sábado, 25 de fevereiro de 2023

Europa Vai Ter 12 Porta-Aviões E 40 Submarinos De Propulsão Nuclear



Classe Gerald R. Ford, o mais moderno porta-aviões americano



Classe Virginia

Além disso vai adquirir 400 F-35s


E milhares de tanques Leopard


É absolutamente impressionante a forte aposta na defesa europeia que vem aí. A grande questão é, isto é verdade?

Não. Isto é um exercício que estou a fazer relativamente a custos, ou mais concretamente sobre gastos na Europa.

Poderia a Europa financiar rapidamente isto tudo? Podia.

Afinal um porta-aviões americano do modelo mais recente, custa a módica quantia de 13 mil milhões de dólares. 

Um submarino da classe Virginia custa à volta de 3 mil milhões.

Um F-35 uns 75 milhões.

Ora, vamos fazer algumas contas:

  • 12 Porta aviões - 12 X 13.000 = 156 mil milhões
  • 40 Submarinos - 40 X 3.000 = 120 mil milhões
  • 400 F-35 - 400 X 75 = 30 mil milhões
Vamos ficar por aqui e somar a coisa, pois além de comprar o material, temos que o operar e manter, etc, etc.

Estamos a falar só nestas 3 aquisições de 300 mil milhões de dólares.

Parece muito? não é. Ainda nos sobra muito, mas muito dinheiro para comprar todo o tipo de armamento que a Europa quiser até chegar aos 800 mil milhões de euros que a Europa esturricou num ano.

E a Europa esturricou 800 mil milhões de euros em quê?

Crise energética leva Europa a gastar 800 mil milhões de euros

Numa análise mais detalhada, a “Reuters” aponta que a Alemanha foi o país que mais gastou com a falta de gás, tendo deslocado 270 mil milhões de euros para o aquecimento de habitações e de empresas. O Reino Unido, Itália e França aproximaram-se dos 150 mil milhões de euros, enquanto outros países da UE gastaram apenas frações destes valores.

Os países europeus já gastaram perto de 800 mil milhões de euros a enfrentar a crise energética sentida sentida no continente devido à guerra na Ucrânia e, consequentemente, as sanções à Rússia, revela a “Reuters”.

...Os gastos com a crise energética já superaram os 750 mil milhões de euros do fundo de recuperação da Covid-19 da União Europeia.


A Europa num ano ESTURRICOU 800 mil milhões de euros para disfarçar aos contribuintes europeus a VERDADEIRA factura energética que estamos todos a pagar. E mesmo assim, não foi possível evitar o descalabro de uma inflação como há muito não viamos.

Isto num ano de guerra, com a Rússia ainda a vender energia para a Europa. A Rússia ainda não deu uma machadada nas ligações que tem com a Europa. Estamos apenas a assistir ao resultado das sanções impostas por nós.

E porque parei nos 300 mil milhões? Bem, este valor é também muito interessante, este valor poderia ter sido descontado aos nossos custos. Como? Simples:

Este é o valor de reservas russas que foi aprisionado pelo Ocidente. Sensivelmente metade das reservas que a Rússia possuia na altura. Só que parece que temos andado com alguma dificuldade em descobrir onde é que elas andam...

EU countries push back against fines for Russian frozen assets

Over a dozen EU countries led a pushback against proposed fines for failing to meet reporting obligations on the whereabouts of Russian state assets, forcing the European Commission to drop its plan for the penalties.

The proposal is part of the EU’s 10th sanctions package against the Kremlin, which the Commission is trying to get approved to mark the first anniversary of Russia’s all-out invasion of Ukraine, falling on Friday. Unanimous backing from the bloc's countries would be needed. 

The Commission’s goal is to map Russia’s frozen assets, including what portion of the nearly $300 billion in Russian foreign reserves that are frozen in G7 and EU countries is held in the bloc, where, and by whom.

[Link]

Parece que nem conseguimos descobrir onde é que param esses 300 mil milhões...

Ou seja estamos por nossa conta, temos mesmo que pagar. Temos que pagar tudo. 800 mil milhões num ano. Só para disfarçar a factura energética que pagamos.

Entramos no 2º ano de guerra.

