sábado, 26 de março de 2022

Gás Americano: Uma História Da Carochinha

 




Este anúncio de que os EUA vão fornecer 15 mil milhões de metros cúbicos de gás é... areia para os olhos.

Claro que as pessoas não percebem do significado da quantidade referida e pelos vistos a imprensa também não se está a dar ao trabalho de traduzir a coisa.

15 mil milhões é quase uma gota no oceano relativamente a consumos de gás russo na Europa, mas o que representa este valor? Este valor é sensivelmente o valor fornecido pela Rússia em GNL (LNG). Se olharmos para os valores fornecidos entre 2019 e 2020, vemos uma situação bastante curiosa e que eu já tinha referido anteriormente. Os EUA nem em LNG conseguem competir com a Rússia. A Rússia em 2020 forneceu mais que os EUA e teve um aumento de quota muito acima dos EUA relativamente a 2019.


Qual a vantagem? o preço claro. A Europa sempre beneficiou de um preço mais interessante de energia, principalmente devido aos pipelines existentes, mas até no LNG a Rússia vende mais barato.

A Ásia sempre pagou mais, porque não tem alternativa. E é o destino principal do gás americano como podemos ver por esta tabela.



Suspeito que até este fornecimento de 15 mil milhões é gás que vão desviar da Ásia. E vão desviar porquê? Porque a Europa vai pagar mais. Nós vamos pagar muito mais. E qual o impacto deste valor para a realidade russa? Basta vermos as capacidades dos pipelines existentes.

Só pela a Ucrânia, existe capacidade para passar 140 mil milhões cúbicos de gás



E pelos novos pipelines a realidade é esta:



- Nord Stream 1 & 2 ,110 mil milhões
- Yamal 33 mil milhões
- TurkStream 31,5 mil milhões

A Rússia consegue fornecer se a Europa quiser 174,5 mil milhões pelos novos pipelines e ainda mais 140 mil milhões se quiser usar os pipelines da Ucrânia, num total de 314,5 mil milhões.

O acordo com os americanos para relembrar, é apenas para 15 mil milhões. A um preço que suspeito ninguém terá a coragem de dizer. 

Os Europeus (nós) estamos completamente à mercê de políticas e políticos que não estão a pensar no futuro da Europa.

E se isto é grave, ainda consigo arranjar pior.

Temos a questão do petróleo, do diesel e do... Nuclear, até no nuclear a Europa depende 20% da Rússia.

É mau demais.

quarta-feira, 23 de março de 2022

Guerras Energéticas: A Bomba Relógio Russa

 


European Gas Surges 34% As Putin Seeks Payments In Rubles - Bloomberg

European energy prices surged after President Vladimir Putin said Russia will demand payments in rubles from natural gas buyers it deems “unfriendly.”

Benchmark gas futures jumped more than 30%, followed by power and coal prices...

...Dutch front-month gas, the European benchmark, jumped as much as 34% ...

[Link]

Bom, a Rússia anunciou que quer receber em rublos pela venda da sua energia. A situação já estava extremamente instável na Europa, com preços completamente alucinantes.

Agora a Europa além de ter que arranjar maneira de voltar a encher as suas reservas para o próximo Inverno e isso como indiquei anteriormente costuma ser a partir de Abril, tem que arranjar rublos...

Não consigo abarcar todo o impacto de tal decisão. O caos está instalado e a Rússia ainda nem sequer fechou a torneira.

A Europa vai entrar em convulsão. Cada vez mais me convenço disto.

A Europa vai entrar num caos político à medida que as coisas vão começar ou a faltar ou a ter valores completamente impossíveis de lidar por qualquer país.

Começou o ataque à NATO.

Vamos a ver se a coesão desta organização militar vai sobreviver tal como existe hoje.

Este é um assunto a acompanhar nos próximos tempos.

Vem aí provavelmente muitas mudanças nas nossas vidas e será já nos próximos meses.

Apertem os cintos, vamos entrar numa zona muito turbulenta.

terça-feira, 15 de março de 2022

O Ataque À Polónia III

 


O ataque à base que tinha mercenários chamou-me a atenção. Este ataque foi muito mais que um aviso aos estrangeiros que pensavam que iriam dar uns tiros aos patos (russos).

A sua proximidade com a Polónia transmitiu uma sensação de segurança. Afinal estavam muito afastados do conflito e nem lhes passou pela cabeça que a Rússia tem todo um arsenal que permite chegar a qualquer parte do mundo, com extrema precisão.

É algo que as pessoas continuam sem perceber. As pessoas estão habituadas a guerras, onde o Ocidente tem a supremacia de armamento contra países que não têm nenhum tipo de hipótese. Seja Iraque, seja Líbia, seja Afeganistão.

A Rússia é uma super-potência militar. Não há nenhum país deste mundo excepto os americanos que consigam competir com eles.

Qual a minha teoria do que aconteceu com este ataque de precisão junto à fronteira com a Polónia? A Rússia resolveu dar um recado aos americanos e polacos. Quando comecei a ver indicações de que foram atingidos por 8 mísseis, fiquei convencido que a minha teoria deveria estar correcta.

