sábado, 23 de setembro de 2017

Gás Russo A Caminho Da Península Ibérica



Este é mais um artigo para alertar que o rumo das ligações energéticas entre a Europa e a Rússia não estão a divergir, mas sim a convergir. A Península Ibérica, uma zona europeia que não depende de gás russo, vai passar a depender dele a partir de 2018. A Espanha  fez um contrato por 25 anos para receber gás russo.

Mais de 10% do gás consumido em Espanha será russo. Esta situação mostra que estamos muito longe das teorias onde se equaciona uma menor dependência de gás russo, através de mais ligações com a Península Ibérica, dado que esta zona, não é (era) consumidor do gás russo.

Russian independent gas producer will start liquefied natural gas (LNG) supplies to Spanish energy company Gas Natural Fenosa in 2018, Interfax news agency quoted Novatek head Leonid Mikhelson as saying on Monday.

Novatek and Gas Natural Fenosa signed a long-term contract in 2013, which envisages LNG supplies from Novatek’s Yamal LNG project.

Mikhelson said on Monday that the 25-year contract with Fenosa which is worth more than 30 billion euros ($33.53 billion) was aimed to deliver 2.5 million tonnes of LNG per year to the Spanish partner, Interfax reported. 


Isto confirma a tendência, a Europa quer gás russo e a Rússia está a aproveitar todos os nichos de mercado disponíveis, mostrando o que já tenho referido várias vezes, a Rússia é considerada um fornecedor estável.

A acompanhar esta tendência temos dados já de 2017 que confirma o aumento dos consumos de vários países.

...Despite sanctions from both the U.S. and the EU, and Europe’s determination to reduce its reliance on Russian gas, Russia has been setting all-time highs in its exports throughout the past eight months. Although Gazprom has not yet surpassed its January 27, 2017 daily exports record of 636.4 MCm per day, it has been setting all-time summer season export records, with current gas flows oscillating within 580-590MCm per day levels... 


From January 1st to July,15th, 2017, the supply of the Russian gas to Turkey, South and South-Western Europe has increased. Thus, export to Turkey increased by 22% when compared with the same period of 2016.

Gazprom also noted that supplies of gas to Hungary grew by 26.6%, to Serbia by 47.9%, to Bulgaria — by 12.6% and to Greece — by 10%.

[Link]


Mapa de 2014 onde actualizei com os novos países
 clientes

O que isto mostra, além do crescimento das ligações com a Rússia, é que os EUA estão com sérios problemas para entrar na Europa o que significa ainda mais problemas para os seus produtores de gás que querem aumentar as exportações.

A Rússia só não está a acelerar ainda mais as exportações para a Europa devido às sanções e onde os EUA tem tentado por esta forma afectar as ligações nomeadamente no Nord Stream 2 entrando em rota de colisão com a Alemanha.

Penso que agora a seguir às eleições na Alemanha, esta vai mostrar aos EUA que estes não podem comprometer a segurança energética alemã e a Alemanha não pode ser tratada como um país qualquer que cede a pressões.

Ou seja, a própria atitude americana comprometeu a sua tentativa de impedir o aumento de mais gás russo para a Europa.

Agora com a entrada em Espanha, a Rússia mostra que consegue chegar a qualquer país Europeu, e a qualquer país do mundo, devido á sua aposta no mercado LNG, que começa agora a dar frutos, com várias implicações Geopolíticas.

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Um Breve Olhar Para A Economia Russa II




Bem, vou  actualizar os dados da economia russa, para ver como se tem portado com os vários desafios que têm surgido. Não podemos esquecer que tem estado sob pressão em variadíssimas situações (Ucrânia, Crimeia, Síria, sanções, preço do petróleo, uma imprensa acutilante).

Eu já tinha feito um artigo no princípio do ano passado (Um Breve Olhar Para A Economia Russa), onde constava que a conversa dos problema económicos referidos na imprensa não estavam correctos. Agora quase ano e meio depois, podemos ver que eu estava certo, a economia russa está a a fortalecer e a acelerar.