É fazer as contas de quem terá mais pressa que isto acabe...

A triste figura que estamos a mostrar ao mundo. Como é que chegámos  a isto.



P.S.

O décimo pacote de sanções conseguiu sair a muito custo. Cada vez está mais difícil haver consenso sobre o que fazer.

Curiosamente, não se tocou em nada que comprometa a energia nuclear. 

Porque será...? ;-)

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

Estratégia Mediática: Uma Jogada De Mestre

 


Vou fazer um pequeno reparo sobre o discurso de Putin. Não vi ninguém falar sobre esta perspectiva mas eu acho que é importante.

Vamos começar pelo cenário montado. Ele impressiona. Está feito para algo grande e de facto foi grande.

Vamos recordar o que fez a Europa logo em Março. Bloqueou os canais russos. Vivemos todos em democracia, mas a Europa sabe o que podemos e não podemos ver. Somos livres de escolher...quase tudo.

Europa bloqueia todas as plataformas dos canais de informação estatais russos

Numa sanção inédita imposta à Rússia, estão a ser bloqueados os acessos do canal RT e da agência Sputnik a todas as plataformas na Europa, incluindo satélite e internet...

[Link]

Então e o que se passou neste discurso? Será que apesar de não termos acesso aos canais russos conseguiriamos ver algo do mesmo?

Parece que sim. E de que maneira.

Foram vários os canais que eu detectei que passaram em directo na integra e traduzido um longo discurso de mais de uma hora.

  • SIC Notícias
  • RTP 3
  • CNN (a nossa)
Canais estrangeiros, detectei os seguintes:
  • France 24
  • Sky News
  • CGTN

Ou seja, com o planeta à espera de declarações bombásticas sobre a Ucrânia, a Rússia fez passar a sua mensagem em directo para o planeta, tendo sido transmitido pelos canais das nações que tudo fazem para que não se espalhe a "propaganda" russa.

Possivelmente alguém reparou na asneira, mas já era tarde para travar a coisa.

Jogada deveras impressionante.

De mestre.



P.S. Moldávia

Jogada Moldava:

Moldova exige que Rússia retire tropas da região separatista da Transnístria

O novo Governo da Moldova, liderado pelo primeiro-ministro Dorin Recean, exigiu hoje que a Rússia retire o armamento e as forças destacadas na região separatista da Transnístria.

Dorin Recean, que tinha anunciado quando era ministro do Interior que o seu objetivo é a "desmilitarização da Transnístria" e a retirada dos militares russos do território, reafirmou o seu compromisso com "uma resolução pacífica do conflito" na região.

"Isso significa que a Rússia deve retirar armas e equipamentos. É importante que a Rússia cumpra o seu compromisso, e isso implica a desmilitarização, a retirada de armas e militares que estão ilegalmente no território moldavo", disse o primeiro-ministro da Moldova, em conferência de imprensa...

[Link]

Resposta russa:

Putin cancela decreto do Kremlin que reconhece soberania da Moldávia

Vladimir Putin cancelou esta terça-feira um decreto que reconhecia a soberania da Moldávia na resolução da disputa sobre a região separatista da Transnístria, apoiada por Moscovo – o decreto, promulgado em 2012, quando as relações da Rússia com o Ocidente eram menos tensas, foi anulado para “garantir os interesses nacionais da Rússia” após “mudanças profundas nas relações internacionais”, segundo se pôde ler no site do Kremlin...

[Link]

A Moldávia está a pisar gelo muito fino. Principalmente numa altura onde se deveriam manter o mais neutro possível, afinal não está dentro da NATO.

Tomaram as suas opções, como nós europeus tomamos as nossas. (Com o "sábio" conselho do outro lado do Atlântico).

Como sempre foi a minha teoria que a Rússia vai avançar de modo a cortar o acesso ao mar à Ucrânia e ficar frente a frente com a Roménia, a questão moldava tem grandes hipóteses de se tornar mortalmente violenta.

Se fizerem uma cartada semelhante ao que a Geórgia fez em 2008 com uma das suas regiões separatistas, vamos ter o caldo entornado e não estou a ver possibilidade de paninhos quentes.

