domingo, 22 de maio de 2016

Sines: Gás Americano Vs Gás Russo



A chegada de um navio em finais de Abril com gás natural liquefeito americano a Sines, gerou várias notícias sobre o assunto. 

Principalmente dois temas foram focadas neste notícia. O facto de a Europa ter recebido o primeiro carregamento vindo dos EUA e a questão da diminuição da dependência do gás russo, visto como um passo importante nesse sentido.

Creole Spirit


Gás de xisto norte-americano chega a Portugal


Pouco mais de uma semana depois de partir dos EUA, o Creole Spirit chega a Sines. O navio transporta o equivalente a uma semana do consumo doméstico nacional. Portugal é o primeiro país europeu a comprar gás de xisto dos EUA...


No jornal público saiu um artigo de opinião redigido pelo o embaixador americano que fala sobre o assunto, de onde retiro alguns excertos:

Energia para os nossos aliados atlânticos, começando por Portugal

A 27 de Abril, entrou no cais do porto de Sines um petroleiro com 295 metros de comprimento, chamado Creole Spirit, com um carregamento de gás natural liquefeito (GNL)...

...a entrega do Creole Spirit foi histórica, pois foi a primeira exportação de GNL dos EUA para a Europa. Por que é que isto é tão importante para a política global de energia?Passo a explicar.

Quando cheguei a Portugal, em Abril de 2014, recordo-me de ter lido um artigo de opinião no Wall Street Journal da autoria do então Secretário de Estado dos Assuntos Europeus, Bruno Maçães. O título era ousado: “Send a Message to Putin with a Trans-Atlantic Energy Pact”. À data em que foi publicado, a Rússia tinha acabado de violar o direito internacional e anexado a Crimeia. Apesar dos protestos de líderes dos EUA e da União Europeia, o Presidente Putin utilizava cada vez mais a energia como instrumento político para intimidar os países da Europa de Leste, dependentes da importação...

...A mensagem de Portugal para os Estados Unidos era clara: a Europa precisava de energia norte-americana e Portugal poderia ser a porta de entrada para o resto da Europa...

Até ao início deste ano, a maior parte do gás natural dos EUA estava concentrado no mercado interno...

...Na verdade, foi apenas em Dezembro passado que o primeiro terminal de GNL nos EUA continental começou verdadeiramente a desenvolver as suas operações...


...E não é somente para a Europa que os EUA estão a exportar GNL. O primeiro carregamento de GNL a partir do continente norte-americano, no passado mês de Fevereiro, destinou-se à América do Sul...


Não vou focar a componente estratégica que Sines representa para Portugal. Eu sempre achei e continuo a achar que Sines tem um potencial enorme para os interesses portugueses e pode constituir um ponto de entrada com muita importância para a Europa. Eu tenho vindo a assistir ao longos dos anos os investimentos feitos em Sines, e só posso concordar com a estratégia desenvolvida.

O que quero focar é a questão do impacto da entrada  do gás americano na Europa e se é com a entrada deste fornecedor que a Europa vai de facto diminuir a sua dependência da Rússia.

E não me parece.

A própria escolha de Portugal, um país que não consome gás russo, já indica que a coisa não é como a mensagem que quer passar. Com vários países dependentes de gás russo e uns tantos são hostis à Rússia, fica muito estranho escolherem Portugal. Um país que nem pode passar essa energia para a restante Europa. O melhor que posso dizer é que é o país europeu mais perto para entrega do gás.

Países europeus importadores de gás russo. Portugal
não consome gás russo.

Na perspectiva portuguesa podemos considerar que sim para os nossos interesses a diversificação é um facto e podemos receber energia de quem quer que seja.

Portugal recebe gás maioritariamente da Nigéria e Argélia. E as coisas não têm andado bem com vários países produtores de energia. No caso da Argélia, que estando encostado à Líbia, tudo pode acontecer nos próximos tempos.

Portanto o gás americano ameaça sim estes produtores, que possuem bons contractos com países europeus, mas a estabilidade política nos mesmos, obriga a países como Portugal a procurar alternativas.

