Vamos falar de um país, onde até há relativamente pouco tempo seria impensável haver tal tipo de aproximação. O Paquistão, nos tempos da guerra fria, estava do outro lado da barricada e a sua influência na guerra do Afeganistão, não pode ser ignorada.
Entretanto, o passado foi ficando um pouco para trás e a realidade geopolítica de hoje é significativamente diferente e infelizmente também o comportamento Europeu está a dar um importante empurrão na construção da nova política externa russa.
Vamos então focar alguns pontos que acho bastante interessantes.
Estávamos em Outubro de 2013, quando pela primeira vez um navio da marinha paquistanesa visita um porto russo:
Visita feita a um porto no Mar Negro
Meses depois, em Abril de 2014, seguiu-se uma visita da marinha russa a um porto paquistanês:
Uma segunda visita é feita pela marinha russa em Outubro de 2014, um ano depois da primeira visita feito pelos os paquistaneses, com a realização de exercícios conjuntos demonstrando uma aproximação entre as duas nações.
Se dúvidas existe nas crescentes ligações entre ambos, elas dissipam-se com um acontecimento bastante interessante, o levantamento do embargo de armas em 2014:
Russia has lifted an embargo from supplies of weapons and military hardware to Pakistan and is negotiating the delivery of several helicopter gunships Mil Mi-25 to the country...
[Link]
Ou seja o ano de 2014, não foi só a questão ucraniana, a Crimeia, as sanções económicas, a queda do rublo, os acordos com a China, etc.
Em simultâneo a Rússia está deveras activa na sua política externa a nível global, estreitando ligações com países como o Paquistão e mostrando ao mundo que apesar de todas as pressões colocadas em si, continua com poder de iniciativa.
Com o levantamento do embargo, começamos a ver algumas das coisas que o Paquistão quer e o que a Rússia está disposta a vender, nesta nova amizade. Uma delas é o interesse no helicóptero de ataque MI-35, mas o que considero significativo é relativamente ao caça paquistanês JF-17.
O caça JF-17 concebido pela China/Paquistão, utiliza um motor russo, o RD-93. A China tem encomendado o motor à Rússia e entregue ao Paquistão.
Russia is to supply China with an additional batch of 100 Klimov RD-93 turbofan engines for the FC-1/JF-17 Thunder combat aircraft before the end of 2016...
...A joint venture between China and Pakistan, the JF-17 is currently only in Pakistan Air Force service...
...The first contract for 100 RD-93s had an option for 400 more, which will be produced by Moscow-based machine-building plant Chernyshev, a division of the United Engines Corporation (UEC)...
...Under UEC's existing contract with CATIC the Russian company is to perform deliveries, designer supervision, maintenance, refurbishment, and assistance in organising the RD-93 overhaul for basic and export FC-1/JF-17 fighters.
[Link]
Ou seja, a Rússia tem estado ocupada a produzir os motores para o novo caça paquistanês. E o Paquistão tem consciência da sua dependência na Rússia, para ter os seus caças a voar, apesar de os estar a receber a partir da China.
Dado o aquecimento das relações entre o Paquistão e a Rússia e sendo a Rússia e a China parceiros em vários sectores, a evolução natural seria a Rússia fornecer directamente os motores ao Paquistão. E de facto parece que é para aí que caminhamos.
Estamos em 2015 e as notícias confirmam esta evolução.
Pakistan is set to import the JF-17 Thunder’s RD-93 engine directly from Russia in the near future. Earlier, the engines were purchased from China, which in turn resourced the RD-93 from Russia. According to sources in Pakistan, China has now issued a ‘no objection certificate’ that allows Pakistan to do business directly with Russia...
...With current Western economic sanctions against Russia over the situation in Ukraine, it is safe to say Russia seized this export opportunity to Pakistan.
[Link]
Um país, ter os seus aviões dependentes de motores russos é algo de muito significativo e sendo o Paquistão, tem ainda mais relevância devido à grande ligação existente entre a Rússia e a Índia. Sendo a Índia, um dos mais importantes parceiros militares, um grande cliente de armamento russo, ao ponto de conseguir alugar submarinos nucleares, assiste com grande apreensão a este estreitamento de ligações com o Paquistão.
E aqui a Rússia, volta a mostrar a sua capacidade na arena geopolítica. A Índia tem nos últimos anos, diversificado os seus fornecedores, onde se destaca uma grande aproximação com os Estados Unidos, tendo começado a comprar material de envergadura.
A Rússia está a mostrar também à India, que possui a capacidade de vender a outros nomeadamente o Paquistão. E a Rússia só levantou o embargo de armas, após a India ter começado a comprar em grande escala aos EUA.
India imported $1.9bn of military kit from the US last year, making it the biggest foreign buyer of US weapons, according to research from IHS Jane’s.
The US, which remained the largest exporter of military equipment, displaced Russia as India’s biggest arms supplier. In total, the US exported $25.2bn of military equipment in 2013, compared with $24.9bn the previous year.
[Link]
Com isto parece-me que o aviso está feito, a Rússia irá vender ao Paquistão, algo equivalente ao que os EUA fornecem à Índia, olho por olho, dente por dente.
Agora se adicionarmos a isto, uma ligação energética, estaremos então a assistir a uma importante reviravolta nesta zona do globo.
Se dúvidas existe nas crescentes ligações entre ambos, elas dissipam-se com um acontecimento bastante interessante, o levantamento do embargo de armas em 2014:
Russia lifts embargo on weapons supplies to Pakistan
Russia has lifted an embargo from supplies of weapons and military hardware to Pakistan and is negotiating the delivery of several helicopter gunships Mil Mi-25 to the country...
[Link]
Ou seja o ano de 2014, não foi só a questão ucraniana, a Crimeia, as sanções económicas, a queda do rublo, os acordos com a China, etc.
