C-32A que também pode ser usado pelo presidente, 
mas mais usado pelo vice-presidente

Mas voltando ao preço dos 500 milhões de dólares e ao novo "kremlin voador".

Parece-me que Luís Delgado está frustrado. Frustrado porque publicou este artigo no dia 20, o que quer dizer que soube de antemão o que se estava a passar com os novos "Air Force One".

No dia anterior, Luís Delgado deve ter lido o artigo da CNN que noticiava novos atrasos na entrega dos aviões. Encomendados em 2018 com pedido de entrega para 2021. Estamos em 2022 e descobrimos que as novas previsões de entrega são 2027 para o primeiro e 2028 para o segundo. Ou seja, quase uma década depois da encomenda feita.

E os custos... bem, além da módica quantia que os contribuintes americanos terem de desembolsar, 3.9 mil milhões pelos 2, a  Boeing diz que o custo já ultrapassou esse valor em mais 600 milhões de dólares. portanto estamos a falar números redondos de 4,5 mil milhões de dólares e que talvez sejam entregues em 2027/8.

Putin tem 4. Por 2 mil milhões. E a voar.

Delivery of new Air Force One planes delayed again

Washington (CNN)Boeing's delivery of two new Air Force One planes has been delayed again, the Air Force announced Tuesday, with the completion of the first of the new presidential planes not expected for at least another four years.

"The new objective delivery date to the Presidential Airlift Group for the first aircraft is September 2026 and the second aircraft is February 2027, a 24-month delay from the original contractual dates; and the new threshold dates are September 2027 for the first aircraft and February 2028 for the second, a 36-month delay," the Air Force said in a statement.

Boeing struck the deal to make the two new planes in 2018 with then-President Donald Trump. At the time, Trump asked for the planes to be ready by 2021, but the project has faced a series of delays...

after running into a host of issues while building the planes, the deal proved to be a regrettable one for the airline builder, with Boeing CEO David Calhoun saying earlier this year that the $3.9 billion contract that Boeing signed to build the planes was a mistake for the company, given the losses it is now incurring. He said the 2018 deal with the Air Force included "a very unique set of risks that Boeing probably shouldn't have taken."...

[Link]

Boeing CEO regrets Air Force One deal amid big quarterly losses

WASHINGTON — Boeing reported $1.3 billion in cost overrun charges among some of its major defense programs in its most recent quarter, lowering its defense unit’s sales in what its chief executive called a “messier quarter.”

Much of those charges — a little more than $1 billion — came from the development of the new Air Force One and the U.S. Air Force’s T-7A Red Hawk trainer, the company said in its quarterly earnings statement Wednesday...

[Link]

Talvez seja esta a explicação para o azedume de Luís Delgado. 

De facto e como Trump desejava, um avião presidencial foi entregue em 2021. Por 500 milhões e já levou um presidente ao Irão.

Mas o avião entregue era o russo. Os americanos, talvez em 2027 sejam entregues e não serão por 500 milhões.

A amargura de Luís Delgado é causado por aquilo que venho escrevendo por aqui. O declínio americano. Até para entregar um avião presidencial necessitam de uma década. E precisam de milhares de milhões para o construir.

Algo não está bem. E Luís Delgado pressente-o.

sexta-feira, 22 de julho de 2022

América: O Declínio III

 


Biden está desesperado.

Não consigo perceber a viagem de Biden ao Médio Oriente. Biden visita a Arábia Saudita numa posição de fraqueza. É claro para quem quer ver o que ele foi lá fazer. Tentar convencer a Arábia Saudita a aumentar a produção de petróleo, para baixar em casa os altos preços que enfrenta. 


Os dados são claros, nunca os EUA tiveram valores semelhantes. Os dados de Junho indicam valores acima dos 5 doláres e ainda não parou de subir. Uma única vez ultrapassou os 4 dólares. Foi na guerra da Geórgia em 2008. País que tinha o primeiro pipeline americano a aceder o Mar Cáspio e que passava pelo país.