A Rússia usou apenas uma das novas embarcações que tem no Mar Negro. Cada uma destas embarcações tem capacidade de levar 8 mísseis Kalibr. Suspeito que a Rússia traçou uma rota para os mísseis que se continuassem naquela direcção iriam a direitos à base americana que está na Polónia.

Se foi isto que aconteceu, tanto os polacos como os americanos devem ter apanhado um susto ao ver o rumo dos mísseis nos seus radares em direcção à base americana. Coloquei no mapa a minha teoria da rota programada nos mísseis para atingir o alvo. Estes mísseis podem ser programados para usar a rota que se quiser e isto foi confirmado na Síria.

Não podemos esquecer que estes mísseis usam o sistema GPS russo e têm um alcance de 1500 a 2500 km, o que permite perfeitamente o uso a partir do Mar Negro para atingir um ponto na Polónia.


Basta dar uma olhadela pelo Google e ver as distâncias envolvidas. Eu já num post anterior tinha chamada a atenção ao potencial das novas armas russas:


Este mapa tem como base da circunferência o Mar Cáspio e mesmo assim permite em teoria que uma embarcação neste mar atinja território polaco! Se a circunferência estiver no Mar Negro chega à Peninsula Ibérica.

Se estiver no Mediterrâneo e agora a Rússia tem uma base na Síria, toda a Europa, incluindo Portugal está no alcance. Estamos a falar de um tipo de armas que há 10 anos não existiam na Rússia. Houve uma tremenda modernização do arsenal e este tipo de míssil nem é o mais letal.

Penso que está mais que claro, na gravidade em que os nossos politicos nos meteram. Estamos numa situação de confronto com uma super potência nuclear que pode atacar qualquer ponto da Europa sem saírem do seu próprio território. Usando apenas armas convencionais.

De recordar que no início deste ano houve uma declaração das 5 potências nucleares para o não uso de armamento nuclear.

Five of world’s most powerful nations pledge to avoid nuclear war

US, Russia, China, the UK and France who are permanent members of the UN security council agree ‘nuclear war cannot be won’

Five of the world’s most powerful nations have agreed that “a nuclear war cannot be won and must never be fought” in a rare joint pledge to reduce the risk of such a conflict ever starting.

The pledge was signed by the US, Russia, China, the UK and France, the five nuclear weapons states recognised by the 1968 Nuclear Non-Proliferation Treaty (NPT) who are also the five permanent members of the UN security council. They are known as the P5 or the N5.

[Link]

Pouco tempo depois começa a guerra na Ucrânia.

Pode haver uma guerra na Europa de forma convencional. As 5 nações acordaram nisso.

É nisto que estamos metidos. Pelos nossos políticos.

segunda-feira, 7 de março de 2022

Guerras Energéticas: O Preço Das Opções Europeias II

 

Quase custa a acreditar no caminho que os políticos europeus escolheram. A Europa caminho a passos largos para a destruição da sua economia e capacidade industrial. Há um ano atrás o valor era o seguinte:

Estamos a falar de aumentos numa ordem de magnitude completamente devastadores e teve um pico hoje que chegou aos 345€. E a Rússia nem cortou o fornecimento de gás. Quem tem estado a colocar sanções fomos nós europeus.

A este ritmo vamos esquecer a questão ucraniana muito brevemente. Os políticos europeus e a imprensa europeia vão ter muito que explicar como é que nos levaram a esta situação.

[Link]

Vendo por uma perspectiva dos últimos 8 anos, podemos ver bem na gravidade da situação em que estamos.


A Europa arrisca-se a uma implosão. Os políticos europeus que tenham um avião a postos para fugir para algum lado. É capaz de aparecer alguns europeus a pedir satisfações.

Mas agora ainda é cedo. Agora o que vemos é pérolas destas:

Navio russo recebido com buzinão no porto de Sines. "Isto é uma afronta ao mundo inteiro"

Chegou no sábado ao porto de Sines um navio que transporta gás natural proveniente da Rússia. A chegada foi adiada duas vezes, mas acabou por acontecer com um buzinão de habitantes locais que lamentam a autorização do Governo português. 

 [Link]

Dentro de uns meses e penso que não vão ser muitos, vamos a ver se os buzinões serão para algum barco russo que com sorte ainda se lembre de entregar gás a Portugal.


Artigo anterior:
Guerras Energéticas: O Preço Das Opções Europeias

domingo, 6 de março de 2022

A Armadilha Polaca

 


Bom, parece que a frustração cresce para os lados da Polónia. A Polónia, vizinha da Ucrânia e um dos grandes impulsionadores das políticas ucranianas, assiste impotente ao desmoronar de anos e anos de preparação.

A Polónia tem muito em jogo. O pipeline que leva gás russo para a Alemanha e que transita pelo país, há 3 meses que não transporta gás.

Os russos estão de olho nas bases americanas que lá estão.

A Polónia vê a Rússia a aproximar-se das suas fronteiras a cada dia que passa e não está a conseguir atrasar esse avanço. O material de guerra que estão a entregar simplesmente não é suficiente.