Em simultâneo a Rússia está deveras activa na sua política externa a nível global, estreitando ligações com países como o Paquistão e mostrando ao mundo que apesar de todas as pressões colocadas em si, continua com poder de iniciativa.
Com o levantamento do embargo, começamos a ver algumas das coisas que o Paquistão quer e o que a Rússia está disposta a vender, nesta nova amizade. Uma delas é o interesse no helicóptero de ataque MI-35, mas o que considero significativo é relativamente ao caça paquistanês JF-17.
Helicóptero russo - MI-35
Caça paquistanês - JF-17
O caça JF-17 concebido pela China/Paquistão, utiliza um motor russo, o RD-93. A China tem encomendado o motor à Rússia e entregue ao Paquistão.
Airshow China 2014: Russia to supply China with more RD-93 turbofans
...A joint venture between China and Pakistan, the JF-17 is currently only in Pakistan Air Force service...
...The first contract for 100 RD-93s had an option for 400 more, which will be produced by Moscow-based machine-building plant Chernyshev, a division of the United Engines Corporation (UEC)...
...Under UEC's existing contract with CATIC the Russian company is to perform deliveries, designer supervision, maintenance, refurbishment, and assistance in organising the RD-93 overhaul for basic and export FC-1/JF-17 fighters.
[Link]
Ou seja, a Rússia tem estado ocupada a produzir os motores para o novo caça paquistanês. E o Paquistão tem consciência da sua dependência na Rússia, para ter os seus caças a voar, apesar de os estar a receber a partir da China.
Dado o aquecimento das relações entre o Paquistão e a Rússia e sendo a Rússia e a China parceiros em vários sectores, a evolução natural seria a Rússia fornecer directamente os motores ao Paquistão. E de facto parece que é para aí que caminhamos.
Estamos em 2015 e as notícias confirmam esta evolução.
Pakistan: JF-17 engine straight from Russia
Motor russo - RD-93
Pakistan is set to import the JF-17 Thunder’s RD-93 engine directly from Russia in the near future. Earlier, the engines were purchased from China, which in turn resourced the RD-93 from Russia. According to sources in Pakistan, China has now issued a ‘no objection certificate’ that allows Pakistan to do business directly with Russia...
...With current Western economic sanctions against Russia over the situation in Ukraine, it is safe to say Russia seized this export opportunity to Pakistan.
[Link]
Um país, ter os seus aviões dependentes de motores russos é algo de muito significativo e sendo o Paquistão, tem ainda mais relevância devido à grande ligação existente entre a Rússia e a Índia. Sendo a Índia, um dos mais importantes parceiros militares, um grande cliente de armamento russo, ao ponto de conseguir alugar submarinos nucleares, assiste com grande apreensão a este estreitamento de ligações com o Paquistão.
E aqui a Rússia, volta a mostrar a sua capacidade na arena geopolítica. A Índia tem nos últimos anos, diversificado os seus fornecedores, onde se destaca uma grande aproximação com os Estados Unidos, tendo começado a comprar material de envergadura.
A Rússia está a mostrar também à India, que possui a capacidade de vender a outros nomeadamente o Paquistão. E a Rússia só levantou o embargo de armas, após a India ter começado a comprar em grande escala aos EUA.
India becomes biggest foreign buyer of US weapons
C-17
P-8
India imported $1.9bn of military kit from the US last year, making it the biggest foreign buyer of US weapons, according to research from IHS Jane’s.
The US, which remained the largest exporter of military equipment, displaced Russia as India’s biggest arms supplier. In total, the US exported $25.2bn of military equipment in 2013, compared with $24.9bn the previous year.
[Link]
Com isto parece-me que o aviso está feito, a Rússia irá vender ao Paquistão, algo equivalente ao que os EUA fornecem à Índia, olho por olho, dente por dente.
Agora se adicionarmos a isto, uma ligação energética, estaremos então a assistir a uma importante reviravolta nesta zona do globo.
Em 2015, em plena crise com o Ocidente e sofrendo de sanções económicas, a Rússia avança com novas ligações energéticas desta vez com o Paquistão e ainda tem fôlego para investimentos:
New pipeline represents the first infrastructure deal between the two countries since the 1970s
Pakistan is expected to sign an agreement with Russia for the construction of a 1,100 km (about 684 mile) liquefied natural gas (LNG) pipeline from Karachi in southern Pakistan to Lahore in the North. Under the partnership, Russia will provide $2 billion to lay the pipeline, and in exchange Pakistan will award the contract to Russia without inviting bids, reports The Express Tribune.
“We are trying to sign an LNG pipeline accord with Russia in a government-to-government arrangement during the visit of Prime Minister [Nawaz Sharif] to Moscow,” Peroleum Minister Shahid Khaqan Abbasi said. Prime Minister Sharif is expected in the Russian capital July 9, to attend a summit of the Shanghai Cooperation Organization (SCO).
In addition to financing the pipeline, Russia agreed to export LNG to Pakistan, which has suffered from energy shortages...
Esta questão do fornecimento energético ao Paquistão, merece no futuro uma análise mais detalhada, englobada na estratégia de fornecimento de energia para o mercado Asiático. Mas o que estamos a ver aqui é uma das consequências da diversificação da carteira de clientes de energia russa, o que demonstra o perigo crescente para a Europa. A Rússia está a diversificar mais depressa a sua carteira de clientes, do que a Europa a sua carteira de fornecedores.
Como já tenho dito, a Rússia prepara-se para escolher para que países europeus quer vender a sua energia e vai ser uma descoberta muito desagradável para a Europa como um todo, verificar que o seu maior e mais importante fornecedor energético, já não depende de nós, europeus para vender a sua energia. E por nossa culpa.
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