sábado, 29 de abril de 2023

Portugal Vai Comprar 80 Leopard 2

 


Com esta aquisição, Portugal terá mais de 100 Leopard 2 à sua disposição, uma importante aquisição para contribuir para a constituição de um verdadeiro exército europeu.

O investimento também será feito de modo a colocar os actuais Leopard que Portugal tem 100% operacionais.

De recordar que,

Maioria dos 37 tanques Leopard 2 que Portugal possui estão inoperacionais

Portugal possui 37 tanques Leopard 2 A6, mas a maioria está inoperacional. De acordo com o que o Expresso apurou, cerca de uma dezena não está a 100%, mas podem ser empregues no campo de batalha. Apenas uma minoria dos carros de combate é que está completamente funcional...

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Esta notícia seria algo que iria para a página principal de muitos jornais, se fosse verdade. Mas de facto, não é verdade.

Isto é apenas mais um exercício que faço relativamente a custos, mais concretamente a gastos feitos desta vez em Portugal.

Podia Portugal efectivamente avançar com esta compra? Podia.

Um Leopard 2 custa sensivelmente 5.8 milhões de euros.

Ou seja, 5.8 X 80 = 464 milhões de euros.

Ainda nos sobra uns 22 milhões de euros para tornar operacionais os Leopard que temos actualmente, num investimento total de 486 milhões de euros.

Mas, afinal de onde vem este dinheiro?

Esta soma, foi a soma que Portugal esturricou num ano para disfarçar a verdadeira crise energética aos portugueses.

Crise energética e inflacionista custa ao Estado 486,8 milhões em março

As medidas de mitigação do impacto da crise energética e inflacionista custaram ao Estado 486,8 milhões de euros em março, de acordo com a Síntese da Execução Orçamental, divulgada hoje pela Direção-Geral do Orçamento (DGO).

"Em março, a execução reportada das medidas adotadas no âmbito da mitigação do choque geopolítico, levou a uma redução da receita em 439,4 milhões de euros e a um aumento da despesa total em 47,4 milhões de euros", pode ler-se no relatório.

Do lado da receita, a DGO destaca os impactos associados à perda de receita fiscal com a redução do ISP equivalente à descida do IVA para 13% (151,5 milhões de euros), a devolução da receita adicional de IVA via ISP (98,4 milhões de euros), a suspensão da taxa de carbono IVA (95,4 milhões de euros) e a suspensão da taxa de carbono ISP (82,4 milhões de euros).

Já no lado da despesa assinala, em particular, as medidas de apoio a setores de produção agrícola (39,2 milhões de euros).

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Tal como por esta Europa fora, Portugal está a disfarçar a verdadeira factura energética a pagar pelos contribuintes portugueses. 

Este valor é em apenas um ano de conflito e possivelmente agora, já muitos europeus (portugueses incluidos) que a coisa é bem capaz de se arrastar por mais um ano. Pelo menos.

E ainda nem nos apercebemos que a Ucrânia é quase uma nota de rodapé sobre o ultimato que a Rússia lançou em Dezembo de 2021. Ou seja, muito mais nos espera ao virar da esquina...

Entretanto nuestros hermanos, foram apanhados com a boca na botija ao tentar mitigar os gastos para disfarçar a sua verdadeira factura energética.

Espanha: Governo abre investigação à entrada de gasóleo russo no país através de Marrocos

O Governo espanhol abriu uma investigação à entrada, de forma ilegal, de diesel russo em Espanha, através de outros países, entre os quais Marrocos.

O esquema de importações a partir de Marrocos, que fazia chegar a Espanha gasóleo vindo da Rússia, foi desvendado esta sexta-feira pelo El Mundo.

Em reação, a ministra espanhola da Transição Ecológica, Teresa Ribera, assegurou que o executivo está a apurar o que aconteceu, já que tais compras seriam um desrespeito às sanções decretadas pela União Europeia ao regime de Putin, pela invasão da Ucrânia que ordenou.

Também o CEO da Repso, Josu Jon Imaz, argumenta que o gasóleo russo “continua a estar presente no mercado europeu e espanhol” e pede “firmeza” às autoridades europeias para que travem a entrada de combustível com esta proveniência na Europa...

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Anda meia Europa a dizer uma coisa nas televisões e a fazer outra por baixo da mesa. De tal forma que a exportação de petróleo pela Rússia está neste estado:

Russia’s oil exports are back to pre-war levels

Russia’s oil exports have bounced back to levels last seen before it invaded Ukraine, despite a barrage of Western sanctions.