As forças paramilitares de extrema direita (nazis) estão em dificuldades. O cerco aperta, não há reforços, tropas chechenas aproximam-se. 

Já há relatos de grupos eliminados, sem indicação de prisioneiros, o que é expectável. Estas forças não terão estatuto de prisioneiros de guerra, não há opção de rendição. E esta é a razão principal pela dificuldade de saída de civis em algumas cidade sitiadas como Mariupol. São os civis que estão a impedir um ataque musculado a estas forças extremistas.

A Polónia quer ajudar mas não está a conseguir arranjar uma solução. Lembrou-se de oferecer os Mig-29 que possui.


 Mas, como podem eles ser entregues se todo o espaço aéreo ucraniano está sob controlo russo? A cada dia que passa mais bases são atacadas ou ocupadas por tropas russas.

E a Rússia lançou o aviso. Países que sejam base de partida de aviões para a Ucrânia, serão considerados como participantes no conflito.

Ou seja, a NATO e os EUA querendo evitar a todo o custo o seu envolvimento, vão indicar à Polónia que se quiserem intervir estão por sua conta e risco.

Está aqui o grande perigo para a Polónia.

Suspeito que a Rússia vai tentar provocar a Polónia de modo a fazer com que este dê início a algum tipo de hostilidade. Tal como os turcos fizeram quando viram a Rússia a atacar na Síria, forças junto à sua fronteira e abateram um avião russo. Algo muito perigoso e que ficou logo claro que o fez sem o aval da NATO.

A acontecer algo semelhante na Polónia, daria luz verde à Rússia para atacar a Polónia. Atacar a base de onde partiram os Mig-29s e as bases onde estão alojados os mísseis americanos, que é um dos principais pontos endereçados no ultimato russo.

A aproximação de forças russas à fronteira polaca, irá aumentar a tensão na Polónia, e esta, poderá cair na armadilha.

A partir daí...

terça-feira, 1 de março de 2022

NATO VS Rússia: O Confronto Aproxima-se

 


O ultimato da Rússia lançado em Dezembro não foi levado a sério. Os países Ocidentais duvidaram que a Rússia tivesse a coragem de fazer o que acabou por fazer. 

A Rússia ao entrar na Ucrânia, dá inicio a uma processo com várias implicações.

  • Fim da expansão da NATO.
  • As repúblicas separatistas passam a estar efectivamente protegidas.
  • Aproximação das bases estratégicas americanas.
  • Possibilidade de abrir corredor em direcção a Kalinigrado, deixando este território de estar isolado do resto da Rússia.

A NATO tem-se expandido na direcção da Rússia nas últimas décadas, esta vai começar agora a empurrar na direcção contrária. Ao entrar na Ucrânia, passa a ter acesso directo, juntamente com a Bielorrússia à fronteira polaca e romena.

A Ucrânia por sua vez, caminha para o seu desmenbramento. E vai perder acesso ao Mar Negro, todo o território que tem acesso ao Mar Negro vai de alguma forma ser controlada pela Rússia.

Penso que Zelensky não conseguirá manter a situação muito mais tempo. O país deixou de estar funcional e cada vez mais cidades vão caindo nas mãos dos russos. Zelensky terá que aceitar o que a Rússia lhe impõe. 

Após isso, ficará a questão da limpeza dos grupos para-militares nazis que como indiquei no post anterior, irá ser tratado por destacamentos especiais chechenos.

A Rússia irá posicionar tropas cada vez mais perto da Polónia e Roménia. 

Penso que vão colocar de novo o ultimato, enquanto aumentam a pressão económica.

A Rússia vai forçar os preços energéticos a subir, fazendo uma grande pressão sobre os europeus.

Para a Polónia a pressão aumenta a cada dia que passa. Agora já não só o pipeline que não transporta gás russo para a Europa.

A Polónia está a sentir a vaga de refugiados que ao fim de 5 dias já se contabiliza nas centenas de milhar.

As pessoas não se apercebem da dimensão da Ucrânia. Para um país de mais de 40 milhões, quantos milhões a Polónia se arrisca a receber?

Onde vão ficar eles? Quem paga?

É bom lembrar a reacção da Polónia e muitos países Ocidentais, quando menos de 5 mil refugiados oriundos de zonas de guerra, tentavam aceder via Bielórrussia. A Polónia enviou tropas e começou a colocar barreiras e arame farpado. Isto foi há escassos meses atrás.

Menos de 5 mil refugiados era a estimativa e na altura muito se falava sobre isso, basta por exemplo ver a quantidade de artigos por volta de Novembro do ano passado, no Observador.

Agora, a expectativa de haver no mínimo 1 milhão de refugiados é uma realidade.

A UE tem estado a pagar à Turquia para que estes não deixem passar os refugiados da guerra da Síria.

Bem, agora temos mesmo refugiados dentro da Europa.

O preço que a Europa vai pagar por servir interesses americanos, permitindo que estes usem território europeu para colocação de mísseis, será de um valor simplesmente astronómico.

Os políticos europeus esqueceram-se da sua principal missão. Servir os interesses europeus.

Agora é tarde.