Lentamente a Europa (nós) vai mergulhando no inferno duma guerra.

sábado, 18 de fevereiro de 2023

França: Uma Questão Nuclear

 




Vou falar mais um pouco sobre a questão da energia nuclear, dando continuidade ao post anterior (Rússia: Uma Questão Nuclear), agora vou focar-me um pouco mais sobre a Europa, mais concretamente a França.

Todos nós estamos decertamente recordados sobre as duras críticas feitas á Alemanha pelas suas opções energéticas que contribuiram para uma maior dependência russa, principalmente no gás. A Alemanha foi severamente criticada pelo abandono da energia nuclear e sempre foi dado como referência o exemplo da França, que sempre apostou na energia nuclear.

70% da electricidade gerada em França vem das suas centrais nucleares. No ano passado muito foi falado acerca da França estar muito mais bem preparada para enfrentar o corte da energia russa, porque depende muito menos desta. Neste ano de guerra, deu para comprovar o quanto podemos contar com a energia nuclear francesa de forma a colmatar a energia russa que não queriamos consumir.

E a França passou no teste?

Bom...

Não.

A maior potência nuclear da Europa, no momento em que mais se precisava dela ficou assim:

French power giant EDF posts record loss



France's electricity company EDF has posted a record single-year loss of €17.9 billion. Major repairs to the country's nuclear plants, plus Russia's invasion of Ukraine combined to create the disastrous figures.

... The largely state-owned French power producer EDF reported a record net loss of €17.9 billion (roughly $19 billion) for 2022 on Friday. The loss pushed the company's overall debts up to €64.5 billion

The dire 2022 performance was caused by a combination of an unprecedented number of outages at its reactors in France, one of the world's most nuclear-dependent countries, and the French government's cap on electricity prices as market prices soared as a result of Russia's invasion of Ukraine...

... For the first time since 1980, France became a net importer of electricity in 2022, during the year when prices in Europe spiked to never-before-seen levels amid Russia's invasion of Ukraine and restrictions on imports of Russian gas and oil and coal. 

A summer drought also led to further reductions in nuclear power output, with too little water available for cooling at some French reactors

The final factor was President Emmanuel Macron's swift move to cap energy prices. In some cases, this left EDF buying in electricity at roughly double the price it was then obliged to charge when selling the power on to other French providers...

Bem, diria que a França falhou e à grande no teste do algodão. E é a França a potência nuclear da Europa.

Quando foi preciso a sério e produzir tanto quanto conseguissem para diminuir o impacto da falta da energia russa, a França falhou e de forma desastrosa.

A coisa foi de tal maneira feia, que a França teve que importar electricidade, coisa que não acontecia há mais de 40 anos.

E depois temos a questão curiosa de que estão todos os governos europeus a fazer. A tentar disfarçar a verdadeira factura da energia aos contribuintes. Não queremos que as pessoas percebam da verdadeira gravidade das opções que se tomaram para apoiar a Ucrânia. Só que vamos ter que pagar. Mais tarde ou mais cedo. E não vai ser bonito.

Então e porque falhou?

Suspeito que uma das principais causas para isto ter acontecido é o envelhecimento das centrais, que começam a acusar a idade e não se pode "puxar" por elas para além dos limites recomendados para a idade...


A idade média dos reactores em 2021, está acima dos 36 anos. Os reactores mais novos, têm no mínimo para cima de 20 anos e os mais velhos a rondar os 50 anos.

Isto mostra uma tendência. Não tem havido investimento significativo para que se construa novas, à medida que as mais velhas vão tendo necessidade de serem desactivadas. E este problema não é só de França.


Os ingleses, têm o mesmo panorama. A idade média aproxima-se dos 40 anos, tendo um reactor na casa dos 20 anos. Também estes não têm investido de forma empenhada.

E se olharmos para os americanos...

A média ronda os 40 anos. E já têm algumas com mais de 50 anos. Nos últimos 30 anos, construiram 3, tendo apenas uma delas menos de uma década de existência.

Diria que no Ocidente, o pessoal técnico especializado e que sabe projectar e construir centrais nucleares está a desaparecer. Será mais difícil e mais caro construir novas.