Moscow’s exports of crude oil and oil products rose in March to their highest level since April 2020, jumping by 600,000 barrels a day, the International Energy Agency (IEA) said in its monthly oil report Friday. The rise lifted Russia’s estimated revenue from oil exports to $12.7 billion last month...

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Ou seja, a Rússia está a todo o gás, a exportar petróleo. E está a aumentar a sua frota, com novos petroleiros made in Russia, de uma classe de petroleiros que a Rússia nunca tinha construido, tendo sido um entregue no final do ano passado, com muitos mais a caminho.

Sovcomflot Takes Delivery of Russian-Built and Financed Aframax Tanker


Sovcomflot took delivery today, December 29, on its first Russian-built and financed LNG-fueled Aframax tanker. The delivery was especially significant for the Russian shipping company which had been hard hit by the western financial sanctions after the start of the war in Ukraine.

Built at the Zvezda SSC shipbuilding complex, the new 112,650 dwt vessel named Okeansky Prospekt was financed by VEB.RF. The vessel along with a yet-to-be-completed sister ship was ordered in September 2018 and will be chartered to Rosneft. Each of the vessels, which will be registered in Russia, is 820 feet long with a beam of 144 feet.

The tankers are 1A/1B ice class vessels, which will allow them to transport oil year-round despite the ice conditions in the Far East or Baltic. The vessels are part of Sovcomflot’s new fleet of LNG-fueled tankers outfitted with dual-fuel engines. They will have a top speed of 14.6 knots. 

They are among the first Aframax tankers built in Russia and part of a total class of 12 vessels to be built at Zvezda. The first two vessels of the class, named Vladimir Monomakh and Vladimir Vinogradov, were previously delivered to JSC Rosnefteflot in 2020 and earlier this year. Four more tankers are currently under construction at the shipyard...

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Este estaleiro é o novo e maior existente na Rússia. As dimensões permitem a construção de qualquer tipo de embarcação, incluindo porta-aviões do tamanho dos mais recentes da frota americana se assim o entenderem. 


Nesta foto, tirada em 2021, dá para ver alguns pormenores interessantes. Apesar do tamanho dos petroleiros, podemos ver dois em construção lado a lado e ocupa sensivelmente 50% da largura. O maior guindaste que está ali, fornecido pela China é de enormes dimensões. 120 metros de altura e 189 de largura, com capacidade de "pegar" em peças até 1200 toneladas. O estaleiro está com uma lista enorme de navios para construção, estando a ser construidos vários em simultâneo.

É uma coisa estranha porque não sei como estão a construir coisas destas sem chips...

É mais um exemplo de como se gasta o dinheiro na Europa e na Rússia. Na Europa, usamos dinheiro para disfarçar a verdadeira factura energética, na Rússia, investem nos mais variados sectores.

E "só" temos um ano de conflito...


Post anterior sobre o assunto.
Europa Vai Ter 12 Porta-Aviões E 40 Submarinos De Propulsão Nuclear


Referências ao Estaleiro Zvezda 

A Nova Frota Russa

A Nova Frota Russa II


P.S.

No que toca ao nuclear, os franceses vão trabalhar com os russos. E ao contrário dos Leopard, isto é mesmo verdade.

Paris approves the building of Russian-led nuclear reactors in Hungary

The French government has approved Framatome's participation in the construction of two new reactors at the Paks power plant, arguing that the nuclear industry is not affected by international sanctions against Russia.

In the midst of the war in Ukraine, the involvement of French companies in the construction of two nuclear reactors in Hungary led by the Russian state-owned group Rosatom may seem inopportune. Yet the issue was discussed discreetly between Paris and Budapest...

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Ninguém pode dizer que não estamos a viver tempos interessantes...

domingo, 23 de abril de 2023

Guerras Energéticas: A Bomba Relógio Russa X

 



Mais uma actualização, entendo que estes dados são essenciais para se perceber para onde nos estão a levar as nossas opções.

Já estão disponíveis os dados de Fevereiro e eles mostram que a inflação continua por aí.




Baixamos a barreira dos 10%. A Europa no mês passado estava nos 10% e em Fevereiro está nos 9,9%. Portugal, continua com o mesmo valor, 8,6%, e a Alemanha, a grande potência industrial da Europa está no 9,3%.

Ou seja, continuamos com valores muito altos de inflação, apesar de uma muito ligeira baixa. 

Os ingleses, que alguns pensavam que iria baixar da barreira psicológica dos 10%, tiveram uma desilusão para os dados de Março.

Estão nos 10.1% .

UK inflation rate surprises again with March figure holding above 10%

U.K. inflation unexpectedly remained in double-digits in March as households continued to grapple with soaring food and energy bills.