Quanto à Rússia...

O caso pia mais fino. A Rússia é dos maiores produtores energéticos mundiais e o maior fornecedor da Europa. E enquanto a Europa anda há anos a gritar por diversificação e pouco faz por isso, a Rússia de facto está a investir fortemente na diversificação da sua carteira de clientes.

A Rússia tem uma formidável rede de pipelines em direcção à Europa, onde ainda acrescentou o Nord Stream e possivelmente teremos no futuro o South Stream, porque eu considero que este pipeline mais tarde ou mais cedo, ele irá aparecer de novo.

Mas os pipelines não são flexíveis, e são muito dependentes de jogos políticos. Como tal a Rússia começou também a investir no gás natural líquido.

E enquanto a chegada do navio com gás americano foi amplamente anunciado por esse mundo fora, poucos dias depois um navio russo com gás russo entrou no Mediterrâneo para entregar ao Egipto.

Russian Rosneft Marks Operational First With LNG Delivery To Egypt

Rosneft Trading SA, a subsidiary of Russian state-owned Rosneft Group, delivered its first LNG cargo to the port of Ain Sukhna in Egypt, as part of a contract with Egyptian Natural Gas Holding Company, marking its first-ever LNG delivery.

GOLAR ICE

The delivery of the cargo was made by the GOLAR ICE tanker to the Ain Sukhna port, in the Suez province, in accordance with an August 2015 agreement...

Ou seja, Portugal tanto poderia ter recebido gás americano, como gás russo. 

Ou seja, a Rússia prepara-se para fornecer o seu gás a qualquer país europeu, onde os seus pipelines não chegam, como o caso de Portugal e Espanha, ameaçando todos os outros fornecedores concorrentes.

E a aposta, é uma aposta séria. Basta ver nos investimentos que estão a fazer neste sentido, apesar das sanções, situação económica adversa, etc.


Infraestruturas de GNL nos Estados Unidos


Infraestruturas de GNL na Rússia

Ou seja, a Rússia está a apostar forte neste segmento de mercado, o que é mau para os concorrentes já existentes e é pior para novos concorrentes como os EUA. Os EUA já estão a assistir a uma série de falências, e já não bastava a entrada do Irão no mercado, como vão ter que lutar agora com a entrada também da Rússia.

A Rússia prepara-se para "atacar" qualquer parte do mundo, com o seu gás. Ou seja, vai deixar de estar dependente de pipelines com destinos fixos, para poder vender a quem quer que tenha um terminal capaz de receber gás líquido como o caso de Portugal.


Rotas pelo o Ártico

A Rússia para poder escoar o seu gás, vai usar rotas em mares gelados e para isso tem estado a encomendar navios específicos para a tarefa, num total de 15 encomendados.


The Yamal LNG project has involved the construction of an LNG plant with a capacity of 16.5 million tonnes per year at the resource base of the Yuzhno-Tambeiskoe field, and creation of a corresponding unique transport and technological infrastructure for the year-round export of LNG to consumers. The LNG plant and export terminal were planned to be completed in 2017.

In order to ensure safe year-round shipping of gas to the markets of the Asia-Pacific region and Western Europe, the operator of the Yamal LNG project plans to use a fleet of 15 LNG carriers, each with a cargo capacity of 172,600 cubic metres and with Arctic ice class (Arc 7). The time schedule for bringing the LNG plant to full operational capacity foresees the delivery of new vessels, from 2016 until 2020.


Portanto a partir deste ano, vão começar as entregas e podemos confirmar o avanço da coisa:

SCF Yamal launched

The first Arc7 ice-class LNG carrier, SCF Yamal, was launched last week at the Daewoo Shipbuilding & Marine Engineering (DSME) shipyard in South Korea.



The 172,600-cbm vessel, which was ordered by Russia’s Sovcomflot to serve the Novatek-operated Yamal LNG project, will be the world’s first LNG carrier that can navigate through ice, according to DSME.

