Sensivelmente há um ano atrás, escrevi sobre um outro míssil (O Míssil), e quero falar sobre um e aparece logo um outro. Estou claro, a falar da hipótese (a meu ver mais que remota) da entrega dos tomahawk aos ucranianos e do novo míssil russo que foi agora anunciado.
Ambos os mísseis têm muito impacto, cada um à sua maneira.
Vamos começar pelos Tomahawk. Muito se tem falado acerca deles, mas nunca vi sobre a perspectiva que tenho. O porquê de não poderem ser entregues aos ucranianos.
Uma vez mais voltamos à questão dos tratados e batemos no mais importante, aquele que considero que foi a gota de àgua para os russos. O tratado INF e que já falei dele por aqui ( Os 4 Tratados Do Apocalipse IV ).
Eu vou colocar uma parte do que escrevi na altura e que diz exactamente o porquê de não poder ser entregue.
... O Tratado INF (Intermediate-Range Nuclear Forces) entrou em vigor em 1987 e obrigou à destruição de mísseis baseados no solo ou mísseis de cruzeiro e que tenham capacidade para atingir alvos a mais de 500 Km's e a menos de 5.500 km's. Dito de outra forma, ficariam apenas os mísseis até 500 km, ou os mísseis a partir de 5.500 km's...
Os mísseis Tomahawk tem um alcance de 2.500 km's, ou seja, estes mísseis a partir de solução terrestres estavam proibidos por tratado. É esta a razão porque para este míssil só existe a versão naval. Podem ser lançados de navios ou submarinos. Mas não podem ter a opção de ser lançado via terrestre.
Os EUA avançarem com esta solução, mesmo que não fosse para dar aos ucranianos, seria a indicação de que abandonaram em definitivo o tratado, algo que ainda não está claro que tenha sido feito por alguma das partes. Ainda não existe de forma clara uma arma que esteja fora deste tratado.
A versão deste míssil lançado por terra, é algo que não está bem claro. A sua produção foi interrompida em 1987 com a entrada do tratado INF e retomada em 2019 pelo abandono do mesmo. Mas existe uma produção clara desta solução? Continuo a achar que não, porque EUA e Rússia andam a meu ver a discutir todas estas questões de uma forma discreta.
E aqui, mudo um pouco o que disse sobre o míssil russo (oreshnik) de que falei no post anterior.
... Esta arma, não seria possível a sua existência com o tratado INF, exactamente o tratado abandonado pelos EUA e que eu considero que foi a gota de àgua para os russos. Relembrar em (Os 4 Tratados Do Apocalipse IV)...
Interrogo-me se esta nova arma cai dentro dos limites do tratado, ou se está encostado a esses limites. Da mesma forma que existe uma outra arma, esta extensivamente usada na Ucrânia que deverá estar para breve o anúncio da ultrapassagem dos limites. Estou a falar dos mísseis Iskander que são considerados temíveis, mas que estão limitados a 500 km's. Uma vez mais por causa dos limites do tratado.
Russia’s New ‘Iskander-1000’ Ballistic Missile Boasts Doubled Range and Greater Accuracy
Multiple sources have reported that Russia is close to beginning serial production of a new derivative of the Iskander-M ballistic missile system, the official designation of which has not been confirmed. The new missile is expected to double the 500 kilometre range of the original system both by using a new more efficient engine, and by increasing fuel carriage by an estimate 15 percent. The resulting 1000km projected range has led the system to be colloquially dubbed the Iskander-1000. The first significant indications that the new missile class may be under development emerged in May 2024 in a video commemorating the 78th anniversary of the Kapustin Yar missile test site. The missiles have been speculated by Russian sources to be intended for deployment in Russia’s westernmost territory of Kaliningrad which would place it in range of targets across much of Central and Western Europe as well as the Baltic Sea. The Iskander-M is relied on heavily by Russian forces to provide an asymmetric counter to NATO’s much larger conventional forces, with its combination of high mobility, high precision, a diversity of warhead types, and a complex trajectory that is difficult to intercept, making it a highly valued asset. Its 9K720 ballistic missiles were restricted to a 500km range due to the Intermediate Range Nuclear Forces Treaty, which the United States withdrew from under the first Donald Trump administration. The longer range new Iskander system is expected to benefit from the same features as the original...