Agora é espreitar, na quantidade e na média de idade dos reactores que estão na China. A China tem tantos reactores como a França mas novos.

E podemos constar no próximo gráfico quem tem estado a investir e quem tem estado a desinvestir.



Japão -38, EUA -12, Ingleses -4, Franceses -2

E que países têm adicionado mais reactores aos seus arsenais?

China +42(!)
Rússia +5

A China está a apostar fortemente, pelo colosso de país que é. A este ritmo de crescimento e ao ritmo do declínio americano, em breve estes serão ultrapassados pelos chineses.

A Rússia, que como toda a gente sabe está em declínio económico constante desde que se conhece como país, teve a capacidade de construir (e continua a construir) ao seu ritmo. Demonstra capacidade e conhecimento. E como disse no post anterior, tornou-se no maior construtor de centrais nucleares do mundo. Dominando todo o ciclo da existência de uma central nuclear.

E o seu panorama é de crescimento como se pode ver pelo gráfico.


A média de idade dos seus reactores anda na casa dos 30 anos. No entanto têm estado muito activos na ultima década.

Mais uma vez se confirma que é um pobre país que apenas vende gás e petróleo. O resto, centrais nucleares, mísseis hipersónicos, naves espaciais, aviões de 5ª geração, etc, etc, é tudo fake news.

E então com os russos a morrerem todos em vagas suicidas nos terrenos ucranianos, é de todo impossível pensar que possam fazer o quer que seja.

Isto de acordo com a nossa imprensa, os nossos "especialistas", os nossos políticos.

A realidade, bem, a realidade é ligeiramente diferente.

Como podemos constatar pelos dados da Rosatom, a empresa nuclear russa. Sim, porque se os franceses com a EDF levaram um rombo de todo o tamanho, os dados da Rosatom serão certamente Épicos.

Ou talvez não...


Russia’s Grip on Nuclear-Power Trade Is Only Getting Stronger

New data show exports in the strategic industry jumped more than 20% last year, as long-term projects boost Russian influence.

Russia’s nuclear exports have surged since the invasion of Ukraine, boosting the Kremlin’s revenue and cementing its influence over a new generation of global buyers, as the US and its allies shy away from sanctioning the industry.

Exclusive trade data compiled by the UK’s Royal United Services Institute show that Russian nuclear fuel and technology sales abroad rose more than 20% in 2022. Purchases by European Union members climbed to the highest in three years. From Egypt and Iran to China and India, business is booming...


...Rosatom provides about one-fifth of the enriched uranium needed for the 92 reactors in the US. In Europe, utilities that generate power for 100 million people rely on the company...


...The figures show NATO members including Bulgaria, the Czech Republic, Hungary and Slovakia continued to purchase Rosatom fuel last year, amid Ukrainian pleas to shut down the trade after Russia hijacked Europe’s biggest power plant...

... Even in Ukraine, though, nine reactors still under Kyiv’s control rely on stockpiled Russian fuel...

... Hungary is providing aid for two new reactors that were awarded to Rosatom without public tender. Russia is covering 80% of the cost with a 10 billion euro loan. By the time construction is completed next decade, the project will be one of eastern Europe’s biggest foreign investments...

... Rosatom chief Alexey Likhachev said this month that the company is in talks with about 10 countries on new projects, and three or four are close to signing inter-government deals.  In all the countries where Rosatom is already building nuclear plants, “everything is on track,” he said...

Isto só pode ser propaganda. Fake news.

A Rússia enfiou-se numa guerra onde "toda" a gente sabe que vai perder. 

É impossível terem um crescimento de 20% em algo que "toda" a gente sabe que eles não têm capacidade, a construção de centrais nucleares...

Mas para quem está mais ciente das verdadeiras capacidades do país, pode agora encontrar uma explicação porque é que em 10 pacotes de sanções desde que a guerra começou, o sector nuclear nunca é tocado.

Até o espaço aéreo europeu está aberto para os aviões russos especiais que transportam combustivel nuclear para as centrais europeias.

Sim, foi contra a Rússia que decidimos todos nós (ou alguns em nome de nós todos) ir para a guerra.

Um dia as pessoas vão descobrir que foram enganadas. Pela imprensa, pelos "especialistas", pelos políticos.