The vessel is one of fifteen ice-class LNG newbuildings contracted to serve the giant Yamal LNG project in the Russian Arctic.

Sovcomflot, MOL, Teekay and Dynagas have one, three, six and five vessels respectively, and all vessels are scheduled for delivery over the next four years.


A Rússia prepara-se para entrar no mercado do gás natural líquido em força e vai poder chegar a todos os clientes, Portugal incluído.

Os EUA que só agora começaram a exportar, além de sentirem a pressão dos produtores existentes, vão sentir muito em breve a pressão enorme que a Rússia vai fazer nos mercados mundiais. 

terça-feira, 19 de abril de 2016

Guerras Energéticas: A Ordem Das Coisas



Andei aqui um bocado a brincar com "desenhos" para demonstrar o que estou a pensar. Afinal uma imagem vale por mil palavras.

E penso que neste momento é exactamente o que estamos a assistir.

                                                  EUA

Os Estados Unidos, que são um dos maiores produtores mundiais, aumentaram ainda mais a sua produção com o petróleo de xisto. De tal forma que se tornaram auto-sustentáveis e capazes até de exportar. Algo até aqui inédito.

Os EUA nesta matéria de exportação de energia são os "the new kid on the block", e claro vieram trazer complicações aos produtores que estão em cena. 

E assim se deu início a mais uma guerra energética. Onde todos são afectados, uns mais que outros.

Os EUA, o mais "novo" nestas andanças, gerou muitas expectativas com o revolucionário petróleo de xisto. Com as promessas de muito lucro e rápido, o que não faltou foi dinheiro para o investimento. Mas isto era para valores bem altos do preço do barril. Mas a Arábia Saudita não estava disposta a perder quota de mercado e tinha capacidade para criar séries dificuldades a outros fornecedores, especialmente novos e mais frágeis.

As empresas americanas endividaram-se e bastante, mas não haveria problema em pedir empréstimos, bem como a banca não teria problemas e fornecer empréstimos. O negocio da energia é muito lucrativo e isto prometia lucros e amortizações rápidas. Mas a coisa não correu como se esperava...




E actualmente a realidade é que os EUA já estão a diminuir a sua produção por não conseguir aguentar a pressão. Empresas estão a falir, o desemprego neste sector acelera, os bancos começam a ver dívidas incobráveis.

1) Empresas americanas já não conseguem manter o ritmo de produção, por falta de dinheiro.


U.S. shale output drop seen for 7th month running in May

U.S. shale oil production is expected to fall by a record amount in May in the seventh straight month of declines, a U.S. government forecast showed on Monday, as fallout from a 21-month price rout appears to be picking up steam.

Total output is seen dropping 114,000 barrels per day to 4.84 million bpd, according to the U.S. Energy Information Administration's (EIA) drilling productivity report. If correct, that would be the largest monthly decline since records were available in 2007...

http://www.reuters.com/article/us-usa-oil-productivity-idUSKCN0X82BR


2) Desemprego no sector acelera


U.S. oil job cuts reach about 118,000


...The latest round of layoffs, including recent cuts by Chevron Corp., BP and Anadarko Petroleum Corp., has brought oil-and-gas job cuts across the nation to nearly 118,000 since the beginning of 2015. That's more than one in every five workers the industry had when crude prices began to tumble, the Federal Reserve Bank of Dallas said Friday...

http://www.houstonchronicle.com/business/energy/article/Fed-U-S-oil-job-cuts-reach-about-118-000-7237605.php

3) Os Bancos

Os bancos estão metidos em mais um sarilho. Para quem andou a "vender" que o Xisto era a revolução e a solução para lucros chorudos, está agora metido num rico imbróglio.

Os bancos já não conseguem nem obter o capital que enterraram nestas companhias.


JP Morgan profit falls on US oil loans


JP Morgan Chase has reported a 6.7% drop in quarterly profits as it set aside more funds to cover potential losses at oil and gas companies.