The consumer price index rose by an annual 10.1%, according to the Office for National Statistics, above a consensus projection of 9.8% in a Reuters poll of economists...

... 
The largest upward contributions to the annual CPIH inflation rate in March 2023 came from housing and household services (principally from electricity, gas and other fuels), and food and non-alcoholic beverages,” the ONS said in the Wednesday report.

As British households continue to contend with high food and energy bills, workers across a range of sectors have launched mass strike action in recent months amid disputes over pay and conditions...


Com a inflação a tornar-se crónica e sem fim à vista, as pessoas começam a acusar algum cansaço. E estou para ver como será a reacção à medida que cada vez mais será necessário canalizar dinheiro para a Ucrânia, quando as carteiras começam a emagrecer a olhos vistos.

E com a Europa neste estado, imaginar como está a da Rússia, "isolada" do resto do mundo e debaixo de sanções draconianas. A Inflação para o mês de Março é algo de surpreendente. Estou curioso como será para os meses seguintes.


Isto é qualquer coisa. Este gráfico mostra a inflação praticamente desde o início do conflito. Toda a gente deverá recordar as previsões e as notícias sobre a inflação e a economia da Rússia. Que iria implodir.

Agora, onde é que aparece nas notícias que a Rússia tem uma inflação que a Europa luta para ter e não consegue?

Como é que a Europa explica, que o país mais sancionado do mundo, com todo o Ocidente contra, que vende a energia por "tuta e meia", que luta com pás, não tem mísseis, chips, aviões, etc, etc, apresenta um gráfico "horroroso" como este?

Se olharmos para a inflação a 10 anos, ou seja, apanhando a situação de 2014, onde marca o início de muitas sanções e que na altura também se previa a implosão da economia russa, podemos ver como a Rússia está a lidar com a coisa.


Diria que a Rússia está a absorver muito bem o impacto de tudo o que lhe atiram para cima. E a narrativa da economia russa ser um gigante com pés de barro fica cada vez mais difícil de manter.

Como tenho dito ao longo dos anos, a economia russa é mais forte que aquilo que nos dizem dia após dia.

E vamos aprender isto pela maneira mais dura.



Post anterior:



P.S.

Putin aceitou o convite para a ir à Africa do Sul à reunião dos BRICS. Se de facto for, vai ser possivelmente o acontecimento do ano. Porque será uma verdadeira afronta para os países Ocidentais liderados pelos EUA.

E claro, se Lula agora está a fazer um vendaval em Portugal e na Europa pelas declarações que fez, é imaginar a presença dele na África do Sul ao lado de Putin.

O mundo está a mudar e estamos a assistir a uma das maiores transformações dos últimos tempos.


P.S.2

Estamos em finais de Abril e a previsão para Maio é uma nova subida das taxas de juro. A questão ucraniana vai aos poucos começar a perder a "piada" à medida que cada vez será preciso mais dinheiro internamente, mas ele terá que ser canalizado para a guerra da Ucrânia. Duras lições vêm aí para todos nós.

quarta-feira, 19 de abril de 2023

Vozes Silenciosas: O Efeito Lula

 


Eu já suspeitava que Lula iria trazer um vendaval geopolítico. E não desiludiu. Lula sempre foi um grande adepto dos BRICS, nunca gostou muito das interferências dos EUA e o caminho que quer para o Brasil, foi de certa forma interrompido. Penso que agora vai tentar com um pouco mais de força.

Os últimos dias têm sido muito animados, atirando Lula e o Brasil para a luzes da ribalta. E não só, pois está a atrair muitas atenções. Os EUA não estão a gostar e a UE também não.

Portugal, contudo, fica numa posição curiosa.

O que vou dizer são apenas conjecturas da minha parte, mas a coisa passa-me pela cabeça. Os países europeus estão reféns de certas linhas de conduta mesmo que muita gente não concorde com o que está a ser feito.

Somos também membros da NATO, ou seja, temos que dizer "sim" a muita coisa e temos que seguir as "recomendações" de outros.

Interrogo-me se esta visita de Lula, não está a ser aproveitada, para que dê voz a muitos descontentes, incluindo dar voz a opiniões que não podem ser expressas pelo governo português no que toca tanto à linha de narrativa como o que se deveria estar a fazer em relação à Ucrânia.

Seja como fôr, Lula está como um elefante numa loja de porcelanas. Está a partir tudo. As suas declarações têm impacto, o Brasil é uma potência de envergadura considerável com imenso potencial de crescimento, muito perto de entrar no "top ten" das maiores economias do mundo. É uma democracia com língua portuguesa. E além de estar a dizer coisas incómodas para muita gente, as suas acções ainda incomodam muito mais.