E a coisa não vai ser bonita.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

Há Falta De Munições Mas... Não É Na Rússia II

 


Tal como suspeitava, a história da "falta" de munições na Rússia era simplesmente para não se olhar para onde se devia. Para o arsenal da NATO.

Stoltenberg acaba por confirmar que a NATO está nas "lonas".


O homem nem confia no que lhe diz a folha de cálculo. É fazer as contas à mão e com lápis. Alguém começou a fazer as contas de como é que vamos aguentar mais um ano a este ritmo.

NATO reconhece urgência no apoio militar a Kiev antes de novas ofensivas

O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, considerou esta segunda-feira que a Aliança enfrenta uma "corrida contra o tempo" no envio de apoio militar suplementar à Ucrânia para permitir às forças ucranianas fazerem face às novas ofensivas da Rússia...

... os Aliados devem "continuar a fornecer à Ucrânia o que precisa para vencer e para alcançar uma paz justa e sustentável"...

... "É evidente que estamos numa corrida contra o tempo em termos de capacidades logísticas essenciais, como munições, combustível e peças sobressalentes, que têm de chegar à Ucrânia antes que a Rússia possa tomar a iniciativa no campo de batalha...

... Relativamente a munições, notou que "a guerra na Ucrânia está a consumir uma enorme quantidade de munições e a esgotar os 'stocks' dos Aliados", sendo que "a taxa atual das despesas com munições na Ucrânia é muitas vezes superior à taxa de produção atual" da NATO, o que coloca as indústrias de defesa dos Aliados "sob pressão", pelo que há que aumentar a produção ...

[Link]

Agora começa a ficar claro, quem tem mais urgência para que esta guerra acabe e quem tinha planos para um conflito a longo prazo.

A desmilitarização já vai além fronteiras. A Rússia já não está a desmilitarizar a Ucrânia, neste momento já está a fazer o mesmo à NATO.

Estando nós presos à narrativa de que estamos ao lado da Ucrânia e que esta não pode perder, as dúvidas começam a surgir. Fomos mesmo nós que decidimos entalar a Rússia por meio de atrito? Deve haver gente que começa a suspeitar que há algo de errado no nosso "superior" plano.

Agora os europeus só precisam de fazer o que tem que ser feito para apoiar a sério a Ucrânia.

E como?

Mais impostos, menos pensões, baixa de ordenados, produzir menos para não gastar energia cara. Tudo para que se consiga desviar o dinheiro para mais tanques, drones, mísseis, chips, etc, etc.

E se o material que produzimos é muito bom, em termos de preço é mesmo muito, mas muito bom. Vamos precisar de desviar dinheiro a sério para produzir material de guerra. Novos hospitais...? Escolas...? Nada disso. Tanques, mísseis, drones... E temos que ser nós a construir porque...

Ucrânia: NATO pede à Coreia do Sul para aumentar ajuda

Jens Stoltenberg secretário-geral da NATO pediu que a Coreia do Sul intensificasse a ajuda à Ucrânia alegando que a mesma precisa urgentemente de mais munições para combater os militares russos...

... Mas as leis sul-coreanas impedem as vendas a nações em guerra, dificultando a entrega de armas à Ucrânia, à qual Seul forneceu já equipamento não letal e ajuda humanitária...

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Ucrânia: Lula diz que Brasil não tem interesse em ceder munições para guerra

A Alemanha pediu ao Brasil que fornecesse munição de tanques para que Berlim as enviasse à Ucrânia, mas esse pedido foi categoricamente negado.

"O Brasil não tem interesse em passar as munições para que elas sejam utilizadas na guerra", afirmou Lula da Silva, durante uma conferência de imprensa no Palácio do Planalto, ao lado do chanceler alemão, Olaf Scholz, o primeiro líder estrangeiro a fazer uma visita oficial ao país desde que o antigo sindicalista regressou ao poder.

"O Brasil é um país de paz", frisou Lula da Silva e, por isso, "não quer ter qualquer participação mesmo que indireta" nesta guerra.

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Até nós não temos munições para alimentar 3 tanques...