US shale oil companies have come under increasing pressure in the past year as the price of oil has plummeted.
That has forced banks to raise the money they set aside to cover the possible failure of energy firms.

In February, JP Morgan said it would set aside an additional $500m (£357m) to cover potential losses from its exposure to the oil and gas sector.

http://www.bbc.com/news/business-36033113

Ou seja, o declínio só não é maior, porque ao fechar estas companhias, os bancos ainda perdiam mais. O que estamos a assistir é a expremer ao máximo os poços que foram abertos de modo a tentar recuperar o máximo de capital investido. Quanto os poços chegarem ao seu limite a empresa fecha, porque os bancos não vão financiar mais coisa nenhuma.

Assim vemos o destino dos produtores americanos com a jogada agressiva da Arábia Saudita.

Arábia Saudita


A Arábia Saudita de facto conseguiu colocar os produtores americanos em dificuldades e todos os restantes produtores incluindo eles próprios. Os gastos que o país tem actualmente, requerem um preço do crude a um patamar bem superior. E é isso que quero chamar a atenção, o país está a gastar muito e a pressão vai começar a aumentar à medida que as suas reservas vão baixando.

Olhando para este gráfico dá para ver o caminho que o país leva:



Os valores indicados vão até Novembro do ano passado. Abaixo dos 640 mil milhões. 100 mil milhões esturricados num ano. E a sangria continua. Os últimos dados do FMI mostram que em Fevereiro deste ano as reservas baixaram a linha dos 600 mil milhões, estando nos 592 mil milhões.

Daqui a urgência em estancar esta sangria. A Arábia Saudita pode cair na sua própria armadilha e colocar o reino em perigo. Simplesmente não vão ter dinheiro para pagar a todos.

A Arábia Saudita precisa agora de travar a produção. Mas sozinha não o consegue fazer. Principalmente devido a dois produtores. A Rússia que não pertence à OPEC e o Irão que embora pertencendo, estava debaixo de sanções.

Este dois produtores também querem aumentar o preço do barril, mas não estão tão necessitados quanto a Arábia Saudita. E ambos são aliados na Síria, exactamente do lado oposto da Arábia Saudita.

A Arábia Saudita está em guerra económica com a Rússia e o Irão. E está a perder.

Rússia

Olhemos para este gráfico onde mostra as reservas russas. Elas estão a subir. Uma clara diferença do caminho tomado pela a Arábia Saudita.

A Rússia mesmo com os preços actuais, está a conseguir aumentar as suas reservas. Eles estão a aumentar as reservas apesar do preço do barril e das sanções aplicadas.

A dependência russa do petróleo, não é tão acentuado, como toda a gente anda a dizer. Estes dois gráficos mostram que existe um país muito dependente do preço do petróleo e não é a Rússia... 




Por aqui podemos ver que as reuniões para reduzir/congelar a produção, não vão produzir os efeitos desejados pela a Arábia Saudita.

A Rússia pode discutir por mais um ano, se vão ou não congelar a produção. Daqui a um ano ao ritmo que os dois gráficos estão a ir, a Arábia Saudita estará a entrar na linha dos 400 mil milhões e a Rússia também. Só que um a descer e outro a subir.

Qual dos dois estará em pânico? fácil de deduzir...

Enquanto a Arábia Saudita resolveu entalar os produtores americanos, a Rússia resolveu entalar a Arábia Saudita e esta está a começar a sentir na pele o que os produtores americanos e respectiva banca estão a sentir.

Irão 

O Irão, está neste momento numa situação bastante interessante. A queda dos preços não tem um grande impacto, porque o país, não podia vender mesmo. Portanto qualquer venda agora, depois do levantamento das sanções é bem vinda.

Ao contrário da Arábia Saudita, o Irão tem vivido sem o dinheiro da venda do petróleo. Está numa excelente posição para exigir o que quiser e sem pressas.

O Irão vai aumentar a sua produção o que vai contribuir para acelerar os gastos das reservas financeiras da Arábia Saudita.