Quanto à conversa que "toda" a gente sabe, sobre a Rússia ser um país completamente dependente do petróleo, vou colocar este gráfico para termos uma melhor perspectiva da coisa:


O petróleo entre 2015 e 2017 tem andado numa média de pouco mais de 40 dólares e no último ano podemos falar que ronda os 50 dólares. Podemos encontrar vários artigos ao longo dos tempos, que garantem que a Rússia não consegue sobreviver com o petróleo com estes valores.

Mas quem diz isso nunca recorre a dados concretos, porque senão teria que mostrar algo semelhante ao que vou mostrar.

Vamos começar pelas reservas financeiras. No post anterior tinha indicado que entre Dezembro de 2014 e Dezembro de 2015, a Rússia tinha apenas perdido 5% das suas reservas ao contrário do que se vendia por aí, ficando por uns 368 Mil Milhões de dólares.


Podemos ver neste gráfico actualizado até Maio de 2017 que as reservas têm estado a subir e passaram a barreira dos 400 Mil Milhões em Abril! Eles estão a conseguir acumular riqueza, apesar das sanções, do petróleo a 50 dólares, do "isolamento", dos investimentos (Tipo GLONASS, Ártico, ponte Crimeia, novo cosmódromo,  novo avião de passageiros MC-21, novos motores, novos pipelines, etc, etc)

Apesar de todos os gastos, eles estão a conseguir criar uma grande almofada financeira, no entanto sempre que se fala da Rússia, temos sempre alguém a falar dos seus problemas económicos.

Como se só isto não bastasse, temos ainda a questão do ouro, com tanta coisa, concerteza pararam de comprar ouro, pois o dinheiro não chega para tudo. ERRADO. Eles continuam a ser o maior comprador de ouro do mundo e não estão a abrandar por coisa  nenhuma. Excerto do anterior artigo para comparação (e tenho alguns posts dedicados ao ouro, para quem quiser ver melhor a coisa)

...2014 tinha sido o ano em que a Rússia mais comprou ouro, 177 toneladas. Deixou de ser. 2015 sem os dados de Dezembro, já vai em 197 toneladas. Duma coisa não se livra, é o maior comprador de ouro no ano de 2015...

Os dados até Maio indicam que já adquiriram este ano 97 toneladas, ou seja, se continuarem a este ritmo, este ano ultrapassam as 200 toneladas. A Rússia é um dos maiores detentores de ouro e é o maior comprador mundial, façanha que se tem repetido nos últimos anos.

O que se ouve falar na imprensa? Nos eternos problemas económicos da Rússia...



E quanto a isto do ouro e das sanções, mais um pormenor interessante que aqui registo:

Russian gold miner Polyus returns to London two years after delisting

Russia’s largest gold producer is to return to the London Stock Exchange, two years after delisting from the market...

...Polyus delisted from London in 2015 in the wake of tightening western sanctions on Russia...

...Last week a consortium led by Chinese investment group Fosun took a 10pc stake in Polyus, with the option to raise this to 15pc. The move marks one of the largest investments in Russia’s mining industry yet by the Chinese...


Estão a aparecer "rachas" nas sanções por todo o lado. A economia russa está bem mais resistente do que aquilo que nos dizem... 

domingo, 30 de abril de 2017

Europa Financia Rússia em 5 Mil Milhões

Nord Stream 2

Apesar da Rússia estar debaixo de sanções e existir hoje uma grande pressão para virar a opinião pública contra a Rússia, o facto é que a Europa continua a apostar nas ligações energéticas com este país, ao contrário do que tem vindo dizendo.

Hoje, o que "todos nós" sabemos é que a Europa procura diversificar os seus fornecedores de modo a diminuir a dependência da Rússia.

Mas como já tenho referido, não podemos olhar para o que dizem, temos que olhar para o que fazem.

O ano de 2016 foi o melhor ano para a Gazprom. Aumento de lucros e aumento dos volumes fornecidos à Europa. Isto debaixo de sanções e de "costas voltadas".

Gazprom’s gas exports to Europe hit a record in 2016

Russian state giant Gazprom’s gas exports to Europe hit a record in 2016, going up by 12.5% and falling slightly short of 180 billion cubic metres, the company’s CEO, Alexey Miller, has told Russian President Vladimir Putin during a meeting at the Kremlin.