Deixo aqui algumas acções recentes para ficar como referência para o futuro. Afinal as acções mostram para onde Lula está virado. Para a nova estrutura de poder que parece estar definitivamente a "sair do armário". Lula quer levar o Brasil para a linha da frente desta nova estrutura do mundo multipolar.


  • Dilma Rousseff para presidente do banco dos BRICS


    Lula participa na tomada de posse de Dilma Rousseff à frente do banco dos BRICS

    Lula da Silva iniciou a visita oficial à China. O presidente do Brasil aterrou, esta quarta-feira, em Xangai, a primeira paragem de um périplo de vários dias à procura da reaproximação económica e diplomática, com o maior parceiro comercial do Brasil.

    Já esta quinta-feira esteve presente na tomada de posse da ex-presidente Dilma Rousseffà frente do chamado banco dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), o grupo de países de economias emergentes, na cidade que é sede do Novo Banco de Desenvolvimento...

  • Lula visita Xi


    'Ninguém vai proibir que Brasil aprimore relação com a China', diz Lula em reunião com Xi Jinping

    O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta sexta-feira (14/04) que "ninguém vai proibir o aprimoramento" das relações entre o Brasil e a China.

    "Ontem (quinta-feira, 13/4), fizemos uma visita à Huawei numa demonstração de que nós queremos dizer ao mundo que não temos preconceito na nossa relação como os chineses e que ninguém vai proibir que o Brasil aprimore sua relação com a China", disse Lula a Xi Jinping...

  • Lula ataca o dólar



    "Quem decidiu que dólar era a moeda de reserva?" Lula defende alternativas no comércio com China

    A participação do yuan, a moeda chinesa, mais do que duplicou desde a invasão da Ucrânia, de menos de 2% para 4,5%, refletindo o seu maior uso no comércio com a Rússia.

    Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, atacou esta quinta-feira, em Xangai, o domínio do dólar norte-americano como moeda de reserva mundial e apelou ao uso de outras divisas na relação comercial entre Brasil e China.

    "Eu todos os dias me pergunto por que motivo os países estão obrigados a fazer o seu comércio em dólar", afirmou o chefe de Estado brasileiro, na sede do Novo Banco de Desenvolvimento, criado pelo BRICS, o bloco de economias emergentes que junta Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

    "Quem é que decidiu que era o dólar a moeda de reserva depois de ter desaparecido o ouro como paridade?", questionou. "Nós precisamos de ter uma moeda que dê aos países um pouco mais de tranquilidade", acrescentou.

    ... um banco como o do BRICS pode criar uma moeda capaz de financiar a relação comercial entre Brasil e China e entre o Brasil e outros países BRICS", acrescentou...

    [Link]

  • Lula visita os Emiratos


    Como já tenho chamado a atenção por aqui, os Emiratos têm demonstrado uma grande ligação com a Rússia e China. Lula curiosamente também passou por aqui. Há 20 anos atrás tinha feito o mesmo.

  • Lavrov visita o Brasil


    Entre Lula visitar a China e visitar Portugal, a Rússia anda ali pelo meio. Lavrov entrega convite de Putin para que Lula faça uma visita à Rússia.

Restam poucas dúvidas para que lado estão os olhos de Lula virados. Lula quer estar nos BRICS, quer um mundo multipolar, quer um mundo onde existe menos pressão, controlo e domínio por parte dos EUA.

E com as declarações que anda a fazer, Lula vai dizer aquilo que muita gente pensa sobre esta guerra catastrófica que pode destruir a Europa.

As vozes silenciosas da Europa vão ter um representante.

Vamos a ver se terá o potencial de dar início a algo.






P.S.

Toda a gente sabe que os russos andam a lixar o mundo inteiro por não permitirem o escoamento dos cereais ucranianos. Não é bem assim, mas é o que vende a narrativa oficial.

Depois acontecem coisas destas.

Polónia, Hungria e Eslováquia rompem acordo da UE que liberalizou comércio de cereais da Ucrânia

Bulgária e Roménia já avisaram Bruxelas que também podem repor quotas e tarifas para proteger os seus mercados. Posição de força mostra a dificuldade da UE em manter frente unida no apoio a Kiev.

A decisão da Comissão Europeia de liberalizar o comércio de cereais e outros bens alimentares da Ucrânia está a ser contestada por cinco Estados-membros, que já notificaram Bruxelas da sua intenção de repor quotas e tarifas para a importação de produtos agrícolas ucranianos...