O Irão vai ganhar cada vez mais dinheiro, mais quota de mercado e verá o seu inimigo atolar-se em problemas.

A Arábia Saudita enfiou-se num buraco e agora não sabe como sair dele. 

A Arábia Saudita está a descobrir que há mais peixes no lago e alguns são maiores que ele...

sábado, 27 de fevereiro de 2016

Guerras Energéticas: Rússia Vs Arábia Saudita



A entrada musculada da Rússia na Síria, veio colocar um sério travão às sinistras ambições da Arábia Saudita e da Turquia. Com a Rússia presente no país, não será possível avançar com o pipeline previsto, com origem no Qatar e a acabar na Turquia (ver Guerras Energéticas: O Efeito Turquia). Muitos teriam a ganhar, a Turquia passaria a ser um importante Hub energético para a Europa, o Qatar teria um pipeline para a Turquia e Europa.

A Rússia alterou todo o panorama. Hoje, Assad está a ganhar terreno, devido à ferocidade dos bombardeamentos russos. E que pode fazer a Arábia Saudita? Muito pouco parece-me. Vejamos:

Arábia Saudita

Preço do Petróleo

A Arábia Saudita resolveu atacar a concorrência e inundou o mercado de petróleo. Ao fazer isso baixar drasticamente o preço, todos os produtores sentiram a pressão. uns mais, outros menos. Os produtores americanos estão com sérios problemas, e altamente endividados. Mas continuam a resistir. Em parte porque também os bancos que emprestaram o dinheiros a eles estão tentar não perder tudo o que investiram. Mas este ano, muito produtor vai falir nos EUA, ou seja a produção americana vai baixar.

Podemos dizer que está a ser uma aposta acertada da Arábia Saudita? No que diz respeito aos produtores americanos, mais frágeis neste mercado, parece ser. A Arábia Saudita tem reservas financeiras para aguentar estes valores, os produtores americanos só têm dívidas, e não há como pagá-las.

De caminho ataca um outro concorrente, este mais perigoso. A Rússia. A Rússia a braço com sanções ocidentais, viu a sua situação piorar com o crash do preço do petróleo. Mas...

Algo não bateu certo nas contas da Arábia Saudita. O erro foi considerar que a Rússia por esta altura estaria muito mais fraca. Mas isso não está a acontecer.

A Arábia Saudita esturricou, em 2015 muito dinheiro nesta aventura. Com um défice a rondar uns 15% do seu PIB (e estou a ser muito conservador neste valor). Está a sair perigosamente caro e têm uma guerra no Iémen a decorrer. O dinheiro está a sair da carteira tão rápido quanto o petróleo sai dos seus poços.

A Rússia mostra uma resiliência que não estava nos planos de ninguém. A perspectiva que se dava em 2015 era um colapso económico, mas tal não aconteceu.

Não aconteceu isso, mas aconteceu algo desagradável para os sauditas. A Rússia, acompanhou o aumento da produção, batendo records. A Rússia nunca produziu tanto. 

Russian oil output hits post-Soviet record high in December, 2015

Oil output in Russia, one of the world's largest producers, hit a post-Soviet high last month and in 2015 as small- and medium-sized energy companies cranked up the pumps despite falling crude prices, Energy Ministry data showed ...

Além de competir em termos de produção, também está a roubar quota de mercado no mais importador energético, a China.

Russia surpasses Saudi Arabia for third time in China crude supply

Russia overtook Saudi Arabia for the third time this year in November as China's largest crude oil supplier, customs data showed on Monday, as Russia captures fresh demand from China's new crude buyers...

Russia, which ramped up exports by 28 percent over the same period...

...Saudi crude is less appealing to China's new crude importers when compared to Russian grades, traders have said.

Cheaper freight costs for Russian crude versus suppliers from outside the Asia-Pacific region were also helping Russia boost its exports to China...