Gazprom’s share in the European gas market added 3% in just over a year, reaching 34%, Miller was quoted as saying in a press release, posted on Gazprom’s website.

The highest growth in absolute terms was demonstrated by Gazprom’s number one market, our largest export market, Germany, which added 10%, or 4.5 billion cubic metres of gas. “We delivered 49.8 billion cubic metres of gas to Germany,” Miller said.


Apesar deste crescimento, o Nord Stream tem encontrado uma feroz resistência por parte da Polónia que tudo tem feito para impedir o aparecimento deste pipeline. Vários países europeus  liderados pela Alemanha, não têm estado nada satisfeitos com esta actuação polaca.

Poland and Ukraine to jointly oppose EU over Nord Stream 2, Opal

Poland and Ukraine plan to act jointly to block projects that could result in Russia's Gazprom gaining greater access to the European gas market by bypassing Ukraine

In October the European Union lifted a cap on Gazprom's use of the Opal pipeline which carries gas from the Nord Stream pipeline that crosses the Baltic Sea to end-users in Germany and the Czech Republic.

That decision opens the way for Russian plans to expand Nord Stream's capacity and bypass Ukraine as a gas transit route.

Poland, which imports most of the gas it consumes from Russia, immediately criticised the Commission's move saying it threatens gas supplies to central and eastern Europe.

...Analysts are sceptical though about Poland's and Ukraine's plans to stop Gazprom's expansion in Europe...

"These objections now remind me of those when Nord Stream 1 was built. I think the recent EU decisions show that the new gas link (NS2) will be built and no pressure or lawsuits will help," oil and gas expert Andrzej Szczesniak said, adding Poland and Ukraine cannot count on much backing from other parties.

"Business is business and politics is politics, but this is not well understood in Poland,"...


A pressão exercida pela UE (parte dela), fez com impedisse que um consórcio fosse formado com várias companhias europeias e a Gazprom, de modo a cada um ter uma percentagem do Nord Stream 2. Com isto atrasaram o financiamento do projecto, pois ficaria 100% a cargo da Gazprom e esta está com vários projectos em simultâneo.

Mas as necessidades energéticas da Europa, gritam mais forte e foi arranjado uma solução não parar os avanços do pipeline, as empresas não ficam com uma parte do projecto, mas avançam com o financiamento. O que mostra que existe bastante consensos, entre alguns países europeus e a Rússia, apesar de todo o ruído que existe na imprensa.

Países envolvidos:


  • França - Engie SA
  • Áustria - OMV AG
  • Holanda - Royal Dutch Shell PLC
  • Alemanha - Uniper SE
  • Alemanha - Wintershall Holding GMBh

  • O financiamento é de tal magnitude, que podemos ver por outra perspectiva. O financiamento europeu paga toda a intervenção militar na Síria!

    E pare reforçar esta ideia, temos a questão de que a UE declarou que não pode bloquear legalmente o pipeline dias antes. Apesar de todos os esforços dos polacos.


    Energy Firms' $5.1 Billion Financing for Russia Gas Pipeline Stokes EU Fears

    European energy firms pledged Monday to finance half the cost of a natural-gas link from Russia to Germany, lending support to a pipeline plan that is fueling tensions within the European Union.

    A consortium of five companies -- Engie SA, OMV AG, Royal Dutch Shell PLC, Uniper SE and Wintershall Holding GmbH -- said they would provide up to EUR4.75 billion ($5.1 billion) in long-term financing to Nord Stream 2 AG, a wholly owned subsidiary of Russia's state-owned PAO Gazprom...

    ...Monday's agreement follows the EU's admission last month that Brussels cannot legally block the proposed pipeline, which would be ready by the end of 2019. Nord Stream 2 would add another 55 billion cubic meters to annual gas flows to Germany, about 14% of the EU's yearly consumption.


    Vem aí uma factura pesadíssima para a Polónia e Ucrânia. A Ucrânia vai perder a capacidade de manter toda sua rede de pipelines funcional, pois não terá o dinheiro que recebe actualmente por ser um país de trânsito do gás.

    A Polónia como principal factor de bloqueio no aumento das ligações entre UE e Rússia, é bom que acelere a sua diversificação energética. Porque desconfio que os russos vão querer saldar umas contas... e a Alemanha também...