Mas a realidade de hoje é algo muito, mas muito diferente. A importância dos EUA diminuiu drasticamente e a Arábia Saudita tem agora novas ligações. Os EUA deixaram de ser o cliente de petróleo dos sauditas. Esse lugar está agora ocupado pelos chineses. Os chineses são o maior importador de petróleo saudita e dos maiores investidores no país.

E quanto a armamento...


A Arábia Saudita continua a ser o maior comprador de armas americanas, mas... temos um factor novo. O factor Rússia.

Em Agosto do ano passado, foi assinado um acordo para cooperação militar conjunta.

Russia, KSA Strengthen Military Ties In Signal To Washington; UAVs, Helos Potentially On Table

 

BEIRUT: When the deputy defense ministers from Russia and Saudi Arabia signed a new military cooperation agreement last week, it served as not just a sign of growth between the two governments, but also as a clear signal from Riyadh: it is willing to diversify its defense relationships beyond its longtime focus on the United States...

...The agreement comes on the heels of the withdrawal of US troops from the region and the pull-out of eight Patriot anti-missile systems from Saudi Arabia, Jordan, Kuwait, and Iraq, as well as a Terminal High Altitude Area Defense (THAAD) system from the Kingdom...

...This isn’t the first arms agreement between the two countries. In 2017, Russia agreed to sell $3 billion worth of arms to Saudi Arabia, including the rights for local manufacturing of Kornet-EM anti-tank missiles, TOS-1A multi rocket launchers, AGS-30 automatic grenade launchers and Kalashnikov rifles and ammunitions; however, those deals largely stalled out, and the level of equipment now being discussed is of higher capability — and higher geopolitical impact...

...analysts agree KSA should think twice before they finalize any deal of a strategic nature with the Russians, especially one related to the S-400 air defense system or fifth generation Su-35 fighter.

In a nutshell, “if Saudi Arabia and MBS want to send a signal to Washington without really endangering the American-Saudi security relationship, they’ll limit their arms deals with Russia to smaller — or even token — orders of relatively benign equipment,”...

[Link]

Esta venda de armas referida que ocorreu em 2017, é bom não esquecer que foi após um braço de ferro entre a Rússia e a Arábia Saudita, tendo sido esta que iniciou as hostilidades. Eu tenho alguns posts sobre o assunto:

2016
Guerras Energéticas: Rússia Vs Arábia Saudita
Guerras Energéticas: A Ordem Das Coisas

 2021
Guerras Energéticas: Arábia Saudita Perde Braço De Ferro Com Rússia

Também em 2017 é o ano em que pela 1ª vez o Rei saudita visita a Rússia. E achei curioso o detalhe da recepção, das salas escolhidas em função do monarca.


Putin em 2019 faz uma visita ao reino, e numa posição de força.





Isto depois de em 2018, Putin na cimeira G20, ter dado um "dá cá mais 5" ao príncipe saudita. Numa altura em que o principe estava debaixo de fogo sobre o assassinato do jornalista.


Estas imagens mostram claramente como estão as relações entre sauditas e russos vs sauditas e americanos.




Se Biden com esta atitude espera algum tipo de ajuda como a Arábia Saudita aumentar a sua produção para baixar os preços no mercado, anda iludido. Biden esquece-se que os sauditas agora não fazem nada sem o aval russo. Tal como referi nos posts anteriores, os sauditas perderam o braço de ferro com a Rússia. E agora a resposta a Biden é clara:

Saudis say crude output hikes are within OPEC+ as Biden leaves region without oil deal

Saudi officials said that the country’s oil production policies are implemented within the OPEC+ group as US President Joe Biden ended his four-day trip to the Middle East without a pledge for higher crude supply to further temper oil prices...

[Link]

Por alguma coisa agora nunca se diz OPEC mas sim OPEC+. Ou seja, OPEC + Rússia.