Ou seja, a Arábia Saudita ficou refém da sua própria estratégia. Actualmente, como se pode ver, a Arábia Saudita tenta fazer aumentar os preços para diminuir a sangria que corre nos seus cofres. E tenta convencer a Rússia a baixar a sua produção. E porque necessita que a Rússia baixe também a sua produção? Para a Rússia não roubar quota de mercado no maior importador energético, a China, como já está a fazê-lo.


Saudi Arabia, Russia to Freeze Oil Output Near Record Levels

Saudi Arabia and Russia agreed to freeze oil output at near-record levels, the first coordinated move by the world’s two largest producers to counter a slump that has pummeled economies, markets and companies.

While the deal is preliminary and doesn’t include Iran, it’s the first significant cooperation between OPEC and non-OPEC producers in 15 years and Saudi Arabia said it’s open to further action...


A Rússia não demonstra tanta urgência em fazer baixar os preços. Os baixos preços estão a afectar TODOS os produtores, uns mais, outros menos e como tenho chamado a atenção em artigos anteriores, a Rússia não está a ser tão afectada como a impressa andou a dizer em 2015.

Agora até saem notícias a confirmar a situação:

S&P cuts Saudi Arabia, Brazil, Oman, Kazakhstan, Bahrain, spares Russia

Rating agency Standard & Poor's downgraded Saudi Arabia, Brazil, Kazakhstan, Bahrain and Oman's credit ratings on Wednesday, in its second mass cut of large oil producers in almost exactly a year.

S&P cited the pressures being created by the drop in oil prices for the moves which included double-notch downgrades of Saudi Arabia to A- stable from A+ negative and stripping Bahrain of its investment grade status...

...One country that was spared this time was Russia...


...Like Saudi Arabia, Bahrain saw its rating cut two notches...

[Link]

Comparando com a Arábia Saudita, uma guerra energética entre estes dois, será fácil adivinhar o desfecho, dando uma olhadela aos défices anuais de cada um. A Arábia Saudita não consegue manter esta "velocidade" por muito tempo.

Como fica a Arábia Saudita agora? parece-me que numa situação extremamente delicada. O máximo que conseguiu arrancar dos russos, foi um congelamento da produção. Ora isto apenas irá permitir uma estabilização dos preços actuais. Algo com que a Arábia Saudita não pode viver muito tempo, dado os seus gastos actuais. Nem a Arábia Saudita, nem os novos produtores de xisto americanos.

Se a coisa está preta, ainda vai ficar pior. É que existe um grande produtor energético que tem estado debaixo de sanções e não tem estado a produzir a sua respectiva quota de mercado. Estamos a falar do Irão.

Agora que foram levantadas as sanções ao Irão, este pode passar a produzir normalmente. Só para se manter o actual preço de mercado, os restantes produtores terão que reduzir a sua quota, o que fará ainda ganhar menos.

Mas a perspectiva ainda fica pior para a Arábia Saudita. O Irão é um membro da OPEP. Se a OPEP quer manter pelo o menos os preços, terá que acomodar a produção do seu membro que estava debaixo de sanções. E qual o membro que mais tem produzido à custa do Irão todos estes anos? a Arábia Saudita.

Qual a opinião do Irão sobre congelamento da sua própria produção, estagnada no tempo devido a sanções?

Iran calls Saudi oil production freeze a 'joke'

Iran's oil minister Bijan Zangeneh on Tuesday called the Saudi Arabia-led idea for countries to freeze production a "joke," according to Iranian state broadcaster Press TV.

"The freeze is the beginning of a process," Saudi oil minister Ali al-Naimi said during a highly-anticipated speech on Tuesday at the IHS CERAWeek oil conference in Houston.

"Maybe not all of them, but most of the countries that count will freeze,"...

While Iran initially said it supported the output freeze, Zangeneh's comments on Tuesday suggest the country has no desire to join.

"This is more like a joke that they tell us they would freeze their production above 10 million barrels per day and that we should also in turn freeze our production at one million," the Iranian official said in Tehran...


