segunda-feira, 15 de junho de 2009

O Renascer da Indústria Aeronáutica Civil Russa


Hoje foi dado um passo histórico para a indústria aeronáutica civil russa, com o aparecimento do Sukhoi Superjet 100 numa das maiores feiras internacionais, o Le Bourget 2009 air show em França. O dia de hoje representa o culminar dos esforços da Rússia em entrar neste mercado difícil, e que está dominado por um punhado de países.


Sukhoi SuperJet 100

A Rússia tem neste momento um legado pesado, com todos os problemas que surgiram com o desmoronar da URSS, que afectou grandemente toda esta indústria e que tanta má publicidade gerou nos anos 90. Hoje, a maior luta que a Rússia enfrenta é corrigir a imagem que tem aos olhos do mundo. Este é um mercado exigente onde não são permitido falhas e a Rússia tem que mostrar que está à altura do desafio.

A Rússia começou a mostrar que estava sériamente empenhada em recuperar esta indústria com a criação de uma companhia que englobasse todos os construtores de aviões existentes. A UAC (United Aircraft Corporation) criada em 2006 por Vladimir Putin, inclui a Sukhoi, Mig, Tupolev, Beriev, Ilyushin e Yakovlev. De todos estes, a companhia mais saudável é a Sukhoi com os seus aviões militares, todos os outros lutam para se manterem à tona e só graças a encomendas governamentais é que conseguem sobreviver, pois não conseguem exportar em quantidade suficiente.


A Rússia possui vários modelos civis de aviões, mas dada a desintegração da URSS, as dificuldades económicas e falta de rumo a nível político, deixou toda este sector (como tantos outros) em sérias dificuldades. Metodologias diferentes, atrasos tecnológicos, motores desactualizados, dificuldades em fornecer manutenção e opções políticas ditaram a morte a quase todos os construtores com perda de know-how e pessoal especializado.



Ilyushin Il-96-300

A Rússia possui uma gama completa de aviões, sendo o Ilyushin Il-96 o maior da oferta, parecido com o modelo da Airbus A340 que a Tap possui. Mas todos estão com problemas de penetração de mercado, pelas razões anteriormente apontadas. A nova aposta da Rússia, passa por envolver parceiros ocidentais com credenciais no mercado e absorção de novas tecnologias em àreas que têm um atraso significativo. Destaco três projectos onde se vê esta estratégia aplicada.

Dos três o mais importante é sem dúvida o Sukhoi superjet, que é um projecto novo e que foi aplicada de raiz esta estratégia. Italianos, franceses e americanos participam no projecto, o que dá suporte à imagem de um avião que vem da Rússia. Os italianos com a Alenia Aeronautica, participam com 25% no projecto e com eles foi criada uma holding a "SuperJet International" em que os italianos detêm 51% do capital e que irá dar o suporte/manutenção e credibilidade que o avião necessita. Os motores são franceses da Snecma, desenvolvidos para o projecto e a Boeing irá apoiar principalmente nas acções de marketing e leasing.


Beriev BE-200

O Beriev BE-200, é um avião de combate às chamas e luta num nicho de mercado onde não existe muita competição, mas sofre o mesmo problema de todos os modelos russos, o facto de ser russo. A Rússia "atacou" a Europa com este avião, onde inclusivé tentou fornecer Portugal com dois destes aviões, mas até à data apenas conseguiu vender os helicópteros Kamov (o que já foi positivo) e apenas está a conseguir alugar os aviões na época de incêndios e penso que só será decidido algo, depois das eleições. Apesar de em Portugal não ter conseguido ainda vingar, a Rússia conseguiu o apoio da EADS (European Aeronautic Defence and Space Company) e o avião tem o suporte desta gigante estrutura que dá uma grande credibilidade ao avião. A Grécia será muito possivelmente o primeiro cliente na Europa.

Beriev BE-200 (cockpit)

Por fim temos o novo motor da Aviadvigatel, o PS-90A2, o mais eficiente e moderno que possuem, porque foram usados componentes não russos, componentes esses que a Rússia tem um atraso significativo e não conseguem ser competitivos no mundo actual.

Aviadvigatel PS-90A2

A estratégia actual da Rússia assenta na procura de parceiros ocidentais para responder às seguintes necessidades:

  1. Credibilidade/marketing ao avião
  2. Absorção de novas tecnologias, de modo a colmatar as actuais lacunas e efectuar um salto tecnológico.
  3. Absorção de novos métodos de fabrico mais eficientes, de modo a aumentar a produtividade/competitividade.

Devido a esta estratégia e o facto de quererem relançar este sector, temos assistido a várias frentes de ataque, apoio financeiro a companhias russas que adquiram aviões russos, tentativa da Aeroflot em adquirir uma companhia de aviação europeia e o recente anúncio da ordem de compra de 30 Sukhois SuperJet por parte de uma companhia da aviação Húngara a Malev, este é uma compra interessante porque esta companhia foi comprada este ano por um banco estatal russo. O que mostra a determinação com que a Rússia tenta dar o pontapé de saída para um sector tão importante como o é o sector da aviação.

Tupolev TU-334

Hoje as cartas foram lançadas, daqui a uns anos iremos ver se realmente conseguiram ou não.

2 comentários:

  1. Caro PM, o projecto Sukhoi é fruto da cooperação internacional da Rússia com países como França e Itália. Mais do que o renascimento da indústria aeronáutica russa, trata-se de uma cooperação entre escolas russa e europeia nesta área, o que abre boas perspectivas neste campo.
    O projecto Sukhoi Superjet só terá perspectivas de desenvolvimento se continuar a ser internacional, pois a Rússia, actualmente, não tem capacidades de fazer renascer a sua indústria aeronáutica.

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  2. Sim, actualmente a Rússia não tem capacidade de fazer renascer a sua indústria sózinha. Como tal o projecto da Sukhoi engloba parcerias. Mas a ter sucesso, irá dar impulso a novos projectos onde a participação externa terá a tendência a diminuir porque a Rússia possui todas as indústrias necessárias para construir os aviões de uma ponta à outra. Mais, possui o know-how de construir todo o tipo de aviões e este tipo de conhecimento só existe nos EUA com a Boeing e na Europa com a Airbus. À medida que a Rússia avança e vá preenchendo as lacunas tecnológicas, os novos modelos irão colidir nos segmentos onde a Boeing e Airbus actuam. Deste modo haverá cada vez mais dificuldade em arranjar parcerias ocidentais, mas a Rússia (a correr bem) também estará numa fase em que pode voar mais além sózinha e não irá oferecer parecerias tão vantajosas como as oferecidas neste projecto de arranque da Sukhoi.

    Para concluir, as perspectivas de cooperação internacional terão um desenvolvimento oposto ao crescimento da indústria aeronáutica civil russa.

    Cumprimentos,
    PortugueseMan

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