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O verniz vai estalando aos poucos...


terça-feira, 11 de abril de 2023

Um Breve Olhar Para A Economia Russa VI

 


Estava a aguardar com muita curiosidade sobre a próxima previsão do FMI. E eis que surge. E claro, com mais previsões desagradáveis para muita gente.

Há um ano atrás, em Abril de 2022, já com a guerra em curso, esta era a previsão:

IMF cuts global growth forecasts on Russia-Ukraine war, says risks to economy have risen sharply

...The IMF said these penalties will have “a severe impact on the Russian economy,” which estimated that the country’s GDP will fall by 8.5% this year, and by 2.3% in 2023...

 ... This is expected to hurt lower-income households globally and lead to higher inflation for longer than previously anticipated. The IMF estimates the inflation rate will reach 7.7% in the United States this year and 5.3% in the euro zone...

No post anterior percorri as várias correcções que o FMI ia lançando. E as previsões sobre a Rússia cada vez mais se afastavam desta primeira previsão catastrófica.

A primeira lançada este ano, já previa uma ligeira subida de 0,3% para surpresa de muitos. E esta previsão caiu mal a muita gente. Interroguei-me como seria a seguinte.

E agora temos a nova previsão, um ano depois da primeira após guerra. E uma vez mais vai cair muito, mas muito mal a muita gente. 

IMF increases Russian growth forecast in 2023 on deficit-fueled government spending

Washington, United States: The International Monetary Fund increased its estimate of Russian economic growth in 2023 on Tuesday...

... After contracting by 2.1 per cent last year, the IMF now sees Russia’s economy growing by 0.7 per cent this year, up 0.4 percentage points from a previous forecast in January....

... The IMF raised its forecast for 2023 on the “very strong source of revenues for the economy from high energy prices last year and during the first half of this year, IMF chief economist Pierre-Olivier Gourinchas said at the press conference...

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Isto deve estar a deixar muita gente de boca aberta. A Rússia, o país mais sancionado do mundo, enterrado numa guerra, sem acesso ao SWIFT, barrado pelo Ocidente, está... a crescer...?

E não é só crescer, o FMI DUPLICOU a sua previsão de crescimento feita em janeiro. Curiosamente estou a dar com vários artigos a falar agora que a previsão anterior foi de 0,4% ao contrário dos 0,3%, e eu suspeito que é para anular a narrativa que outros falam em que o FMI DUPLICOU a sua previsão de crescimento para a Rússia este ano.

E logo no próximo parágrafo temos outra coisa horrível de se dizer: A Rússia teve uma grande fonte de receitas.

Ora, os especialistas da nossa praça e um pouco por esse Ocidente fora, andaram (e andam) a dizer que a Rússia anda a vender gás e petróleo por tuta e meia. Parece que não...

É claro que estas previsões estão a incomodar muita gente. E não foi preciso esperar muito tempo para começarem as críticas. É que até pode ser verdade, mas estas verdades pelos vistos estragam narrativas que se querem passar por verdades...

E podemos começar pela TIME:

Why Is the IMF Pushing Putin's Economic Propaganda?

Today, the IMF economists did it again with a certification of Vladmir Putin’s unsupported rosy economic forecasts, inexplicably doubling its forecast for Russian GDP growth, which at a projected 0.7% growth far exceeds that of much of Europe. The International Monetary Fund (IMF) has become a source of data distortion and policy confusion either as an unwittingly native tool of Putin’s propaganda machine due to incompetence and laziness, or perhaps something more sinister.

Sadly, beneath the smoke and mirrors obfuscation, the IMF is doubling down on its own worst mistake. At the end of January 2023, the IMF recklessly made Russian projections in their World Economic Outlook which their economists admitted to us over the past year they simply do not have. They certified the fictional projections that Russia will avoid a recession in 2023 with an economy that would expand by 0.3% after shrinking by 2.2% in 2022 and would outstrip growth of the U.K. and Germany. Furthermore, as we have demonstrated, the IMF economists privately admit that they have no basis to make such projections as they have covertly given Russia a pass on their membership obligation to provide comprehensive, timely, transparent, and verifiable data to the IMF.

Since the Ukrainian invasion, our data has shown that the Kremlin’s economic releases have become increasingly cherry-picked, selectively tossing out unfavorable metrics while releasing only those that are more favorable...

... the Russian GDP number is a pure invention from Putin’s imagination and the ruble is not an exchange traded currency. Therefore, Putin’s proclamations of resurgent value are again pure invention ...

... The Putin-selected statistics are then recklessly trumpeted across the world media and relied upon by careless experts in constructing ludicrous forecasts which are unrealistically favorable to the Kremlin but are then repeated by naïve media and professional economists who wrongly think the IMF did their homework. We broke fresh ground last summer showing that the Russian economy was actually imploding ...

