quarta-feira, 29 de março de 2023

O Ataque À Polónia V

 


A questão do anúncio da colocação de armas nucleares tácticas na Bielorrússia, fez-me pensar.

A conversa nuclear não é (e nunca foi) para a Ucrânia. A questão nuclear é um aviso a peixes maiores. Então qual exactamente o efeito desta decisão? Para mim, é mais um aviso à Polónia e à base americana do sistema antí-missíl que está lá colocada.

E penso nisto exactamente por um pormenor que anunciaram:

Putin: Russia to station nuclear weapons in Belarus


Pode ser convencional ou nuclear

... President Putin said the move would not violate nuclear non-proliferation agreements and compared it to the US stationing its weapons in Europe, according to Russian state media...

... Russia will start training crews to operate the weapons from next week. The construction of a storage facility for tactical nuclear weapons in Belarus will be completed by 1 July, President Putin added.

A small number of Iskander tactical missile systems, which can be used to launch nuclear weapons, have already been transferred to Belarus, President Putin said.

He did not specify when the weapons themselves would be sent...

[Link]

Ora, embora a atenção esteja toda focada na questão nuclear, o que me chama a atenção é o sistema que aparentemente até já enviaram. Ou seja, o sistema lançador.

9k720 Iskander

Isto significa que a Rússia colocou em posição, um dos melhores sistemas que possui para exactamente atacar a base americana na Polónia. O alcance é de 500 Kms, graças ao tratado INF (Intermediate-Range Nuclear Forces Treaty), que não permite a existência de mísseis acima de 500 kms até aos 5.500 kms, portanto, ou vão até 500, ou então só são permitidos acima dos 5.500.

De recordar que os EUA iniciaram o abandono deste tratado em 2018, acabando por efectivamente sair em 2019.

Este tratado, do qual sou extremamente crítico pela saída americana, que protegia a Europa de certo tipo de armas e critico também a Europa que não soube proteger os interesses europeus e não ter feito algum tipo de acordo em como não iria permitir que os americanos colocassem armas de alcance superior a 500 km em território europeu.

Esta é e sempre foi a razão principal para a Rússia avançar. Com a saída deste tratado, os EUA já poderiam colocar mísseis na Polónia e Roménia acima dos 500 km, ou seja, com capacidade de chegar a Moscovo em poucos minutos.

O que a Rússia fez agora, foi fazer algo semelhante, levou os seus sistemas mais potentes para estarem à distância de atacar a base na Polónia.


Como podemos ver pelo mapa, para um raio de 500 km's, o sistema tem que estar na Bielorrússia e a declaração foi que eles já lá estão. Não é preciso mísseis nucleares. Os mísseis convencionais deste sistema estão dimensionados para este tipo de objectivos. 

Com esta declaração, a Rússia acabou por avisar nas entrelinhas que se aproxima a tomada de decisão. Os EUA retiram ou não as bases, tal como exigido no ultimato russo?

Aproveitei o mapa para fazer um outro exercício. Onde necessitaria de estar este sistema, para atacar a base na Roménia?

Em Odessa.

Mais uma razão para pensar que realmente a Rússia vai avançar para Odessa, cortar o acesso ao Mar Negro à Ucrânia e apontar para a base.

Claro que quem pensa que a Rússia está completamente atolada na Ucrânia e que agora é que vão ser elas porque vão chegar uns tanques...

Mas quem não pensa, vê que estamos numa situação cada vez mais perigosa. Bem mais perigosa. 

Diria até que nunca tivemos numa situação tão perigosa.


Post Anterior:
O Ataque À Polónia IV



P.S.

Alguém se lembra do drone que teve um encontro com um SU-27 para os lados da Crimeia? Eu fiquei a aguardar que os EUA repetissem a gracinha, para ver se acontecia de novo.

Parece que decidiram não repetir a gracinha. É como o crocodilo. "Voa, mas voa baixinho".

New US drone routes over Black Sea ‘definitely limit’ intelligence gathering, says US official 


The US decision to fly its surveillance drones further south over the Black Sea after a Russian jet collided with a US drone earlier this month “definitely limits our ability to gather intelligence” related to the Ukraine war, a senior US military official tells CNN.

