segunda-feira, 13 de julho de 2015

Sanções Europeias, O Preço A Pagar



Vou escrever um pouco mais sobre este assunto, de modo a reflectirmos e pensarmos no enorme impacto que as opções europeias vão ter na Europa, nós incluído.

Vou focar apenas um dos sectores que foi e está a ser afectado, o do leite.

Antes de mais, tentemos visualizar o que significa as sanções à Rússia. A Europa está a fazer sanções a UM país, a Rússia. Um país que demograficamente equivale a 14 países da dimensão de Portugal. Ou seja, pela nossa dimensão, a Europa estaria a sancionar 14 países. Muita gente.

Podemos dizer que parte da balança comercial entre a Europa e Rússia, possui algum equilíbrio, a Rússia exporta principalmente energia para a Europa e importa desta vários produtos. Com a entrada das sanções, gerou uma resposta simétrica, vários produtos europeus foram barrados de entrar, mas a energia continua a fluir para a Europa.

A Rússia continua a fornecer energia e a ser paga em moeda forte pela mesma, os produtores/fornecedores europeus, viram uma porta a ser fechada. Uma, ou 14 portas, depende da perspectiva que se queira ver.

Vamos então focar o sector do leite, algo que afecta também os produtores portugueses.

Final de 2014:

NUVENS NEGRAS SOBRE A PRODUÇÃO DE LEITE EM PORTUGAL

"Milhares de produtores de leite em Portugal foram surpreendidos com uma prenda amarga, poucos dias antes do Natal: a comunicação da baixa de 3 cêntimos por litro de leite pago ao produtor, a partir de 1 de Janeiro de 2015. Para a maioria dos produtores, isto representará uma descida de 6 cêntimos / litro no prazo de 8 meses. Para alguns, serão 8 cêntimos. Com esta baixa de quase 10%, a esmagadora maioria da produção irá ficar no limiar da rentabilidade...

...Esta baixa de preço, que ocorre quando estamos ainda a três meses do final do regime de quotas leiteiras, representa uma enorme nuvem negra sobre a produção do leite português. É público que o mercado europeu de leite regista dificuldades devido ao embargo russo e à redução de importações por parte da China...


Junho de 2015:

Setor do leite confrontado com "previsões ainda mais pessimistas"

As quotas leiteiras na União Europeia acabaram há três meses. Três associações de produtores, ouvidas pela TSF, dizem que o setor está a atravessar uma grave crise e que várias explorações poderão ter de fechar.

José Campos Oliveira da Associação de Produtores de Leite e Carne diz que o setor atravessa uma crise que "não tem paralelo desde que o país aderiu à União Europeia". Este dirigente associativo diz que o embargo à Rússia, o fim das quotas e a dimuição do consumo de leite estão a criar uma "situação gravíssima" que originou uma quebra de preços na "ordem dos 25 a 30%".

José Campos Oliveira revela que várias explorações estão a vender abaixo dos custos de produção e "isso não é sustentável por muito tempo.

Carlos Neves, da Associação de Produtores de Leite de Portugal diz que a situação "ultrapassou as previsões mais pessimistas. Há importações de queijo ao preço da chuva. Há menos consumo e mais produção na Europa"...



"Há menos consumo e mais produção na Europa..."

Pois há, e se a situação já ultrapassou as previsões mais pessimistas, então o que vem aí é um desastre. Um desastre que não vai passar ao lado do sector português.

A coisa vai rebentar-nos na cara. Vamos então ao problema que aí vem.

100,000-cow-power dairy farm in China to feed Russian market

A 100,000-cow dairy farm is being constructed in Northeast China to supply the Russian market with milk and cheese, in what can be construed as agricultural geopolitics.

Russia has extended an import ban of most agricultural products from the United States, Canada, Europe, Australia and Norway until August 2016, in retaliation for recently renewed Western economic sanctions over Russia's military moves in Ukraine and Crimea.

It will be the world's largest dairy farm and will be funded with 1 billion yuan ($161 million) from Russian and Chinese investors. China's Zhongding Dairy Farming and Russia's Severny Bur will work together on the project.

China already is home to the world's largest dairy operation, a 40,000-cow unit of the Maanshan, Anhui province-based China Modern Dairy Holdings Ltd, which operates 24 farms throughout the mainland.

The largest US dairy farm is in Fair Oaks, Indiana, where 30,000 cows ply their trade...

Earlier this month, China's Huae Sinban Co signed an agreement to lease 115,000 hectares (284,000 acres) in Russia's Transbaikal region for feedstock, according to state-run Russia Today. The company is expected to invest about $450 million in the project over the next half century.Huae Sinban plans to lease up to 200,000 hectares in Russia if the first stage of the project from 2015-2018 works out...

..."The scale of Chinese investment in dairy production is vast," Raymond told UK-based Farmers Weekly. "I wonder now whether we will ever get the Russian milk market back...

..."For the larger EU economies - Germany included - the costs are bearable. For some of the smaller EU economies, the pain will be more acute," the Times reported, quoting RBS Capital.


Uma vez mais, um projecto conjunto da Rússia e China. A maior quinta do mundo na China para alimentar o mercado russo e localizado na Rússia, uma enorme zona de pastagem. A quem se pode agradecer este empreendimento? à Europa.

A Europa com as suas sanções, fechou a porta. Quando quiser abrir de novo, irá descobrir, já não estará ninguém do outro lado à espera.

O que vai acontecer aos produtores dos países europeus mais frágeis como o caso de Portugal?

Vão contentar-se com um pensamento: 

"Estamos falidos, deixamos de produzir, mas demos uma lição àqueles russos sobre o que fizeram na Ucrânia."

A Europa fechou a porta a um mercado de 140 milhões e já não haverá retorno. E só me estou a referir ao leite.

1 comentário:

  1. Sobre essa questão dos países pequenos sofrerem mais, isso me remete ao caso grego. Eles foram obrigados a, em plena crise, sancionarem a Rússia e o Irã, dois parceiros importantíssimos economicamente. Quando a conta chegou, eles disseram: temos que ser solidários à UE e aos EUA (NATO). Por outro lado, quando os gregos pedem concessões em relação à sua dívida, invocando a solidariedade europeia, são humilhados. Assim, a solidariedade só vale quando quem pede são os países grandes, há uma grade hipocrisia. É por isso que critico alianças, quer seja entre ocidentais, quer seja entre não-ocidentais (caso haja assimetria entre os participantes).

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