Costa surpreende militares

... O Nascer do SOL voltou a confirmar que, conforme também noticiado na anterior edição, o Exército português não possui munições para acompanhar os Leopard 2 em operações de combate, dispondo apenas de material para a prática de exercícios. E por isso mesmo juntou-se a outros países numa operação conjunta de aquisição de munições reais, através de uma agência da NATO, desconhecendo-se a data de entrega da encomenda.

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Isto é a organização militar mais poderosa deste planeta. Que para enfrentar indirectamente a Rússia, não tem munições suficientes.

A selva deve estar a olhar para este belo jardim que nós somos...




P.S.

A Rússia vai avançar com uma base naval no Mar Vermelho. 

Autoridades militares do Sudão aprovam base naval russa no Mar Vermelho

... O acordo de construção e utilização de uma base naval no Mar Vermelho permitiria à Rússia ter até 300 tropas russas, e simultaneamente manter até quatro navios em simultâneo, incluindo de energia nuclear, no estratégico porto do Sudão, no Mar Vermelho...

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Agora é olhar para os pontos de entrada dos porta-aviões americanos para o Mediterrâneo. Alguém não está concerteza feliz.



Post anterior:
Há Falta De Munições Mas... Não É Na Rússia

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

Guerra Global: O Ataque Ao Nord Stream

 

Este blogue está muito focado nos conflitos energéticos entre grandes potências. E sempre dediquei bastante atenção aos novos gasodutos Nord Stream/South Stream/Turquish Stream.

Na conclusão do Nord Stream 2, suspeitei que fosse o início de muita coisa e falei sobre isso em 2021 (Nord Stream 2: A Conclusão Dos Pipelines Para a Europa). Esta ligação é estratégica entre a Rússia e a Alemanha. Demasiado estratégica para os gostos dos EUA.

A partir da conclusão deste pipeline, temos o ultimato da Rússia aos EUA, o início da guerra na Ucrânia e posteriormente o ataque aos gasodutos.

As investigações sobre o ataque passaram a ter resultados secretos. Se alguns países conseguiram identificar os países envolvidos estão de boca selada. Razão? É um acto de guerra. Alguém cometeu um acto de guerra contra a Alemanha e a Rússia. Convém lembrar que a Rússia é uma super-potência nuclear e alguém arrisca-se, caso seja identificado a estar em guerra com uma super-potência.

Eu falei sobre isto e sobre as minhas suspeitas no post Guerra Na Europa: O Ataque À Alemanha e rematei com o seguinte:

Possivelmente, dia 26 de Setembro de 2022, marca o início de uma nova grande guerra na Europa.

Hoje, um jornalista de renome e que no passado descobriu uma série de escandalos sobre acções americanas lança uma bomba sobre o assunto.

How America Took Out The Nord Stream Pipeline

 The New York Times called it a “mystery,” but the United States executed a covert sea operation that was kept secret—until now...

[Link] 

 A coisa deverá estar a ser levada a sério, pois a Casa Branca, já correu a dizer que é falso.

White House says blog post on Nord Stream explosion 'utterly false'

The White House on Wednesday dismissed a blog post by a U.S. investigative journalist alleging the United States was behind explosions of the Nord Stream gas pipelines as "utterly false and complete fiction."

Reuters has not corroborated the report, published by U.S. investigative journalist Seymour Hersh, which said an attack was carried out last September at the direction of President Joe Biden...

[Link]

Jornalista de investigação diz que Marinha dos EUA fez explodir Nord Stream

As alegações de Seymour Hersh foram desmentidas pela Casa Branca. Os dois gasodutos que ligam a Rússia à Europa Central sofreram danos devido a explosões em Setembro...

... O trabalho de Hersh foi feito a partir de relatos de apenas uma fonte anónima “com conhecimento directo do planeamento operacional” da missão.

O jornalista ganhou notoriedade em 1970, quando revelou o massacre de My Lai, no Vietname, cometido pelas forças norte-americanas, pelo qual recebeu o Prémio Pullitzer. Mais recentemente, Hersh divulgou pormenores sobre os abusos de direitos humanos cometidos contra suspeitos na prisão de Abu Ghraib, no Iraque, operada pelos EUA.

A porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova, disse que “a Casa Branca deve comentar todos estes factos”, referindo-se às alegações publicadas por Hersh...

[Link]

Isto tem o potencial de desatar alguns nós na actuação da Rússia. Se forem encontrados os sabotadores, a questão não será a reacção da Alemanha. A grande questão será a reação da Rússia para quem se atreveu a fazer isto.

E suspeito que a resposta terá que ser algo grande. Estratégicamente grante.

Daquelas que se podem perder o controlo sobre a evolução dos acontecimentos.

E que toda a gente sabe, no que costuma dar.

Definitavemente um assunto a acompanhar.

domingo, 5 de fevereiro de 2023

Um Breve Olhar Para A Economia Russa V



Esta sequência de posts teve início com uma análise feita em 2016 sobre os eventos de 2014. Na altura começaram as grandes sanções à Rússia e onde a perspectiva era de um colapso da sua economia.

Vou aqui rever um pouco desse primeiro post:

O ano de 2015 passou. Está na hora de dar uma olhadela à economia russa, agora que saiu uns dados que estava a aguardar. O colapso do barril do petróleo e as sanções atingiram fortemente o país. Estávamos em 2014 quando as coisas começaram a resvalar vertiginosamente. É bom recordar que final de 2014, esperava-se um colapso do país, da sua economia, do rublo, etc...

...  E para supresa de muitos, o país não colapsou. Não colapsou, nem cedeu nas suas posições...

...   Em plena crise, toma uma atitude inédita, a entrada na Síria ... De caminho, mostram a sua capacidade e os novos armamentos que possuem ...

E um pouco do último post feito em 2021:

E a Rússia atinge os 600 Biliões de dólares em reservas...

É bom recordar que o primeiro destes artigos foi feito em Janeiro de 2016 e na altura os valores andavam nos 368 Biliões de dólares. 5 anos depois quase que duplicou este valor. Sanções, Crimeia, Síria, preços baixos de petróleo, nada afectou a constante crescimento das poupanças...

A Rússia entrou em 2021 com reservas económicas, com poder militar crescente, com a perspectiva de completar o Nord Stream 2...

2021 será possívelmente um ano de viragem, onde a Rússia deixa de reagir para passar a agir...

De tempos a tempos necessito de confrontar com o que penso/disse no passado e constatar se estou com o raciocínio pelo menos na direcção certa.

Este último post de Maio de 2021 confirma as minhas suspeitas de que a Rússia iria começar a agir.

Na minha teoria, um dos principais "trincos" para o arranque seria a conclusão do Nord Stream e que se viria a confirmar a importância deste com a sabotagem que foi feita. Algo inédito e de grande envergadura.

2021 foi o ano do lançamento do ultimato russo, 2022, o início das hostilidades. Em 2022, tal como em 2014, foi disparado contra a Rússia uma barragem de sanções sem fim. E tal como em 2014, em 2022 a previsão era do colapso total da Rússia e a sua economia.

Estamos a atingir um ano de guerra, vamos tirar o pulso à coisa:

Abril 2022

IMF cuts global growth forecasts on Russia-Ukraine war, says risks to economy have risen sharply

...The IMF said these penalties will have “a severe impact on the Russian economy,” which estimated that the country’s GDP will fall by 8.5% this year, and by 2.3% in 2023...

 ... This is expected to hurt lower-income households globally and lead to higher inflation for longer than previously anticipated. The IMF estimates the inflation rate will reach 7.7% in the United States this year and 5.3% in the euro zone...

[Link] 

Julho 2022

Russian economy doing better than expected despite sanctions, says IMF

Despite damaging Western sanctions imposed on Moscow in the wake of the invasion of Ukraine, Russia’s economy appears to be weathering the storm better than expected as it benefits from high energy prices, the IMF said Tuesday...

...But the International Monetary Fund’s latest World Economic Outlook upgraded Russia’s GDP estimate for this year by a remarkable 2.5 percentage points, although its economy is still expected to contract by six percent.

“That’s still a fairly sizable recession in Russia in 2022,” IMF chief economist Pierre-Olivier Gourinchas told AFP in an interview...