Ou seja, o Irão já sinalizou que vai aumentar a sua produção. A Rússia disse que aceita congelar a produção desde que os outros o façam. Para manter os níveis de congelamento aceitáveis para a Rússia, a Arábia Saudita terá que reduzir, o equivalente à quota de mercado que o Irão tem direito. Ou seja, apenas para manter os preços actuais, já de si prejudiciais para a Arábia Saudita, estes vão ter que reduzir a sua produção, ou seja, vão vender ao mesmo preço, mas vão vender MENOS, logo ainda vão agravar mais a sua situação.

Como se a coisa não fosse mau o suficiente. A Rússia e Irão são aliadas na Síria e também são parceiros preferenciais da China. 

O  aumento de produção por parte do Irão, irá fortalecer este em detrimento da Arábia Saudita.

O tom beligerante da Arábia Saudita na Síria, com o anúncio de envio de milhares de soldados e equipamento para a Síria, coloca em directa colisão com a Rússia e Irão.

A Rússia é uma potencia mundial tanto em termos energéticos como em produção de armamento.

A Arábia Saudita só possui dinheiro para comprar armas a terceiros.

E o único trunfo deles (dinheiro) está a evaporar-se rapidamente.

A Arábia Saudita poderá ter cavado a sua própria cova.

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Sanções Europeias, O Preço A Pagar II



No artigo anterior  [Sanções Europeias, O Preço A Pagar], foquei o sector do leite, um sector com impacto significativo em Portugal, vamos agora focar um outro que está a ter também um impacto muito significativo e que vai sofrer ainda mais no futuro. O sector de suinicultura.

Este sector está a atravessar sérias dificuldades e quem está no ramo sabe a origem do problema:

Federação dos Suinicultores alerta para colapso eminente do setor

"Estamos hoje a atravessar a maior e mais dramática crise de sempre. O setor está à beira do colapso, estamos na iminência de perder nos próximos dias 50% da produção nacional e de lançar no desemprego centenas de famílias", avisou hoje no parlamento o vice-presidente da Federação, David Neves...

...A crise no setor já vem de trás, segundo a Federação, e deve-se a vários fatores, nomeadamente, "ao excesso de produção da União Europeia e ao embargo russo, que trouxeram problemas à produção nacional"...


Queda do preço da carne de porco resulta do embargo da Rússia

A Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição (APED) disse hoje que a redução de preços da carne de porco "resulta de uma conjuntura europeia desfavorável e que se tem acentuado ao longo do ano", respondendo assim às críticas dos suinicultores...

...Perante estas acusações, a APED, que representa os supermercados e hipermercados, alertou que a baixa de preços da carne de porco é uma situação que tem acontecido por toda a Europa e que uma das causas é o "embargo russo aos produtos europeus". 


A guerra das sanções, está a provocar baixas. E não só na Rússia. Como podemos observar, países mais pequenos como Portugal, vão sofrer mais que os grandes países europeus, também produtores. A nossa capacidade de reclamação é bastante limitada no contexto europeu.  

O que significa? que em vez de produzirmos, vamos ter que reduzir a produção e passar a viver de subsídios de compensação. Sermos pagos para nada fazer. Isto enquanto durar as sanções.

Enquanto durar as sanções? Não, esta história não vai ter um final feliz, para os produtores portugueses. A Europa vai ter mesmo que reduzir a sua produção. Portugal incluído. 

E porquê?

Porque a Rússia, com as sanções acabou por proteger o seu mercado e investir internamente. A Rússia vai passar a produzir tanto que vai deixar de importar e passar a exportar carne.

A Rússia era um cliente da carne europeia e agora vai passar a ser um concorrente. A Rússia passa a exportar carne.

É uma dupla machadada neste sector europeu. A Europa fornecia carne à Rússia. Agora além de perder um enorme cliente, vai assistir o cliente a passar a vender carne a outros clientes europeus.

Portugal vai perder empregos.

A Rússia vai ganhar empregos e muitos.

Putin Sparks Russia Pork Boom as Import Ban Expands Hog Breeding

Hog farmers in Russia are producing so much pork that they are selling it overseas just three years after the country was importing more of the meat than any other buyer except Japan.