... Just a month ago, with former Morgan Stanley chief economist Stephen Roach, we showed how the IMF was covering up this implosion of the Russian economy due to haste or deceit. Privately, the IMF’s Russian economist desk confided to us that they have “zero visibility” into the Russian economy ...

... We are far from alone in our skepticism over Putin’s cherry-picked statistics, as scores of professional economists are alarmed by the IMF’s projections with significant media outcry...

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O artigo é todo ele um grito de raiva pelo o FMI andar a destruir as narrativas de incontáveis especialistas das nossas (ocidentais) praças.

O FMI está obviamente entalado. É que se começa a inventar demasiado, perde a credibilidade e a instituição já não anda muito saudável. Ou seja, não dá para varrer para debaixo do tapete, um ano depois da guerra, que a Rússia está em queda económica descontrolada. E cada vez será mais difícil dizer isso. Mas será interessante assistir aos nossos especialistas contorcionistas da TV explicar como é que a Rússia está no estado em que está, de acordo com o FMI...

E o FMI anda a dizer umas coisas chatas. Vou só focar algumas:

Previsão Janeiro 2023


Previsão Abril 2023


  • Alemanha

    O país passa de uma previsão de crescimento (0,1%) anémico para um valor negativo (-0,1%)! A maior potência da Europa!

  • Estados Unidos

    Previsão de crescimento para 2024 de 1%, a Rússia, 1,3%...

  • Reino Unido

    Passou de uns humilhantes -0,6% para -0,3%, crescimento para 2024, 1%...
A Rússia além de ter visto aumentar (mais que duplicar) a sua previsão de crescimento em 2023, para 2024, o FMI agora vem dizer que vai crescer mais que os EUA, Alemanha, Reino Unido, Itália...

Quanto às reservas monetárias da Rússia, os dados falam por si...



É olhar para quando começou a guerra, Fevereiro de 2022 e ver o que está a acontecer. Para comparação, ver o que aconteceu em 2014, com a questão da Crimeia. Agora está enfiada numa guerra, com um nível de sanções nunca visto.

Sim, é com esta "pobre" nação, que não tem mísseis, chips, munições, aviões, tanques que decidimos combater.

Uma super-potência nuclear.

Uma super-potência energética.

Atolada em reservas financeiras.

E com um FMI que não sabe como não dizer o que está à vista de toda a gente.

A Rússia após um ano de guerra, está pronta para coisas maiores. Muito maiores.

E nós, 

Nós estamos enfeitiçados pelas flautas dos nossos especialistas, caminhando alegremente para o precipício.

domingo, 9 de abril de 2023

Guerras Energéticas: O Preço Do Petróleo Russo III

 


Após a imposição de um preço limite para a aquisição de petróleo russo, temos agora uma resposta. A redução da produção da OPEP+.

Talvez seja bom recordar que Macron em 2022, tentou convencer os sauditas a aumentar a produção para que a Europa não fique tão entalada.


O convite para vir a Paris indignou muita gente, afinal a Europa é tão preocupada com os direitos humanos, mas quando se vê apertada rapidamente se esquece desses "pormenores".

Mas voltemos à redução da OPEP+.

OPEC+ announces surprise oil cuts, while U.S. calls the move inadvisable

Saudi Arabia and other OPEC+ oil producers on Sunday announced further oil output cuts of around 1.16 million barrels per day, in a surprise move that analysts said would cause an immediate rise in prices and the United States called inadvisable.

The pledges bring the total volume of cuts by OPEC+, which groups the Organization of the Petroleum Exporting Countries with Russia and other allies, to 3.66 million bpd according to Reuters calculations, equal to 3.7% of global demand.

Sunday’s development comes a day before a virtual meeting of an OPEC+ ministerial panel, which includes Saudi Arabia and Russia, and which had been expected to stick to 2 million bpd of cuts already in place until the end of 2023.

... Last October, OPEC+ had agreed to an output cut of 2 million bpd from November until the end of the year, a move that angered Washington as tighter supply boosts oil prices...

... The Biden administration said it sees the move announced by the producers on Sunday as unwise.

We don’t think cuts are advisable at this moment given market uncertainty - and we’ve made that clear,” a spokesperson for the National Security Council said...



É bom recordar as relações dos sauditas com Putin e Biden:




E que uns dias antes deste anúncio do corte, houve uma visita para afinar o plano:

Saudi Arabia, Russia Stress Commitment to OPEC+ Decision on Oil Output Cuts


Saudi Minister of Energy Prince Abdulaziz bin Salman met in Riyadh on Thursday with Russian Deputy Prime Minister Alexander Novak who is visiting the Kingdom, the Saudi Press Agency reported.