Uma vez mais a referência do tratado INF e a sua limitação dos 500 km's. Uma versão do Iskander para os 1000 km's e que este seja colocado em Kaliningrado, o panorama muda e muito na Europa.
Fiz um esboço, onde a amarelo é a actual distância que um Iskander é capaz de chegar, lançado de 3 locais, Kaliningrado, Crimeia e São Petersburgo. A vermelho, a nova versão de 1000 km's. O panorama muda e muito. A actual versão não cobre todo o território da Polónia e não chega à Roménia. A nova versão? Uma imagem vale por mil palavras. Chega à Alemanha e Roménia. Mais, os novos membros da NATO também são "premiados" e passam a ser alvos onde um Iskander pode chegar. Tudo devido ao abandono de um tratado.
Mais, como o artigo indica, este tratado foi abandonado por Trump na sua primeira administração. Agora está a ver o potencial resultado das suas opções. Vamos a ver que decisões vão ser tomadas.
E com isto chegamos ao novo míssil russo. Onde a grande novidade é que é de propulsão nuclear. E com isto permite estar uma enorme quantidade de tempo a voar, diria que vários dias. O último teste efectuado foi anunciado 15 horas e 14 000 km's. Apenas com este tempo permite chegar a qualquer ponto do planeta. Qual a vantagem de uma arma destas? deslocar-se sorrateiramente a baixa altitude e iludir os sistemas de detecção. Esta arma pode sair da Rússia, ir ao Polo Norte, descer em direcção ao Atlântico, virar para as Caraibas e depois subir. Ou ir ao Pólo Sul, subir pelo Pacífico e atacar pelo outro lado. Os EUA não tem sistemas de detecção optimizados para ataques deste tipo. Estão optimizados para ataques vindos de ICBM's, ou bombardeiros a alta altitude que lançam mísseis de cruzeiro. Este? vai a 100 metros ou menos e em rotas improváveis. Muito difícil de ser detectado.
Além da questão do míssil, existe algo que considero deveras importante. A Rússia tem motores nucleares de pequena envergadura. Onde é que podem ser usados? Penso que vão aparecer novas soluções usando este tipo de motores. E estou a pensar principalmente no espaço.
Estamos a assistir a grandes mudanças neste mundo.
E infelizmente vejo a Europa a ficar numa posição bastante delicada com o seu futuro comprometido.
P.S. Semeia-se ventos...
BMW já sente impacto da nova crise dos chips na Europa
Uma nova crise de chips está se formando no mundo automotivo. Após o caos causado pela pandemia de Covid - com linhas de produção paralisadas e modelos sem vários equipamentos - o espectro de um novo congelamento no fornecimento de semicondutores está ressurgindo. No centro dessa nova emergência em potencial está a Nexperia, um grupo com sede na Holanda e um dos principais fornecedores mundiais de chips automotivos.
Desde 2010, a Nexperia é controlada pela Wingtech Technology da China, e foi justamente essa participação acionária que disparou o alarme na Holanda. Em 30 de setembro, o governo holandês, graças a uma lei especial semelhante ao Golden Power da Itália (que permite que o Estado intervenha em operações financeiras e industriais para salvaguardar o interesse nacional) e que remonta à era da Guerra Fria, assumiu efetivamente o controle da Nexperia.
Uma medida que não agradou nem um pouco a China: Pequim reagiu bloqueando a exportação de chips Nexperia de suas fábricas chinesas, agravando uma situação já delicada. Na frente oposta, os Estados Unidos já haviam colocado a Wingtech na lista negra do Departamento de Comércio, temendo uma transferência de tecnologia sensível para uso não civil...
... colhe-se tempestades.
A Europa conseguiu o feito de querer entrar em guerra com a Rússia, pagar aos EUA as armas e agora um braço de ferro com a China.
Sim, a Europa está a meter-se num buraco de onde não poderá sair.