Domestic output has increased 26 percent in four years to the highest yet, and imports have plunged by more than 80 percent from a peak in 2012, U.S. Department of Agriculture data show. The industry’s resurgence, which led to slumping hog prices from the U.S. to Germany, got some help from a Russian government increasingly uneasy about relying on foreign food supplies and its strained relationship with neighbors...

...Russia’s increasing self-reliance is contributing to a slump in global prices, according to the USDA. Hog futures traded in Chicago have fallen 26 percent since the start of 2015 to 59.8 cents a pound, while pig prices in Germany slumped in November to the lowest level since January 2011, according to industry group ISN. Cheaper pork may boost international trading in the meat in 2016, the USDA said...




Como o artigo da Bloomberg indica, a redução de importação de carne de porco, assistiu a uma redução de 80%.

O 2º maior importador mundial de carne de porco, vai passar a exportar. Os maiores mercados importadores de carne de porco, estão bem perto da Rússia. Japão, China e Coreia do Sul vão muito certamente passar a ser clientes russos em detrimento de exportadores como os Estados Unidos e Europa.

Os maiores exportadores de carne de porco são os EUA e Europa. Os EUA vendem em dólares, a Europa em euros.

A Rússia... toda gente sabe como está o valor do rublo. O custo de produção de carne de porco na Rússia é inferior, o que tornará as suas exportações muito competitivas.

Portugal... nós... estamos lixados. A corda rebenta sempre com os mais fracos. E já está a rebentar como se pode ver no sector do leite. O artigo que fiz no Verão de 2015, indicava o que aí vinha. E aí está, um artigo deste mês a indicar no rico sarilho em que estamos metidos.


Buraco orçamental de 300 milhões de euros dificulta 
obtenção de mais verbas para o leite

O ministro da Agricultura afirmou que encontrou um "buraco financeiro" de 300 milhões de euros no Programa de Desenvolvimento Rural (PDR), que pode condicionar as medidas para o setor do leite que pretende apresentar a Bruxelas...

...Governo anterior assumiu compromissos que excedem em 300 milhões de euros a dotação do programa, sendo necessário recorrer ao Orçamento do Estado nos próximos anos (OE), o que vai dificultar a alocação de verbas para um programa do leite, explicou...

[Link]

Não bebe leite? Não será desculpa para não o pagar. Agora todos vamos pagar o leite, pelas compras ou pelos os impostos. Se calhar será mais um enfiado no preço da gasolina...

Tudo em nome das sanções à Rússia. Que parece que está a sofrer imenso com isto.

Está a sofrer tanto com isso que a McDonalds, resolve abrir 60 restaurantes este ano. E como se isso não  bastasse, anunciam que vão passar a produzir tudo o que é necessário para os restaurantes no país.

Alguém está a pensar no que isto quer dizer? alguém está a fazer contas sobre a geração de emprego que está a ser feito no país?

Alguém está a pensar no efeito da guerra das sanções?

Com a queda do rublo, as empresas não podem importar que lhes sai caro e dado que a Rússia é um grande mercado, não pode ser negligenciado e passam a produzir localmente. Emprego destruído no exterior, como Portugal, e emprego gerado na Rússia.


McDonald's Is Making a Big Push in Russia This Year


McDonald’s plans to open more than 60 restaurants in Russia in 2016, increasing the pace of expansion from last year, after its focus on local suppliers and affordable menus has proved successful in an economic crisis...

...He said the company had to make “serious adjustments” to its business model after sanctions and the weakening of the rouble put pressure on its margins...

The development of local supply has played a big role in supporting our profitability,” he said on Monday.

In 2016, capital spending will focus on modernization and further investment in local supply as well as new openings.

Khasbulatov said the company hoped to achieve full localization, helping smooth out the impact of currency swings and Russia’s food import ban.


It’s important to localize not only food processing but also production,” he said...

[Link]

As sanções estão a prejudicar? estão.

Mas... estão a prejudicar quem?