They discussed global oil markets and the efforts of OPEC+ to promote market stability, SPA said.

They also stressed their countries’ commitment to the decision made by OPEC+ last October to reduce oil production by 2 million b/d until the end of 2023, and continuing Saudi-Russian cooperation within the OPEC+ framework to enhance global oil market stability...

Só quem não quiser perceber.

No entanto a administração Biden, não gostou da "rebeldia" e fez uma ameaça velada aos sauditas em finais de 2022 sobre estas intenções.

Biden warns there will be 'consequences' for Saudi Arabia after oil production cut

President Joe Biden warned Tuesday that Saudi Arabia would face "consequences" after OPEC+ last week announced the biggest cut in oil production since the start of the pandemic.

"There’s going to be some consequences for what they’ve done with Russia," Biden said of Saudi Arabia in an interview with CNN's Jake Tapper. “I’m not going to get into what I’d consider and what I have in mind. But there will be — there will be consequences.”...



Mas os tempos são outros. E algo interessante aconteceu. A Arábia Saudita ao sentir-se ameaçada resolveu ponderar as suas opções,  dando um contributo importante para a parceria estratégica China - Rússia, com enormes mudanças geopolíticas.

E como sinalizou a Rússia, que vai dar uma ajuda em relação às ameaças dos EUA? De uma forma muito clara:

Russia Navy frigate Admiral Gorshkov visits Saudi Arabia for first time ever

 


Admiral Gorshkov left Murmansk, Russia, on January 4 and traveled to South Africa, where it conducted naval exercises before heading to Chabahar, Iran, for further military exercises. Last month, Russia announced naval exercises with China and Iran in the Arabian Sea, aiming to strengthen ties with both countries.

The ship also held a training drill in the Indian Ocean, focusing on seeking and destroying submarines using its Ka-27 series helicopter. After completing its mission in the Indian Ocean, the ship sailed to Djibouti and then to Jeddah, marking its historic first visit to Saudi Arabia.

The frigate is equipped with various sensors and processing systems, including air search radars such as the 5P-27 Furke-4 and the 5P-20K "Poliment," surface search radar like the 34K1 "Monolit," and sonar systems such as the Zarya-M and Vinyetka. She also has a combat system known as Sigma-22350.

The ship's armament includes a 130 mm Amethyst/Arsenal A-192M naval gun, 16 (2 × 8) 3S14 VLS cells for Kalibr, Oniks, Zircon anti-ship cruise missiles or Otvet anti-submarine missiles, 32 (4 × 8) 3S14M VLS cells for the same type of missiles, and 32 (4 × 8) Redut VLS cells for surface-to-air missiles like the 9M96, 9M96M, 9M96D/9M96DM(M2), and quad-packed 9M100.

Admiral Gorshkov also has two Palash CIWS systems each with twin Gryazev-Shipunov GSh-6-30 6 barrel 30 mm rotary cannons, 2 × 4 330 mm torpedo tubes for Paket-NK anti-torpedo/anti-submarine torpedoes, and 2 × 14.5 mm MTPU pedestal machine guns. The ship can carry one Ka-27 series helicopter and has a helipad and hangar for it.

Enviou nada mais nada menos que uma das novas embarcações armadas com mísseis hipersónicos. Estes mísseis são uma verdadeira ameaça para qualquer frota de porta-aviões americano.


E estão os russos a andar sózinhos por estes mares? É espreitar o que os chineses enviaram em passeio até a África do Sul, onde a fragata com misseis hipersónicos esteve muito recentemente em exercícios.

Chinese naval spy ship Yuan Wang 5 docks in South African port of Durban


A Chinese surveillance ship that can track rocket and spacecraft launches was docked at the eastern port of Durban this week, less than two months after South Africa drew the ire of Western nations by holding naval exercises with China and Russia.

The docking of the vessel may add to fears that South Africa is moving closer to China and Russia, even though the bulk of its to-tal trade is with Western nations. South Africa’s biggest single trading partner is China...

On April 3, the DA criticized a decision to allow Iranian warships to dock in Cape Town...

South Africa has courted criticism from the US and its allies for refusing to condemn Russia’s invasion of Ukraine and holding the naval exercise with several Russian and Chinese vessels off its east coast in February over the first anniversary of the outbreak of the conflict. Pretoria is currently contemplating whether to allow Russian President Vladimir Putin to attend a BRICS bloc summit that it will host in August...


Parece claro que em função das novas decisões de impacto geopolítico da Arábia Saudita, esta precisa de protecção. E muita, tal são as decisões incómodas para algumas potências...