[Link] 

Outubro 2022

Russia’s recession likely to be milder than earlier expected

The IMF has raised its projections for Russia from its July forecast, and now expects Russian GDP to contract by only 3.4 % this year and 2.3 % next year. The IMF still expected last July that Russian GDP would shrink by about 9 % during the 2022‒2023 period. The Fund expects war to severely impair Russia’s long-term growth potential, with the Russian economy expected to grow by just 0.7‒0.8 % in 2026‒2027. In the October 2021 WEO, Russia’s long-term growth potential was still estimated at 1.8 % p.a. ...

[Link]

Janeiro 2023 

Russia's Economy Forecast to Outperform U.S. Within Two Years

Russia's economy is expected to grow faster than that of the U.S. in 2024, according to the International Monetary Fund (IMF)...

...  In its report released Tuesday, the IMF said that Russia's gross domestic product (GDP) growth had gone into negative figures (minus 2.2 percent) in 2022.

However, the IMF predicted that Russian GDP would rebound slightly in 2023 to 0.3 percent growth, and in 2024, the Russian economy is predicted to grow by 2.1 percent. 

That's higher than the IMF's projection for the United States, which it said would see only 1 percent GDP growth that year, and down from a predicted 1.4 percent in 2023, and the 2 percent the U.S. enjoyed in 2022... 
Supresa!

Uma vez mais parece que a economia russa demonstrou muito mais capacidade que aquela que lhe atribuem. Como sempre. Estou há anos e anos a chamar a atenção que a economia russa é muito mais resiliente do que dizem. Nesta altura já nem há razão para considerar a resiliência, é mesmo força. A economia russa é muito mais forte do que nos querem fazer crer. Anos e anos de previsões, de quedas, de colapsos para depois se constatar o contrário. As notícias, "especialistas" e opinadores focam sempre as previsões negativas, mas NUNCA falam dos verdadeiros resultados depois.

E esta nova previsão do IMF da Rússia que está envolvida quase há um ano numa guerra e debaixo de fortíssimas sanções, está a deixar muita gente além de incrédula muito nervosa. Os ingleses que o digam...

Are sanctions working? Why Russia’s economy continues to grow

Sanctions on Russia “might not be having the impact the West had hoped” a financial expert has said after the International Monetary Fund’s forecast.

On Tuesday, the IMF predicted the British economy would contract 0.6 per cent against the 0.3 per cent growth pencilled in last October - which puts the UK last in terms of G7 nations.

The grim forecast put Britain even behind Russia, which has been hit with sanctions after its invasion of Ukraine. While Conservative MPs have been sceptical towards any doom, it has raised questions as to whether sanctions are hurting the Kremlin as much as desired...

... the UK, similarly to the EU countries, is still fighting off raging inflation,” she added. “As these countries face the biggest fall in living standards on record...




A nova previsão do FMI é deveras constragedora. Não é só o embaraço de assistir a uma previsão de crescimento da Rússia é a humilhação da Alemanha que se prevê um crescimento anémico e abaixo da Rússia e uma dupla humilhação para os ingleses. Além de ficarem claramento abaixo dos russos, o crescimento é negativo. 

Demonstra claramente que estamos a lidar muito bem esta guerra com a Rússia. Como o artigo indica a qualidade de vida dos europeus está a descambar e a descambar como nunca se viu.

Com tanta previsão de especialista, IMF incluido que falhou redondamente as previsões da sobre a evolução da economia russa, penso que me posso permitir a fazer as minhas.

E a minha previsão é: 

A procissão ainda vai no adro. 2023 vai ser um ano como nunca se viu.





P.S. 
Começa hoje as novas sanções ao petróleo e derivados da Rússia. 

Decreto presidencial russo entrou também em vigor em 1 de Fevereiro. Os países que aplicarem estas sanções deixam de receber petróleo.

Russia's ban on oil sales to countries complying with price cap takes effect

Russia's ban on oil supplies to countries and companies that comply with a price cap imposed by the West came into effect on Wednesday.

The decree, signed by President Vladimir Putin on Dec. 27, prohibits the supply of Russian crude oil and oil products "at all stages" if contracts directly or indirectly abide by the price cap...


Vamos a ver como isto nos vai rebentar na cara também.




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