E a Rússia tomou nota da resposta saudita a Biden:

Putin Discusses Oil Market With Saudi Crown Prince Who Hosted Biden Last Week

Russian President Vladimir Putin and Saudi Crown Prince Mohammed bin Salman spoke by phone on Thursday and underlined the importance of further cooperation within the OPEC+ group of oil producers, the Kremlin said....

...The conversation took place six days after U.S. President Joe Biden visited the prince in Saudi Arabia...

...Sources told Reuters that Saudi Arabia consulted closely with Russia before pushing for the production hikes...

Biden ended his Middle East trip last week without any announcement that the kingdom would raise oil production to bring down fuel prices, which are spurring the highest U.S. inflation in four decades.

Saudi Foreign Minister Prince Faisal bin Farhan Al Saud said oil was not discussed at a U.S.-Arab summit on Saturday, and OPEC+ would continue to assess market conditions and do what is necessary. The producer group is due to meet again on Aug. 3.


Tempos mudam. O principe tem agora um novo amigo, Putin. Um amigo armado até aos dentes e que demonstrou as suas capacidades na Síria.

Ao ponto de até os sauditas estarem a ajudar a Rússia a vender petróleo...


Saudi Arabia more than doubled Russian oil imports in the second quarter...

The world's largest oil producer stepped up imports of Russian oil in the second quarter despite sanctions aimed at choking Moscow's energy flows, Reuters said.

Saudi Arabia imported 647,000 tonnes of Russian oil from April to June, according to data reviewed by Reuters. Saudi Arabia took possession of the oil from Russian and Estonian ports, and has thus far imported 320,000 more barrels from Russia compared to 2021 levels...

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Biden cometeu um erro. E deu uma imagem de fraqueza dos EUA de não conseguir impôr a sua vontade. E já não é a primeira vez que dão uma imagem de fraqueza no Médio Oriente. Considero a falta de resposta ao ataque iraniano com mísseis a uma base americana localizada no Iraque uma situação grave e marca uma viragem na visão do poder americano pelos países árabes.

E a Rússia não está a agir só na Ucrânia. As suas jogadas são muito, mas muito mais vastas. O Ocidente subestimou e continua a subestimar a capacidade russa de agir a vários níveis.

Penso que vamos assistir a muitas mudanças nos próximos tempos.


Posts anteriores:

sexta-feira, 15 de julho de 2022

Espanha Quadriplica Importação De Gás Russo


Quando os nuestros hermanos, resolvem arranjar confusão com o seu principal fornecedor de gás, com o qual têm pipelines dedicados, e as compras de gás americano começa a doer a sério na carteira, a quem é que a Espanha recorre?

Aos russos.

Eu estava bastante curioso, sobre o que estaria a acontecer à Espanha, quando resolveu aumentar drásticamente as tensões com a Argélia, ao declarar apoio a Marrocos. Isto em plena crise da NATO/UE/EUA com a Rússia. O sentido de oportunidade foi qualquer coisa.

 


Spain’s Sanchez visits Morocco, marking ‘new phase’ after Western Sahara reversal

Morocco’s King Mohammed VI hosted Spanish prime minister on Thursday in a landmark visit ending a year-long diplomatic crisis, after Madrid reversed decades of neutrality on the Western Sahara conflict in a U-turn that has angered Algeria.

... the move to drop Spain’s long-held neutrality on the Western Sahara has sparked a domestic backlash, with Spain’s parliament on Thursday condemning the move in a motion presented by a coalition partner of Sanchez...

... On March 18, Madrid announced a “new stage” in relations and said it now backed the North African kingdom’s plan for the territory: limited autonomy under Moroccan sovereignty...

[Spain’s Sanchez visits Morocco, marking ‘new phase’ after Western Sahara reversal]

Sanchez resolveu mexer num ninho de vespas e com as mãos. Argélia reagiu e, claro, temos agora os problemas energéticos.

Não podemos esquecer que as tensões tem crescido nos últimos tempos, com Marrocos a receber muito apoio dos americanos, principalmente armas.

