Deparei-me, com alguma surpresa, com este artigo no Observador. Vou colocar aqui partes do mesmo.
União Europeia: um manicómio gerido por pacientes
A UE tinha duas opções: vencer a guerra ou preparar-se para a paz. Ao invés disso, ela perdeu a guerra e não se preparou para a paz.
Não há aterro sanitário grande o suficiente para descartar o lixo produzido pelas elites europeias, com o apoio de uma legião de editorialistas, directores, locutores, jornalistas, “jornalistas de referência”, majores-generais, carreiristas e autodenominados especialistas em política internacional e especialmente na Rússia, com o objectivo de empurrar a Ucrânia para um conflito kamikaze ao prometerem uma vitória impossível sobre a Rússia.
As armas decisivas até à vitória sobre a Rússia e sanções para a colocar em incumprimento. Então as setenta doenças de Putin e o seu isolamento do mundo, o novo Hitler que invade a Ucrânia como primeiro passo para invadir a Europa (como se o art. 5.º da NATO não existisse). Depois, a primeira contraofensiva, a segunda, a terceira, cada uma mais surpreendente do que outra. Então o exército russo oficialmente quebrado, que ficou sem homens, munições, mísseis, tanques, navios e tudo o mais, e bate em retirada. Depois as listas de “pacifistas” tolos e de “putinianos” até o Papa e Dostoievski, o “temos o dever de apoiar a Ucrânia até ao último ucraniano”, as viagens a Kiev em sinal de “unidade europeia”, as peregrinações a Kiev para obter uma fotografia ao lado do “herói” Zelensky e de qualquer coisa com o presidente Zelensky para fins de propaganda interna, a Ucrânia na NATO, o “não há alternativa à vitória da Ucrânia sobre a Rússia”, o Plano de vitória de 10 pontos de Zelensky, o Plano de Draghi para a economia de guerra, o “nós já vencemos a guerra”, as “negociações apenas quando a Rússia devolver os territórios ocupados (incluindo a Crimeia) e se retirar”...
....e o facto de não ser mais possível manter unido o fracasso da guerra, que levou a UE, depois de dizer “nunca, nunca”, a dobrar os joelhos diante do invasor e do suposto traidor para exigir os seus direitos na mesa de negociação e reconstrução, adquiridos sobre uma trágica pilha de mortos. Mas não só isso. A UE, liderada pelo quarteto Úrsula-Kallas-Macron-Costa (e antes Scholz), também lhes implora por “garantias de segurança”, como se fossem todos estatuetas de Chamberlain e Daladier...
...poderia ter apoiado o acordo russo-ucraniano em Istambul dois meses após a invasão, em condições muito mais vantajosas para a Ucrânia do que aquelas que obterá agora: ao invés disso, ficou do lado dos sabotadores Johnson e NATO. Poderia ter pressionado Zelensky a negociar após a primeira contraofensiva ucraniana: em vez disso, pressionou-o a “lutar até a vitória” e a assinar um decreto que o proíbe de negociar com Putin (a propósito: quando irá aboli-lo?). Poderia ter advertido Zelensky para a inutilidade de uma Cimeira da Paz sem a Rússia: ao invés disso, Von der Leyen apoio-o (a mesma Von der Leyen que agora treme de indignação por ter sido excluída das negociações em Riad). Poderia, ainda, ter apoiado Orbán e Scholz, que reabriram os canais com Putin antes da chegada de Trump: em vez disso, a UE excomungou-os. E a culpa é de Trump?...
...os líderes europeus mais cegos do mundo, querem convencer Trump (e os cidadãos europeus) de que a sua belicosidade grotesca é a única que pode ser adoptada e que sua narrativa é a única confiável...
...No manicómio de Von der Leyen tudo gira em torno de guerra. É a guerra, e não a paz, a cola que ainda mantém a UE unida. A comprová-lo está, entre outros, o anúncio que fez, com um sorriso de orelha a orelha, que vai permitir aos países-membros gastarem à tripa-forra em defesa sem restrições orçamentais...
...E para quê? Para se preparar uma guerra hipotética contra a Rússia...
Fiquei deveras admirado em ver um artigo com tais textos aparecer num jornal. É importante, é deveras importante, mais textos que ponham as pessoas a reflectir sobre o que andamos nós europeus a fazer, ou a permitir que seja feito pelos nossos políticos.
É importante dar voz a quem não pactua com as narrativas ditadas e repetidamente repetidas até à exaustão para que as pessoas não pensem por si, mas que absorvam as "informações" pretendidas por forças com intenções obscuras.
Forças que não se importaram de atirar a Ucrânia para o abismo e que suspeito que não se importam de atirar a Europa para o mesmo destino. Tudo em nome de algo que não se sabe muito bem o que é, apenas se percebe que é tenebroso.
É importante que mais gente vá aparecendo a alertar para a situação catastrófica em que trilhamos. Que temos gente louca ao volante dos destinos europeus.
A ver vamos.
P.S. As eleições alemãs
O que mostra estas eleições? Uma clara divisão na Alemanha. Esta clara divisão não pode ser ignorada pelos políticos. O país está nitidamente dividido. E o empurrar para certas opções, vai exarcebar as divisões. Os próximos meses prometem ser muito interessantes.
P.S.2 As eleições romenas
Romanian far-right supporters hold protest rally ahead of election re-run
A day after Romania's pro-European coalition government survived a no-confidence vote, anti-government protesters took to the streets of the capital Bucharest on Saturday. The demonstration by far-right groups was held to demand a second round of presidential elections after the first round, which was won by a far-right populist, was annulled due to Russian interference allegations...
A Europa anda a tentar assobiar para o lado sobre esta questão. Mas parece-me que isto vai rebentar na cara dos políticos europeus.
Anular eleições inconvenientes só pode dar mau resultado. Quando se diz que vivemos todos em Democracias.
P.S.3 O desastre anunciado
Começo a suspeitar que Trump está a abrir caminho para sair desta espécie de Afeganistão 2.0. E claro, Zelensky está a ver o caso mal parado. A Europa? em pânico. A Europa tem andado a fazer voz grossa, mas sem os EUA não somos nada.
Vamos a ver os próximos capítulos desta novela.
Uma coisa é certa, vamos ver os políticos europeus a andar à roda como umas baratas tontas. E podemos juntar a imprensa, os "especialistas" e todos aqueles que só querem ver o mundo arder.