Flying drones at greater distances reduces the quality of intelligence they can gather, a US military official explained, noting that spy satellites can compensate to some degree but have shorter times over targets, again reducing effectiveness relative to surveillance drones.

After the Russian jet collided with a US Reaper drone earlier this month, the US began flying its surveillance drones further south and at a higher altitude over the Black Sea than previously, placing them further away from airspace surrounding the Crimean peninsula and eastern portions of the Black Sea.

When CNN first reported this change, one US official said the new routes were part of an effort “to avoid being too provocative,” as the Biden administration continues to be careful to avoid any incident that could escalate into a direct conflict with Russian forces...

[Link]


P.S.2

Enquanto a Rússia, que toda a gente sabe não tem mísseis mas dispara mísseis hipersónicos a sério, os EUA:


ARRW hypersonic missile test failed, US Air Force admits

 

The U.S. Air Force’s March 13 test of a hypersonic weapon was “not a success,” the service secretary told lawmakers Tuesday.

Frank Kendall indicated the Lockheed Martin-made AGM-183A Air-launched Rapid Response Weapon program may be in jeopardy. The service, he said, is “more committed to HACM [the Hypersonic Attack Cruise Missile, the service’s other major hypersonic weapon program] at this point in time than we are to ARRW.”

He said an ultimate decision on whether to continue with the program could come as part of the FY25 budget process next year following a study of the failed March test and possibly two more test launches.

The Air Force on Friday revealed it had conducted the second test launch of a fully operational prototype ARRW off the coast of southern California earlier this month.

But the Air Force did not reveal details about the test or its success in that statement, only saying it met “several of the objectives.” That language differed from an Air Force statement in December about a previous ARRW test, in which the service said the weapon’s release was successful and met all objectives...

[Link]

Eu aguardava com muita curiosidade esta notícia. É que havia suspeitas que algo tinha corrido mal, pois as declarações sobre o teste eram evasivas. Acabaram por dizer que a coisa não correu bem.

Os EUA continuam com muita dificuldade em chegar a um patamar onde os russos já estão.

Felizmente que, como toda a gente sabe, a Rússia já não tem mísseis...

9 comentários:


  1. US has replaced Russia as Europe’s top crude oil supplier


    The United States is now the biggest supplier of crude oil to the European Union.

    In December, 18% of the bloc’s crude imports came from America, EU data office Eurostat said Tuesday.

    That is a big turnaround. Russia was until recently the bloc’s top supplier of crude, accounting for as much as 31% of total imports until the end of January 2022, according to Eurostat. The US, meanwhile, came a distant second, with a maximum 13% share.



    https://edition.cnn.com/2023/03/28/energy/eu-us-oil-imports-overtake-russia/index.html

    Falta saber o quanto vamos pagar por esta opção. Nunca os americanos irão fazer preços semelhantes aos que a Europa tinha com a Rússia.

    A Europa paga tudo. Vamos a ver até onde vai a capacidade do bolso europeu.

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    1. Resta saber se isto vem diretamente dos Americanos, ou se eles compram à Russia para irem vender à Europa (com lucro, claro. Não seria a primeira vez que faziam algo semelhante...)

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    2. A possibilidade existe.

      E tenho quase a certeza que parte do petróleo que está agora a ir para a Índia é vendido por estes à Europa.

      Ganham os russos Ganham os indianos.

      Perdem os europeus.

      Como é possível estarmos numa situação destas.

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  2. "Como é possível estarmos numa situação destas." É porque nos falta a soberania e união numa Desunião Europeia.

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    1. Só precisavamos de pelo menos alguns no topo com sentido de dever.

      Nada. Não temos nada nesta UE.

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    2. O sentido de dever também não existe nos jornalistas europeus, fazedores da opinião pública, logo condicionam a eleição de líderes responsáveis.

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    3. Essa é outra questão em que é necessário uma séria revisão sobre o que se está a passar na Europa.

      A informação está a ser controlada e está implementado uma narrativa.

      E somos nós democracias...

      Quem anda a mexer nos cordelinhos?

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    4. "Quem anda a mexer nos cordelinhos?" pergunta pertinente para qual a resposta deverá estar bem guardada a sete chaves...
      Entretanto:
      "China willing to work with Russian military on several fronts - Chinese defence ministry"
      Reuters

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  3. Reuters? Faz parte da narrativa?

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