US Military Sales to Morocco Doubled in 2020

The US Agency for International Trade (ITA) reported that sales of military equipment to Morocco more than doubled in 2020, growing from $4.01 billion (MAD 36 billion) to $8.5 billion (MAD 76 billion).

The source also pointed to the Royal Armed Forces’ (FAR) purchase of the PATRIOT Air Defense System, a medium-range surface-to-air missile defense system. Observers expect the acquisition to significantly improve the FAR’s missile defense capability.

The 2020 purchases of 25 new F-16 aircraft, 24 new Apache attack helicopters, as well as G550 reconnaissance aircraft, also factor into the figures. ITA also reported that several deals currently under discussion may push the Foreign Military Sales (FMS) portfolio over $10 billion (MAD 89 billion) in the following years...

[US Military Sales to Morocco Doubled in 2020]

Os americanos fizeram também o mesmo que Sanchez agora em 2022 (em Março), em plena crise russa, o que demonstra que há movimentações estratégicas em parte para contrariar os avanços russos do outro lado do Mediterrâneo.

US issues waiver for defence cooperation with Morocco

Move comes as US Deputy Secretary of State Wendy Sherman visits Rabat and expresses support for Morocco's plan for 'autonomy' in Western Sahara.

US defence funds will continue to support Morocco's participation in joint military exercises, after the administration of President Joe Biden moved to clear a hurdle to the relationship put in place by Congress last year following concerns over Western Sahara...

[US issues waiver for defence cooperation with Morocco]

Esta mexida, numa altura crítica destas, só podia dar asneira. Quero relembrar que a Argélia é um parceiro muito importante para a Rússia e devidamente armado por esta, tal como indiquei neste artigo que fiz em 2015 (Portugal, Argélia e ... Rússia) e já nessa altura tinha focado uma declaração interessante pelo então presidente Cavaco Silva.

Cavaco Silva: alternativa ao gás russo passa pela Península Ibérica

O Presidente da República defende que o abastecimento de gás ao centro e Leste da Europa deve passar a ser feito através da Península Ibérica. Cavaco Silva aponta esta solução como alternativa às actuais fontes de abastecimento provenientes da Rússia.

E nesse artigo também chamei a atenção à entrada da Gazprom na Argélia, ou seja, no principal fornecedor de gás da Peninsula Ibérica e agora aproveito para actualizar esta questão: 

Gazprom launches El Assel work in Algeria

Sonatrach and Gazprom have launched a plan for a new gas development in Algeria’s Berkine Basin. The Russian and Algerian companies have announced the start of development and construction. The El Assel project should reach first gas in 2025.

El Assel’s production will be exported via Sonatrach’s existing pipeline network.

Sonatrach has a 51% stake in El Assel, while Gazprom EP International has the remaining 49%.

 A importância da Argélia para a Rússia, acabou de aumentar. E já era importante, como país aliado no Mediterrâneo, sendo uma das jogadas que a Rússia está a fazer no Continente Africano e que tenho que falar um dia destes.

Instalada a confusão com o seu principal fornecedor, o recurso ao gás americano é uma opção, mas uma opção cara, com evidentes repercussões na economia espanhola. E tal como tenho falado por aqui, as opções russas em GNL não páram de crescer. E apesar das declarações de Sanchez em finais de Maio, já bem dentro da crise russa,

Spain paints itself as the answer to Europe’s Russian energy problem


Spanish Prime Minister Pedro Sanchez has said his country — and southern Europe more broadly — could provide an answer to the shortfall in gas supplies from Russia as the region looks to double down on sanctions against Moscow.

“Spain and, I would say, Southern Europe, will have a chance to provide an answer to this energy dependence of Russia fossil energy,” Sanchez told CNBC at the World Economic Forum in Davos late Monday.

Sanchez highlighted that Spain represents 37% of the European Union’s total regasification capacity — where liquefied natural gas is turned back into the end product of natural gas. He also said the Iberian Peninsula, occupied by Spain and Portugal, is home to around half of the EU’s LNG storage.

