Já há algum tempo que não coloco os meus pensamentos sobre o que acho que vai acontecer na Ucrânia. Como já venho a dizer há alguns anos, a Ucrânia está condenada à sua desintegração. A minha perspectiva será uma Ucrânia partida em dois, onde a parte que fique para a Ucrânia ficará fortemente desmilitarizada e com poucas opções de decisão a nível de política externa, principalmente no que toca a interesses militares.
E que separação será essa do território ucraniano? A meu ver será algo que ronde a realidade da presença da língua russa e o resultado das eleições de 2004 e de 2010. As de 2014 já não são representativas devido ao que aconteceu neste ano, a perda da Crimeia,a rebelião das regiões separatistas e a alteração de todo o quadro político de um país em convulsão.
Podemos ver por este mapa, que há uma clara divisão no país. Onde sensivelmente metade do território tem grandes ligações com a Rússia.
Pode-se verificar essa tendência nas eleições de 2004...
... e nas eleições de 2010. Os candidatos pró-russos são os escolhidos nesta parte do território. Também se pode verificar o sentimento demonstrado pelas populações encostadas à Polónia.
Penso que a Rússia vai desmembrar e cortar o acesso ao Mar Negro ao que restar da Ucrânia. A Ucrânia passará a ser um país rodeado de fronteiras sem nenhum tipo de acesso independente ao resto do mundo.
Ou seja, o resultado poder ser algo como este. Sem acesso ao Mar Negro e podendo a Rússia chegar à fronteira da Moldávia e Roménia. Relativamente ao acesso russo do Mar Negro, podemos constatar as grandes diferenças entre o que existia em 2007 e o que será em 2023. A Rússia passa de uma pequena parcela a quase metade do mar no seu controlo.
Tinha colocado este mapa num post em 2014, referindo as grandes mudanças que estavam em curso. Mar (Russo) Negro / Mar (Russo) Negro II
Agora faço uma actualização do mapa, 8 anos depois. O panorama é diferente. Muito diferente. A Rússia está numa posição de força e com uma renovação de frota a toda velocidade, algo que já tinha chamado a atenção nos artigos referidos de 2014.
Interrogo-me agora se vão avançar antes do Inverno para Odessa ou se vão deixar para a próxima Primavera. Mesmo mantendo as posições que têm agora, muita coisa estará em curso.
- O desgaste da Ucrânia por atrito a todos os níveis, seja militar, seja económico, seja no factor humano.
- Desgaste económico da Europa.
- Asfixia energética da Europa
- Desvio da energia para outras partes do mundo.
- O abanar dos alicerces da super-potência, abrindo caminho para um mundo multipolar.
- A reconstrução dos territórios sob controlo russo.
Sobre este último item, vou fazer uma actualização sobre a reconstrução que se asssiste em Mariupol. Alguns dos edifícios aparentam estar praticamente prontos.
Gostaria de encontrar mais informação sobre situações semelhantes em outras localidades. Seja como for, dá para ver que esta guerra tem contornos muito especiais. Parece que á medida que vão avançando no terreno, vão reconstruindo o que está para trás.
Não é só o esforço da guerra em si, é tudo o resto que estão a fazer em simultâneo.
O que uma vez mais confirma o que vou dizendo há anos e anos. A capacidade da Rússia é muito, mas muito maior do que aquilo que nos impingem.
Está em curso algo de grande, algo muito maior que a Ucrânia e apenas conseguimos ver algumas peças do jogo. Um jogo com um tabuleiro muito grande.
Infelizmente, espera-nos tempos difíceis.
ResponderEliminarFaz-me lembrar um pouco a mitologia greco-romana, principalmente o deus Saturno, que para evitar a materialização de uma profecia, não hesitou sacrificar os seus próprios filhos, engolindo-os, para não perder o seu poder.
Cada vez mais penso que isto da mitologia, de mito tem muito pouco...
Maria Rebelo
Tempos muito difíceis de facto. Agora com o Verão no fim e com as notícias que vão surgindo de que tudo está a aumentar, as pessoas vão começar a suspeitar que isto poderá ficar mais complicado do que pensavam.
EliminarE nem sonham o quanto complicado ainda mais vai ficar.