E que decisões são essas?

Saudi Arabia officially open to non-dollar oil trade

Saudi Arabia, the world’s largest crude oil exporter, is open to discussing oil trade settlements in currencies other than the U.S. dollar, Saudi Minister of Finance, Mohammed Al-Jadaan, told media outlet Bloomberg in Davos on Tuesday...

... During a visit to Saudi Arabia last month, Xi Jinping pledged to ramp up efforts to promote the use of the yuan in energy deals. He proposed at a summit in the Saudi capital that the Gulf Cooperation Council (GCC) countries should make full use of the Shanghai Petroleum and Natural Gas Exchange to carry out its trade settlements in yuan.


Saudi Arabia and Iran agree to reopen embassies during Beijing talks on resumption of diplomatic ties

Saudi Arabia’s and Iran’s Foreign Ministers met in Beijing on Thursday to discuss key details in the resumption of their relations following a landmark agreement mediated by China last month.

In the highest-level meeting between the two sides in more than seven years, Iran’s Hossein Amir-Abdollahian and Saudi Arabia’s Prince Faisal bin Farhan Al Saud signed an agreement to reopen embassies and consulates in their mutual countries, according to Iran’s Ministry of Foreign Affairs.


Exclusive: Saudi delegation to hold ceasefire talks with Yemen's Houthis in Sanaa

Saudi and Omani envoys are planning to visit Yemen's capital Sanaa next week to negotiate a permanent ceasefire deal with Iran-aligned Houthi officials and end an eight-year-old conflict there, two people involved in the talks said.

The move signals that regional rifts are easing after rivals Saudi Arabia and Iran agreed to restore relations last month following years of hostility and backing opposite sides in Middle Eastern conflicts, including Yemen.

A permanent ceasefire in Yemen would mark a milestone in stabilising the Middle East.


As movimentações russas e chineses no Médio Oriente estão a acabar com conflitos, a mudar a moeda usada e uma perda de influência brutal por parte dos EUA.

Se agora temos uma perspectiva do fim da guerra no Yemen, na Síria, continua a existir problemas porque uma grande parte do território está sob controlo americano. E estes conseguem exercer esse controlo porque não saiem do território iraquiano, apesar destes terem dito para que os americanos saíssem do país.

Mas ainda assim, temos mais um problema para os americanos. A normalização/estabilização da Síria está em curso, ficando cada vez mais difícil a posição americana na região.

Diplomatic relations with Syria: Saudi Arabia to invite Assad to Arab leaders summit


Reuters is reporting that Saudi Arabia plans to invite Syrian President Bashar al-Assad to May's Arab League summit in Riyadh. Such an invitation would formally end Syria's regional isolation. Syria's government has been politically shunned for more than a decade because of its role in the nation's brutal civil war. But in the past months there has been increased Arab engagement with the Assad regime. Saudi Foreign Minister Prince Faisal bin Farhan will travel to Damascus in coming weeks to hand Assad a formal invitation to attend the summit scheduled for May 19, two of the sources said. The Saudi government's communication office and the foreign ministries of both countries did not respond to requests for comments. FRANCE 24's International Affairs commentator Douglas Herbert tells us more.


Estão em curso mudanças gigantescas neste mundo. Russos e chineses têm uma parceria estratégica e oferecem soluções diferentes às que existem actualmente em vigor redigidas/impostas pelos americanos. Estas mudanças estão a notar-se bem no Médio Oriente e continente africano.

Russia shifts to Dubai benchmark in Indian oil deal



Russia's largest oil producer Rosneft (ROSN.MM) and India's top refiner Indian Oil Corp (IOC.NS) agreed to use the Asia-focused Dubai oil price benchmark in their latest deal to deliver Russian oil to India, three sources familiar with the deal said.

The decision by the two state-controlled companies to abandon the Europe-dominated Brent benchmark is part of a shift of Russia's oil sales towards Asia after Europe shunned Russian oil following Russia's invasion of Ukraine more than a year ago.


As alterações são tantas que é difícil de acompanhar. Mas vou tentar ir registando as que mais me chamam a atenção.

Todas estas mudanças tectónicas vão ter impacto na influência americana, que a cada dia que passa cada vez é mais difícil para eles conter tanta rebeldia.

Infelizmente, nós os europeus estamos a caminho do mesmo destino, ou algo ainda pior. Afinal em última instância os americanos têm energia. Nós, nem isso.



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P.S.

As mesas de Macron:


Uma imagem vale por mil palavras. Há pessoas que se querem próximas, há pessoas que se querem distantes.

E a Europa... a Europa anda nas ruas da amargura...