O que faz Sanchez, para resolver os SEUS problemas em casa sobre o gás?

Despite Restrictions, Russia Replaces Algeria as Spain’s Second Gas Supplier

According to the Enagas Statistical Bulletin, Spain’s energy company, Russia became the second-largest gas supplier to Spain in June, with a 24.4 % share, trailing only the United States, which possesses a 29.6% stake. Algeria is now Spain’s third-largest gas supplier, with a 21.6% share

This year, Moscow has quadrupled the amount of gas transported to Madrid amidst its invasion of Ukraine.

In June 2022, Russia exported to Spain 8,752 gigawatt-hours (GWh) compared to 2,163 GWh during the same period in 2021, reported the Ebagas in its statistical bulletin.

[Link]

É mau demais.

São estes os políticos que governam por esta Europa fora. E que tomam decisões de ignorar ultimatos russos.

O que virá aí para todos nós.

domingo, 10 de julho de 2022

Mais Um Passo Para O Precipício

 


A marinha russa recebeu o maior submarino do mundo. Este é apenas mais uma das novas armas do arsenal russo.

Uma das tarefas deste novo submarino é transportar os novos torpedos nucleares de propulsão nuclear. Que é também uma das novas armas do arsenal russo.

Nenhuma destas armas está destinado a conflitos do tipo que está em curso na Ucrânia. Este tipo de armas estão destinadas a serem usadas quando os ultimatos falham e as coisas tomam o pior dos percursos. Ou seja, um confronto com os EUA/NATO.

Para se perceber a dimensão desta embarcação e do respetivo torpedo nuclear, deixo aqui umas imagens:


Esta imagem mostra o novo torpedo nuclear (e de propulsão nuclear) que este submarino vai transportar, no meio é um dos novos mísseis nucleares intercontinentais com múltiplas ogivas que as novas classes de submarinos russos estão a usar. A seguinte, é o tamanho dos actuais torpedos existentes e usados elas marinhas de todo o mundo.


Nesta imagem dá para perceber a dimensão deste novo tipo de torpedo, comparado com o tamanho de uma pessoa.


O Belgorod ultrapassou em comprimento a classe Typhoon, submarino soviético, o maior do mundo. Como dá para constatar pela imagem, além de transportar 6 torpedos nucleares, transporta também um submarino adicional por baixo para operações especiais. Também ele de propulsão nuclear.

Este submarino mais pequeno é de tamanho equivalente aos submarinos que a Marinha Portuguesa possui os U-214, construidos pela Alemanha.

Que por sua vez, são de tamanho semelhante aos submarinos da classe Kilo, que são os únicos que estão a intervir na Ucrânia lançando mísseis de cruzeiro Kalibr. Cada um destes submarinos consegue transportar 4 mísseis de cruzeiro.


A classe do submarino que destaquei na imagem, é um submarino não nuclear e o único que está actuar na Ucrânia. Os restantes são as novas classes de submarinos que a Rússia está há anos a construir e a entregar à Marinha Russa. Mesmo os kilos presentes no Mar Negro e Mediterrâneo são novos. Já tinha feito referência a eles anteriormente (Aviso à Navegação: A Nova Armada Russa / Mar (Russo) Mediterrâneo).

Com este artigo pretendo chamar a atenção para a necessidade de reflexão sobre as armas que a Rússia está a empregar na Ucrânia e as armas que estão destinados a oponentes mais fortes.

Cada vez tenho mais a sensação que a opinião pública de forma geral tem uma percepção de que a NATO a intervir, tem uma superioridade absoluta sobre a Rússia.

Somos capazes de suar um pouco, para não pensar pior.

Seria bom que começassemos a reflectir o que vamos querer para o nosso futuro e se estamos preparados e conscientes da importância das decisões que tomamos.

Decisões do tipo ignorar ultimatos russos.